Queridos irmãos,
Ao
iniciarmos a nossa reflexão sobre a Profissão de Fé da Igreja de Cristo,
o nosso Credo, dizemos por primeiro, convictamente, “Creio em Deus Pai
Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”. Esta parte é considerada o
primeiro dos doze artigos componentes do Símbolo de Fé que pia e
fielmente professamos com a Santa Mãe e Mestra Igreja. Antes, porém, de
discorrermos sobre a Pessoa Divina do Pai, faz-se interessante
meditarmos sobre a essência de Deus.
Quem, por
natureza, é Deus? Tratamos Deus com os mais diversos atributos: o
Glorioso, o Altíssimo, o Senhor... Existe uma definição que por nós é
muita querida: Deus é o Santo. A santidade de Deus por nós enlevada soa
em hebraico como kadosh, traduzido para o grego Águios,
que em português denota ‘o Separado’, ou seja, Aquele que não está
submetido às leis do século, do mundo. Por isso, é Onipotente,
Onipresente, Onisciente (tudo pode, não se limita a espaços, tudo sabe,
respectivamente). Deus é totalmente o Outro, o que não implica dizer que
esteja alheio à humanidade e ao mundo, já que muito se interessa por
suas criaturas, por Lhe serem muito caras.
Entretanto, a essência de Deus é ‘traduzida’ por São João, o Teólogo, como “Amor”: Deus Caritas est. Qui non diligit non cognovit Deum
– Deus é Amor. Aquele que não ama não conhece a Deus (cf. 1Jo 4,8). O
amor, que é Deus, não apenas permanece no seio da Santíssima Trindade,
no relacionamento entre as Pessoas Divinas (Pai, Filho e Espírito
Santo), mas é a comunicação de Deus à criação. Logo, Deus cria, salva e
santifica, comunica-se conosco, revelando-se, nos dá a felicidade porque
é amor. Já sabendo a substância de Deus, passemos ao primeiro artigo do
Credo: “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”.
De
imediato, já vislumbrando esta afirmativa, a nossa fé, unida à justa
razão, trata da paternidade de Deus. Antes de ser um adjetivo humano, a priori
ser Pai é a designação da primeira Pessoa da Santíssima Trindade: Deus
Pai. Teologicamente, é a partir desta qualificação divina que os homens
dotados de prole, de filhos, recebem igual chamamento. Sabemos que Deus
possui a eminência em tudo o que é: Suma Bondade, Verdade, Sabedoria,
Beleza, Justiça, Santidade, etc., por ser o autor de tudo, não
prescindindo de nada para realizá-lo. Os pais humanos possuem a
paternidade por alusão e não pelo estrito sentido da palavra, tal como
Deus é; são cópias da paternidade divina. Mas, por que falamos de Deus
como Pai quando referimos-nos a primeira Pessoa da Trindade? A Sã
Doutrina da Igreja afirmará como causa primeira que isto acontece porque
é Pai, por natureza, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, isto é,
do Filho por Ele gerado antes de todos os séculos. Desde toda a
eternidade, Deus Pai gera seu Filho, que é Deus como Ele, da mesma
substância que Ele. Desde toda a eternidade, o Filho, que é chamado
Verbo, está no Pai. Desde toda a eternidade, o Pai e o Filho amam-se e o
Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, procede dessa
relação que une o Pai e o Filho. Depois, o Pai é assim chamado porque
Ele cria, conserva e governa toda a humanidade. Igualmente, é Pai, pela
graça, de todos os cristãos, os quais por isso se chamam filhos adotivos
de Deus. Relacionado a esta nossa última afirmativa, o Catecismo da
Igreja Católica afirma: “Pela graça do Batismo ‘em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo’, somos chamados a compartilhar da vida da
Santíssima Trindade, aqui na terra, na obscuridade da fé, e para além da
morte, na luz eterna” (n. 265). O Pai nos faz seus filhos pelo Filho
que nos redime e o Espírito Santo que nos unge. Acerca da Santíssima
Trindade, o Pai não é tido primeira Pessoa por convenção, e sim porque
não procede de outrem (princípio fontal), sendo o princípio das outras
duas Pessoas (Principaliter), isto é, do Filho e do Espírito Santo.
Há pouco,
dizíamos que Deus é Onipotente, Onipresente e Onisciente. A onipresença
e a onisciência provêm da onipotência de Deus: Ele pode fazer tudo o
que quer. Daí, com propriedade, chamarmos Deus de Todo-Poderoso.
Perfeitíssimo em Si mesmo, o Pai pode fazer tudo, tudo mesmo. Este tudo
poder fazer de Deus é-Lhe unicamente peculiar: somente Ele tem tal
competência. Sendo Perfeito, não existe em Seu Ser fraqueza ou derrota.
Assim sendo, não peca nem morre; o pecado e a morte são-Lhe estranhos.
“In principio, creavit Deus caelum et terram” – No princípio, Deus criou o céu e a terra (Gn 1,1). Com esta declaração, inicia-se a Bíblia e toda a nossa história. In principio, ou seja, quando nada havia. A este nada damos o nome ex nihilo: Deus creavit omnium ex nihilo
– Deus criou tudo do nada. Isto é dogma de fé! Portanto, o universo e
tudo nele contêm não surgiram do acaso ou por si mesmos, mas unicamente
de Deus. Agora, cabe-nos a consciência de que não sabemos como isto se
deu. Aqui, abre-se um espaço para as mais diversas teorias acerca do
surgimento do universo. Mas, em todas elas há um espaço para a
capacidade criadora e ordenadora de Deus, uma vez que, de per si,
essas teorias chegam a um ponto onde as palavras são insuficientes para
explicar o óbvio: como tudo começou. Deus a origem: isto é inegável,
mesmo que a ciência desdiga! Deus cria tudo do nada diferindo de um
artífice humano, já que o Ser divino não precisa que algo preexista,
tampouco necessite de auxílios para criar.
A Sagrada
Escritura atesta o traço de Deus nas criaturas, que são rastros que
provam a existência e a grandeza de Deus: “É a partir da grandeza e da
beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor” (Sb
13,5). Santo Tomás de Aquino também utiliza o argumento da beleza e
grandeza das criaturas como uma das cinco provas da existência de Deus.
Atribuímos
a criação de tudo o que existe ao Pai. E isto não está errado. Porém,
faz-se salutar termos em mente que tudo foi criado por Deus, que é Uno e
Trino. O Pai cria por Sua Palavra, pelo Seu Verbo, que, humanado,
recebe o nome de Jesus, no Espírito Santo. A Igreja ensina que a obra de
uma Pessoa divina é relativa a toda a Trindade, já que as outras
Pessoas, na imanência, assim a quiseram e a fizeram como um só e mesmo
ato. O Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã, promulgado pelo Papa São
Pio X, reza: “Atribui-se a criação particularmente ao Pai, porque a
criação é efeito da onipotência divina a qual se atribui particularmente
ao Pai, como se atribui a sabedoria ao Filho e a bondade ao Espírito
Santo, embora todas as três Pessoas tenham a mesma onipotência,
sabedoria e bondade” (n. 30).
Onipresente e Onisciente, Deus não se ausenta da Sua criação,
conservando-a e governando-a, com a sua infinita bondade e sabedoria, e
nada sucede no mundo, sem que Ele o queira, ou o permita. Sim, aqui é
preciso que estabeleçamos uma distinção importante: o querer e a
permissão de Deus. O querer de Deus estabelece-se no bem de Suas
criaturas: Ele as criou por amor e não quer que elas sejam relegadas ao
mal, à infelicidade, à distância Dele. No entanto, o Criador deu aos
seres inteligentes (anjos e homens) a liberdade, o livre-arbítrio, a
capacidade de escolha. Destarte, quando não escolhemos o bem, quando
ingressamos e primamos pelo mal, pelo pecado, o que não é vontade de
Deus, Ele não o impede, porque, em Seu poder e sabedoria, respeita o
querido por suas criaturas e consegue, até mesmo do abuso que o homem
faz da liberdade, tirar um bem, e fazer resplandecer ainda mais a sua
misericórdia ou a sua justiça.
Amados irmãos, aqui iniciamos uma brevíssima catequese acerca de Deus
Pai. Esta é apenas a primeira parte. Em nosso próximo encontro, iremos
tratar sobre a criação dos anjos e dos homens, assunto também
compreendido no primeiro artigo do Credo Católico.
Até lá!
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