terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

“CREIO EM DEUS, CRIADOR DO CÉU E DA TERRA...” (PARTE I)




No embrenhar-se do Ano da Fé, ainda tratando sobre o primeiro artigo do Credo, queremos tratar brevemente sobre as criaturas de Deus, detendo-nos, nesta ocasião, nos anjos, que juntamente com os homens, são expressão magna da obra da criação. Estas nossas palavras não atingirá um estudo aprofundado (tal como fazemos no curso de Teologia, principalmente nas disciplinas de Antropologia Teológica e Angelologia), porém se primará pela compreensão catequética do assunto abordado.
Proveniente da língua helênica, a palavra anjo (αγγηλος) não se trata do nome das criaturas celestiais, inteligentes e puramente espirituais, ou seja, sem corpo, mas da sua função: anjo, como vulgarmente chamamos a essas pessoas, inteligentes, celestiais, invisíveis, e por isso incorpóreos, imortais, em grego denota a sua atividade de mensageiro. Desta forma, o Catecismo da Igreja Católica, promulgado pelo Bem-Aventurado Papa João Paulo II, na tentativa de denominar os anjos, recorre a um conceito de anjos utilizado por Santo Agostinho. Para o Santo Bispo de Hipona: “Anjo é designação de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é, é anjo por aquilo que faz” (Santo Agostinho, En. In Psal. 103,1,15, in: Catecismo da Igreja Católica, 329). Os anjos são as criaturas mais nobres da criação, pois contemplam Deus em sua glória, tal como Ele é.  
Deus, em sua sabedoria e em seu poder indescritíveis, cria as pessoas angelicais com a finalidade de ser servido e honrado por eles. É neste serviço que eles encontram o seu prazer e a sua felicidade. Embora sejam cônscios deste dado, alguns anjos, movidos pela soberba, não foram fiéis a Deus e tiveram a presunção de querer ser iguais a Ele, prescindindo-se do seu poder. Por tamanha discrepância que resultou em pecado, as criaturas angelicais rebeldes foram excluídas do Paraíso e condenadas eternamente ao Inferno. Aqui, acha-se a origem do que sabemos por demônios, cujo chefe denomina-se Lúcifer ou Satanás.
Os demônios podem fazer-nos mal à alma e ao corpo, incitando-nos a pecar. Fazem isto pela inveja que sentem de nós ao querer a nossa eterna condenação, e por ódio a Deus, de quem somos imagem e semelhança. Deus permite aos demônios que nos tentem. A tentação não foi indiferente também a Jesus, Verbo de Deus Encarnado, verdadeiramente homem e Deus (cf. Mt 4,1-11; Mc 1,13; Lc 4,1-13; Mt 26,42; Mc 14,36; Lc 22,42). Mas, por que Deus permite sermos tentados? Deus assim o permite para que nós possamos vencer as tentações com a sua Graça, praticando as virtudes, e, no término da nossa existência nesta terra, alcançarmos o céu. A maneira mais certa de vencermos as tentações é com o auxílio da vigilância, da oração e da mortificação cristã. Por isso, alenta-nos São Paulo: “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela” (1Cor 10,13).
Em contraposição aos demônios, temos os anjos que são fiéis a Deus. Além da designação corriqueira, chamamos-lhes também de anjos bons, espíritos celestes. A estes, Deus os confirma na graça, dando-lhes a Sua visão, concedendo-lhes a honra de amá-Lo, bendizê-Lo e louvá-Lo eternamente.
Quando tecíamos acerca da natureza angelical, afirmávamos que os anjos são seres puramente espirituais, insensíveis, amorfos, criados por Deus para subsistirem, sem terem de estar unidos a corpo algum. No entanto, estética e artisticamente, representamos os Anjos com formas sensíveis e até antropomorfizada para auxiliar a nossa imaginação e compreensão. Esta prática não o fazemos aleatoriamente, mas baseados nas Escrituras, quando, por exemplo, o Senhor manda que Moisés esculpa dois querubins na arca da aliança (cf. Ex 25,18-20) e os borde nas cortinas do tabernáculo (cf. Ex 36,8).
As Sagradas Escrituras também atestam o papel dos anjos como ministros de Deus.  Neste intuito, reza o Catecismo da Igreja Católica: “Ei-los, desde a criação (cf. Jó 38,7, onde os anjos são chamados ‘filhos de Deus’) e ao longo de toda a história da salvação, anunciando de longe ou de perto esta mesma salvação, e postos ao serviço do plano divino da sua realização: eles fecham o paraíso terrestre (cf. Gn 3,24); protegem Ló (cf. Gn 19), salvam Agar e seu filho (cf. Gn 21,17), detêm a mão de Abraão (cf. Gn 22,11), pelo seu ministério é comunicada a Lei (cf. At 7,53), são eles que conduzem o povo de Deus (cf. Ex 23,20-23), anunciam nascimentos (cf. Jz 13) e vocações (cf. Jz 6,11-24; Is 6,6) assistem os profetas (cf. 1Rs 19,5) – para não citar senão alguns exemplos. Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do próprio Jesus (cf. Lc 1,11.26)” (Catecismo da Igreja Católica, 332). E no parágrafo seguinte, o Catecismo continuará atestando acerca da relação entre Jesus e os anjos: “Da Encarnação à Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é rodeada da adoração e serviço dos anjos. Quando Deus ‘introduziu no mundo o seu Primogênito, disse: Adorem-n'O todos os anjos de Deus’ (Hb 1, 6). O seu cântico de louvor, na altura do nascimento de Cristo, nunca deixou de se ouvir no louvor da Igreja: ‘Glória a Deus [...]” (Lc 2, 14). Eles protegem a infância de Jesus (cf. Mt 1,20; 2,13.19), servem-n'O no deserto (Mc 1,13; Mt 4,11) e confortam-n'O na agonia (cf. Lc 22,43) no momento em que por eles poderia ter sido salvo das mãos dos inimigos (cf. Mt 26,53) como outrora Israel (cf. 2Mc 10,29-30;11,8). São ainda os anjos que ‘evangelizam’ (cf. Lc 2,10), anunciando a Boa-Nova da Encarnação (cf. Lc 2,8-14) e da Ressurreição (cf. Mc 16,5-7) de Cristo. E estarão presentes no retorno da segunda vinda de Cristo, que anunciam (cf. At 1,10-11), ao serviço do seu juízo (cf. Mt 13,41;25,31; Lc 12,8-9). E não somente isto, Deus, especialmente, confia a muitos dentre eles o ofício de nossos guardas, protetores e intercessores: “Cada fiel é ladeado por um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida” (São Basílio, Ad. Eunomium 3,1). Por tal motivo, devermos sempre rezar ao nosso anjo da guarda, honrando-o, implorando o seu auxílio, seguindo as suas inspirações razões, reconhecendo a assistência contínua que nos dá.
            Queridos irmãos, aqui discorremos um pouco sobre mais um componente da nossa Profissio Fidei, do nosso Credo. Em outro momento, ainda no bojo do primeiro artigo “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”, trataremos sobre a segunda parte da criação: a humanidade. Desde já, rogo aos Santos Anjos de Deus que rejam, guardem, governem e iluminem a todos nós.

Até breve!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"CREIO EM DEUS PAI..."



Queridos irmãos,


Ao iniciarmos a nossa reflexão sobre a Profissão de Fé da Igreja de Cristo, o nosso Credo, dizemos por primeiro, convictamente, “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”. Esta parte é considerada o primeiro dos doze artigos componentes do Símbolo de Fé que pia e fielmente professamos com a Santa Mãe e Mestra Igreja. Antes, porém, de discorrermos sobre a Pessoa Divina do Pai, faz-se interessante meditarmos sobre a essência de Deus.


Quem, por natureza, é Deus? Tratamos Deus com os mais diversos atributos: o Glorioso, o Altíssimo, o Senhor... Existe uma definição que por nós é muita querida: Deus é o Santo. A santidade de Deus por nós enlevada soa em hebraico como kadosh, traduzido para o grego Águios, que em português denota ‘o Separado’, ou seja, Aquele que não está submetido às leis do século, do mundo. Por isso, é Onipotente, Onipresente, Onisciente (tudo pode, não se limita a espaços, tudo sabe, respectivamente). Deus é totalmente o Outro, o que não implica dizer que esteja alheio à humanidade e ao mundo, já que muito se interessa por suas criaturas, por Lhe serem muito caras.


Entretanto, a essência de Deus é ‘traduzida’ por São João, o Teólogo, como “Amor”: Deus Caritas est. Qui non diligit non cognovit Deum – Deus é Amor. Aquele que não ama não conhece a Deus (cf. 1Jo 4,8). O amor, que é Deus, não apenas permanece no seio da Santíssima Trindade, no relacionamento entre as Pessoas Divinas (Pai, Filho e Espírito Santo), mas é a comunicação de Deus à criação. Logo, Deus cria, salva e santifica, comunica-se conosco, revelando-se, nos dá a felicidade porque é amor. Já sabendo a substância de Deus, passemos ao primeiro artigo do Credo: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”.


De imediato, já vislumbrando esta afirmativa, a nossa fé, unida à justa razão, trata da paternidade de Deus. Antes de ser um adjetivo humano, a priori ser Pai é a designação da primeira Pessoa da Santíssima Trindade: Deus Pai. Teologicamente, é a partir desta qualificação divina que os homens dotados de prole, de filhos, recebem igual chamamento. Sabemos que Deus possui a eminência em tudo o que é: Suma Bondade, Verdade, Sabedoria, Beleza, Justiça, Santidade, etc., por ser o autor de tudo, não prescindindo de nada para realizá-lo. Os pais humanos possuem a paternidade por alusão e não pelo estrito sentido da palavra, tal como Deus é; são cópias da paternidade divina. Mas, por que falamos de Deus como Pai quando referimos-nos a primeira Pessoa da Trindade? A Sã Doutrina da Igreja afirmará como causa primeira que isto acontece porque é Pai, por natureza, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é, do Filho por Ele gerado antes de todos os séculos. Desde toda a eternidade, Deus Pai gera seu Filho, que é Deus como Ele, da mesma substância que Ele. Desde toda a eternidade, o Filho, que é chamado Verbo, está no Pai. Desde toda a eternidade, o Pai e o Filho amam-se e o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, procede dessa relação que une o Pai e o Filho. Depois, o Pai é assim chamado porque Ele cria, conserva e governa toda a humanidade. Igualmente, é Pai, pela graça, de todos os cristãos, os quais por isso se chamam filhos adotivos de Deus. Relacionado a esta nossa última afirmativa, o Catecismo da Igreja Católica afirma: “Pela graça do Batismo ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’, somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, na obscuridade da fé, e para além da morte, na luz eterna” (n. 265). O Pai nos faz seus filhos pelo Filho que nos redime e o Espírito Santo que nos unge. Acerca da Santíssima Trindade, o Pai não é tido primeira Pessoa por convenção, e sim porque não procede de outrem (princípio fontal), sendo o princípio das outras duas Pessoas (Principaliter), isto é, do Filho e do Espírito Santo.


Há pouco, dizíamos que Deus é Onipotente, Onipresente e Onisciente. A onipresença e a onisciência provêm da onipotência de Deus: Ele pode fazer tudo o que quer. Daí, com propriedade, chamarmos Deus de Todo-Poderoso. Perfeitíssimo em Si mesmo, o Pai pode fazer tudo, tudo mesmo. Este tudo poder fazer de Deus é-Lhe unicamente peculiar: somente Ele tem tal competência. Sendo Perfeito, não existe em Seu Ser fraqueza ou derrota. Assim sendo, não peca nem morre; o pecado e a morte são-Lhe estranhos. 


“In principio, creavit Deus caelum et terram” – No princípio, Deus criou o céu e a terra (Gn 1,1). Com esta declaração, inicia-se a Bíblia e toda a nossa história. In principio, ou seja, quando nada havia. A este nada damos o nome ex nihilo: Deus creavit omnium ex nihilo – Deus criou tudo do nada. Isto é dogma de fé! Portanto, o universo e tudo nele contêm não surgiram do acaso ou por si mesmos, mas unicamente de Deus. Agora, cabe-nos a consciência de que não sabemos como isto se deu. Aqui, abre-se um espaço para as mais diversas teorias acerca do surgimento do universo. Mas, em todas elas há um espaço para a capacidade criadora e ordenadora de Deus, uma vez que, de per si, essas teorias chegam a um ponto onde as palavras são insuficientes para explicar o óbvio: como tudo começou. Deus a origem: isto é inegável, mesmo que a ciência desdiga! Deus cria tudo do nada diferindo de um artífice humano, já que o Ser divino não precisa que algo preexista, tampouco necessite de auxílios para criar.


A Sagrada Escritura atesta o traço de Deus nas criaturas, que são rastros que provam a existência e a grandeza de Deus: “É a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor” (Sb 13,5). Santo Tomás de Aquino também utiliza o argumento da beleza e grandeza das criaturas como uma das cinco provas da existência de Deus.


Atribuímos a criação de tudo o que existe ao Pai. E isto não está errado. Porém, faz-se salutar termos em mente que tudo foi criado por Deus, que é Uno e Trino. O Pai cria por Sua Palavra, pelo Seu Verbo, que, humanado, recebe o nome de Jesus, no Espírito Santo. A Igreja ensina que a obra de uma Pessoa divina é relativa a toda a Trindade, já que as outras Pessoas, na imanência, assim a quiseram e a fizeram como um só e mesmo ato. O Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã, promulgado pelo Papa São Pio X, reza: “Atribui-se a criação particularmente ao Pai, porque a criação é efeito da onipotência divina a qual se atribui particularmente ao Pai, como se atribui a sabedoria ao Filho e a bondade ao Espírito Santo, embora todas as três Pessoas tenham a mesma onipotência, sabedoria e bondade” (n. 30).


Onipresente e Onisciente, Deus não se ausenta da Sua criação, conservando-a e governando-a, com a sua infinita bondade e sabedoria, e nada sucede no mundo, sem que Ele o queira, ou o permita. Sim, aqui é preciso que estabeleçamos uma distinção importante: o querer e a permissão de Deus. O querer de Deus estabelece-se no bem de Suas criaturas: Ele as criou por amor e não quer que elas sejam relegadas ao mal, à infelicidade, à distância Dele. No entanto, o Criador deu aos seres inteligentes (anjos e homens) a liberdade, o livre-arbítrio, a capacidade de escolha. Destarte, quando não escolhemos o bem, quando ingressamos e primamos pelo mal, pelo pecado, o que não é vontade de Deus, Ele não o impede, porque, em Seu poder e sabedoria, respeita o querido por suas criaturas e consegue, até mesmo do abuso que o homem faz da liberdade, tirar um bem, e fazer resplandecer ainda mais a sua misericórdia ou a sua justiça.


Amados irmãos, aqui iniciamos uma brevíssima catequese acerca de Deus Pai. Esta é apenas a primeira parte. Em nosso próximo encontro, iremos tratar sobre a criação dos anjos e dos homens, assunto também compreendido no primeiro artigo do Credo Católico.
            
Até lá!

EU CREIO; NÓS CREMOS; CREMOS NA FÉ DA IGREJA

Queridos irmãos,


A partir de hoje, dentro do clima do Ano da Fé, iniciado em 11 de outubro de 2012 pelo Papa Bento XVI e estendido até a Solenidade de Cristo Rei do Universo (em 24 de novembro deste ano), tendo em vista o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II e o vigésimo ano da promulgação do Catecismo da Igreja Católica pelo Beato João Paulo II, propomo-nos a refletir com os nossos estimados leitores acerca da Profissão de Fé, vulgarmente conhecido como ‘Credo’. Para tanto, durante algumas semanas estaremos tratando sobre a atitude de crer e, a partir desta, discorreremos, catequeticamente, acerca de cada um dos artigos da Profissão de Fé Católica, recebida diretamente do Cristo, transmitida a nós pelos Apóstolos e seus sucessores, mas que por nós foi recepcionada no dia do nosso Batismo, através de uma adesão de nossa parte.


No despontar do Ano da Fé, Sua Santidade, o Papa Bento XVI, preparando este momento comemorativo e derivante da “primavera da Igreja”, o Vaticano II, escreve, em 11 de outubro de 2011, em forma de Motu Próprio, um documento denominado “Porta Fidei” (Porta da Fé), afirmando: “Desejamos que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é ‘a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força’ (Sacrosanctum Concilium 10). Simultaneamente, esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade”. (Porta Fidei 9). Porém, não obstante os votos do Romano Pontífice, temos o delineamento das expectativas para este Ano da Fé: “Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada e refletir sobre o próprio ato com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo neste Ano” (Porta Fidei 9).


Na dinâmica divina, Deus se revela ao homem a fim de que este possa acolhê-lo e corresponder-lhe através da fé. Todos os homens, por conta de sua razão, são capazes de crer, por serem aptos ao transcendental. É conatural ao homem esta sede do infinito, e, portanto, de Deus. Dizemos ‘Creio’, na primeira pessoa do singular (Eu Creio), porque esta resposta ao amor de Deus pela fé é pessoal, individual, com uma subjetividade coadunada àquilo que a Igreja fielmente professa. Cada um de nós é chamado a fazer esta experiência pessoal com Deus que acontece na Igreja. A ação de crer, mesmo sendo uma resposta a Deus pela fé, é também um dom que Dele emana, pois o Espírito Santo nos concede tal dádiva: “Por isso, eu vos declaro: ninguém, falando sob a ação divina, pode dizer: Jesus seja maldito e ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo” (1Cor 12,3). Logo, antes de se imbricarem, a dupla dimensão da atitude de crer se dá, concomitantemente, como um ato livre de cada um em resposta à graça divina que lhe é concedida.


Jesus, antes de sua Ascensão, ordena aos seus discípulos, e, portanto à sua Igreja: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15); ou como destrincha São Mateus: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,19-20). Anunciar os conteúdos do Evangelho e, contida neste, da fé Católica e Apostólica é uma obrigação de todo cristão, que deve ser extremado pelo testemunho de vida. Viver e crer para o cristão é um imperativo, já que demos a nossa palavra pelas promessas batismais que nos fazem comprometidos com Deus. Por tal motivo, é importantíssimo que o cristão conheça e compreenda, para uma melhor vivência, a sua fé, a fé que antes é da Igreja.


Eu creio, nós cremos: eis a Fé da Igreja. Neste intuito, trilhemos pelas sendas deste bendito Ano que é para nós motivo de graça do Senhor, rumo à consumação da nossa fé, que é a realização da nossa esperança, Jesus Cristo nosso Salvador.