sábado, 31 de outubro de 2015

OS AMIGOS DE DEUS- Solenidade de Todos os Santos de Deus


                                                                            

                                                                         
                                                                                           
                                                                                         Por: Pe. Everson Fontes 




    Queridos irmãos,

      “Cremos na comunhão dos santos!” Esta é uma verdade cuja profissão de fé fazemo-la no Credo. Quem são os santos? De maneira simples, resumimos: os santos são os amigos de Deus. Dizemos amigos para designar um relacionamento de profunda intimidade com o Cristo de tal forma que, de tanta proximidade com Ele, o santo ganha as feições do Senhor, galgando cotidianamente uma vida de perfeição que ruma para o “perder-se” no Divinal Amigo. Ora, mergulhando nesta simplificada denominação, chegamos a pensar que o mundo hodierno carece de santos. Sim, urge o aparecimento de pessoas corajosas que, despojando-se de si mesmas, trilham, asceticamente, para uma vida cada vez mais conformada a de Jesus. A santidade não vem como num toque de mágica, mas acontece cotidianamente, dentro da humanidade do indivíduo que a abraça, através da superação das limitações, a partir das pequenas dificuldades.
Pelo Batismo, todo cristão é santo. Por isso que, no Credo, a Igreja afirma: “Creio na comunhão dos santos”. Comunhão, do latim communio, “união com”, assim, somos santos (da Igreja peregrina) unidos com os santos (da Igreja triunfante e da Igreja padecente); os santos pelo Batismo, os quais ainda estão no convívio com as coisas perecíveis do mundo que intercambiam com os santos que já consumaram a sua via e hoje gozam da Perpétua Glória do Coração de Deus ou se purificam no Purgatório para alcançar o prêmio eterno que lhes foi resguardo pelo Senhor; formamos uma única família: a do Corpo Místico de Cristo, embora este esteja inserido em uma dupla dimensão: temporalidade e eternidade.
É interessante que falemos sobre a intercessão dos santos. Tal como rezamos uns pelos outros, diante de Deus Nosso Senhor, os que já adentraram na amizade com Deus (aqueles que estão no Céu) ou mesmo os que se depuram no Purgatório rezam por nós, valendo-nos com a sua intercessão. A Lumen Gentium afirmará a este respeito: “Recebidos na pátria celeste e presentes diante do Senhor (cf. 2Cor 5,8), por Cristo, com Cristo e em Cristo, não deixam de interceder na terra por nós junto do Pai, mostrando os méritos que alcançaram na terra pelo único Mediador de Deus e dos homens, Jesus Cristo. […] Por conseguinte, por sua fraterna solicitude nossa fraqueza é grandemente auxiliada” (LG 49). Como as nossas preces e rogos chegam a eles? Deus, no esplendor de sua luz divina em que os santos estão envolvidos, mostra-lhes os pedidos e os louvores que lhes endereçamos. Pela via dos santos, as nossas preces e louvores se tornam menos indignas diante de Deus, mais possível de serem atendidas por serem mais aptas (cf. Ap 8,3), daí Santo Tomás de Aquino afirmar: Os santos “têm maior crédito frente a Deus após a morte do que em vida (pois estão mais próximos de Deus; nesta vida ‘peregrinamur longe a Domino’). Ora, já poderíamos pedir sua intercessão quando ainda viviam, segundo o exemplo do apóstolo São Paulo, que escrevia: ‘Eu vos exorto, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo e pela caridade do Espírito Santo, a que me ajudeis por vossas preces junto a Deus’ (Rm 15,30). Com maior razão devemos então pedir aos santos do céu o auxilio de suas preces” (S. Th., Suppl., p 72,a 2) . Em resumo, a comunhão dos Santos estende-se a terra, ao Céu e ao Purgatório, porque a caridade une as três igrejas - triunfante, padecente e militante - e os santos rogam a Deus por nós e pelas almas do Purgatório, enquanto que nós lhes tributamos honra e glória já que alcançaram a Bem-Aventurança eterna, ao tempo em que podemos aliviar as almas em via de purificação, aplicando, em sufrágio delas, Missas, esmolas, indulgências e outras boas obras.
Dissemos que os santos são amigos de Deus. Se somos santos pela graça batismal, logo, somos invitados a estreitar os laços com o Senhor. E como faremos esta proeza? O evangelho das bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12; Lc 6,20-23) responde-nos: através do alcance da felicidade. No entanto, não a entendamos como uma pseudo-felicidade, tal como o mundo apregoa com o oferecimento de prazeres, de bens e outras realidades que aumentam – ainda mais – o vazio no coração do homem, mas a atinjamos como vida realizada, plenificada em Deus já na angústia dos dias desta vida mortal, enquanto somos “travestidos em homem do nosso século”, como afirmara Jacques Maritain. Jesus, na perícope de Mateus acerca das bem-aventuranças, por nove vezes, utiliza a palavra “Bem-aventurados”, “Felizes”, por esta quantidade, entendemos o ‘Sermão das Bem-aventuranças’ como um projeto de realização pessoal e de Deus na vida do fiel. O homem sabe que, somente contando com os seus esforços, nunca conseguirá uma satisfação plena; sabe ainda que Deus não viola a liberdade do ser humano. Destarte, indubitavelmente somos cônscios de que a santidade é proporcionada pela Graça, mas deve haver a contribuição pessoal do cristão que a busca. Por isso, Jesus, a cada bem-aventurança, apresenta uma atitude ativa do fiel e, seguidamente, uma ação receptiva emanada do próprio Deus (“Bem-aventurados... porque...”).
É salutar termos diante dos olhos todo o ambiente físico em que acontece esta prédica do Senhor. Mateus situa Jesus em um monte. Subir, na Sagrada Escritura designa aproximar-se do próprio Deus. Percebamos, caríssimos, que as grandes manifestações de Deus acontecem em elevações geológicas. Notemos que Jesus não vai para lá sozinho, os discípulos se aproximam, afastam-se da baixeza da terra. Assim, sabemos que o Mestre quer atrair os seus para o Pai, de quem procede a santidade (Ele que, no superlativo, é o Santo dos Santos). O termo “santo”, que em hebraico é traduzido como kadosh, significa separado, apartado da transitoriedade. Quem, por essência, tem este caráter senão Deus? Através de Jesus, da sua encarnação como homem, obtemos, pelo Batismo, este afastamento, tornamo-nos “concidadãos do céu” (cf. Ef 2, 19).
Jesus, no monte, senta. Sentar-se, na linguagem litúrgica e até mesmo pedagógica é típico de quem ensina, é comum ao Mestre. A ação de instruir é de direito a quem tem autoridade sobre o aprendizando (discípulo) e sobre o que é ensinado. Jesus senta-se para falar da santidade de Deus e dos homens porque, como Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus, é santo. Jesus, sentado no monte, fala aos seus discípulos. Aos discípulos e não às multidões. Embora o chamado à santidade seja uma vocação universal, Jesus é consciente de que poucos – apenas os sensíveis à Boa Nova do Reino – são capazes de absorvê-la, pois a dinâmica das Bem-aventuranças soa aos ouvidos do mundo como irracionalidade. São João Crisóstomo afirma: “Nisto de pregar sobre um monte e na solidão, e não na cidade nem no fórum, nos ensinou a não fazer nada por ostentação e a separar-nos do tumulto, principalmente quando convém dialogar sobre coisas importantes” (Homiliae in Matthaeum, hom. 15,1). Pelo dito de João Crisóstomo, intuímos que a santidade não é uma realidade de vida que causa estardalhaços, mas que se prima em uma silenciosa violência contra os nossos quereres, principalmente quando não estão de acordo com a vontade divina, pois “o Reino dos Céus é para os violentos” (Mt 11, 12), o que é incompreensível e frustrante para o mundo.
Falávamos que a santidade é uma via de perfeição, um caminho para configurar-se a Cristo Deus. E que via é esta? Ela acontece, como dissemos, no cotidiano, através de pequenas atitudes silenciosas e profundas: pobreza em espírito; fortaleza nas aflições; mansidão; anseio e promoção da justiça; coração humilde e misericordioso; pureza de vida e costumes; pacificidade; enfim, alegria diante dos sofrimentos, injúrias, calúnias causadas pelas perseguições infligidas aos que seguem o Cristo.
O caminho para ser bem-aventurado (santo) não é fácil. E, sabendo das nossas condições, o próprio Deus nos cumula com suas recompensas à medida que lhe oferecemos a nossa disponibilidade para o projeto de santidade. Prova disto, temos as nove recompensas trazidas pelas Bem-Aventuranças. Ao escalarmos as escarpadas montanhas de uma vida pautada pela santidade, restar-nos-á a magna recompensa: o céu. Se formos perseverantes nesta boa ventura, diremos tal como São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4,7), pois alcançaremos a imortalidade pela salvação.
São João, na sua celeste visão, enche-nos da certeza de que os santos contemplam e adoram Deus face a face. No fim dos tempos, os que foram marcados na fronte com a insígnia do Cordeiro serão levados para o festim do céu. Queridos irmãos,

“Cremos na comunhão dos santos!” Esta é uma verdade cuja profissão de fé fazemo-la no Credo. Quem são os santos? De maneira simples, resumimos: os santos são os amigos de Deus. Dizemos amigos para designar um relacionamento de profunda intimidade com o Cristo de tal forma que, de tanta proximidade com Ele, o santo ganha as feições do Senhor, galgando cotidianamente uma vida de perfeição que ruma para o “perder-se” no Divinal Amigo. Ora, mergulhando nesta simplificada denominação, chegamos a pensar que o mundo hodierno carece de santos. Sim, urge o aparecimento de pessoas corajosas que, despojando-se de si mesmas, trilham, asceticamente, para uma vida cada vez mais conformada a de Jesus. A santidade não vem como num toque de mágica, mas acontece cotidianamente, dentro da humanidade do indivíduo que a abraça, através da superação das limitações, a partir das pequenas dificuldades.
Pelo Batismo, todo cristão é santo. Por isso que, no Credo, a Igreja afirma: “Creio na comunhão dos santos”. Comunhão, do latim communio, “união com”, assim, somos santos (da Igreja peregrina) unidos com os santos (da Igreja triunfante e da Igreja padecente); os santos pelo Batismo, os quais ainda estão no convívio com as coisas perecíveis do mundo que intercambiam com os santos que já consumaram a sua via e hoje gozam da Perpétua Glória do Coração de Deus ou se purificam no Purgatório para alcançar o prêmio eterno que lhes foi resguardo pelo Senhor; formamos uma única família: a do Corpo Místico de Cristo, embora este esteja inserido em uma dupla dimensão: temporalidade e eternidade.
É interessante que falemos sobre a intercessão dos santos. Tal como rezamos uns pelos outros, diante de Deus Nosso Senhor, os que já adentraram na amizade com Deus (aqueles que estão no Céu) ou mesmo os que se depuram no Purgatório rezam por nós, valendo-nos com a sua intercessão. A Lumen Gentium afirmará a este respeito: “Recebidos na pátria celeste e presentes diante do Senhor (cf. 2Cor 5,8), por Cristo, com Cristo e em Cristo, não deixam de interceder na terra por nós junto do Pai, mostrando os méritos que alcançaram na terra pelo único Mediador de Deus e dos homens, Jesus Cristo. […] Por conseguinte, por sua fraterna solicitude nossa fraqueza é grandemente auxiliada” (LG 49). Como as nossas preces e rogos chegam a eles? Deus, no esplendor de sua luz divina em que os santos estão envolvidos, mostra-lhes os pedidos e os louvores que lhes endereçamos. Pela via dos santos, as nossas preces e louvores se tornam menos indignas diante de Deus, mais possível de serem atendidas por serem mais aptas (cf. Ap 8,3), daí Santo Tomás de Aquino afirmar: Os santos “têm maior crédito frente a Deus após a morte do que em vida (pois estão mais próximos de Deus; nesta vida ‘peregrinamur longe a Domino’). Ora, já poderíamos pedir sua intercessão quando ainda viviam, segundo o exemplo do apóstolo São Paulo, que escrevia: ‘Eu vos exorto, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo e pela caridade do Espírito Santo, a que me ajudeis por vossas preces junto a Deus’ (Rm 15,30). Com maior razão devemos então pedir aos santos do céu o auxilio de suas preces” (S. Th., Suppl., p 72,a 2) . Em resumo, a comunhão dos Santos estende-se a terra, ao Céu e ao Purgatório, porque a caridade une as três igrejas - triunfante, padecente e militante - e os santos rogam a Deus por nós e pelas almas do Purgatório, enquanto que nós lhes tributamos honra e glória já que alcançaram a Bem-Aventurança eterna, ao tempo em que podemos aliviar as almas em via de purificação, aplicando, em sufrágio delas, Missas, esmolas, indulgências e outras boas obras.
Dissemos que os santos são amigos de Deus. Se somos santos pela graça batismal, logo, somos invitados a estreitar os laços com o Senhor. E como faremos esta proeza? O evangelho das bem-aventuranças (cf. Mt 5,1-12; Lc 6,20-23) responde-nos: através do alcance da felicidade. No entanto, não a entendamos como uma pseudo-felicidade, tal como o mundo apregoa com o oferecimento de prazeres, de bens e outras realidades que aumentam – ainda mais – o vazio no coração do homem, mas a atinjamos como vida realizada, plenificada em Deus já na angústia dos dias desta vida mortal, enquanto somos “travestidos em homem do nosso século”, como afirmara Jacques Maritain. Jesus, na perícope de Mateus acerca das bem-aventuranças, por nove vezes, utiliza a palavra “Bem-aventurados”, “Felizes”, por esta quantidade, entendemos o ‘Sermão das Bem-aventuranças’ como um projeto de realização pessoal e de Deus na vida do fiel. O homem sabe que, somente contando com os seus esforços, nunca conseguirá uma satisfação plena; sabe ainda que Deus não viola a liberdade do ser humano. Destarte, indubitavelmente somos cônscios de que a santidade é proporcionada pela Graça, mas deve haver a contribuição pessoal do cristão que a busca. Por isso, Jesus, a cada bem-aventurança, apresenta uma atitude ativa do fiel e, seguidamente, uma ação receptiva emanada do próprio Deus (“Bem-aventurados... porque...”).
É salutar termos diante dos olhos todo o ambiente físico em que acontece esta prédica do Senhor. Mateus situa Jesus em um monte. Subir, na Sagrada Escritura designa aproximar-se do próprio Deus. Percebamos, caríssimos, que as grandes manifestações de Deus acontecem em elevações geológicas. Notemos que Jesus não vai para lá sozinho, os discípulos se aproximam, afastam-se da baixeza da terra. Assim, sabemos que o Mestre quer atrair os seus para o Pai, de quem procede a santidade (Ele que, no superlativo, é o Santo dos Santos). O termo “santo”, que em hebraico é traduzido como kadosh, significa separado, apartado da transitoriedade. Quem, por essência, tem este caráter senão Deus? Através de Jesus, da sua encarnação como homem, obtemos, pelo Batismo, este afastamento, tornamo-nos “concidadãos do céu” (cf. Ef 2, 19).
Jesus, no monte, senta. Sentar-se, na linguagem litúrgica e até mesmo pedagógica é típico de quem ensina, é comum ao Mestre. A ação de instruir é de direito a quem tem autoridade sobre o aprendizando (discípulo) e sobre o que é ensinado. Jesus senta-se para falar da santidade de Deus e dos homens porque, como Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus, é santo. Jesus, sentado no monte, fala aos seus discípulos. Aos discípulos e não às multidões. Embora o chamado à santidade seja uma vocação universal, Jesus é consciente de que poucos – apenas os sensíveis à Boa Nova do Reino – são capazes de absorvê-la, pois a dinâmica das Bem-aventuranças soa aos ouvidos do mundo como irracionalidade. São João Crisóstomo afirma: “Nisto de pregar sobre um monte e na solidão, e não na cidade nem no fórum, nos ensinou a não fazer nada por ostentação e a separar-nos do tumulto, principalmente quando convém dialogar sobre coisas importantes” (Homiliae in Matthaeum, hom. 15,1). Pelo dito de João Crisóstomo, intuímos que a santidade não é uma realidade de vida que causa estardalhaços, mas que se prima em uma silenciosa violência contra os nossos quereres, principalmente quando não estão de acordo com a vontade divina, pois “o Reino dos Céus é para os violentos” (Mt 11, 12), o que é incompreensível e frustrante para o mundo.
Falávamos que a santidade é uma via de perfeição, um caminho para configurar-se a Cristo Deus. E que via é esta? Ela acontece, como dissemos, no cotidiano, através de pequenas atitudes silenciosas e profundas: pobreza em espírito; fortaleza nas aflições; mansidão; anseio e promoção da justiça; coração humilde e misericordioso; pureza de vida e costumes; pacificidade; enfim, alegria diante dos sofrimentos, injúrias, calúnias causadas pelas perseguições infligidas aos que seguem o Cristo.
O caminho para ser bem-aventurado (santo) não é fácil. E, sabendo das nossas condições, o próprio Deus nos cumula com suas recompensas à medida que lhe oferecemos a nossa disponibilidade para o projeto de santidade. Prova disto, temos as nove recompensas trazidas pelas Bem-Aventuranças. Ao escalarmos as escarpadas montanhas de uma vida pautada pela santidade, restar-nos-á a magna recompensa: o céu. Se formos perseverantes nesta boa ventura, diremos tal como São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4,7), pois alcançaremos a imortalidade pela salvação.
São João, na sua celeste visão, enche-nos da certeza de que os santos contemplam e adoram Deus face a face. No fim dos tempos, os que foram marcados na fronte com a insígnia do Cordeiro serão levados para o festim do céu. O autor sagrado oferece o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos de Israel. Este número é prenhe de significado, pois é o quadrado de doze (algarismo que designa o sagrado na numerologia bíblica) multiplicado por mil. Logo após oferecer-nos esta quantia, São João traduz qual o desígnio do número doze vezes doze vezes mil: “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos e línguas, e que ninguém podia contar” (Ap 7, 9). Primeiramente, João diz que os cento e quarenta e quatro mil eram da casa de Israel; depois, que são de todos os recantos do mundo. O que ele realmente quer afirmar é que esta multidão pertence à Igreja, a Nova Israel, que congrega em si os filhos de Deus, a legião dos santos espalhada por todo o orbe. Estes eleitos estavam revestidos na veste da pureza, empunhavam a palma da vitória sobre o poder da morte, a palma do martírio, e estavam de pé contemplando algo que nunca ninguém era capaz de ver: o próprio Deus.
Esses felizardos não estavam sós, compartilham os céus e a visão do Cordeiro com os anjos, ao tempo em que, com eles, misturavam as vozes em louvor, tal como fazemos na Eucaristia quando invocamos a santidade de Deus (Sanctus, Sanctus, Sanctus...), nosso louvor mistura-se ao dos entoados pela corte celeste. Meus caros, esses felizardos seremos nós se formos perseverantes. Imaginemos, quando chegarmos ao céu e perguntarem a nosso respeito: “De onde vieram esses?” E quando disserem de nós: “Esses vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro” (v. 14). Em outras palavras, dirão: - Esses souberam sofrer com valentia as agruras da vida, guardaram a fé; não sujaram as mãos e coração nas obras do mal, por este motivo merecem entrar e estabelecer morada no coração de Deus (cf. Sl 23, 4).
Se já nos é um grande presente de amor a adoção divina, esta adoção que nos faz filhos de Deus, o que poderíamos dizer acerca da manifestação de Deus em nós, já nesta vida, quando o transparecemos, até o momento da manifestação perenal, quando seremos um nele?
Que sigamos os conselhos de Paulo: “A noite vai adiantada, e o dia vem chegando. Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13,12). Que nos travistamos de Cristo, com as vestes da santidade e tudo o que, em si, ela embute. Que o exemplo daqueles que já gozam da feliz eternidade nos inspire a força e a coragem no rompimento do pecado, a fim de que, auxiliados por sua intercessão, cheguemos à nossa meta: o Céu, a Vida em Deus, onde nos “perderemos de amor Nele”.
Esses felizardos não estavam sós, compartilham os céus e a visão do Cordeiro com os anjos, ao tempo em que, com eles, misturavam as vozes em louvor, tal como fazemos na Eucaristia quando invocamos a santidade de Deus (Sanctus, Sanctus, Sanctus...), nosso louvor mistura-se ao dos entoados pela corte celeste. Meus caros, esses felizardos seremos nós se formos perseverantes. Imaginemos, quando chegarmos ao céu e perguntarem a nosso respeito: “De onde vieram esses?” E quando disserem de nós: “Esses vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro” (v. 14). Em outras palavras, dirão: - Esses souberam sofrer com valentia as agruras da vida, guardaram a fé; não sujaram as mãos e coração nas obras do mal, por este motivo merecem entrar e estabelecer morada no coração de Deus (cf. Sl 23, 4).
Se já nos é um grande presente de amor a adoção divina, esta adoção que nos faz filhos de Deus, o que poderíamos dizer acerca da manifestação de Deus em nós, já nesta vida, quando o transparecemos, até o momento da manifestação perenal, quando seremos um nele?
      Que sigamos os conselhos de Paulo: “A noite vai adiantada, e o dia vem chegando. Despojemo-nos das obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13,12). Que nos travistamos de Cristo, com as vestes da santidade e tudo o que, em si, ela embute. Que o exemplo daqueles que já gozam da feliz eternidade nos inspire a força e a coragem no rompimento do pecado, a fim de que, auxiliados por sua intercessão, cheguemos à nossa meta: o Céu, a Vida em Deus, onde nos “perderemos de amor Nele”.

domingo, 25 de outubro de 2015

XXX DOMINGO COMUM- O Cego Bartimeu

    Irmãos,

         Neste Domingo, a Palavra de Deus nos apresenta uma figura que aparece no itinerário da subida de Jesus para Jerusalém: o cego e mendigo, Bartimeu, ou seja, o filho de Timeu, particularidade esta notada apenas pelo evangelista São Marcos, enquanto São Mateus di-lo ser dois cegos e São Lucas um cego. A primeira observação a ser feita neste aspecto é  a não  identidade, mas tão somente o que dava as características: “Cego e mendigo e estava à beira do caminho”. Aquele homem estava “à margem”. Seu estado de cegueira e sua condição de mendigo, o colocou  distante de todos, até mesmo de sua possível família. Que poderia mais bastar para ele? Quem o valeria? Quem  se utilizaria do “seu nada” para integrá-lo? Quem o tiraria da beira da estrada?
         Uma situação que podemos fazer um paralelo com o milagre do cego é a Parábola do Bom Samaritano. Jesus que se oculta nessa personagem dá a lição de quem é “o meu próximo’’, mas a primeiríssima lição parabólica é que Ele se mostra no meio da estrada como o nosso primeiro mais próximo. Diz-nos São Paulo: “Jesus Cristo que era tão rico, fez-se pobre para nos enriquecer.’’ Parece-nos que como no caso do Bom Samaritano, como à cura do cego, Jesus “coloca-se” numa profunda identificação. Ele se compadece. A sensatez do cego chegou-lhe por meio do sentido. Ele “ouviu” que o Nazareno passava por ali quando saia de Jericó.
         
    Esse “ouvir” que num primeiro momento pode ser levado a audire, agora, depois duma profissão de fé, torna-se sobrenatural. Ele é um acesso da disponibilidade livre de cada homem para lançar-se no Outro capaz. Percebamos, caríssimos irmãos, como a virtude da fé, requer primeiro uma saída pessoal: Bartimeu “jogou o manto”, livrou-se duma mendicância segurança e se dirigiu a Jesus. Antes, primeiro, lança-lhe um brado de clemência, de misericórdia: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” Este pedido quase que lhe é transformado numa ladainha: quanto mais os outros mandava-lhe calar, “mas ele gritava com mais força” .Para aquele pobre, só lhe restava, agora o “Nunca Bastante”, como diz São Francisco de Assis. Nem seus trapos, sua cegueira e terceiras opiniões, tirar-lhe-iam o que o penhor da fé lho pode garantir-lhe: o compadecido Jesus de Nazaré- Deus e homem verdadeiro. 

    Que Deus pode, então, quando nos aproximamos com os farrapos do   “eu”, nos oferecer ?  Mirar-nos e perguntar: “O que queres que eu te faça?” Apenas pode nos dá o que possa nos levar à vida em plenitude, o essencial. Sem a visão, toda a claridade, sempre lhe seriam trevas. Sem o “sentido” que aqui novamente é sinônimo de “existir”, continuaria aos atalhos e mendigaria sem nunca bastar-se. Ora, a cura do cego Bartimeu é um dado de conversão. Curado, é inserido, agora à comunidade de Jesus. Se estava outrora “à beira do caminho”, põe-se, agora às “claras”, na comunidade dos seguidores, torna-se discípulo. Não seria suficiente uma “cura” por uma profissão de fé, e permanecer inerte! Neste sentido, portanto, é dum terrível contraste, sobretudo quando a fé é tornado um patrimônio mercantil religioso, “encontrar” Jesus e não conhece-Lo, ou seja, comprometer-se à Sua Pessoa que continuamente “muda a nossa sorte”, conforme se canta no Livro dos Salmos.

     
       
        O Jesus que descerrou os olhos daquele cego é o mesmo a quem devemos entregar a nossa vida. A Quem podemos oferecer nossas trevas e, mesmo “à beira do caminho”, sermos invadidos com o fulgor da luz regeneradora que extirpa o pecado e nos põe como “filhos da luz”. Neste aspecto podemos nos recordar da exatidão no simbolismo da liturgia batismal à Forma Extraordinária: Chegamos até o momento da pia batismal, criaturas, no breu duma existência despro-Vida, por isto o sacerdote endossa a estola roxa.


Sem “ouvir” a Cristo nosso acúmulo é mendicância nossa condição é a cegueira. Devemos nos recordar, aqui, que o ato do nosso Redentor ao participar da descendência- como permitiu ficar com o cego- foi para nos transpor para a visão da Sua glória imortal: Seguir a Cristo no trajeto da nossa vida. Colocá-lo como o critério basilar do discernimento, para não sermos cegos pela falta de fé que leva a negar a presença de Deus. Amém!

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O caminho sinodal é a catolicidade

    Desde à segunda-feira me vem a necessidade em escrever sobre. Num primeiro momento, indubitavelmente, pelos argumentos d'alguns dos Padres Sinodais que ''ad limina'' ao sucessor de Pedro ''devem'' ser com o cabeça do Colégio dos Doze, sã guardiães da piíssima Doutrina, que, atenção, não são códigos indecifráveis e mais: não são ''fardos pesados'' para serem colocados às costas. Neste sentido, portanto, vale a profissão de fé dos nossos ''irmãos mais velhos'', como diz o Papa Bento XVI ao se referir ao crente judeu. Toda a fé de Israel angula-se ao seu "Shemà'', ao ouve a ''Adonai''. Ao dia, por dezoito vezes, o judeu piedoso canta com o coração este que é o arrimo recebido da paterna .
       A primeiríssima observação e, nesta reflexão, a que me interessa e partilho convoco, irmãos, é que depois do vocativo (Ouve), diz o Livro do Deuteronômio: ''Ouve, ó Israel, o Senhor o nosso Deus, o Senhor é UM!'' (cf. Dt VI, 4-9). Não obstante, a este ''Um'', que deveria o povo de Deus, quando saiu do Egito, da servidão ao faraó, muitas vezes ''voltara-se'' contra o Único Deus e, abandonando-O, ''prestaram homenagem'' aos seus ídolos e, assim, aquela ''Unidade'', para Israel já estava prostituída por uma miríade de ''uns'' e este transviar-se, ''de um povo de cabeça dura'',nos evidencia na história sagrada os infortúnios pelos quais nossos irmãos na fé abraâmica foram submetidos. A partir desta colocação, portanto, vale-nos a diligência para o preciosa acepção encontrada ao vocábulo ''Sínodo''. O dicionário é preciso: "Sýnodos'', do grego, significa 'caminhar juntos'. 
       
 Os sínodos podem ser convocados pelo Papa como Bispo de Roma e Príncipe dos Doze, mas também, pelo Bispo local em sua Diocese quando convoca seu presbitério e os fieis para que à lâmpada da Tradição que dá o ''sensus fidei'' e o ''sensus ratio'' , cheguem, pelo Espírito Santo de Deus, atenção, não ao que ''uma maioria decidiu'', todavia, sempre a uma reflexão, a uma conclusão, que, ''atento(s)'' aos desafios duma vivência árdua da fé, sejam sempre capazes, com todas as aflições que o mundo moderno impõe, ''dá os motivos da sua esperança''.
         Ainda sobre este ''caminhar juntos'' preocupa-se as arbitrariedades colocadas como ''reflexão'' por parte dalguns padres sinodais, que se encaminha não mais para um ''caminhar juntos''- que é a lógica do Dia de Pentecostes- mas uma disputa como aqueles que estavam dispostos a ''construir'' a Torre de Babel e, separados, foram responsáveis pela confusão das línguas. Ademais, irmãos, o ''caminhar juntos'', é com razão uma das notas da Igreja: ela é Católica, porque, à inteireza da fé, é ''dispersa'' por todo o mundo para anunciá-LA de modo a ecoar aquele: ''que o vosso sim seja sim e o vosso não seja não''. Se este não é o ''caminhar juntos'' da Esposa de Cristo, cuja ''praxe''-pastoral é esta proposta, parafraseio o que disse por esses dias o Cardeal Burke, ''já não será mais católica.''

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O enérgico ''Abrir-se'' de São João Paulo II

Neste dia da memória de São João Paulo II, uma, duas, três palavras...
O Papa polonês quando iniciou o seu pontificado àquela Missa solene do seu longínquo e frutuoso papado, podemos lê e hoje os meios avançaram e há em vídeo a homilia. O então novo Papa, à altura, já, dos seus mais de cinquenta anos, pode pontuar com voz forte como ele "seria Papa''. São palavras presentes. Elas ecoam e, aqui, uma feliz memória da beatificação quando Sua Santidade Bento XVI o elencara ao nome dos bem-aventurados, pode reCORdá-las, aquele que também estava à Praça de São Pedro e já era de anos seu amigo. Dissera no distante de um mil novecentos e setenta e oito: ''Abrir as portas a Cristo. Não tenhais medo! Abrir-escancarai-os vossos corações ao Amor de Deus." Esta conclamação neste período sinodal, cai como que uma espécie de ''lema''.
'' Abrir-se a Cristo''-significa- Sou e estou livre para fazê-lo o Meu Deus. Estou certo de que abrido-me a Ele, terei, e como, de ''considerar tudo como esterco'' e, além disto, pagar com a minha vida as consequências deste acesso.
''Abrir-se'' ao amor de Deus não se explica com uma concepção vaga de ''misericórdia''. As palavras citadas pela boca do Senhor "quero misericórdia e não sacrifício'' devem ser desveladas pelo o que a Misericórdia é capaz de fazer: ''em seu amor é capaz de queimar os nossos pecados.'', escreve Ratzinger em algum lugar. 
''Abrir-se'' ao Cristo das Escrituras e da fé católica, vivo em Seus Sacramentos, vivo na Igreja ''dinâmica'' e sempre a-feita é não mudá-Lo porque, certa vez, sabemos respondeu a Beata Teresa de Calcutá: ''Sou eu quem devo mudar!''
''Abrir-se'' é um contínuo processo de conversão, do contrário ''reter-se-á'' o Cristo e ele à minha ''pessoa'' será apenas mais um.

sábado, 17 de outubro de 2015

XXIX DOMINGO COMUM- Quem pode beber do Cálice do Senhor?

 Cristãos,
    

“O Filho do homem veio dar a sua vida para a salvação dos homens.”  A Antífona de Comunhão colocada como opção para a Santa Missa deste Domingo são as palavras de Jesus que ouvimos do ministro ordenado ao final do Evangelho hoje proclamado pela Liturgia Católica. Constitui, elas, como que uma espécie de síntese tanto para os filhos de Zebedeu, João e Tiago e também para os três anúncios da paixão voluntária de Jesus aos discípulos à proximidade da Cidade Santa. Aqueles dois apóstolos de Jesus que com Pedro estavam nos momentos mais solenes do ministério de Jesus e que acompanhara o Filho de Deus até à suprema agonia, ainda, de fato, não havia chegado a uma clarividente compreensão do que era a “glória” do Messias. Não imaginavam, ainda que passados três anos à companhia de Jesus, a “firme decisão’’ do Senhor quando avança para Jerusalém.

          Era, ainda entre eles, a forte concepção de um “jesus ideologizado” advindo, possivelmente, das situações pelas quais Jesus havia passado: De um lado o poderio romano que com seus cavalos e espadas, altos impostos... oprimia as civilizações, anunciava uma espécie de pax romana que era na verdade uma forja sobretudo, inclusive, no julgamento de Cristo. De um outro ângulo viam-se os adeptos às seitas inseridas: saduceus, zelotas, fariseus. E podemos ainda destacar os partidários de Herodes. Formava-se, assim, cada um a seu modo, uma espécie de messianismo-por parte das autoridades religiosas e também a vênia ao Imperador que era não apenas o Pontifex Maximum- como se autointitulava- nele estava condensado a figura da divindade também.


      Neste contexto aparece o pregoeiro Jesus de Nazaré que traz o Reino dos céus. Seu “Evangelho” é uma dissociação e uma radical conversão dos corações do homem para Deus. Jesus que não se utiliza dum esquema de governo para traçar metas para serem cumpridas. Neste sentido, comenta Ratzinger: “Jesus era muito mais que um bom rabino e muito diferente de um zelota, de um revolucionário contra o poder romano. Jesus-podemos dizer-foi uma surpresa, uma figura que não era esperado daquele modo.’’  Sendo assim, portanto, vale quando Jesus toma para si o oráculo do Profeta Isaías que delineava a missão do Messias, o Servo do Senhor: “O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os quebrantados de coração e proclamar a liberdade aos cativos, a libertação aos que estão presos (cf. Is LXI, 1sg.).”  

   Jesus é a face inaudita de Deus, nunca dantes, nem sequer depois, vista pelo homem. Jesus é no hoje da nossa fé, o Servo obediente, que imolado na cruz mostrou a essência do serviço à competência do que se refere a Deus e concomitantemente ao Seu Reino!  Sendo assim a pretensão petitória de João e Tiago deve ser mudada não pedindo um lugar ao Mestre, lembremo-nos de que já havia discutido quem era o maior, ou a tentativa do “alguém” que deseja ter a vida eterna, mas não é capaz dum desprendimento pessoal, um anular-se. “Beber do cálice’’ de Jesus significa a plena capacidade de que a vida de todo discípulo está imersa com a do Senhor, de modo tal, a merecer a feliz dita: “Do cálice que eu beber, vós bebereis, e com o batismo com que eu for batizado, sereis batizados.” Isto, pois, é o serviço, que não é a priori um “fazer”, mas um “estar” para a partir desta permanência chegar à genuína certeza da pessoa de Jesus de Nazaré, cujo ministério foi um prelúdio do Gólgota.  

Ars Celebrandi- Epifania para o Mistério


Por André Fernandes Oliveira

Toda modalidade que se executa na Celebração da Liturgia Sagrada que é compreendida pela definição de Rito é uma epifania de Deus que no Mistério da Fé nos faz dobrar na terra "das coisas do céu".



domingo, 11 de outubro de 2015

Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira Principal do Brasil

   


 Caros  irmãos,

                     Chegamos ao esperado doze de outubro. Data que assinala o marco duma das mais religiosas festas da piedade popular para os cristãos católicos da Terra de Santa Cruz: a patronal solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Pelas plagas do Brasil oratórios, paróquias, capelas, catedrais...trazem e prestam o devido preito à Mãe de Deus, advogada, assim, a Virgem da Conceição Aparecida.  À escolha de tantos cantares, parece-nos, pois, que um é executado em uníssono: “Viva a Mãe de Deus e nossa sem pecado concebida, viva a Virgem Imaculada a Senhora Aparecida”, este que é sacramentado o Hino Oficial da nossa Padroeira. A partir destas considerações o que nos faz hoje celebrar a Toda Santa? Com que particularidades a história daquela imagem encontrada no Rio Paraíba, no distante século dezoito, repercute sempre presente em nossos dias? Qual o eixo teológico que podemos abstrair desta significativa piedade popular?
       

      Antes de mais nada, para nos nortear nesta reflexão, faz-se mister a citação do número vinte e cinco da Exortação Apostólica Marialis Cultis, do Beato Papa Paulo VI: Na Virgem Maria, de fato, tudo é relativo a Cristo e dependente d'Ele: foi em vista d'Ele que Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu Mãe toda santa e a plenificou com dons do Espírito a ninguém mais concedidos. A genuína piedade cristã, certamente, nunca deixou de pôr em realce essa ligação indissolúvel e a essencial referência da Virgem Maria ao divino Salvador. É por esta linha da palavra da Igreja que nos voltamos à Senhora Aparecida. Em seu matinal louvor, o Hino de Laudes, nos põe diante da intercessão de Maria para com os que no Filho seu recebem tal filiação. Canta com solenidade a Igreja: Ó Virgem a quem veneramos com piedade enternecida e a quem alegres chamamos Aparecida. A partir daqui notamos uma identificação que suplanta uma dimensão apenas cultural ou talvez uma prática religiosa aquém da Revelação. Maria Santíssima identifica-se com a nossa história porque é o principal membro do Povo de Deus. 

      Com razão, vale o paralelo colocado na primeira leitura da hodierna Solenidade com a figura da Rainha. Assim como Ester olha para Israel, apieda-se, a Senhora da casa de Nazaré, pela descendência dos nossos pais. É importante destacar que primeiro “Deus olhou para a humildade de sua serva”, canta-Lhe ao Magnificat e logo Maria nos volta o olhar porque plasmada da graça singular, não pode retê-la. Aquele “Fiat voluntas tua” é uma disposição da nova Mulher que se opõe à primeira Eva. Maria só pode sê-la porque é a Única que pode orientar os rumos da nossa história, conjugando-a, com as núpcias do Cordeiro, cujo vinho é tornado Sangue e assim autêntica e única aliança que não pode ter fim. Aqui, então, vale a observação duma análise diligente da imagem encontrada. Seu aspecto escuro, enlodado pelas profundezas, coloca a predileta filha de Sião não apenas como nossa medianeira, mas também, por este aspecto, Maria, uma vez aparecida, cruza a nossa existência e muda, definitivamente, toda a fortuna da humanidade.
     
      Nos traços daquela bendita imagem nós nos colocamos e pela identificação da Mãe de todos os homens, verbaliza singularmente, o sacro orador lusitano Pe. António Vieira, no Sermão da Natividade de Nossa Senhora, como que a exaltar a admirável presença de Maria no desenvolvimento da salvação: Os diversos títulos da Virgem Mãe de Deus sempre me deixam admirados. Em particular, gosto de quando A vejo chamada “Stella Matutina”, Estrela da Manhã. Assim como esta estrela (Vênus, se não me engano) surge brilhante quando ainda é noite, assim a Virgem Santíssima surgiu ainda nas trevas do mundo. Como um sinal d’Aquele que estava por vir. Contemplarmos Maria e a honrarmos com o título de Aparecida é sabermos que ela sempre nos valeu. Nossa Senhora encontrada por aqueles pescadores, cuja pesca havia sido insatisfatória,   nos dá, o que não pode faltar, como nas bodas em Caná: Jesus. O admirável sinal do Apocalipse narrado à segunda leitura é também encontrado na efígie diminuta da Conceição Aparecida. A este propósito, podemos perceber naquela imagem, vista de perfil, um dado todo particular: Maria se encontra com o útero avantajado. É propício, aqui, notar uma peça de um cancioneiro do século XV que evidencia com admiração a expectação da Virgem, quando já, ao término, proclama-se em Latim: Pariesque filium, audite carissimi! Vocabis eum Iesum, Ave Maria. Cuncti simus concanentes, Ave Maria. Paristes um filho, escutai caríssimos! Porás o nome de Jesus, Ave Maria. Todos juntos cantamos, Ave Maria.  Desta maneira a presença de Maria, aclamada de Aparecida, é vista no sentido primordial da sua missão: “portar a Deus”. Verdade tanto pela concepção no bojo do seu útero como em todo o seu ser. Maria gestou ao Filho de Deus, desde o momento em que “dispor-se” para que o Anjo a saudando com aquele Ave, soubesse que ali, “mudado o nome de Eva”, como lhe canta a liturgia, a vida e as consequências para  o homem também fossem.
        
        Escutamos no Evangelho que a Mãe de Jesus também havia sido conviva às bodas que acontecem ao terceiro dia. Sabe-se que a festa de casamento é imagem de Deus que desposa a Igreja, mostra esse amor que é oblação no Filho da Virgem. Desta maneira, Maria, sendo a primeira que se entrega, é capaz da indicação para os discípulos, para a Igreja, que, uma vez partícipes do festim da redenção, pode compreender o Fazei o que ele vos disser. Pensemos que na mais que centenária história da Virgem de Aparecida é esta a razão de nos dobrarmos Aquela que traz Deus para habitar de entre os homens. A devoção à Maria é com justeza o liame da terra com os céus para que tanto por seus rogos quanto imitando-a sejamos mais parecidos com Jesus Cristo. Desta feita, comenta o então Cardeal Ratzinger: [...] sem Maria a entrada de Deus na história não chegaria ao seu fim, portanto não teria conseguido justamente o que tem importância na confissão de fé- que Deus é um Deus conosco e não só um Deus em si próprio e para si próprio. Assim, a mulher, que designou a si mesma como humilde [...] está colocada no ponto central da confissão de Deus vivente e Ele não pode ser pensado sem ela. Ela pertence irrenunciavelmente à nossa fé no Deus vivente, no Deus que age.  

      Nossa Senhora Aparecida interessou-se por nós porque também participamos das núpcias do Cordeiro que acontece na Eucaristia e se desdobra em toda a nossa vida que mais identificados com o Cristo, deve ser, não outra coisa, senão o senhorio da presença do Reino, ou seja, Ele mesmo, na parcela do seu Israel, que se encontra em nosso país. Na pequenina imagem da Virgem Aparecida, venerada nos altares, suplicamos-lhe que uma vez tendo gestado o Novo do Eterno, volva seu olhar benigno para as situações nocivas que assolam nossa pátria de modo tal a nos levar em seu regaço para beber da letícia (alegria) do “vinho melhor”, para  se construir a “casa sobre a rocha”. Rogai por nós, ó Santa Mãe Aparecida. Amém.

XXVIII DOMINGO COMUM- Obrigado porque fostes embora

     

Primeira Leitura (Sb 7,7-11)

 Salmo de Resposta (Sl 89)

 Epístola (Hb 4,12-13)
         
Evangelho- Ano B-
(Mc 10,17-30)
                                                                                         *Por Ian Farias de Carvalho
     
 O pecado não está em possuir, mas em ser possuído por aquilo que você possui. É isso que nos ensina Jesus quando critica não a riqueza, mas o fato de nos deixarmos possuir por ela. Por isso, quando tudo queremos, nada conseguimos. No-lo recordou Pe. Vieira: "Quem quer tudo que lhe convém, perde o que quer e o que tem". Nas realidades prioritárias da nossa vida a lei de Deus sempre vai para o último lugar diante do desejo do homem. A riqueza mal usada é como corrente, que não 
permite que o homem seja elevado, mas o prende neste mundo e quem está preso não pode subir, mesmo que tenha asas e desejo. Há precisos 3 anos, quando repetia-se este mesmo evangelho, eu disse que condenar a riqueza seria um grande prejuízo a Jesus, pois existem pobres soberbos e ricos que são pobres. Existe a profunda pobreza material e a profunda pobreza espiritual. Um não é sinônimo do outro, como também o inverso não pode sê-lo. Quem não sabe usar o seu dinheiro para o bem, não usa bem seu dinheiro. 

Obrigado, jovem rico, porque fostes embora e não permanecestes onde achastes que não te cabia. 

Obrigado porque vistes que não era aquele o teu local e, na tua sinceridade, mesmo apegado aos bens do mundo, não fostes um usurpador de título ou procurastes o Senhor por interesse.

Obrigado porque proporcionastes a Jesus o belo ensinamento de que o homem que não usa a sua riqueza para o bem, não sabe usar bem sua riqueza.

Obrigado porque ensinastes que não se pode seguir Jesus se não somos capazes de renunciar ao material, ao supérfluo e transitório.

Obrigado porque mostras aos que querem seguir o Senhor a dificuldade do caminho, exigências e respostas de amor que devem ser dadas a quem nos deu tudo.

Obrigado, Padres, que vos percebendo incapazes de dar continuidade ao caminho exigente do Evangelho e para honrar a Igreja preferistes renunciar ao exercício do ministério, não fazendo como tantos outros que dizem amar a Cristo, mas ajuntam para si tanta riqueza, quanto almas para Deus.


Obrigado, Religiosos (as), que não conseguindo abraçar intimamente o caminho do discipulado, deixastes os claustros e congregações para vos inserirdes no mundo, reconhecendo a não-capacidade de dar continuidade ao seguimento radical.




  

sábado, 3 de outubro de 2015

XXVII DOMINGO COMUM- '' Quod ergo Deus coniunxit, homo non separet!'' (cf. Mc X, 9)

          

    

 1ª Leitura - Gn 2,18-24Salmo - Sl 127,1-2.3.4-5.6 (R. cf. 5)2ª Leitura - Hb 2,9-11Evangelho - Mc 10,2-16



Caríssimos no Cristo Total,                                                                     
        



   Providencialmente quis Deus este Domingo com o qual à Basílica de São Pedro , Sua Santidade Papa Francisco e os Padres Sinodais abrissem o Sínodo das Famílias querido desde o ano de dois mil e treze. Deste ano para cá foram gravitadas em torno do termo “Família” uma série de reflexões, algumas das quais, tornavam-se equidistantes do conceito tanto em sua gênesis  natural, bem como, no sentido instituição tornada Sacramento, com a aquiescência libérrima entre um homem e uma mulher. Sabido disto, espera-se pois,   do Sínodo , um tempo para que à luz do perene magistério, a Igreja, que é Católica, faça sua via pastoral com sólida reflexão para dirimir os males que sucumbem o vital organismo da Sociedade. Seu clímax que será quando da inscrição dos pais de Santa Teresinha do Menino Jesus ao elenco dos santos. Depois da Família de Jesus, torna-se um modelo de virtudes para a “Chamada Universal” à Santidade, daqueles que, nascidos da carne, foram pelo Batismo enxertados à magna e católica família que se chama Igreja.
          O lecionário para este hoje nos faz, imersos num mundo de tantos desvios, de a-conceitos, de dúbios subjetivismos... pousarmos um olhar mais atento, clarividente e verdadeiro para “o que é a família”. Quiçá fossemos permutar essa afirmativa para “O que é a família?” em ambientes que são tomados por outras hermenêuticas pautadas por facetas ideológicas permeadas por correntes feministas, por exemplo, não somente seria uma indagação difícil de ser respondida, mas outrossim, ela não seria concebida da valência principal para tal ordenamento: A união entre o homem e uma mulher para a perpetuação da prole. Isto seria um tabu! Uma imposição “valoral” com bases no direito e na tradição do Ocidente judaico-cristã. Óbvio não podemos nos deter por essas alternâncias que tantos males têm trazido para nossos filhos e, destarte, já nos responde o sábio Papa Bento XVI em sua encíclica Deus Caritas Est: “A palavra ‘amor’ é um problema de linguagem!”  Para o mundo não vale a máxima agostiniana: “Ame e faça o que queres’’, antes para o cristão porque sabe que “amar’’ não é sentimento vácuo e tampouco uma banal justificativa impregnada por Respeito Humano.
    Foi porque Deus é Amor que tamanha essência, o Eterno, que poderia bastar-Se; no “Faça-se”, tornou-nos a partir dos nossos primeiros pais partícipes da sua economia, ou seja, a revelação-aliança de o homem não permanecer só, dando-lhe uma “carne de sua carne e ossos dos seus ossos!” Esta exclamativa trazida pela perícope hoje proclamada na Liturgia da Igreja nos faz compreender que a união esponsal é sinete, sempre, segundo o Apóstolo São Paulo à Epístola aos Efésios, daquela conjugação entre “Cristo e a Igreja”, Aliança, pelo obséquio da Cruz e, simultaneamente, aquilo que já é entendido, pelas admiráveis e misteriosas palavras já presentes dantes da queda primígena: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne.” Ora, antes de sê-los carne, que aqui não se aplica uma acepção do que é nocivo, mas o “corpo”, é mister notarmos que “adâmico” é o que é vindo da terra, é barro! E, por isto mesmo é frágil e somente se torna forte quando recebe às narinas Zoé, o Espírito da vida e que dá a vida, tornando o homem capaz de nomear as outras espécies de vida e de ter uma mulher, plasmada da costela, que depois é a Memória Neo-Testamentária do que viram os Padres da Igreja: assim como Eva foi tirada da costela de Adão, a Igreja nasce do lado trespassado do Cristo na Cruz. Partindo o homem e desposando a sua esposa, não estão mais imersos num monólogo e num individualismo, porém são entregues um ao outro, conforme prometeram em suas consciências e defronte ao Altar, firmaram a Aliança, por isto mesmo a Igreja enxergou o Matrimônio um dos sacramentos ditos de missão. Partem, não para viverem numa abstrata felicidade, num “que sejam felizes enquanto dure” e sim para fiéis às promessas do Matrimônio, como “educar os filhos na Lei de Deus e da Igreja”, logo o sentido sacrossanto da família e da sua missão pode ser entendida numa breve palavra do discurso do Papa Francisco em Filadélfia: “(...) a família tem carta de cidadania divina.”  Compreendemos assim que os parâmetros para defini-la são encontrados na Palavra de Deus e por conseguinte a séria realidade do vínculo matrimonial que é a indissolubilidade, tão bem ilustrada no cântico do  Salmo Cento e Vinte e sete: “A tua esposa é uma videira bem fecunda no coração da tua casa; os teus filhos são rebentos de oliveira ao redor da tua mesa.”
          Jesus, no Evangelho, é pego pelos fariseus, a intenção é para entregá-lo aos algozes seus. O Senhor que “conhece o íntimo dos homens” responde-lhes com uma pergunta: “O que Moisés vos ordenou?” E, eis: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la.” E então a capital questão que assola o mundo e, infelizmente, aqueles que desejam contornar o cristianismo católico duma maneira menos rigorosa: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento.” Coração para o judeu e para as Escrituras Sagradas é o centro de todos os intentos do Homem! É a partir dele que se há uma consciência formada ou pérfida. Um coração que endurece, ou seja, não aprazível ao deleite da vontade Divina é obscurecido pelo pecado. Atualmente são tantas as asperezas   e os ditames. Pensemos na questão dessa nossa reflexão, a Família. As perturbações pelas quais  passa! Declarada por muitos que nem no âmbito político-social deveriam exercer, que o que vale é um “bem estar dos indivíduos” e põem em seus esquemas de governo para massificar e não perder um posto corrupto, a célula-mater das sociedades, ou melhor, sem a qual não se haveria Sociedade. A insensibilidade dos fariseus poderia ser comparada aos que, atualmente, como diz São Josemaria Escrivá, “retalham a túnica alva da Esposa de Cristo!” As esclarecidas palavras de Jesus, garantem a permanência do Matrimônio: “Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!” Sem o Espírito de Cristo que criara o homem e a mulher, as palavras de Jesus não são mais que um longínquo passado e, de repente, o cristão entra no ritmo do mundo! E como compreendê-las?  Jesus então se vale mais uma vez da criança que é sinal daquela inocência original e da vontade que se encontra nos braços do Pai! A Família cristãmente, será sempre regida pelo prisma da Palavra de Deus e da moral católica, pois esta é a razão pelos quais participamos dos benefícios da salvação, haurido dos sacramentos que nos conduzirá aos céus, conforme ouvimos na leitura da Epístola de São Tiago, desta Missa: “Convinha de fato que aquele, por quem e para quem todas as coisas existem(...) levasse o iniciador da salvação deles à consumação, por meio de sofrimentos.” A Ele, o Primeiro e o Último. O Amém da Igreja, a glória e a imortalidade pelos séculos dos séculos.

                                                                   *Por André Fernandes Oliveira