sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"CREIO EM DEUS PAI..."



Queridos irmãos,


Ao iniciarmos a nossa reflexão sobre a Profissão de Fé da Igreja de Cristo, o nosso Credo, dizemos por primeiro, convictamente, “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”. Esta parte é considerada o primeiro dos doze artigos componentes do Símbolo de Fé que pia e fielmente professamos com a Santa Mãe e Mestra Igreja. Antes, porém, de discorrermos sobre a Pessoa Divina do Pai, faz-se interessante meditarmos sobre a essência de Deus.


Quem, por natureza, é Deus? Tratamos Deus com os mais diversos atributos: o Glorioso, o Altíssimo, o Senhor... Existe uma definição que por nós é muita querida: Deus é o Santo. A santidade de Deus por nós enlevada soa em hebraico como kadosh, traduzido para o grego Águios, que em português denota ‘o Separado’, ou seja, Aquele que não está submetido às leis do século, do mundo. Por isso, é Onipotente, Onipresente, Onisciente (tudo pode, não se limita a espaços, tudo sabe, respectivamente). Deus é totalmente o Outro, o que não implica dizer que esteja alheio à humanidade e ao mundo, já que muito se interessa por suas criaturas, por Lhe serem muito caras.


Entretanto, a essência de Deus é ‘traduzida’ por São João, o Teólogo, como “Amor”: Deus Caritas est. Qui non diligit non cognovit Deum – Deus é Amor. Aquele que não ama não conhece a Deus (cf. 1Jo 4,8). O amor, que é Deus, não apenas permanece no seio da Santíssima Trindade, no relacionamento entre as Pessoas Divinas (Pai, Filho e Espírito Santo), mas é a comunicação de Deus à criação. Logo, Deus cria, salva e santifica, comunica-se conosco, revelando-se, nos dá a felicidade porque é amor. Já sabendo a substância de Deus, passemos ao primeiro artigo do Credo: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”.


De imediato, já vislumbrando esta afirmativa, a nossa fé, unida à justa razão, trata da paternidade de Deus. Antes de ser um adjetivo humano, a priori ser Pai é a designação da primeira Pessoa da Santíssima Trindade: Deus Pai. Teologicamente, é a partir desta qualificação divina que os homens dotados de prole, de filhos, recebem igual chamamento. Sabemos que Deus possui a eminência em tudo o que é: Suma Bondade, Verdade, Sabedoria, Beleza, Justiça, Santidade, etc., por ser o autor de tudo, não prescindindo de nada para realizá-lo. Os pais humanos possuem a paternidade por alusão e não pelo estrito sentido da palavra, tal como Deus é; são cópias da paternidade divina. Mas, por que falamos de Deus como Pai quando referimos-nos a primeira Pessoa da Trindade? A Sã Doutrina da Igreja afirmará como causa primeira que isto acontece porque é Pai, por natureza, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é, do Filho por Ele gerado antes de todos os séculos. Desde toda a eternidade, Deus Pai gera seu Filho, que é Deus como Ele, da mesma substância que Ele. Desde toda a eternidade, o Filho, que é chamado Verbo, está no Pai. Desde toda a eternidade, o Pai e o Filho amam-se e o Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, procede dessa relação que une o Pai e o Filho. Depois, o Pai é assim chamado porque Ele cria, conserva e governa toda a humanidade. Igualmente, é Pai, pela graça, de todos os cristãos, os quais por isso se chamam filhos adotivos de Deus. Relacionado a esta nossa última afirmativa, o Catecismo da Igreja Católica afirma: “Pela graça do Batismo ‘em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo’, somos chamados a compartilhar da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, na obscuridade da fé, e para além da morte, na luz eterna” (n. 265). O Pai nos faz seus filhos pelo Filho que nos redime e o Espírito Santo que nos unge. Acerca da Santíssima Trindade, o Pai não é tido primeira Pessoa por convenção, e sim porque não procede de outrem (princípio fontal), sendo o princípio das outras duas Pessoas (Principaliter), isto é, do Filho e do Espírito Santo.


Há pouco, dizíamos que Deus é Onipotente, Onipresente e Onisciente. A onipresença e a onisciência provêm da onipotência de Deus: Ele pode fazer tudo o que quer. Daí, com propriedade, chamarmos Deus de Todo-Poderoso. Perfeitíssimo em Si mesmo, o Pai pode fazer tudo, tudo mesmo. Este tudo poder fazer de Deus é-Lhe unicamente peculiar: somente Ele tem tal competência. Sendo Perfeito, não existe em Seu Ser fraqueza ou derrota. Assim sendo, não peca nem morre; o pecado e a morte são-Lhe estranhos. 


“In principio, creavit Deus caelum et terram” – No princípio, Deus criou o céu e a terra (Gn 1,1). Com esta declaração, inicia-se a Bíblia e toda a nossa história. In principio, ou seja, quando nada havia. A este nada damos o nome ex nihilo: Deus creavit omnium ex nihilo – Deus criou tudo do nada. Isto é dogma de fé! Portanto, o universo e tudo nele contêm não surgiram do acaso ou por si mesmos, mas unicamente de Deus. Agora, cabe-nos a consciência de que não sabemos como isto se deu. Aqui, abre-se um espaço para as mais diversas teorias acerca do surgimento do universo. Mas, em todas elas há um espaço para a capacidade criadora e ordenadora de Deus, uma vez que, de per si, essas teorias chegam a um ponto onde as palavras são insuficientes para explicar o óbvio: como tudo começou. Deus a origem: isto é inegável, mesmo que a ciência desdiga! Deus cria tudo do nada diferindo de um artífice humano, já que o Ser divino não precisa que algo preexista, tampouco necessite de auxílios para criar.


A Sagrada Escritura atesta o traço de Deus nas criaturas, que são rastros que provam a existência e a grandeza de Deus: “É a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor” (Sb 13,5). Santo Tomás de Aquino também utiliza o argumento da beleza e grandeza das criaturas como uma das cinco provas da existência de Deus.


Atribuímos a criação de tudo o que existe ao Pai. E isto não está errado. Porém, faz-se salutar termos em mente que tudo foi criado por Deus, que é Uno e Trino. O Pai cria por Sua Palavra, pelo Seu Verbo, que, humanado, recebe o nome de Jesus, no Espírito Santo. A Igreja ensina que a obra de uma Pessoa divina é relativa a toda a Trindade, já que as outras Pessoas, na imanência, assim a quiseram e a fizeram como um só e mesmo ato. O Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã, promulgado pelo Papa São Pio X, reza: “Atribui-se a criação particularmente ao Pai, porque a criação é efeito da onipotência divina a qual se atribui particularmente ao Pai, como se atribui a sabedoria ao Filho e a bondade ao Espírito Santo, embora todas as três Pessoas tenham a mesma onipotência, sabedoria e bondade” (n. 30).


Onipresente e Onisciente, Deus não se ausenta da Sua criação, conservando-a e governando-a, com a sua infinita bondade e sabedoria, e nada sucede no mundo, sem que Ele o queira, ou o permita. Sim, aqui é preciso que estabeleçamos uma distinção importante: o querer e a permissão de Deus. O querer de Deus estabelece-se no bem de Suas criaturas: Ele as criou por amor e não quer que elas sejam relegadas ao mal, à infelicidade, à distância Dele. No entanto, o Criador deu aos seres inteligentes (anjos e homens) a liberdade, o livre-arbítrio, a capacidade de escolha. Destarte, quando não escolhemos o bem, quando ingressamos e primamos pelo mal, pelo pecado, o que não é vontade de Deus, Ele não o impede, porque, em Seu poder e sabedoria, respeita o querido por suas criaturas e consegue, até mesmo do abuso que o homem faz da liberdade, tirar um bem, e fazer resplandecer ainda mais a sua misericórdia ou a sua justiça.


Amados irmãos, aqui iniciamos uma brevíssima catequese acerca de Deus Pai. Esta é apenas a primeira parte. Em nosso próximo encontro, iremos tratar sobre a criação dos anjos e dos homens, assunto também compreendido no primeiro artigo do Credo Católico.
            
Até lá!

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