Caríssimos,
Chegamos,
hoje, à Celebração dos Fiéis Falecidos: os que foram marcados com o selo do
Batismo, confirmados com a unção do Santo Crisma e alimentados da Mesa do
Senhor, na Eucaristia. A Igreja como reserva uma data em honra de Todos os
Santos, compreendeu, desde os mais remotos tempos, sufragar pelas almas dos
defuntos. É preciso lembrar, que hoje, não prestamos homenagens aos nossos
ente-queridos. Ir ao cemitério- o campo santo- acedermos uma vela, rezar, pôr
flores à catacumba, no mausoléu, está “longe’’ dum sentimento vago, mas é um
tino de saudade que é respaldado por uma viva esperança. Desta, escreveu São
Paulo, “a esperança não decepciona.’’
É preciso ter em mente que o símbolo da
fé, germinada no dia do Batismo, crê e professa a ressurreição da carne. Aquém
ao evento do Mistério Pascal, a morte é um grito ao vazio. Sem vislumbrarmos o
horizonte pascal, “somos os mais dignos de compaixão.” “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé.”,
diz a epístola paulina. Certos
desta verdade, de que esses irmãos já nos precedem à eternidade, sempre
comporta, defronte ao nosso peregrinar, que oxalá seja um avançar para a glória
de Deus, as questões mais pertinentes e que, hoje, na indiferença do vazio,
escapa sempre ao mortal: “Quem eu sou? Donde vim? Para onde vou?’’
Alguns muitos preferem forjar no palmilhar das
vicissitudes terrena estas interrogativas, outros não vêm sentido respondê-las
e adiantam: sou um acaso... um acidente de percurso... sou pó e miséria e mais
cedo ou mais tarde, esbarrar-me-ei do
que procurava fugir. Já outros encontraram o sentido em respostas mais seguras:
Sou único- de corpo, alma e espírito- tenho a mais profunda saudade que trepida
dia a dia. Vim das mãos benfazejas Daquele que me plasmou “à Sua Imagem e
Semelhança” e, se Do Eterno saí, para Ele, graças à Páscoa do seu Jesus,
voltarei. E aí quem tem a razão? Será que há, objetivamente, necessidade de
voltar às cruciais questões, quando, hoje, infelizmente, o homem é alienado em
tantas dimensões da sua vida? E qual o porquê de, à lume daquelas indagações, é
mister se perguntar pelo significado da morte?
As perguntas supramencionadas, de
fato, vistas pelo prisma da morte não há sentido para sê-las. Para nós cristãos
a morte foi uma trágica consequência do abandono a Deus, de uma emancipação do
próprio homem decide-se por ele mesmo. Acaso não é isto hoje o que nos
assola? Portanto, assegura São Paulo: “o
salário do pecado é a morte.” E noutra epístola, sublinha de modo elementar: “(...)
por causa de um homem o pecado entrou no mundo.” A morte nos atingiu como uma recusa. Um
abandono Aquele que poderia nos transpor ao vero deleite da satisfação. Cientes
disto, constatamos qual o porquê não somente o temor à morte, todavia uma aguda
falta de Sentido, atualmente, entre as pessoas. Vê-se o quanto a morte, sem
Cristo, seria eterna, quando se banaliza o Tempo de Deus( Homem) e, em nome das mais
injustificáveis banalidades, se aplica um modo de “correção” em que se nota que
quando se perde o essencial, ocorre uma arrogância que se assemelha a um
suicídio. Isto se prova, por exemplo, quem deve viver, quem é homem e quem é
mulher, quando se “marcha” para a presença de Deus se tornar, continuamente,
mais relativizada. A morte trouxe a rebeldia que a desgraça do primeiro Pecado
propagou.
Neste sentido vale o destaque duma
meditação do Cardeal Ratzinger, escrita para o Sábado Santo de mil novecentos e
noventa e quatro: “A morte, de fato, é solidão absoluta. Mas a solidão que não
pode mais ser iluminada pelo amor, que é tão profunda que o amor não pode mais
ter acesso a ela, esta é o inferno.’’
Pensemos que todo o pensamento do então Cardeal, se volta para o quadro
do fato do silêncio do sepulcro. A morte sem Cristo seria o que dizemos “condenação
eterna.” O sono do Filho de Deus na cruz e na escuridão do sepulcro, pode nos
conduzir à precisão de que a “morte” não é mais agora, de per si, ou seja, não haveria um fanal de esperança. Ela se
bastaria em chegar a nós como a única sentença, todavia, é em Jesus
Cristo-morto e ressuscitado- o meio pelo qual podemos cantar como o salmista: “(...)
como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh’alma por
vós, ó meu Deus!’’ E aí nos explica o Cardeal Ratzinger : “A solidão
insuperável do homem foi superada a partir do momento em que Ele se encontrou
nela.”
Agora, pois, podemos nos voltar e
compreender o porquê Jesus “chorou o seu amigo Lázaro.” O pranteou porque Ele
experimentaria o abandono à sepultura! Deus quis se associar ao estado da necrose
que o pecado desencadeou com a morte. Aquelas trevas da sexta para a madrugada
do “Terceiro dia’’ que por Sua Luz, no Espírito Santo, mudaria toda a sorte da
Humanidade. De certa maneira, a morte corpórea do nosso Salvador, foi o
definitivo modo com o qual Deus pode “recapitular” a nossa existência para a posse
do bem verdadeiro que somente poder-se-ia alcançar com a sua entrega total,
logo a morte de Jesus o é, para nós, enxertados Nele, o penhor da Vida
Eterna. Firmes, aí, se complementam as
palavras benditas, que reza a Liturgia de Réquiem, hoje, num dos seus
prefácios: “Senhor, para os que creem em vós a vida não é tirada, mas
transformada e desfeito o nosso corpo mortal é nos dado nos céus um corpo imperecível.”
Por: André Fernandes Oliveira
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