domingo, 11 de outubro de 2015

Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira Principal do Brasil

   


 Caros  irmãos,

                     Chegamos ao esperado doze de outubro. Data que assinala o marco duma das mais religiosas festas da piedade popular para os cristãos católicos da Terra de Santa Cruz: a patronal solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Pelas plagas do Brasil oratórios, paróquias, capelas, catedrais...trazem e prestam o devido preito à Mãe de Deus, advogada, assim, a Virgem da Conceição Aparecida.  À escolha de tantos cantares, parece-nos, pois, que um é executado em uníssono: “Viva a Mãe de Deus e nossa sem pecado concebida, viva a Virgem Imaculada a Senhora Aparecida”, este que é sacramentado o Hino Oficial da nossa Padroeira. A partir destas considerações o que nos faz hoje celebrar a Toda Santa? Com que particularidades a história daquela imagem encontrada no Rio Paraíba, no distante século dezoito, repercute sempre presente em nossos dias? Qual o eixo teológico que podemos abstrair desta significativa piedade popular?
       

      Antes de mais nada, para nos nortear nesta reflexão, faz-se mister a citação do número vinte e cinco da Exortação Apostólica Marialis Cultis, do Beato Papa Paulo VI: Na Virgem Maria, de fato, tudo é relativo a Cristo e dependente d'Ele: foi em vista d'Ele que Deus Pai, desde toda a eternidade, a escolheu Mãe toda santa e a plenificou com dons do Espírito a ninguém mais concedidos. A genuína piedade cristã, certamente, nunca deixou de pôr em realce essa ligação indissolúvel e a essencial referência da Virgem Maria ao divino Salvador. É por esta linha da palavra da Igreja que nos voltamos à Senhora Aparecida. Em seu matinal louvor, o Hino de Laudes, nos põe diante da intercessão de Maria para com os que no Filho seu recebem tal filiação. Canta com solenidade a Igreja: Ó Virgem a quem veneramos com piedade enternecida e a quem alegres chamamos Aparecida. A partir daqui notamos uma identificação que suplanta uma dimensão apenas cultural ou talvez uma prática religiosa aquém da Revelação. Maria Santíssima identifica-se com a nossa história porque é o principal membro do Povo de Deus. 

      Com razão, vale o paralelo colocado na primeira leitura da hodierna Solenidade com a figura da Rainha. Assim como Ester olha para Israel, apieda-se, a Senhora da casa de Nazaré, pela descendência dos nossos pais. É importante destacar que primeiro “Deus olhou para a humildade de sua serva”, canta-Lhe ao Magnificat e logo Maria nos volta o olhar porque plasmada da graça singular, não pode retê-la. Aquele “Fiat voluntas tua” é uma disposição da nova Mulher que se opõe à primeira Eva. Maria só pode sê-la porque é a Única que pode orientar os rumos da nossa história, conjugando-a, com as núpcias do Cordeiro, cujo vinho é tornado Sangue e assim autêntica e única aliança que não pode ter fim. Aqui, então, vale a observação duma análise diligente da imagem encontrada. Seu aspecto escuro, enlodado pelas profundezas, coloca a predileta filha de Sião não apenas como nossa medianeira, mas também, por este aspecto, Maria, uma vez aparecida, cruza a nossa existência e muda, definitivamente, toda a fortuna da humanidade.
     
      Nos traços daquela bendita imagem nós nos colocamos e pela identificação da Mãe de todos os homens, verbaliza singularmente, o sacro orador lusitano Pe. António Vieira, no Sermão da Natividade de Nossa Senhora, como que a exaltar a admirável presença de Maria no desenvolvimento da salvação: Os diversos títulos da Virgem Mãe de Deus sempre me deixam admirados. Em particular, gosto de quando A vejo chamada “Stella Matutina”, Estrela da Manhã. Assim como esta estrela (Vênus, se não me engano) surge brilhante quando ainda é noite, assim a Virgem Santíssima surgiu ainda nas trevas do mundo. Como um sinal d’Aquele que estava por vir. Contemplarmos Maria e a honrarmos com o título de Aparecida é sabermos que ela sempre nos valeu. Nossa Senhora encontrada por aqueles pescadores, cuja pesca havia sido insatisfatória,   nos dá, o que não pode faltar, como nas bodas em Caná: Jesus. O admirável sinal do Apocalipse narrado à segunda leitura é também encontrado na efígie diminuta da Conceição Aparecida. A este propósito, podemos perceber naquela imagem, vista de perfil, um dado todo particular: Maria se encontra com o útero avantajado. É propício, aqui, notar uma peça de um cancioneiro do século XV que evidencia com admiração a expectação da Virgem, quando já, ao término, proclama-se em Latim: Pariesque filium, audite carissimi! Vocabis eum Iesum, Ave Maria. Cuncti simus concanentes, Ave Maria. Paristes um filho, escutai caríssimos! Porás o nome de Jesus, Ave Maria. Todos juntos cantamos, Ave Maria.  Desta maneira a presença de Maria, aclamada de Aparecida, é vista no sentido primordial da sua missão: “portar a Deus”. Verdade tanto pela concepção no bojo do seu útero como em todo o seu ser. Maria gestou ao Filho de Deus, desde o momento em que “dispor-se” para que o Anjo a saudando com aquele Ave, soubesse que ali, “mudado o nome de Eva”, como lhe canta a liturgia, a vida e as consequências para  o homem também fossem.
        
        Escutamos no Evangelho que a Mãe de Jesus também havia sido conviva às bodas que acontecem ao terceiro dia. Sabe-se que a festa de casamento é imagem de Deus que desposa a Igreja, mostra esse amor que é oblação no Filho da Virgem. Desta maneira, Maria, sendo a primeira que se entrega, é capaz da indicação para os discípulos, para a Igreja, que, uma vez partícipes do festim da redenção, pode compreender o Fazei o que ele vos disser. Pensemos que na mais que centenária história da Virgem de Aparecida é esta a razão de nos dobrarmos Aquela que traz Deus para habitar de entre os homens. A devoção à Maria é com justeza o liame da terra com os céus para que tanto por seus rogos quanto imitando-a sejamos mais parecidos com Jesus Cristo. Desta feita, comenta o então Cardeal Ratzinger: [...] sem Maria a entrada de Deus na história não chegaria ao seu fim, portanto não teria conseguido justamente o que tem importância na confissão de fé- que Deus é um Deus conosco e não só um Deus em si próprio e para si próprio. Assim, a mulher, que designou a si mesma como humilde [...] está colocada no ponto central da confissão de Deus vivente e Ele não pode ser pensado sem ela. Ela pertence irrenunciavelmente à nossa fé no Deus vivente, no Deus que age.  

      Nossa Senhora Aparecida interessou-se por nós porque também participamos das núpcias do Cordeiro que acontece na Eucaristia e se desdobra em toda a nossa vida que mais identificados com o Cristo, deve ser, não outra coisa, senão o senhorio da presença do Reino, ou seja, Ele mesmo, na parcela do seu Israel, que se encontra em nosso país. Na pequenina imagem da Virgem Aparecida, venerada nos altares, suplicamos-lhe que uma vez tendo gestado o Novo do Eterno, volva seu olhar benigno para as situações nocivas que assolam nossa pátria de modo tal a nos levar em seu regaço para beber da letícia (alegria) do “vinho melhor”, para  se construir a “casa sobre a rocha”. Rogai por nós, ó Santa Mãe Aparecida. Amém.

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