Com a celebração do passado Domingo, o Batismo do Senhor no Rio Jordão, a Igreja concluiu o Tempo do Natal, este, pois, caracterizado pela manifestação do Filho de Deus: desde um recém-nascido, um infante, que os pastores encontraram na gruta de Belém a também o Rei dos judeus que os sábios do Oriente vieram adorar. Com o seu batismo, Jesus, é apresentado pelo Pai na força de seu Espírito a Israel e, então,principia sua missão como o Ungido do Senhor, conforme podemos ouvir à Oração de Coleta da Festa do Batismo:
Deus eterno e todo-poderoso, que, sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho..."
A Liturgia da Igreja do ano lucano, (C), neste Domingo, nos apresenta uma particularidade: a narrativa das Bodas de Caná, no segundo capítulo do evangelho de São João que não é proclamada em nenhum Domingo do Tempo Comum, restrito, para o final do Tempo da Quaresma e para todo o Tempo Pascal. Uma outra observação é que essa mesma passagem é outrossim lida nas duas formas do Rito Romano, o que, na Forma Extraordinária, é o chamado II Domingo depois da Epifania do Senhor. Com esta sintonia, a Liturgia hodierna, faz-nos recordar a solene antífona do Cântico Evangélico cantada pela Igreja no dia da Epifania e sua oitava: Hoje o Esposo celestial se uniu à Igreja, porque o Cristo lavou no Jordão os crimes de sua Esposa; Os magos se apressam para as núpcias do Rei, com as dádivas suas; e a água se transforma em vinho e os convivas se alegram. Aleluia.
Na referente antífona se encontra condensada de uma certa maneira, a partir de sua conclusão que remete ao milagre da água mudada em vinho, o que significa o ministério de Jesus de Nazaré, começado na Galileia. Diferentemente dos sinóticos onde Jesus, do Batismo, é levado pelo Espírito para o deserto, João, que não pormenoriza o rito de ablução do Batista, dedica-se a narrar o início dos sinais numa festa de casamento onde a Mãe de Jesus e seus discípulos estavam presentes, enquanto que em Lucas o início da pregação é na sinagoga, em Nazaré, cidade da sua vida oculta com seus pais, quando, ali, lendo o Profeta Isaías O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a libertação dos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor, no capítulo sessenta e um, onde se verifica uma síntese para a pergunta que um dia fará E vós quem dizeis que eu sou?
O primeiro aceno que devemos destacar é a festa de casamento. Por que, Jesus, iniciar o ministério numa festa? Ainda: O que significa a presença, ali, de sua Mãe, Maria Santíssima, a quem chama a vez primeira por Mulher? E os seus discípulos? Ainda há de sublinhar as talhas cheias de água, o mestre-sala, que toma da água mudada em vinho, e, por principal, o que conclui: Todo homem serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já estão embriagados serve o vinho inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora. Antes de nos determos aos supramencionados é interessante um significado sobre o vinho. Para os banquetes d'outrora, para Israel, o era sinal da alegria e da fartura no festim. O sacramental do vinho é aludido na mitologia grega por Dionísio. A representação deste deus é feita como um jovem imberbe, risonho e festivo, tendo, em uma das mãos, um cacho de uvas ou uma taça a transbordar um vinho generoso. O mito do deus do vinho, Dionísio, descrito de entre a gama das histórias gregas, serve como uma espécie de plano de fundo para Aquele Único que pode dispensar o vinho bom e que não cessa! Esta certeza canta Davi no Salmo 22, quando diz: (..) minha taça transborda.
O cenário das bodas, do casamento, descrito pelo evangelista, pode ser compreendido a partir da primeira leitura da Missa de hoje. O profeta Isaías anuncia com uma linguagem extremamente poética o reestabelecimento de Jerusalém. A imagem que adota e que também se consagra, por exemplo, no livro do Profeta Oséias, é a figura da noiva que será desposada no dia nupcial pelo seu esposo e o povo de Israel exilado era comparado como uma esposa abandonada porque foi infiel ao seu marido. O amor de Deus por Jerusalém era tão predileto, singular, que a idolatria, era, conforme se lê no Levítico, um adultério. A volta de Israel, cujos crimes Deus aplacara,esquece-os, é narrada por Isaías como uma aliança conjugal. O Senhor, por um amor incondicional, recebe Jerusalém parecendo o noivo que diante do altar recebe a noiva para fazê-la sua esposa, numa aliança indissolúvel; assim como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposam; e como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus, ouvimos a conclusão na leitura primeira deste Domingo.
Para nós, portanto, as promessas da Aliança do Deus de Israel, tem o seu apogeu em Jesus Cristo. É Ele, o esposo em Caná e, esta, é a Igreja! Se em Caná ele inicia sua missão messiânica, hoje, ela se perpetua na Igreja, onde o Esposo não mais muda a água em vinho, mas, na força do Seu Espírito converte o vinho na Sua Eucaristia. E, uma vez que é o "Tão Sublime Sacramento" é, por esta razão, que o vinho que vai lembrar o júbilo dos esponsais, evoca a Nova Doutrina, o ensinamento dado com autoridade pelo Cristo Deus, de modo tal, que escreve o Papa Bento XVI, citando o teólogo Fílon de Alexandria: Fílon fixa (...) sua teologia do logos histórico- salvificante em Melquisedec, o qual ofereceu pão e vinho: em Melquisedec é o logos que atua e que nos oferece os dons essenciais para a existência humana; então o logos aparece ao mesmo tempo como sacerdote de uma liturgia cósmica.
Essa reflexão, aqui, pode ser compreendida em dois aspectos presentes à narração das Bodas em Caná. Num primeiro momento é a presença de Maria que chamada Mulher, como sê-la-á aos pés da Cruz, para contrapor a primeira vivente, Eva, nossa mãe. A Mãe de Deus, portadora do Logos, aos discípulos de Seu Filho: Fazei o que ele vos disser. A Virgem Maria, discípula e mediadora, da Nova e Eterna Aliança, faz-se presente como a testemunha e a primeira que compreende, porque guardava os fatos e meditava sobre eles em seu coração. Maria, a cheia de graça, amiúde, aponta para o seu Filho-Deus. Se foi por sua palavra que a Palavra no-lo foi revelada em plenitude, " feita" carne, em Caná, pela palavra da Virgem de Nazaré, naquele seu fazei o que ele vos disser, aos discípulos, para que também estes O obedeçam, Deus, no Messias prometido pelos santos profetas, toma as talhas e a água da primeira aliança e a transforma no vinho que inebria e salva. Maria se torna além da Nova Mulher, membro dos justos que esperavam a redenção, e, por conseguinte, a primeira partícipe do novo Israel, a Igreja.
No que diz respeito ao mestre-sala que afirma mas tu guardaste o vinho bom até agora, entendemos o quanto o Novo, que se inaugura a partir da vida de Jesus, não deve ser retido. O seu inteiro ensinamento, bondade e clemência, misericórdia e contrição, juízo e sentença, deve ser anunciado. Esta verdade pode ser notada com este particular :quando os convidados já estão embriagados serve o vinho menos bom. Esta alegoria é importante para observar tão só: Não há um outro vinho absolutamente novo para ser dado senão aquele que dá o Cristo em sua Caná pela palavra e pelos sacramentos. Este é o vinho bom que é conservado na integridade dos salutares ensinamentos de Nosso Senhor confiados à Igreja, que, serva e esposa, O escuta. Ainda sobre a necessidade de ser oferecido o vinho novo, certa vez, observaram a Jesus sobre o jejum que só os discípulos seus não seguiam como os de João Batista. Jesus, logo, responde: Acaso pode fazer que os amigos do noivo jejuem enquanto o noivo está com else? Dias virão, porém, em que o noivo lhes será tirado; e na queues dias jejuarão. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; caso contrário, o vinho novo estourará so odres, derramar-se-á, e os odres ficarão inutilizados. Põe-se, antes, vinho novo em odres novos. Mas, ninguém, após ter bebido vinho velho, quer do novo. Pois diz: O Velho é que é bom!" cf. Lc 5, 34 sg.
Com esta parábola podemos fazer um paralelo com o milagre em Caná. O vinho novo e bom que falatara era o do advento de Cristo. Nosso Senhor vem para trazer o Reino em Sua Pessoa. A presença Dele às bodas deve lembrar que em nossa vida é oportuna e essencial. Sem ele as bodas da sua Páscoa, lembrada, pelo terceira dia, em que o casamento acontece, o vinho novo sempre será nulo, mas, atentemo-nos, que tal vinho para muitos não será bem degustado parque exige uma resposta mútua para que nos cristifiquemos como um cônjuge que pela aliança se torna um.
Iniciando o Tempo Comum que preenche grande parte do arco do Ano Litúrgico, peçamos ao Senhor que nos despose, fato este, evento de salvação, que se dá no Sacramento do Altar. Da videira, a uva amassada que dará o vinho que conforta e nos alegra, fruto do Espírito Santo, que sempre nos permitirá a beber do vinho bom.