segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos- A Morte: solidão eterna ou em Cristo o Sentido para a vida?

Caríssimos,

      
             
                Chegamos, hoje, à Celebração dos Fiéis Falecidos: os que foram marcados com o selo do Batismo, confirmados com a unção do Santo Crisma e alimentados da Mesa do Senhor, na Eucaristia. A Igreja como reserva uma data em honra de Todos os Santos, compreendeu, desde os mais remotos tempos, sufragar pelas almas dos defuntos. É preciso lembrar, que hoje, não prestamos homenagens aos nossos ente-queridos. Ir ao cemitério- o campo santo- acedermos uma vela, rezar, pôr flores à catacumba, no mausoléu, está “longe’’ dum sentimento vago, mas é um tino de saudade que é respaldado por uma viva esperança. Desta, escreveu São Paulo, “a esperança não decepciona.’’
       
      É preciso ter em mente que o símbolo da fé, germinada no dia do Batismo, crê e professa a ressurreição da carne. Aquém ao evento do Mistério Pascal, a morte é um grito ao vazio. Sem vislumbrarmos o horizonte pascal, “somos os mais dignos de compaixão.”  “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé.”, diz a epístola paulina.  Certos desta verdade, de que esses irmãos já nos precedem à eternidade, sempre comporta, defronte ao nosso peregrinar, que oxalá seja um avançar para a glória de Deus, as questões mais pertinentes e que, hoje, na indiferença do vazio, escapa sempre ao mortal: “Quem eu sou? Donde vim? Para onde vou?’’
      
   Alguns muitos preferem forjar no palmilhar das vicissitudes terrena estas interrogativas, outros não vêm sentido respondê-las e adiantam: sou um acaso... um acidente de percurso... sou pó e miséria e mais cedo ou mais tarde, esbarrar-me-ei  do que procurava fugir. Já outros encontraram o sentido em respostas mais seguras: Sou único- de corpo, alma e espírito- tenho a mais profunda saudade que trepida dia a dia. Vim das mãos benfazejas Daquele que me plasmou “à Sua Imagem e Semelhança” e, se Do Eterno saí, para Ele, graças à Páscoa do seu Jesus, voltarei.  E aí quem tem a razão?  Será que há, objetivamente, necessidade de voltar às cruciais questões, quando, hoje, infelizmente, o homem é alienado em tantas dimensões da sua vida? E qual o porquê de, à lume daquelas indagações, é mister se perguntar pelo significado da morte?
           As perguntas supramencionadas, de fato, vistas pelo prisma da morte não há sentido para sê-las. Para nós cristãos a morte foi uma trágica consequência do abandono a Deus, de uma emancipação do próprio homem decide-se por ele mesmo. Acaso não é isto hoje o que nos assola?  Portanto, assegura São Paulo: “o salário do pecado é a morte.” E noutra epístola, sublinha de modo elementar: “(...) por causa de um homem o pecado entrou no mundo.”  A morte nos atingiu como uma recusa. Um abandono Aquele que poderia nos transpor ao vero deleite da satisfação. Cientes disto, constatamos qual o porquê não somente o temor à morte, todavia uma aguda falta de Sentido, atualmente, entre as pessoas. Vê-se o quanto a morte, sem Cristo, seria eterna, quando se banaliza o Tempo de  Deus( Homem) e, em nome das mais injustificáveis banalidades, se aplica um modo de “correção” em que se nota que quando se perde o essencial, ocorre uma arrogância que se assemelha a um suicídio. Isto se prova, por exemplo, quem deve viver, quem é homem e quem é mulher, quando se “marcha” para a presença de Deus se tornar, continuamente, mais relativizada. A morte trouxe a rebeldia que a desgraça do primeiro Pecado propagou.
     
      Neste sentido vale o destaque duma meditação do Cardeal Ratzinger, escrita para o Sábado Santo de mil novecentos e noventa e quatro: “A morte, de fato, é solidão absoluta. Mas a solidão que não pode mais ser iluminada pelo amor, que é tão profunda que o amor não pode mais ter acesso a ela, esta é o inferno.’’  Pensemos que todo o pensamento do então Cardeal, se volta para o quadro do fato do silêncio do sepulcro. A morte sem Cristo seria o que dizemos “condenação eterna.” O sono do Filho de Deus na cruz e na escuridão do sepulcro, pode nos conduzir à precisão de que a “morte” não é mais agora, de per si, ou seja, não haveria um fanal de esperança. Ela se bastaria em chegar a nós como a única sentença, todavia, é em Jesus Cristo-morto e ressuscitado- o meio pelo qual podemos cantar como o salmista: “(...) como a corça suspira pelas águas correntes, suspira igualmente minh’alma por vós, ó meu Deus!’’ E aí nos explica o Cardeal Ratzinger : “A solidão insuperável do homem foi superada a partir do momento em que Ele se encontrou nela.”

      Agora, pois, podemos nos voltar e compreender o porquê Jesus “chorou o seu amigo Lázaro.” O pranteou porque Ele experimentaria o abandono à sepultura! Deus quis se associar ao estado da necrose que o pecado desencadeou com a morte. Aquelas trevas da sexta para a madrugada do “Terceiro dia’’ que por Sua Luz, no Espírito Santo, mudaria toda a sorte da Humanidade. De certa maneira, a morte corpórea do nosso Salvador, foi o definitivo modo com o qual Deus pode “recapitular” a nossa existência para a posse do bem verdadeiro que somente poder-se-ia alcançar com a sua entrega total, logo a morte de Jesus o é, para nós, enxertados Nele, o penhor da Vida Eterna.  Firmes, aí, se complementam as palavras benditas, que reza a Liturgia de Réquiem, hoje, num dos seus prefácios: “Senhor, para os que creem em vós a vida não é tirada, mas transformada e desfeito o nosso corpo mortal é nos dado nos céus um corpo imperecível.”
      

                                             Por: André Fernandes Oliveira


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