sábado, 7 de novembro de 2015

XXXII DOMINGO COMUM- Duas pobres viúvas fizeram da sua pobreza às primícias a Deus

   Caríssimos irmãos,



        Com a dominical celebração deste Trigésimo Segundo, aproximamo-nos do término do Ano Eclesiástico que se culminará à Solenidade de Cristo Rei do Universo. A Liturgia nos apresenta, neste hoje, a figura da “viúva”. De entre as classes dos mais indigentes, na história de Israel, estavam a viúva e o órfão. A literatura do Antigo Testamento por algumas vezes assinala que não apenas  fosse assistida, todavia, entre “os pobres do Senhor’’, não usasse para com ela da ganância quer fosse para lhe cobrar o tributo e nem a ameaçasse, conforme diz o Livro do Deuteronômio: “(...) nem tomarás como penhor a roupa da viúva (cf. Dt XXIV, 17).” A Lei do Senhor prescrevia que em caso de morte do marido sem deixar uma prole, aquela era obrigada a casar-se com seu irmão para que assim se perpetuasse a descendência.
      Podemos já notar o quanto a viuvez e a orfandade denotava um significado de exclusão, duma total solidão. Ainda há de se observar que segundo a lei do levirato o seu cunhado poderia recusá-la e não fazê-la sua esposa. Deste sentido, pois, se explica a resposta do Apóstolo São Tiago, quando escreve: “(...) a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações (...) ( cf. Tg I, 27).” 
        No contexto dessa realidade a viúva era uma “pobre”. Para sua causa estava apenas a “confiança’’ Naquele que ela “escolheu como a porção de sua herança”, lembrando as palavras do salmo. O cenário da primeira leitura nos lembra isto muito bem. Apreciamos a hospitalidade que a chamada viúva da cidade de Sarepta dispensa ao profeta Elias. No meio da indigência, o profeta, pede-lhe água e pão. O primeiro pensamento que devemos notar é: Elias é um dos enviados de Deus e, aquela pobre, reconhece tamanha presença de modo que isso se acentua à confissão: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte. (cf. I Rs I, 12)”.  Aqui, então, podemos desenvolver um pensamento sobre o que é “oferecer”. O que podemos entregar a Deus, sabidos, mesmos, que é Ele quem pode nos dá, somente?  Ainda: O que é entregar a Deus?  O que denota para nós, filhos, dá a Deus?

         
      Sabemos que na história do santo povo de Israel, oferecia-se os primeiros frutos da colheita, o primogênito da cria... estes “dons” eram consagrados a Deus, logo separados. Tornavam-se, então, “sacrum-facere”- feito para o Sagrado, um sacrifício! Mas, tanto no diálogo da viúva de Sarepta com o profeta Elias, como também, à cena do tostão da viúva que vai ao Templo de Jerusalém- observada por Jesus- não se nota que aquelas dão as primícias, no “real” significado. O que, então, para as viúvas vai se tornar “primeiro”?  A resposta nos é dada pelo próprio Jesus, quando vê o depósito que a mulher faz ao cofre, no Templo: “Esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver (cf.Mc XII, 43-44).” 

    O que se tornam primícias às mãos daquelas mulheres? A alegria e a consciência de que em suas vidas, Deus, sempre terá o primeiro lugar, de modo tal, que uma moeda que equivalia a um quadrante, um ínfimo valor, e, um punhado de farinha e um pouco de óleo, de “resto”, significam as palavras do Evangelho, noutra passagem: “Buscai o Reino de Deus e tudo mais vos será dado por acréscimo.”  O que vale também salientar é que nos “dons” que elas oferecem se encontra bem ordenado o lugar de Deus em suas vidas e, não-paradoxal, eram pessoas que só podiam aguardar a morte, se não encontrassem, na fé motivada pela esperança, a razão de saber que tudo vem de Deus, e, quer vivos ou mortos, estamos sob o seu senhorio.            
    Queridos irmãos, a história dessas duas pobretonas se alinha com a nossa vida, hoje! Deus não “necessita”, é um fato, porém a nossa resposta de que somos criação da sua providência deve continuamente nos nortear para fazê-Lo oferecer o nosso coração, ou seja, a certeza de quem encontrou a pérola de grande valia que não pode ser negociada. O Senhor nosso, aguarda, a possibilidade do nosso “resto” que Nele se transforma em honroso porque escreve São Paulo: “Deus ama a quem dá com alegria.”  

       
Ainda podemos sublinhar que este tema da entrega quem fê-lo antes de todas as coisas foi o próprio Eterno. O amor de Deus, que é Único e pessoal, foi visto por nós todos quando fez adentrar o Unigênito. Jesus que nasce pobre, ao assumir a identidade nossa, entregou-se dia a dia, de modo tal que no lenho da Cruz pode dá ao homem o que ele havia perdido: a filiação divina. O Filho de Deus a fez em seu total “rebaixamento”, conforme enaltece o hino cristológico da Epístola aos Filipenses. Vemos o que o autor da Carta aos Hebreus desenvolve, então, com a tamanha “oferta”: “(...) agora na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo ( cf. Hb IX, 26). Ora, irmãos, Cristo, Vítima, Altar, Sacerdote e Sacrifício de “suave odor” que tirou o pecado do mundo é o sinal de que a oferta da nossa vida deve ser uma capital adesão de Quem “(...) aceitou ser pregado na Cruz”, diz a Liturgia da Paixão e a verdade de que o “lugar” de Deus deve ser o primeiro para, assim a Ele, nos entregarmos em nossa pobreza.

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