Dn
7,13-14
Sl 92
Ap 1,5-8
Jo 18,33b-37
Irmãos caríssimos,
Com a celebração deste Domingo chegamos à
última semana do Ano Litúrgico. Completou-se assim o ciclo litúrgico do Ano do
Senhor neste dois mil e quinze, no qual proclamou-se o Evangelho de São Marcos,
caracterizado ora pela brevidade dos seus capítulos, sem muito pormenores e,
também, por este motivo ter sido o primeiro a escrever esse tipo de literatura.
Começamos lá, no primeiro Domingo do Advento, celebramos o Santo Natal, veio a
primeira parte do Tempo Comum “Per Annum”, participamos das observâncias da
sagrada Quaresma, vivemos as alegrias pascais por cinquenta dias, até a
Solenidade de Pentecostes e, por fim, a segunda parte do Per Annum. Cada
Domingo, Páscoa. Celebramos as solenidades, festas e memórias da Virgem Maria,
os Arcanjos, os Santos Anjos da Guarda, os mártires, os confessores. Todo o Ano
Eclesiástico circundado duma única certeza: O mistério de Cristo em seus vários
aspectos. Na Liturgia é Cristo quem é celebrado, pois sendo o sujeito dos
mistérios, a Santa Igreja dia a dia, na variedade dos acontecimentos,
presta-lhe a devida honra e, sobremaneira, através do Sacrifício Eucarístico
que compendia todos os mistérios, conforme o convite do sacerdote: “Orai irmãos, para que este meu sacrifício
que também é vosso seja aceito por Deus Pai Todo Poderoso.”
Concluindo o Ano Litúrgico, no Rito Romano
Latino, fá-lo, a Igreja, para marcar, com a Solenidade de Nosso Senhor Jesus
Cristo Rei do Universo. Esta comemoração foi instituída pelo Papa Pio XI para
encerrar o Ano Santo de 1925. Responde o texto do Catecismo Maior do Papa São
Pio X, no número cento e vinte e quatro, os vivos sentimentos do Papa quando
inscreve tal festividade ao número das solenidades do Senhor: “Pio XI instituiu a festa do Senhor Jesus Cristo
Rei para combater o laicismo que afasta os homens e a sociedade da obediência a
Deus e à sua Igreja e não reconhece nenhuma realeza de Jesus Cristo neste
mundo. Pretende fundar a vida e a sociedade somente com base na vontade do homem.”
Ora, a intenção do Papa continua a valer: Nós, os cristãos, católicos somos
chamados, consoante São Paulo, a proclamar “oportuna e inoportunamente”, o
senhorio deste Cristo-Rei que é verdadeiro Deus e Homem. Mas, de repente,
surge-nos muitas indagações: Como proclamaremos o reinado de Cristo, quando, hoje,
outros reinos e ideologias se auto- definem os verdadeiros caminhos para Homem?
Que força tem o Reino de Cristo quando a vida- em sua inteireza- além de
banalizada, se torna descartável, quando a autossuficiência do Homem o faz
ditar brutalmente para ele e uma descendência, “meu corpo, minhas regras”? Que
é o Reino de Cristo quando o mundo é sucumbido pelas forças do mal que somente
leva ao Homem ser condenado?
É justamente porque essas interrogativas podem
nos angustiar que urge a necessidade de mostrarmos para tantos quem é o nosso
Rei e os motivos pelos quais nos colocamos “sob” seu santo senhorio. O texto
que o Evangelho deste hoje é proclamado na Liturgia, trata-se do julgamento de
Jesus sob Pôncio Pilatos. Nesse “diálogo” o governador dirige a capital
pergunta que leva o Filho de Deus para ser condenado. Ei-la: “Tu és o rei dos judeus?” No versículos que seguirão da narrativa
da paixão a turba dos agitadores diz com toda a força: “Não temos outro rei senão César.” No contexto da condenação de
Jesus, vê-se, irmãos, com clareza que foram poucos que entenderam qual o “tipo”
de Reino-Rei, era o daquele Nazareno. Para Roma, Jesus era uma espécie de
populista, um homem que fez carreira pelo vasto território da Palestina e
queria tomar o recinto do Imperador. Para as autoridades religiosas e civis,
Jesus era um falsário, um impostor que sendo o “filho do carpinteiro’’, um
judeu, dizia que era o Messias que havia chegado. No tempo de Jesus, como
também hoje, o Reino dos Céus ainda não é aceito por todos porque o Deus Santo
e Eterno que “habitou entre nós”, que veio para romper com o pecado e levar a
descendência de Adão ao verdadeiro conhecimento de Deus, é um incômodo; mas, na
verdade, o próprio Jesus que é Deus já sabia que no desenvolvimento da sua missão
messiânica seria árduo. Ele sabia que o auge do seu Reinado na terra,
encontrara no cimo da Cruz, a resposta e somente os “fiéis” compreendê-lo-ia.
A resposta que Jesus dá a Pilatos é um
verdadeiro desvelar-se quando durante toda sua vida pública falou por meio de
parábolas, por isso, na sua “hora”, responde qual é a origem do seu reinado: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu
reino fosse desse mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui.”
Aqui, irmãos, na resposta de Jesus a Pilatos que é um símbolo muito próximo de
quem tem o afã de que o Reino de Deus possa ser banido porque não se ajusta às
pseudas-estruturas dos ditames sócio-políticos, alienadores-científicos,
puramente racionalistas e que caçoam de muitas formas a herança nossa que é a
fé, de que tal Reino é indestrutível porque se trata dum binômio: Reino-Rei que
é Jesus Cristo. Acerca, comenta o então Cardeal Ratzinger: “O ‘reino’ não vem deste ou daquele soberano, desta ou daquela
ideologia, mas do próprio Deus. Todavia, nós chegamos a ele na comunhão com
Jesus de Nazaré, crucificado e ressuscitado.” E continua: “Vós estais perto de Deus e Ele está perto
de vós. E ainda: Deus é um Deus que age. Deus não está relegado à esfera ‘trascendental’,
que os separaria da esfera ‘categorial’ do nosso agir e viver. Ele está
presente e tem poder.” Não! Não! O Reino que Jesus instaura não visa uma transformação
das massas, em eliminar as desigualdades sociais ou quiçá, Jesus, que é o
próprio Reino de Deus, os céus, traçasse metas para o seu governo. Ao
contrário, inicia sua pregação convidando a todos e falando-lhes pessoalmente: “Convertei-vos
e crede no Evangelho.” Esta é a verdadeira condição, o verdadeiro valor do
Reino de Deus porque se não o for sê-lo-á mais uma forja para o Homem que hoje,
infelizmente, confunde Jesus com uma personagem heroica, um guru que diz o
futuro, um Chê... mas não, a única certeza da pregação da Igreja, que é o Reino
dos Céus, é que Jesus é o Deus vivente e que se encontra conosco e nos prometeu
a vida indefectível.
Jesus faz do seu Reino a única certeza onde
a verdade pode ser encontrada. Hoje há quem se digladia para se falar de Deus.
Prova-se os últimos acontecimentos por parte dos terroristas. Ainda de um Deus “marginal”
e contrário a Jesus Cristo, lido no livro dos evangelhos e conservado pela
Tradição da Igreja. Quando, por exemplo, nos deparamos com a cena do
julgamento, particularmente, no colóquio de Jesus com Pilatos podemos lembrar
de todos os discursos parabólicos de Jesus. Destaquemos a comparação do grão de
mostarda. O grão no minúsculo da percepção é lembrado como “uma árvore que os
pássaros dos céus se abrigam.” Quem
poderia pensar que um grão germinasse e chegasse a tais benefícios? A
comparação chega a sua certeza, ali, defronte aos algozes de Jesus em seu
julgamento. Não só o grão de mostarda, mas também, o grão de trigo caído à
terra. Ir ao mais profundo, deixar de ser semente, para se tornar árvore,
espiga de trigo se requer uma saída, um morrer! Jesus, sem deixar o seu “ser”
Divino, assim sujeitou-se e assim a força deste Reino, aparentemente, débil se dilata para sempre até à sua consumação quando assentar-se o Justo Juiz.
Vestido com a roupa da humanidade traz o
sentido mais profundo do Reino: imolar-se para remir e remir para que fossemos
capazes de professar com a vida, o testemunho de tal Reino que nos fala
pessoalmente. Vê-se, logo, que não adianta uma teorização falsária do Reino de
Deus. Ele se encontra no Evangelho, ou melhor, é o Evangelho. É a boa nova,
única, que urge necessidade em escutar, conforme
diz a Pilatos: “Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz.”
Centrados em Jesus Cristo,
a “Testemunha fiel”, que nos abriu as
portas do Seu Reino e que virá como Justo Juiz para retribuir conforme à medida
cada um, possamos descobrir a cada instante a pérola de grande valor que há
neste Reino e Dele não nos apartarmos, ainda que a nossa vida passe pela porta
estreita, porque O proclamamos Senhor, Rei da Igreja e de toda a nossa existência.
_________
1- Terceiro Catecismo da Doutrina Cristã: Texto do Catecismo de São Pio X- Capítulo XV- Da festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei- p. 207; questão 124.
2- Ser Cristão na Era Neopagã; O Evangelho e o Catecismo p. 124- Discurso do Cardeal Ratzinger para a Pontifícia Comissão para a América Latina da Catequese.
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