No
embrenhar-se do Ano da Fé, ainda tratando sobre o primeiro artigo do Credo,
queremos tratar brevemente sobre as criaturas de Deus, detendo-nos, nesta
ocasião, nos anjos, que juntamente com os homens, são expressão magna da obra
da criação. Estas nossas palavras não atingirá um estudo aprofundado (tal como
fazemos no curso de Teologia, principalmente nas disciplinas de Antropologia
Teológica e Angelologia), porém se primará pela compreensão catequética do
assunto abordado.
Proveniente
da língua helênica, a palavra anjo (αγγηλος)
não se trata do nome das criaturas celestiais, inteligentes e puramente
espirituais, ou seja, sem corpo, mas da sua função: anjo, como vulgarmente
chamamos a essas pessoas, inteligentes, celestiais, invisíveis, e por isso
incorpóreos, imortais, em grego denota a sua atividade de mensageiro. Desta
forma, o Catecismo da Igreja Católica, promulgado pelo Bem-Aventurado Papa João
Paulo II, na tentativa de denominar os anjos, recorre a um conceito de anjos
utilizado por Santo Agostinho. Para o Santo Bispo de Hipona: “Anjo é designação
de encargo, não de natureza. Se perguntares pela designação da natureza, é um
espírito; se perguntares pelo encargo, é um anjo: é espírito por aquilo que é,
é anjo por aquilo que faz” (Santo
Agostinho, En. In Psal. 103,1,15, in: Catecismo da Igreja Católica, 329).
Os anjos são as criaturas mais nobres da criação, pois contemplam Deus em sua
glória, tal como Ele é.
Deus,
em sua sabedoria e em seu poder indescritíveis, cria as pessoas angelicais com
a finalidade de ser servido e honrado por eles. É neste serviço que eles
encontram o seu prazer e a sua felicidade. Embora sejam cônscios deste dado,
alguns anjos, movidos pela soberba, não foram fiéis a Deus e tiveram a
presunção de querer ser iguais a Ele, prescindindo-se do seu poder. Por tamanha
discrepância que resultou em pecado, as criaturas angelicais rebeldes foram excluídas
do Paraíso e condenadas eternamente ao Inferno. Aqui, acha-se a origem do que
sabemos por demônios, cujo chefe denomina-se Lúcifer ou Satanás.
Os
demônios podem fazer-nos mal à alma e ao corpo, incitando-nos a pecar. Fazem
isto pela inveja que sentem de nós ao querer a nossa eterna condenação, e por
ódio a Deus, de quem somos imagem e semelhança. Deus permite aos demônios que
nos tentem. A tentação não foi indiferente também a Jesus, Verbo de Deus
Encarnado, verdadeiramente homem e Deus (cf. Mt 4,1-11; Mc 1,13; Lc 4,1-13; Mt
26,42; Mc 14,36; Lc 22,42). Mas, por que Deus permite sermos tentados? Deus
assim o permite para que nós possamos vencer as tentações com a sua Graça,
praticando as virtudes, e, no término da nossa existência nesta terra,
alcançarmos o céu. A maneira mais certa de vencermos as tentações é com o
auxílio da vigilância, da oração e da mortificação cristã. Por isso, alenta-nos
São Paulo: “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças
humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças,
mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela” (1Cor
10,13).
Em
contraposição aos demônios, temos os anjos que são fiéis a Deus. Além da
designação corriqueira, chamamos-lhes também de anjos bons, espíritos celestes.
A estes, Deus os confirma na graça, dando-lhes a Sua visão, concedendo-lhes a
honra de amá-Lo, bendizê-Lo e louvá-Lo eternamente.
Quando
tecíamos acerca da natureza angelical, afirmávamos que os anjos são seres
puramente espirituais, insensíveis, amorfos, criados por Deus para subsistirem,
sem terem de estar unidos a corpo algum. No entanto, estética e artisticamente,
representamos os Anjos com formas sensíveis e até antropomorfizada para
auxiliar a nossa imaginação e compreensão. Esta prática não o fazemos
aleatoriamente, mas baseados nas Escrituras, quando, por exemplo, o Senhor
manda que Moisés esculpa dois querubins na arca da aliança (cf. Ex 25,18-20) e
os borde nas cortinas do tabernáculo (cf. Ex 36,8).
As
Sagradas Escrituras também atestam o papel dos anjos como ministros de
Deus. Neste intuito, reza o Catecismo da
Igreja Católica: “Ei-los, desde a criação (cf. Jó
38,7, onde os anjos são chamados ‘filhos de Deus’) e ao longo de toda a
história da salvação, anunciando de longe ou de perto esta mesma salvação, e
postos ao serviço do plano divino da sua realização: eles fecham o paraíso
terrestre (cf. Gn 3,24); protegem Ló (cf. Gn 19), salvam Agar e seu filho (cf.
Gn 21,17), detêm a mão de Abraão (cf. Gn 22,11), pelo seu ministério é
comunicada a Lei (cf. At 7,53), são eles que conduzem o povo de Deus (cf. Ex
23,20-23), anunciam nascimentos (cf. Jz 13) e vocações (cf. Jz 6,11-24; Is 6,6)
assistem os profetas (cf. 1Rs 19,5) – para não citar senão alguns exemplos.
Finalmente, é o anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e o do
próprio Jesus (cf. Lc 1,11.26)” (Catecismo da Igreja Católica, 332). E no
parágrafo seguinte, o Catecismo continuará atestando acerca da relação entre
Jesus e os anjos: “Da Encarnação à Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é
rodeada da adoração e serviço dos anjos. Quando Deus ‘introduziu no mundo o seu
Primogênito, disse: Adorem-n'O todos os anjos de Deus’ (Hb 1, 6).
O seu cântico de louvor, na altura do nascimento de Cristo, nunca deixou de se
ouvir no louvor da Igreja: ‘Glória a Deus [...]” (Lc 2, 14). Eles protegem a infância
de Jesus (cf. Mt 1,20; 2,13.19), servem-n'O no deserto (Mc 1,13; Mt 4,11) e
confortam-n'O na agonia (cf. Lc 22,43) no momento em que por eles poderia ter
sido salvo das mãos dos inimigos (cf. Mt 26,53) como outrora Israel (cf. 2Mc
10,29-30;11,8). São ainda os anjos que ‘evangelizam’ (cf. Lc 2,10), anunciando
a Boa-Nova da Encarnação (cf. Lc 2,8-14) e da Ressurreição (cf. Mc 16,5-7) de
Cristo. E estarão presentes no retorno da segunda vinda de Cristo, que anunciam
(cf. At 1,10-11), ao serviço do seu juízo (cf. Mt 13,41;25,31; Lc 12,8-9). E
não somente isto, Deus, especialmente, confia a muitos dentre eles o
ofício de nossos guardas, protetores e intercessores: “Cada fiel é ladeado por
um anjo como protetor e pastor para conduzi-lo à vida” (São Basílio, Ad. Eunomium 3,1). Por tal motivo, devermos sempre
rezar ao nosso anjo da guarda, honrando-o, implorando o seu auxílio, seguindo
as suas inspirações razões, reconhecendo a assistência contínua que nos dá.
Queridos irmãos, aqui discorremos um
pouco sobre mais um componente da nossa Profissio
Fidei, do nosso Credo. Em outro momento, ainda no bojo do primeiro artigo
“Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra”, trataremos sobre
a segunda parte da criação: a humanidade. Desde já, rogo aos Santos Anjos de
Deus que rejam, guardem, governem e iluminem a todos nós.
Até
breve!
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