sábado, 28 de novembro de 2015

I Domingo do Advento- Vigilância, Conversão e Contrição: Vinde, Senhor Jesus!

Caros irmãos,
     

       
        Em comunhão com a Santa Igreja Romana iniciamos novo Ano Litúrgico com o Domingo, no I do Advento. Todo o marco do Mistério e da vida cristã é uma circunferência que gravita num único centro: Jesus Cristo. O Rei que o Apocalipse de São João no-lo disse que é a " Testemunha fiel" , mas não apenas, é o Alpha e o Ômega. Ao pôr do sol deste Sábado, que já é o Dia do Senhor, vamos com toda a Igreja, "esperar" o que já chegou e que sempre vem chegando em cada circunstância que atravessamos. A vivência do Advento em seu ângulo escatológico atingirá o seu clímax, bem lá, à Manjedoura, para nos recordar que o Eterno chegou ao Kronos para trazer o Kairós e que aí, nesta percepção de que a conversão é contínua, O aguardamos, como Justo Juiz, Pastor-Rei, Esposo, Prêmio de quem O colocou, Deus, Senhor e Companheiro.


          O vocábulo Advento designa em si mesmo o que continuamente celebramos na Sagrada Liturgia :Alegre espera. A mística que proporciona  a Igreja neste início de Ano Litúrgico e, concomitantemente, novo tempo litúrgico, sinaliza o termo de sua consumação final quando vier O Dia do Senhor. A propósito desta verdade de fé que professamos no Credo, assinala, a primeira antífona das I Vésperas: Anunciai entre todos os povos: Eis que vem nosso Deus: Eis que vem nosso Deus, Salvador. A Liturgia que é um penhor do louvor celestial, nos põe, no Advento, no tom da serena e operante "vigilância". Espera-se a chegada de Deus que vem e traz a salvação, mas, é bem verdade, que o " vigiar" , muitas vezes, não é acompanhado do autêntico espírito de conversão e contrição. Neste sentido, pois, a pregação de João Batista é uma antecipação do convite radical e inédito de Jesus, porque chegou o Reino dos Céus. 
        
      Os textos que hoje são proclamados pela Igreja podem ser contemplados à lume do tripé que referimos: vigilância, conversão e contrição. O profeta Jeremias nos situa no fato histórico do cativeiro de Babilônia. A infidelidade de Israel, à Aliança, repudiando o Deus verdadeiro, conduziu a um próprio abandono. A sorte do Povo de Deus era justamente a "esperança" do que poderia vir. Exilado, o quê, a descendência ,que oferecia as primícias e os sacrifícios outros, entregaria a Deus? E eis, é aí, numa situação de crua desolação que a promessa pela boca do profeta trará ânimo e vigor para Israel: Naqueles dias, naquele tempo, farei brotar de Davi a semente da justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra (cf. Jr XXXIII, 15). Ora, caríssimos irmãos, o que Jeremias profetiza não é um acontecimento pormenorizado e obsoleto no Velho Testamento, mas é, um evento presente que viveremos e celebraremos. Este germe que vêm de Davi é o Messias. É Deus que " visitou" o exílio do pecado e a iniquidade para trazer a justiça que é salvação. 

        O paralelo do cativeiro de Babilônia com o Tempo do Advento, faz-nos trazer à mente o que dizia o apóstolo São Paulo :outrora éreis sem Messias. Deus chegou, continua chegando e nos convida à metanoia, para que o seu glorioso retorno que é comparado nos Evangelhos como o Ladrão que não esperamos, como o luzeiro de um relâmpago que alumiará toda a nossa consciência, não seja " surpreendido" de maneira trágica, mas sim, pelo que semeamos pelas sendas da caridade e da verdade, seja possível àquela espera das virgens com suas lâmpadas pelo Noivo, de maneira tal, que seja a nossa alegria o que ouvimos no Evangelho: ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem      ( cf. Lc XXI, 36). É neste intento que aprofundamos a passagem do Evangelho de Lucas que nos abre o Ano Litúrgico e sê-lo-á narrado em seu decurso. 
       
      O tom apocalíptico da teologia lucana deve ser entendida em dois contextos para termos a precisa resposta de qual o porquê iniciarmos o Advento com essa linguagem. A princípio é preciso guardar que no Antigo Testamento este tipo de gênero já é desenvolvido no Livro de Daniel que podemos ouvir a Igreja proclamar como primeira leitura à Solenidade de Cristo Rei. Daniel é o primeiro a utilizar a expressão Filho do Homem. Segundo o dicionário bíblico esse termo designa o Rei que há de vir. Faz o profeta com referência ao sonho à cova dos leões, e, que Aquele ( filho do homem) ultrapassa as realidades imanentes, é o que é o mediador entre os homens e o Ancião, figura que evoca Deus, a Sabedoria. A situação que insere Lucas ao seu escrito, seguindo os sinóticos outros, é a destruição completa do Templo de Jerusalém pelo Império Romano no ano 70 d. C. Este fato que é um marco para os primeiros cristãos era um sinal e uma catequese de que agora se aproxima com mais brevidade o Dia do Senhor. Aquele que nasceu da Virgem Maria, que anunciou o Reino de Deus, agora, voltará e julgará os vivos e os mortos. Com a destruição completa do Templo, história, a Igreja, apoiada nas Sagradas Escrituras e na Sagrada Tradição, usou para apregoar a promessa do próprio Jesus que voltará. Desta maneira, portanto, não podemos lê tais linhas do Evangelho aquém da única certeza: Ele virá. Naquele Dia assim como outrora o Templo fora destruído, que, para Israel, era o centro do culto, só permanecerá, agora o filho do homem e, defronte a Ele, é que toda a Humanidade será julgada, responderá e receberá se edificou sua casa sobre a rocha. 

       Iniciarmos com a Igreja  o tempo em preparação para a Solenidade do Santo Natal, é recobrar o temor que a Liturgia expressa numa das estrofes do Hino de Vésperas : Um dia voltareis, Juiz e Rei de tudo. Oh dai-nos hoje a graça, na tentação escudo. É com os intentos de que um dia "compareceremos às claras no tribunal de Cristo" que vigiamos com as nossas obras para que o homem velho seja sepultado é assim, por conseguinte, sigamos a exortação do apóstolo São Paulo, ouvida na epístola dessa Missa que abre o Advento: (...) meus irmãos, eis o que vos pedimos (...) no Senhor Jesus: Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus (...) Fazei progressos ainda maiores! Conheceis, de fato, as instruções que temos dado em nome do Senhor Jesus (cf. I Ts III, 12). 
   Que o Tempo do Advento, caros em Cristo, não passe com o natal  fugaz, mas seja, a certeira petição que a Igreja faz à eucologia inicial da Sagrada Liturgia: o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que os mesmos olhos que o verão no presépio possam contemplá-lo na " visão da sua glória"!

sábado, 21 de novembro de 2015

Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo-Rei do Universo- "Regnum meum non est de hoc mundo."





Dn 7,13-14
Sl 92
Ap 1,5-8
Jo 18,33b-37

Irmãos caríssimos,
        


      Com a celebração deste Domingo chegamos à última semana do Ano Litúrgico. Completou-se assim o ciclo litúrgico do Ano do Senhor neste dois mil e quinze, no qual proclamou-se o Evangelho de São Marcos, caracterizado ora pela brevidade dos seus capítulos, sem muito pormenores e, também, por este motivo ter sido o primeiro a escrever esse tipo de literatura. Começamos lá, no primeiro Domingo do Advento, celebramos o Santo Natal, veio a primeira parte do Tempo Comum “Per Annum”, participamos das observâncias da sagrada Quaresma, vivemos as alegrias pascais por cinquenta dias, até a Solenidade de Pentecostes e, por fim, a segunda parte do Per Annum. Cada Domingo, Páscoa. Celebramos as solenidades, festas e memórias da Virgem Maria, os Arcanjos, os Santos Anjos da Guarda, os mártires, os confessores. Todo o Ano Eclesiástico circundado duma única certeza: O mistério de Cristo em seus vários aspectos. Na Liturgia é Cristo quem é celebrado, pois sendo o sujeito dos mistérios, a Santa Igreja dia a dia, na variedade dos acontecimentos, presta-lhe a devida honra e, sobremaneira, através do Sacrifício Eucarístico que compendia todos os mistérios, conforme o convite do sacerdote: “Orai irmãos, para que este meu sacrifício que também é vosso seja aceito por Deus Pai Todo Poderoso.”
         
      Concluindo o Ano Litúrgico, no Rito Romano Latino, fá-lo, a Igreja, para marcar, com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Esta comemoração foi instituída pelo Papa Pio XI para encerrar o Ano Santo de 1925. Responde o texto do Catecismo Maior do Papa São Pio X, no número cento e vinte e quatro, os vivos sentimentos do Papa quando inscreve tal festividade ao número das solenidades do Senhor: “Pio XI instituiu a festa do Senhor Jesus Cristo Rei para combater o laicismo que afasta os homens e a sociedade da obediência a Deus e à sua Igreja e não reconhece nenhuma realeza de Jesus Cristo neste mundo. Pretende fundar a vida e a sociedade somente com base na vontade do homem.” Ora, a intenção do Papa continua a valer: Nós, os cristãos, católicos somos chamados, consoante São Paulo, a proclamar “oportuna e inoportunamente”, o senhorio deste Cristo-Rei que é verdadeiro Deus e Homem. Mas, de repente, surge-nos muitas indagações: Como proclamaremos o reinado de Cristo, quando, hoje, outros reinos e ideologias se auto- definem os verdadeiros caminhos para Homem? Que força tem o Reino de Cristo quando a vida- em sua inteireza- além de banalizada, se torna descartável, quando a autossuficiência do Homem o faz ditar brutalmente para ele e uma descendência, “meu corpo, minhas regras”? Que é o Reino de Cristo quando o mundo é sucumbido pelas forças do mal que somente leva ao Homem ser condenado?
      
        É justamente porque essas interrogativas podem nos angustiar que urge a necessidade de mostrarmos para tantos quem é o nosso Rei e os motivos pelos quais nos colocamos “sob” seu santo senhorio. O texto que o Evangelho deste hoje é proclamado na Liturgia, trata-se do julgamento de Jesus sob Pôncio Pilatos. Nesse “diálogo” o governador dirige a capital pergunta que leva o Filho de Deus para ser condenado. Ei-la: “Tu és o rei dos judeus?”  No versículos que seguirão da narrativa da paixão a turba dos agitadores diz com toda a força: “Não temos outro rei senão César.” No contexto da condenação de Jesus, vê-se, irmãos, com clareza que foram poucos que entenderam qual o “tipo” de Reino-Rei, era o daquele Nazareno. Para Roma, Jesus era uma espécie de populista, um homem que fez carreira pelo vasto território da Palestina e queria tomar o recinto do Imperador. Para as autoridades religiosas e civis, Jesus era um falsário, um impostor que sendo o “filho do carpinteiro’’, um judeu, dizia que era o Messias que havia chegado. No tempo de Jesus, como também hoje, o Reino dos Céus ainda não é aceito por todos porque o Deus Santo e Eterno que “habitou entre nós”, que veio para romper com o pecado e levar a descendência de Adão ao verdadeiro conhecimento de Deus, é um incômodo; mas, na verdade, o próprio Jesus que é Deus já sabia que no desenvolvimento da sua missão messiânica seria árduo. Ele sabia que o auge do seu Reinado na terra, encontrara no cimo da Cruz, a resposta e somente os “fiéis” compreendê-lo-ia.
     
      A resposta que Jesus dá a Pilatos é um verdadeiro desvelar-se quando durante toda sua vida pública falou por meio de parábolas, por isso, na sua “hora”, responde qual é a origem do seu reinado: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse desse mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui.” Aqui, irmãos, na resposta de Jesus a Pilatos que é um símbolo muito próximo de quem tem o afã de que o Reino de Deus possa ser banido porque não se ajusta às pseudas-estruturas dos ditames sócio-políticos, alienadores-científicos, puramente racionalistas e que caçoam de muitas formas a herança nossa que é a fé, de que tal Reino é indestrutível porque se trata dum binômio: Reino-Rei que é Jesus Cristo. Acerca, comenta o então Cardeal Ratzinger: “O ‘reino’ não vem deste ou daquele soberano, desta ou daquela ideologia, mas do próprio Deus. Todavia, nós chegamos a ele na comunhão com Jesus de Nazaré, crucificado e ressuscitado.” E continua: “Vós estais perto de Deus e Ele está perto de vós. E ainda: Deus é um Deus que age. Deus não está relegado à esfera ‘trascendental’, que os separaria da esfera ‘categorial’ do nosso agir e viver. Ele está presente e tem poder.” Não! Não! O Reino que Jesus instaura não visa uma transformação das massas, em eliminar as desigualdades sociais ou quiçá, Jesus, que é o próprio Reino de Deus, os céus, traçasse metas para o seu governo. Ao contrário, inicia sua pregação convidando a todos e falando-lhes pessoalmente: “Convertei-vos e crede no Evangelho.” Esta é a verdadeira condição, o verdadeiro valor do Reino de Deus porque se não o for sê-lo-á mais uma forja para o Homem que hoje, infelizmente, confunde Jesus com uma personagem heroica, um guru que diz o futuro, um Chê... mas não, a única certeza da pregação da Igreja, que é o Reino dos Céus, é que Jesus é o Deus vivente e que se encontra conosco e nos prometeu a vida indefectível.
     
     Jesus faz do seu Reino a única certeza onde a verdade pode ser encontrada. Hoje há quem se digladia para se falar de Deus. Prova-se os últimos acontecimentos por parte dos terroristas. Ainda de um Deus “marginal” e contrário a Jesus Cristo, lido no livro dos evangelhos e conservado pela Tradição da Igreja. Quando, por exemplo, nos deparamos com a cena do julgamento, particularmente, no colóquio de Jesus com Pilatos podemos lembrar de todos os discursos parabólicos de Jesus. Destaquemos a comparação do grão de mostarda. O grão no minúsculo da percepção é lembrado como “uma árvore que os pássaros dos céus se abrigam.”  Quem poderia pensar que um grão germinasse e chegasse a tais benefícios? A comparação chega a sua certeza, ali, defronte aos algozes de Jesus em seu julgamento. Não só o grão de mostarda, mas também, o grão de trigo caído à terra. Ir ao mais profundo, deixar de ser semente, para se tornar árvore, espiga de trigo se requer uma saída, um morrer! Jesus, sem deixar o seu “ser” Divino, assim sujeitou-se e assim a força deste Reino, aparentemente, débil se dilata para sempre até à sua consumação quando assentar-se o Justo Juiz.
     
      Vestido com a roupa da humanidade traz o sentido mais profundo do Reino: imolar-se para remir e remir para que fossemos capazes de professar com a vida, o testemunho de tal Reino que nos fala pessoalmente. Vê-se, logo, que não adianta uma teorização falsária do Reino de Deus. Ele se encontra no Evangelho, ou melhor, é o Evangelho. É a boa nova, única, que urge necessidade em escutar, conforme diz  a Pilatos: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz.”

     
      Centrados em Jesus Cristo, a “Testemunha fiel”, que nos abriu as portas do Seu Reino e que virá como Justo Juiz para retribuir conforme à medida cada um, possamos descobrir a cada instante a pérola de grande valor que há neste Reino e Dele não nos apartarmos, ainda que a nossa vida passe pela porta estreita, porque O proclamamos Senhor, Rei da Igreja e de toda a nossa existência.

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 1- Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: Texto do Catecismo de São Pio X- Capítulo XV- Da festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei- p. 207; questão 124.
 2-  Ser Cristão na Era Neopagã; O Evangelho e o Catecismo p. 124- Discurso do Cardeal Ratzinger para a Pontifícia Comissão para a América Latina da Catequese. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Pregar a Palavra ao modelo de Jesus



Certo dia, um pregador ia anunciar o Evangelho de Cristo para uma multidão faminta e sedenta de Deus, porém não vivia aquilo que pregava. Pergunta-se: Como se pode levar o povo à salvação pela pregação, sem antes, o próprio pregador viver o que prega? Ah pregadores! Por que não viver antes de pregar? O povo necessita da Palavra de Deus, mas, sobretudo do testemunho.

         Sabemos que os homens têm os corações duros, fechados; em uns a Palavra de Deus cresce, em outros é sufocada; mas em muitos, a graça de Deus, pelo testemunho cristão, faz crescer e germinar frutos nos corações que eram duros e fechados e agora não mais o são.
        
         Tenhamos em conta que quando o pregador proclama algo, quando fala algumas palavras os primeiros ouvidos a escuta-las são os seus; por isso, as palavras do Evangelho devem ser semente primeiramente no coração daquele que o anuncia. As palavras de Jesus devem dar frutos também, e principalmente, no coração do pregador, no coração do missionário evangelizador.

         Viver como Jesus viveu, pregar como ele pregava. Eis aí a forma correta com a qual os discípulos devem anunciar o Evangelho: como Jesus! Ah! Será difícil o dia do Juízo para os pregadores infiéis por que almas estão nas mãos destes missionários; por isso, pregadores que não fazem do anúncio do Evangelho um testemunho de vida, que não vivem aquilo que dizem, que contradizem na vida aquilo que falam correm o risco de perder almas e não darem frutos; e pero fim perderem-se a si próprios.  


         “Um homem é bem forte para convencer e persuadir, quando se vê que ele pratica tudo o que ensina” (Introdução dos Catecismos de São Cura d’Ars); ou como ensina São Francisco “pregue o Evangelho em todo tempo, se necessário, use as palavras”. Ou seja, o testemunho arrasta mais do que as próprias palavras proclamadas. O que adianta falar muito e viver pouco daquilo que se diz? Nada! Qual será o exemplo que as pessoas terão? Viver e pregar são duas atitudes que devem estar unidas.  
                                                                                   Por Iury  Nascimento

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

O final de dois anos


      A Igreja e o mundo preparam-se para despedirem-se dos seus anos. Para os cristãos, nós que somos católicos, despedir-nos-emos à próxima semana, na manhã do sábado, na XXXIV semana Comum. Assinala o fim desse ciclo litúrgico a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo que será celebrada no Domingo próximo. Concomitantemente ao final e início de Ano Novo para a Igreja, se avizinha também, o término do Ano Cívico. Este não se "distingue", apenas, por não acompanhar uma cadeia diferente, mas à intensidade e o sentido com qual é vivido. O Ano Litúrgico tem o seu Âmago, na Solenidade Pascal, de modo que este marco anual é feito Memória a cada "Domingo".
    Todo Domingo é Páscoa. Todo o Domingo é um eterno presente daquela alegria da manhã da Páscoa, o Mistério Pascal, em plenitude, na Liturgia é o que conduz nos diferentes tempos litúrgicos, a celebração do único "evento": Jesus Cristo. Desta maneira, uma vez que a carta aos Hebreus nos diz:" Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre", o Ano da Igreja não "vive" de declínios. Seja no Advento, no Natal, na Quaresma, na Páscoa e, nos Domingos, "Per Annum", vulgarizado o Tempo Comum, a Liturgia no tempo do "kronos", das vicissitudes, do calendário com seus feriados, nas estações do ano, no estado do homem, triste, feliz, sorridente, alegre, depressivo, doente, sadio.... nos aproxima e nos antecipa o "Kairós", o Eterno. Por isto, também, na Liturgia, quando penetramos em seus mistérios, não medimos os acontecimentos, pois, ainda cientes de que somos peregrinos, recobramos a nossa consciência de que somos feitos para "o que não conhece ocaso".
  A proximidade de ambos os anos faz-nos perguntar: O que é essencial? Sabido que também "somos ciclos", o que nos permite a bem escolher? Opto pelo que não passa ou passo com o que passa? 
Os textos desses dias derradeiros, proclamados em cada Santa Missa, fazem parte do chamado "gênero apocalíptico". De Linguagem rebuscada, alegórico, todavia, apontam para a nossa Única certeza: Ficarão, apenas, no final de tudo, "quando passar a figura deste Mundo", Eu, o Outro, o Juízo e a sentença. Ficará a consciência clara, límpida do Homem, que foi purificada pelo Espírito Santo e aí a justiça que saberá ele o que vai "receber" pelo que semeou. Nesta afirmação, provavelmente, o Ano Cívico e o Ano da Igreja se parecem porque devem ligar a chamada do Senhor para todos e cada um:" Mudai".

sábado, 14 de novembro de 2015

XXXIII Domingo Comum- Ele virá uma segunda vez

Dn 12,1-3
Sl 15
Hb 10,11-14.18
Mc 13,24-32

     Estamos no penúltimo Domingo do Ano Litúrgico. No Domingo próximo, a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo encerrará este ano da Igreja. Pois bem, hoje a Palavra de Deus, nos recorda que, como o ano, também a nossa vida passa, e passa veloz… Assim, o Senhor nos convida à vigilância e nos exorta a que não percamos de vista o nosso caminho neste mundo e o destino que nos espera. Nossa vida tem um rumo, caríssimos; o mundo e a história humana têm uma direção, meus irmãos!
     A nossa fé nos ensina, amados no Senhor, que toda a criação e toda a história humana caminham para um ponto final. Este fim não será simplesmente o término do caminho, mas a sua plenitude, a sua finalidade, sua bendita consumação. O universo vai evoluindo, a história vai caminhando… Onde o caminho vai dar? Com palavras e idéias figuradas, a Escritura Sagrada nos ensina que tudo terminará em Jesus, o Cristo glorioso que, por sua morte e ressurreição, tornou-se Senhor e Juiz de todas as coisas. Vede bem: a criação não vai para o nada; a história humana não caminha para o absurdo! Eis aqui o essencial, que o evangelho de hoje nos coloca com palavras impressionantes: “Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória!” Ou seja: tudo quanto existe caminha para Cristo, aquele que vem sobre as nuvens como Deus, aquele que é nosso Juiz porque, como Filho do Homem, experimentou nossa fraqueza e se ofereceu uma vez por todas em sacrifício por nós! Vede, irmãos: o nosso Salvador será também o nosso Juiz! Aquele que está à Direita do Pai e de lá virá em glória para levar à consumação todas as coisas é o mesmo que se ofereceu todo ao Pai por nós para nos santificar e nos levar à perfeição! Repito: nosso Juiz é o nosso Salvador! Quanta esperança isso nos causa, mas também quanta responsabilidade! Que faremos diante do seu amor? Que diremos àquele que por nós deu tudo, até entregar a própria vida para nossa salvação? Que amor apresentaremos a quem tanto e tanto nos amou? Pensai bem!
    Hoje, a Palavra de Deus adverte: tudo estará debaixo do senhorio de Cristo! Por isso, numa linguagem de cores fortes e figuras impressionantes, Jesus diz que a criação será abalada pela sua Vinda: “O sol vai escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas”. Que significa isso? Que toda a criação será palco dessa Revelação da glória do Senhor, toda a criação será transfigurada e alcançará a plenitude no parto de um novo céu e uma nova terra onde a glória de Deus brilhará para sempre! O Senhor afirma ainda que também a história chegará ao fim e será passada a limpo. Cristo fala disso usando a imagem da grande tribulação, isto é, as dores e contradições do tempo presente, que vão, em certo sentido se intensificando neste mundo. Por isso mesmo, a primeira leitura, do Profeta Daniel, fala em combate e em tempo de angústia… É o nosso tempo, este tempo presente, que se chama “hoje”.
    Amados em Cristo, estas leituras são muito atuais e consoladoras, sobretudo nos dias atuais, quando vemos o Cristo enxovalhado, o cristianismo perseguido e desprezado, a santa Igreja católica caluniada… Pensem no Código da Vinci, pensem nas obras de arte blasfemas e sacrílegas frequentemente expostas sem nome de uma pérfida liberdade, pensem nas freiras das porcas novelas da Globo, pensem no ridículo a que os cristãos são expostos aqui e ali, com cínicas desculpas e camufladas intenções, pensem nos valores cristãos que vão sendo destruídos, nas famílias destruídas pelo divórcio, pela infidelidade, pela imoralidade, pensem nos jovens desorientados pela falta de Deus, pela negação de todas as certezas e o desprezo de todos os valores, pensem, por fim, na vida humana desrespeitada pelo aborto, pela manipulação genética, pelas imorais e inaceitáveis experiências com células-tronco embrionárias com pretextos e desculpas absolutamente imorais… Não é de hoje, caríssimos, que a Igreja sofre e que os cristãos são perseguidos, ora aberta, ora veladamente… Já no longínquo século V, Santo Agostinho afirmava que a Igreja peregrina neste tempo, avançando entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus… O perigo é a gente perder de vista o caminho, perder o sentido do nosso destino, esfriar na vigilância, perder a esperança, abandonar a fé…
     Caminhamos para o Senhor, caríssimos – tende certeza disto! O mudo vai terminar no Cristo, como um rio termina no mar; a história vai encontrar o Cristo, tão certo quanto a noite encontra o dia; nossa vida estará diante do Senhor, tão garantido quanto o vigia cada manhã está diante da aurora! Por isso mesmo, é indispensável vigiar e trazer sempre no coração a bendita memória do Salvador, a firme esperança nas suas promessas, a segura certeza da sua salvação! Vede bem: na Manifestação do nosso Senhor, ele nos julgará! Na sua luz, tudo será posto às claras: se é verdade que sua Vinda é para a salvação, também é verdade que todos quantos se fecharam para ele, perderão essa salvação. 
     
        Caríssimos, nosso destino é o céu, mas estejamos atentos: o inferno, a condenação eterna, a danação sem fim, o fogo que devora para sempre, são uma real possibilidade para todos nós! Haverá um Juízo de Deus em Jesus Cristo, meus amados no Senhor: “Muitos dos que dormem no pó a terra despertarão, uns para a vida eterna, outros para o opróbrio eterno. Nesse tempo, teu povo será salvo, todos os que se acharem escritos no Livro”. Caríssimos, não brinquemos de viver, não vivamos em vão, não sejamos fúteis e levianos, não corramos a toa a corrida da vida! É o nosso modo de viver agora que decidirá nosso destino para sempre! Por isso mesmo, Jesus nos previne: “Em verdade vos digo: esta geração não passará até que tudo isto aconteça!” Em outras palavras: não importa quando ele virá – ele mesmo diz: “Quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” -; importa, sim, que estejamos atentos, importa que vivamos de tal modo que, quando ele vier no momento de nossa morte, estejamos prontos para comparecer diante dele e diante dele estar no último Dia, quando tudo for julgado! O juízo que nos espera é um processo: começa logo após a nossa morte, quando, em nossa alma, estaremos diante do Cristo e receberemos nossa recompensa: o céu ou o inferno! E no final dos tempos, quando Cristo se manifestar em sua glória, nosso destino também será manifestado com toda a criação e o nosso corpo, ressuscitado no fim de tudo, receberá também a mesma recompensa de nossa alma: o céu ou o inferno, de acordo com o nosso procedimento nesta vida!
      Meus caros, quando a Escritura Sagrada nos fala do fim dos tempos não é para descrever como as coisas acontecerão. Isso seria impossível, pois aqui se tratam de realidades que nos ultrapassam e que já não pertencem a este nosso mundo. Portanto, palavras deste mundo não podem descrever o que pertence ao mundo que há de vir… O que a Escritura deseja é nos alertar a que vivamos na verdade, vivamos na fé, vivamos na fidelidade ao Senhor… vivamos de tal modo esta nossa vida, que possamos, de fé em fé, de esperança em esperança, alcançar a vida eterna que o Senhor nos prepara, vida que já experimentamos hoje, agora, nesta santíssima Eucaristia, sacrifício único e santo do nosso Salvador que, à Direita do Pai nos espera como Juiz e Santificador. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

Bento XVI, a Razão, a Fé e o Islamismo




     Já havia passado o primeiro ano do seu pontificado. O ano era o de 2006. Regressa, agora, como Vigário de Cristo à Universidade de Regensburg em a sua Alemanha o catedrático teólogo Joseph Ratzinger. Como já lhe era familiar, o novo Papa, agora, iria mais uma vez discursar para um grêmio formado por estudantes, professores e, certamente, representantes de outros credos.
Nessa Aula Magna, o Papa, como exímio pensador traz a lume a ponte que há entre a Religião e a Razão. Já, o seu predecessor, acenava para a conjugação quando diz que a fé e a razão caminham juntas. Não há estranhezas entre essas duas balizas que acompanham o peregrinar do Homem. Bento XVI, amiúde, faz uso da Filosofia Clássica e, imediatamente, a justapõe com a Revelação, com o Deus de Israel. O Santo Padre responde:"(...) se manifesta a profunda concordância entre o que é grego na sua parte melhor e o que é a fé em Deus baseada na Bíblia."
 Sem mais delongas, eis:
Percebe-se que o Papa discursa para cientistas. Às entre-linhas de caudalosa palavra, com maestria mostra que a Religião só pode ser feita através desta "Razão Criadora", por isto, o "Logos" que é necessariamente o nascedouro do pensamento filosófico quando há a queda do "mito" e, agora, há como se argumentar. A Religião, como se vê, não é uma realidade solta e subjetiva de modo que se diga alienado: ''Tenho ou não tenho Religião. Crer e não crer para mim tanta faz". Estas taras são completamente absolvidas pelo que diz o Papa:"Logos significa conjuntamente razão e palavra – uma razão que é criadora e capaz de se comunicar, mas precisamente enquanto razão." O celebérrimo discurso de Bento XVI que foi mais um motivo para vociferá-lo de intolerante, preconceituoso, reacionário... foi assim mal interpretado porque ele se utiliza dum fundamento da história do Islão com o Cristianismo para o esboço donde ele quer chegar.
    O Sumo Pontífice chega em sua primeira intenção, como já se referiu: Sem a Revelação fundamentada no "Logos" a Religião não existe. Sê-lo-ia apenas mítico. Para isto ele se compraz com a cena da Sarça, onde o "Eu Sou" de Adonai é o oposto de todas as mitologias gregas. " com este novo conhecimento de Deus, cresce uma espécie de iluminismo que se expressa drasticamente na derisão das divindades como sendo apenas obra das mãos do homem."
A segunda intenção do Papa é para mostrar ao Mundo e aos crentes que há uma dissociação "completa" duma concepção de Deus que "em nome da fé" destrói o Homem. Esta, além de arrogante tentativa, de um "condicionamento'' do Sagrado à prepotência arbitrária-ideológica, o é completamente "irracional", não se compraz com o Deus Revelado que é "Logos", "que viu que era bom", diz o Gênesis.
     
      Apesar do Islamismo ser monoteísta, a ideia de Alá, como deus que trucida, que manda matar porque só há um só povo não é, insista-se, o Revelado e que tem o nome: Jesus Cristo que "viu a aflição do seu povo e desceu", que pode nos encontrar, e, assim, declara de modo ímpar Bento XVI:" (...) o Deus verdadeiramente divino é aquele Deus que se mostrou como "Logos:" e, como logos, agiu e age cheio de amor em nosso favor."
Convertamos-nos!

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Dedicação da Basílica do Latrão- A Comunhão com a Igreja nos edifica como “vivas construções”

       Caros irmãos,
             
       
     


            No dia de hoje a Igreja celebra mais uma das Festas do Senhor que celebrada no Domingo ganha a hierarquia de Solenidade. O que é, então, o dia da Consagração da Basílica do Latrão? Antes do  IV século do cristianismo católico, essa era a residência da família imperial que depois foi doada e passa a se tornar oficialmente a “Igreja-Catedral” da Cidade de Roma. É a mais arcana das basílicas papais. Soma-se a ela posteriormente as outras três basílicas da Cidade Eterna. Consagrada ao Senhor, sua titular nominação é: “Arquibasílica do Santíssimo Salvador em honra dos santos João Batista e Evangelista no Latrão.”  Nesta Igreja se encontra, de fato, a “Cátedra” do Bispo de Roma e outrossim do Sumo Pontífice. Para ela se aplica o preclaro ensinamento de Santo Inácio que era o Bispo de Antioquia: “Mãe e Mestra que nos preside na caridade”. E é por esta exatidão que poderemos nortear a nossa meditação. Hoje exprimimos com mais proximidade nossa “comunhão” com a Igreja de Roma que é simbolizada pela Igreja-Catedral da nossa Diocese. Lá está também a Cátedra (cadeira) do Bispo que transmite em “comunhão’’ com o Sucessor de Pedro a solidez da fé, com o ensinamento íntegro da sã e perenal doutrina.
         
     No conjunto das leituras que ouvimos hoje prevalece em comum a palavra “Templo”. No coração da religião judaica ele se encontrava. As delícias do povo de Deus, de Israel, era o desejo de e em permanecer no Templo, porque ali estava a “habitação de Deus.’’ Os salmos processionais podem cantar isto e que definem com exatidão: “Que alegria quando ouvir que me disseram vamos à Casa do Senhor  (Sl 121), “Assim como o pardal encontrou ninho para seus filhotes, vossos altares, encontrei Deus meu e Senhor.”, “ Monte Sião esta colina encantadora lá se encontra a mansão do grande Rei!”  A correlação entre o Templo e Israel, é, indubitavelmente, marcada pela comunhão, pelo regozijar-se em cumprir com a vontade do Senhor. No Templo se ofereciam os sacrifícios, no Templo o primogênito era apresentado. Não pode ser feita uma dicotomia entre o Templo e o Povo de Deus. Lá também era venerada a Arca da Aliança onde estavam as Dez Palavras. Na história do Povo, porém, sabemos o quanto a “Casa de Deus” foi apostatada. A lamentável situação, quando, por exemplo, o tirano Nabucodonosor leva Israel como prisioneiro para Babilônia e, com suas concubinas, profanam ao único Deus e o destrói. Imaginemos, agora, aquele povo sem o Templo, sem a forma sacrossanta da permanência de Deus com ele? Expressa o salmo cento e trinta e seis tamanho descontentamento: “como haveremos de cantar os cantares do Senhor numa terra estrangeira?” 

      O povo exilado é um povo que vagueia e permanece distante do Senhor porque está sem Deus e a verdadeira comunhão que haure dessa intimidade. Ora, irmãos, esses acontecimentos do Antigo Testamento podem ser vistos, hoje, por todos nós batizados no dia da Dedicação da Igreja do Latrão, por isto, sugerimos que à medida em que os textos sagrados insistem com a palavra “Templo” pode ser conjugada a esta “comunhão”. Que pensar, então? Israel no exílio sofreu duras pelejas. Israel “trocou” o Deus valente e guerreiro, por ídolos, por muitos baal’s. Pecou contra ao Senhor cultuando um bezerro de ouro, conforme assinala o saltério: “Tem olhos, mas não podem vê! Tem nariz, mas não podem cheirar. Tem boca, mas não podem falar.”  Não se pode, neste contexto, falar de comunhão e de Templo.

    Tais certezas, por um abandono, infidelidade ao Deus Eterno, sujeitou-lhes graves consequências. Celebrando a comunhão da Igreja Católica com a Igreja de Roma que é Mãe e Cabeça da Cidade e do Mundo, devemos nos questionar: O que é comunhão? O que é Unidade? E nossa profunda veneração ao Papa?  Será que, atualmente, comunhão, unidade, o ministério petrino por parte de alguns cristãos “sem a forma” dos ensinamentos do Santo Fundador e Cabeça da Igreja não é “obscurecido” pelo que é acidental? E mais: Essas espécies de “notas” que se fundam à apostolicidade e catolicidade da Igreja de Cristo, Santíssima, não ocorre o risco de ser confundida com mensagens que não chegam ao âmago do Evangelho que deve ser a centralidade e o anúncio da Verdade que é a Pessoa de Jesus Cristo?

     
    Pensemos, agora, que a comunhão com a Santa Igreja consiste em se submeter de corpo e alma à vontade de Deus. De não trocá-lo por César e não permitir, também, que o programa governamental de César seja o que define a Igreja. Jesus, judeu piedoso, vai ao Templo por ocasião da anual celebração da páscoa judaica. É interessante notarmos este grave acento do evangelista São João porque ele é entendido quando ouvimos do próprio Jesus, quando censura os vendilhões e cambistas: “Não façais da casa de meu pai uma casa de comércio ( cf. Jo 2, 16)” Podemos notar nesta atitude enérgica de Jesus a suma importância que há no Templo, mas, agora, não mais naquele que era ornado com os esplendores da pedra, não mais naquele em que estava o propiciatório e a Arca da Aliança. Aquele se torna obsoleto para a definitiva habitação de Deus entre e conosco: o Seu Cristo. 



    Jesus-Templo o é Cabeça do Seu Corpo. Jesus-Templo é a Pedra Angular, que, segundo o Apóstolo “se ajusta toda a construção”. Neste sentido, somente, é que podemos ter e está em comunhão com a Igreja, já, que como batizados, somos “lavoura de Deus, construção de Deus.” É pois ligados a Jesus, na sua Igreja, que vamos nos tornando vivas construções, templos do Altíssimo tanto no aspecto veraz da criação como “Imagem e Semelhança de Deus” quanto no testemunho da Verdade, quando, hoje muitos insensatos nos sucumbem fazendo da Cidade do Altíssimo não o centro da Unidade, mas da dispersão de quem semeia o joio! Que esta Festa da Dedicação da Igreja do Santíssimo Salvador, nos torne construções em que somente há a “pedra” que dá o sustento e o fundamento principal da nossa fé e comunhão.



            * Foto: Marcus Tullius

sábado, 7 de novembro de 2015

XXXII DOMINGO COMUM- Duas pobres viúvas fizeram da sua pobreza às primícias a Deus

   Caríssimos irmãos,



        Com a dominical celebração deste Trigésimo Segundo, aproximamo-nos do término do Ano Eclesiástico que se culminará à Solenidade de Cristo Rei do Universo. A Liturgia nos apresenta, neste hoje, a figura da “viúva”. De entre as classes dos mais indigentes, na história de Israel, estavam a viúva e o órfão. A literatura do Antigo Testamento por algumas vezes assinala que não apenas  fosse assistida, todavia, entre “os pobres do Senhor’’, não usasse para com ela da ganância quer fosse para lhe cobrar o tributo e nem a ameaçasse, conforme diz o Livro do Deuteronômio: “(...) nem tomarás como penhor a roupa da viúva (cf. Dt XXIV, 17).” A Lei do Senhor prescrevia que em caso de morte do marido sem deixar uma prole, aquela era obrigada a casar-se com seu irmão para que assim se perpetuasse a descendência.
      Podemos já notar o quanto a viuvez e a orfandade denotava um significado de exclusão, duma total solidão. Ainda há de se observar que segundo a lei do levirato o seu cunhado poderia recusá-la e não fazê-la sua esposa. Deste sentido, pois, se explica a resposta do Apóstolo São Tiago, quando escreve: “(...) a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações (...) ( cf. Tg I, 27).” 
        No contexto dessa realidade a viúva era uma “pobre”. Para sua causa estava apenas a “confiança’’ Naquele que ela “escolheu como a porção de sua herança”, lembrando as palavras do salmo. O cenário da primeira leitura nos lembra isto muito bem. Apreciamos a hospitalidade que a chamada viúva da cidade de Sarepta dispensa ao profeta Elias. No meio da indigência, o profeta, pede-lhe água e pão. O primeiro pensamento que devemos notar é: Elias é um dos enviados de Deus e, aquela pobre, reconhece tamanha presença de modo que isso se acentua à confissão: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte. (cf. I Rs I, 12)”.  Aqui, então, podemos desenvolver um pensamento sobre o que é “oferecer”. O que podemos entregar a Deus, sabidos, mesmos, que é Ele quem pode nos dá, somente?  Ainda: O que é entregar a Deus?  O que denota para nós, filhos, dá a Deus?

         
      Sabemos que na história do santo povo de Israel, oferecia-se os primeiros frutos da colheita, o primogênito da cria... estes “dons” eram consagrados a Deus, logo separados. Tornavam-se, então, “sacrum-facere”- feito para o Sagrado, um sacrifício! Mas, tanto no diálogo da viúva de Sarepta com o profeta Elias, como também, à cena do tostão da viúva que vai ao Templo de Jerusalém- observada por Jesus- não se nota que aquelas dão as primícias, no “real” significado. O que, então, para as viúvas vai se tornar “primeiro”?  A resposta nos é dada pelo próprio Jesus, quando vê o depósito que a mulher faz ao cofre, no Templo: “Esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver (cf.Mc XII, 43-44).” 

    O que se tornam primícias às mãos daquelas mulheres? A alegria e a consciência de que em suas vidas, Deus, sempre terá o primeiro lugar, de modo tal, que uma moeda que equivalia a um quadrante, um ínfimo valor, e, um punhado de farinha e um pouco de óleo, de “resto”, significam as palavras do Evangelho, noutra passagem: “Buscai o Reino de Deus e tudo mais vos será dado por acréscimo.”  O que vale também salientar é que nos “dons” que elas oferecem se encontra bem ordenado o lugar de Deus em suas vidas e, não-paradoxal, eram pessoas que só podiam aguardar a morte, se não encontrassem, na fé motivada pela esperança, a razão de saber que tudo vem de Deus, e, quer vivos ou mortos, estamos sob o seu senhorio.            
    Queridos irmãos, a história dessas duas pobretonas se alinha com a nossa vida, hoje! Deus não “necessita”, é um fato, porém a nossa resposta de que somos criação da sua providência deve continuamente nos nortear para fazê-Lo oferecer o nosso coração, ou seja, a certeza de quem encontrou a pérola de grande valia que não pode ser negociada. O Senhor nosso, aguarda, a possibilidade do nosso “resto” que Nele se transforma em honroso porque escreve São Paulo: “Deus ama a quem dá com alegria.”  

       
Ainda podemos sublinhar que este tema da entrega quem fê-lo antes de todas as coisas foi o próprio Eterno. O amor de Deus, que é Único e pessoal, foi visto por nós todos quando fez adentrar o Unigênito. Jesus que nasce pobre, ao assumir a identidade nossa, entregou-se dia a dia, de modo tal que no lenho da Cruz pode dá ao homem o que ele havia perdido: a filiação divina. O Filho de Deus a fez em seu total “rebaixamento”, conforme enaltece o hino cristológico da Epístola aos Filipenses. Vemos o que o autor da Carta aos Hebreus desenvolve, então, com a tamanha “oferta”: “(...) agora na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo ( cf. Hb IX, 26). Ora, irmãos, Cristo, Vítima, Altar, Sacerdote e Sacrifício de “suave odor” que tirou o pecado do mundo é o sinal de que a oferta da nossa vida deve ser uma capital adesão de Quem “(...) aceitou ser pregado na Cruz”, diz a Liturgia da Paixão e a verdade de que o “lugar” de Deus deve ser o primeiro para, assim a Ele, nos entregarmos em nossa pobreza.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos- A Morte: solidão eterna ou em Cristo o Sentido para a vida?

Caríssimos,

      
             
                Chegamos, hoje, à Celebração dos Fiéis Falecidos: os que foram marcados com o selo do Batismo, confirmados com a unção do Santo Crisma e alimentados da Mesa do Senhor, na Eucaristia. A Igreja como reserva uma data em honra de Todos os Santos, compreendeu, desde os mais remotos tempos, sufragar pelas almas dos defuntos. É preciso lembrar, que hoje, não prestamos homenagens aos nossos ente-queridos. Ir ao cemitério- o campo santo- acedermos uma vela, rezar, pôr flores à catacumba, no mausoléu, está “longe’’ dum sentimento vago, mas é um tino de saudade que é respaldado por uma viva esperança. Desta, escreveu São Paulo, “a esperança não decepciona.’’
       
      É preciso ter em mente que o símbolo da fé, germinada no dia do Batismo, crê e professa a ressurreição da carne. Aquém ao evento do Mistério Pascal, a morte é um grito ao vazio. Sem vislumbrarmos o horizonte pascal, “somos os mais dignos de compaixão.”  “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé.”, diz a epístola paulina.  Certos desta verdade, de que esses irmãos já nos precedem à eternidade, sempre comporta, defronte ao nosso peregrinar, que oxalá seja um avançar para a glória de Deus, as questões mais pertinentes e que, hoje, na indiferença do vazio, escapa sempre ao mortal: “Quem eu sou? Donde vim? Para onde vou?’’
      
   Alguns muitos preferem forjar no palmilhar das vicissitudes terrena estas interrogativas, outros não vêm sentido respondê-las e adiantam: sou um acaso... um acidente de percurso... sou pó e miséria e mais cedo ou mais tarde, esbarrar-me-ei  do que procurava fugir. Já outros encontraram o sentido em respostas mais seguras: Sou único- de corpo, alma e espírito- tenho a mais profunda saudade que trepida dia a dia. Vim das mãos benfazejas Daquele que me plasmou “à Sua Imagem e Semelhança” e, se Do Eterno saí, para Ele, graças à Páscoa do seu Jesus, voltarei.  E aí quem tem a razão?  Será que há, objetivamente, necessidade de voltar às cruciais questões, quando, hoje, infelizmente, o homem é alienado em tantas dimensões da sua vida? E qual o porquê de, à lume daquelas indagações, é mister se perguntar pelo significado da morte?
           As perguntas supramencionadas, de fato, vistas pelo prisma da morte não há sentido para sê-las. Para nós cristãos a morte foi uma trágica consequência do abandono a Deus, de uma emancipação do próprio homem decide-se por ele mesmo. Acaso não é isto hoje o que nos assola?  Portanto, assegura São Paulo: “o salário do pecado é a morte.” E noutra epístola, sublinha de modo elementar: “(...) por causa de um homem o pecado entrou no mundo.”  A morte nos atingiu como uma recusa. Um abandono Aquele que poderia nos transpor ao vero deleite da satisfação. Cientes disto, constatamos qual o porquê não somente o temor à morte, todavia uma aguda falta de Sentido, atualmente, entre as pessoas. Vê-se o quanto a morte, sem Cristo, seria eterna, quando se banaliza o Tempo de  Deus( Homem) e, em nome das mais injustificáveis banalidades, se aplica um modo de “correção” em que se nota que quando se perde o essencial, ocorre uma arrogância que se assemelha a um suicídio. Isto se prova, por exemplo, quem deve viver, quem é homem e quem é mulher, quando se “marcha” para a presença de Deus se tornar, continuamente, mais relativizada. A morte trouxe a rebeldia que a desgraça do primeiro Pecado propagou.
     
      Neste sentido vale o destaque duma meditação do Cardeal Ratzinger, escrita para o Sábado Santo de mil novecentos e noventa e quatro: “A morte, de fato, é solidão absoluta. Mas a solidão que não pode mais ser iluminada pelo amor, que é tão profunda que o amor não pode mais ter acesso a ela, esta é o inferno.’’  Pensemos que todo o pensamento do então Cardeal, se volta para o quadro do fato do silêncio do sepulcro. A morte sem Cristo seria o que dizemos “condenação eterna.” O sono do Filho de Deus na cruz e na escuridão do sepulcro, pode nos conduzir à precisão de que a “morte” não é mais agora, de per si, ou seja, não haveria um fanal de esperança. Ela se bastaria em chegar a nós como a única sentença, todavia, é em Jesus Cristo-morto e ressuscitado- o meio pelo qual podemos cantar como o salmista: “(...) como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu Deus!’’ E aí nos explica o Cardeal Ratzinger : “A solidão insuperável do homem foi superada a partir do momento em que Ele se encontrou nela.”

      Agora, pois, podemos nos voltar e compreender o porquê Jesus “chorou o seu amigo Lázaro.” O pranteou porque Ele experimentaria o abandono à sepultura! Deus quis se associar ao estado da necrose que o pecado desencadeou com a morte. Aquelas trevas da sexta para a madrugada do “Terceiro dia’’ que por Sua Luz, no Espírito Santo, mudaria toda a sorte da Humanidade. De certa maneira, a morte corpórea do nosso Salvador, foi o definitivo modo com o qual Deus pode “recapitular” a nossa existência para a posse do bem verdadeiro que somente poder-se-ia alcançar com a sua entrega total, logo a morte de Jesus o é, para nós, enxertados Nele, o penhor da Vida Eterna.  Firmes, aí, se complementam as palavras benditas, que reza a Liturgia de Réquiem, hoje, num dos seus prefácios: “Senhor, para os que creem em vós a vida não é tirada, mas transformada e desfeito o nosso corpo mortal é nos dado nos céus um corpo imperecível.”
      

                                             Por: André Fernandes Oliveira