Caríssimos irmãos,
Com a dominical celebração deste Trigésimo
Segundo, aproximamo-nos do término do Ano Eclesiástico que se culminará à
Solenidade de Cristo Rei do Universo. A Liturgia nos apresenta, neste hoje, a
figura da “viúva”. De entre as classes dos mais indigentes, na história de
Israel, estavam a viúva e o órfão. A literatura do Antigo Testamento por
algumas vezes assinala que não apenas fosse assistida, todavia, entre “os pobres do
Senhor’’, não usasse para com ela da ganância quer fosse para lhe cobrar o
tributo e nem a ameaçasse, conforme diz o Livro do Deuteronômio: “(...) nem tomarás como penhor a roupa da
viúva (cf. Dt XXIV, 17).” A Lei do Senhor prescrevia que em caso de morte
do marido sem deixar uma prole, aquela era obrigada a casar-se com seu irmão
para que assim se perpetuasse a descendência.
Podemos já notar o quanto a viuvez e a
orfandade denotava um significado de exclusão, duma total solidão. Ainda há de
se observar que segundo a lei do levirato o seu cunhado poderia recusá-la e não
fazê-la sua esposa. Deste sentido, pois, se explica a resposta do Apóstolo São
Tiago, quando escreve: “(...) a religião
pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos
e as viúvas em suas tribulações (...) ( cf. Tg I, 27).”
No contexto dessa realidade a viúva era
uma “pobre”. Para sua causa estava apenas a “confiança’’ Naquele que ela “escolheu
como a porção de sua herança”, lembrando as palavras do salmo. O cenário da
primeira leitura nos lembra isto muito bem. Apreciamos a hospitalidade que a chamada
viúva da cidade de Sarepta dispensa ao profeta Elias. No meio da indigência, o
profeta, pede-lhe água e pão. O primeiro pensamento que devemos notar é: Elias
é um dos enviados de Deus e, aquela pobre, reconhece tamanha presença de modo
que isso se acentua à confissão: “Pela
vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa
vasilha e um pouco de azeite na jarra. estava apanhando dois pedaços de lenha,
a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois
esperar a morte. (cf. I Rs I, 12)”.
Aqui, então, podemos desenvolver um pensamento sobre o que é “oferecer”.
O que podemos entregar a Deus, sabidos, mesmos, que é Ele quem pode nos dá,
somente? Ainda: O que é entregar a Deus? O que denota para nós, filhos, dá a Deus?
Sabemos que na história do santo povo
de Israel, oferecia-se os primeiros frutos da colheita, o primogênito da
cria... estes “dons” eram consagrados a Deus, logo separados. Tornavam-se,
então, “sacrum-facere”- feito para o Sagrado, um sacrifício! Mas, tanto no
diálogo da viúva de Sarepta com o profeta Elias, como também, à cena do tostão da
viúva que vai ao Templo de Jerusalém- observada por Jesus- não se nota que
aquelas dão as primícias, no “real” significado. O que, então, para as viúvas
vai se tornar “primeiro”? A resposta nos
é dada pelo próprio Jesus, quando vê o depósito que a mulher faz ao cofre, no
Templo: “Esta viúva que é pobre lançou
mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros
deram do que lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que
tinha, tudo o que possuía para viver (cf.Mc XII, 43-44).”
O que se tornam
primícias às mãos daquelas mulheres? A alegria e a consciência de que em suas
vidas, Deus, sempre terá o primeiro lugar, de modo tal, que uma moeda que
equivalia a um quadrante, um ínfimo valor, e, um punhado de farinha e um pouco
de óleo, de “resto”, significam as palavras do Evangelho, noutra passagem: “Buscai o Reino de Deus e tudo mais vos será
dado por acréscimo.” O que vale
também salientar é que nos “dons” que elas oferecem se encontra bem ordenado o
lugar de Deus em suas vidas e, não-paradoxal, eram pessoas que só podiam
aguardar a morte, se não encontrassem, na fé motivada pela esperança, a razão
de saber que tudo vem de Deus, e, quer vivos ou mortos, estamos sob o seu
senhorio.
Queridos irmãos, a história dessas duas pobretonas se alinha com a
nossa vida, hoje! Deus não “necessita”, é um fato, porém a nossa resposta de
que somos criação da sua providência deve continuamente nos nortear para
fazê-Lo oferecer o nosso coração, ou seja, a certeza de quem encontrou a pérola
de grande valia que não pode ser negociada. O Senhor nosso, aguarda, a
possibilidade do nosso “resto” que Nele se transforma em honroso porque escreve
São Paulo: “Deus ama a quem dá com alegria.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário