domingo, 25 de outubro de 2015

XXX DOMINGO COMUM- O Cego Bartimeu

    Irmãos,

         Neste Domingo, a Palavra de Deus nos apresenta uma figura que aparece no itinerário da subida de Jesus para Jerusalém: o cego e mendigo, Bartimeu, ou seja, o filho de Timeu, particularidade esta notada apenas pelo evangelista São Marcos, enquanto São Mateus di-lo ser dois cegos e São Lucas um cego. A primeira observação a ser feita neste aspecto é  a não  identidade, mas tão somente o que dava as características: “Cego e mendigo e estava à beira do caminho”. Aquele homem estava “à margem”. Seu estado de cegueira e sua condição de mendigo, o colocou  distante de todos, até mesmo de sua possível família. Que poderia mais bastar para ele? Quem o valeria? Quem  se utilizaria do “seu nada” para integrá-lo? Quem o tiraria da beira da estrada?
         Uma situação que podemos fazer um paralelo com o milagre do cego é a Parábola do Bom Samaritano. Jesus que se oculta nessa personagem dá a lição de quem é “o meu próximo’’, mas a primeiríssima lição parabólica é que Ele se mostra no meio da estrada como o nosso primeiro mais próximo. Diz-nos São Paulo: “Jesus Cristo que era tão rico, fez-se pobre para nos enriquecer.’’ Parece-nos que como no caso do Bom Samaritano, como à cura do cego, Jesus “coloca-se” numa profunda identificação. Ele se compadece. A sensatez do cego chegou-lhe por meio do sentido. Ele “ouviu” que o Nazareno passava por ali quando saia de Jericó.
         
    Esse “ouvir” que num primeiro momento pode ser levado a audire, agora, depois duma profissão de fé, torna-se sobrenatural. Ele é um acesso da disponibilidade livre de cada homem para lançar-se no Outro capaz. Percebamos, caríssimos irmãos, como a virtude da fé, requer primeiro uma saída pessoal: Bartimeu “jogou o manto”, livrou-se duma mendicância segurança e se dirigiu a Jesus. Antes, primeiro, lança-lhe um brado de clemência, de misericórdia: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” Este pedido quase que lhe é transformado numa ladainha: quanto mais os outros mandava-lhe calar, “mas ele gritava com mais força” .Para aquele pobre, só lhe restava, agora o “Nunca Bastante”, como diz São Francisco de Assis. Nem seus trapos, sua cegueira e terceiras opiniões, tirar-lhe-iam o que o penhor da fé lho pode garantir-lhe: o compadecido Jesus de Nazaré- Deus e homem verdadeiro. 

    Que Deus pode, então, quando nos aproximamos com os farrapos do   “eu”, nos oferecer ?  Mirar-nos e perguntar: “O que queres que eu te faça?” Apenas pode nos dá o que possa nos levar à vida em plenitude, o essencial. Sem a visão, toda a claridade, sempre lhe seriam trevas. Sem o “sentido” que aqui novamente é sinônimo de “existir”, continuaria aos atalhos e mendigaria sem nunca bastar-se. Ora, a cura do cego Bartimeu é um dado de conversão. Curado, é inserido, agora à comunidade de Jesus. Se estava outrora “à beira do caminho”, põe-se, agora às “claras”, na comunidade dos seguidores, torna-se discípulo. Não seria suficiente uma “cura” por uma profissão de fé, e permanecer inerte! Neste sentido, portanto, é dum terrível contraste, sobretudo quando a fé é tornado um patrimônio mercantil religioso, “encontrar” Jesus e não conhece-Lo, ou seja, comprometer-se à Sua Pessoa que continuamente “muda a nossa sorte”, conforme se canta no Livro dos Salmos.

     
       
        O Jesus que descerrou os olhos daquele cego é o mesmo a quem devemos entregar a nossa vida. A Quem podemos oferecer nossas trevas e, mesmo “à beira do caminho”, sermos invadidos com o fulgor da luz regeneradora que extirpa o pecado e nos põe como “filhos da luz”. Neste aspecto podemos nos recordar da exatidão no simbolismo da liturgia batismal à Forma Extraordinária: Chegamos até o momento da pia batismal, criaturas, no breu duma existência despro-Vida, por isto o sacerdote endossa a estola roxa.


Sem “ouvir” a Cristo nosso acúmulo é mendicância nossa condição é a cegueira. Devemos nos recordar, aqui, que o ato do nosso Redentor ao participar da descendência- como permitiu ficar com o cego- foi para nos transpor para a visão da Sua glória imortal: Seguir a Cristo no trajeto da nossa vida. Colocá-lo como o critério basilar do discernimento, para não sermos cegos pela falta de fé que leva a negar a presença de Deus. Amém!

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