Irmãos,
Neste
Domingo, a Palavra de Deus nos apresenta uma figura que aparece no itinerário
da subida de Jesus para Jerusalém: o cego e mendigo, Bartimeu, ou seja, o filho
de Timeu, particularidade esta notada apenas pelo evangelista São Marcos,
enquanto São Mateus di-lo ser dois cegos e São Lucas um cego. A primeira
observação a ser feita neste aspecto é a
não identidade, mas tão somente o que
dava as características: “Cego e mendigo
e estava à beira do caminho”. Aquele homem estava “à margem”. Seu estado de
cegueira e sua condição de mendigo, o colocou
distante de todos, até mesmo de sua possível família. Que poderia mais
bastar para ele? Quem o valeria? Quem se
utilizaria do “seu nada” para integrá-lo? Quem o tiraria da beira da estrada?
Uma situação que podemos fazer um
paralelo com o milagre do cego é a Parábola do Bom Samaritano. Jesus que se
oculta nessa personagem dá a lição de quem é “o meu próximo’’, mas a
primeiríssima lição parabólica é que Ele se mostra no meio da estrada como o
nosso primeiro mais próximo. Diz-nos São Paulo: “Jesus Cristo que era tão rico, fez-se pobre para nos enriquecer.’’
Parece-nos que como no caso do Bom Samaritano, como à cura do cego, Jesus “coloca-se”
numa profunda identificação. Ele se compadece. A sensatez do cego chegou-lhe
por meio do sentido. Ele “ouviu” que o Nazareno passava por ali quando saia de
Jericó.
Esse “ouvir” que num primeiro momento pode
ser levado a audire, agora, depois
duma profissão de fé, torna-se sobrenatural. Ele é um acesso da disponibilidade
livre de cada homem para lançar-se no Outro capaz. Percebamos, caríssimos
irmãos, como a virtude da fé, requer primeiro uma saída pessoal: Bartimeu “jogou o manto”, livrou-se duma
mendicância segurança e se dirigiu a Jesus. Antes, primeiro, lança-lhe um brado
de clemência, de misericórdia: “Jesus,
filho de Davi, tem piedade de mim!” Este pedido quase que lhe é
transformado numa ladainha: quanto mais os outros mandava-lhe calar, “mas ele gritava com mais força” .Para
aquele pobre, só lhe restava, agora o “Nunca
Bastante”, como diz São Francisco de Assis. Nem seus trapos, sua cegueira e
terceiras opiniões, tirar-lhe-iam o que o penhor da fé lho pode garantir-lhe: o
compadecido Jesus de Nazaré- Deus e homem verdadeiro.
Que Deus pode, então,
quando nos aproximamos com os farrapos do “eu”,
nos oferecer ? Mirar-nos e perguntar: “O que queres que eu te faça?” Apenas
pode nos dá o que possa nos levar à vida em plenitude, o essencial. Sem a
visão, toda a claridade, sempre lhe seriam trevas. Sem o “sentido” que aqui
novamente é sinônimo de “existir”, continuaria aos atalhos e mendigaria sem
nunca bastar-se. Ora, a cura do cego Bartimeu é um dado de conversão. Curado, é
inserido, agora à comunidade de Jesus. Se estava outrora “à beira do caminho”,
põe-se, agora às “claras”, na comunidade dos seguidores, torna-se discípulo.
Não seria suficiente uma “cura” por uma profissão de fé, e permanecer inerte!
Neste sentido, portanto, é dum terrível contraste, sobretudo quando a fé é
tornado um patrimônio mercantil religioso, “encontrar” Jesus e não conhece-Lo,
ou seja, comprometer-se à Sua Pessoa que continuamente “muda a nossa sorte”, conforme se canta no Livro dos Salmos.
Sem “ouvir” a Cristo
nosso acúmulo é mendicância nossa condição é a cegueira. Devemos nos recordar,
aqui, que o ato do nosso Redentor ao participar da descendência- como permitiu
ficar com o cego- foi para nos transpor para a visão da Sua glória imortal:
Seguir a Cristo no trajeto da nossa vida. Colocá-lo como o critério basilar do
discernimento, para não sermos cegos pela falta de fé que leva a negar a
presença de Deus. Amém!
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