domingo, 5 de novembro de 2023

A maravilha de ser santo


 


Padre Everson Fontes Fonseca,

Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Grageru)


Diante desta Solenidade de todos os Santos e Santas de Deus, sentimos, mormente, a plenitude da misericórdia divina, que, em tão frágil criatura quanto é a humanidade, manifesta a Sua grandiosidade, já que realiza Ele maravilhas em nós. Mas, que tipo de prodígio? A santidade que provém da Sua graça.

No Apocalipse de São João, são designados santos, misteriosamente, "os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro" (Ap 7,14). Isso nos quer dizer muito. Primeiramente, a multidão incalculável vista por São João diante do trono do Cordeiro não passou a vida senão sofrendo diversas agruras, "grande tribulação", porque o seguimento ao Senhor, na radicalidade da nossa fé, é uma luta renhida, pois, como bem disse o Apóstolo São Paulo: "Nossa luta não é contra seres humanos, e sim contra principados e potestades, contra os dominadores deste sistema mundial em trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais" (Ef 6,12). E quantas situações se lançam sobre nós?! Permitidas por Deus, as provações devem fazer com que nos unamos mais a Ele, que nos fortalece com a Sua providência, e faz-nos pôr em prática o que Dele recebemos, para não termos em mente que a vida cristã é marcada pela facilidade, pela calmaria da "sombra e água fresca" ou do "mar de rosas", como dizem por aí. Mas, podemos pontuar mais: isso de lavar e alvejar as vestes no sangue do Cordeiro, de encharcar-nos, traz-nos a ideia de mergulho em Cristo, porque, revestindo-nos Dele, mergulhando em Sua vida divina, fazemos dela nossa vida, inclusive no que diz respeito à dignidade de sermos filhos de Deus, condição proporcionada pela redenção cumulada pelo Sacrifício do Senhor.

Estarmos revestidos de uma alva veste, de uma pura indumentária espiritual significa imitarmos o Cristo. Isto me faz lembrar de Esaú e Jacó. De como este último, para ganhar a bênção paterna da primogenitura, reveste-se das roupas do seu irmão gêmeo, para passar-se por ele, enganando o seu pai Isaac, já cego (cf. Gen 27,11ss.). Somos revestidos de Cristo pelo batismo, pelo banho no Seu Sangue, pelo banho da regeneração, pelo banho da santidade. Revestidos para a luta; lutamos porque fomos revestidos; lutamos revestidos, mas não podemos macular a veste do espírito nas más obras, haja vista que precioso é O que nos purificou e nos deu de Sua santidade como um dom a ser, constantemente, cultivado. O revestir da veste de Cristo, além de produzir em nós a imortalidade, faz-nos imitá-Lo, porque santo é aquele que imita Jesus, nunca estando alheios a Ele. A vida fora da imitação do Senhor é inhumana, não dá felicidade, desassossega-nos, cansando-nos imensamente.

Uma vida de santidade é um constante desinstalar-se, violentar-se; é um ultrapassar a natureza humana. E São Gregório de Nissa nos ilustra no que queremos dizer: "de mortal se torna imortal; de efêmero, eterno; em suma, de homem, Deus" (Omelia settima). Uma vida de santidade é uma saudável ousadia de nutrir e apropriar-se dos sentimentos do próprio Deus, de maneira que, como filhos Seus, cumulados por este grande presente em nós chamado filiação divina, tornamo-nos semelhantes a Ele, porque O contemplamos, aprendendo Dele, inclusive a, neste processo chamado santidade - simultaneamente tão sofrido e prazeroso -, também sermos dom incomedido para os outros, para os irmãos, testemunhando a obra do amor de Deus em nós chamada santidade.

Do testemunho à contemplação eterna, deste mundo ao céu, percebemos a urgência de abraçarmos, sem reservas, a santidade oferecida por Aquele que é o Santo a nós (cf. 1Pd 1,15-16). Que sintamos o Seu imperativo inesquecível: "Sede santos como eu, vosso Deus, sou Santo" (Lv 20,7), pois para isto fomos criados, eleitos e

 consagrados.