Queridos irmãos,
Na caminhada do Ano da Fé, refletindo sobre o Credo da Santa
Igreja Católica, destrinchado ultimamente em nossos artigos, pretendemos tratar
nesta ocasião das realidades escatológicas, dos Novíssimos, ou seja, do nosso
fim último, iniciado pela morte. Para isto, abordaremos o sexto e o sétimo
artigos da Profissão de Fé Católica: “Está sentado à direita de Deus Pai
todo-poderoso; donde há de vir julgar os vivos e os mortos” (Símbolo dos
Apóstolos); ou como igualmente explicita o símbolo Niceno-constantinopolitano:
“Onde está sentado à direita do Pai; e de novo há de vir, em sua glória, para
julgar os vivos e os mortos; e o seu Reino não terá fim”. Iniciaremos a nosso
tirocínio, tomando como ponto de partida a Ascensão de Jesus, a sua subida ao
céu. É deste evento igualmente pascal que começa para o homem um olhar de
esperança: o Senhor Jesus Cristo subiu; mas ele retornará para julgar-nos e
levar-nos, se merecermos, a Si.
O sexto artigo do Credo – “Está sentado à direita de Deus
Pai todo-poderoso” – ensina-nos que Jesus, quarenta dias depois da sua
ressurreição, na presença dos seus discípulos, subiu por Si mesmo ao Céu e que
sendo, enquanto Deus, igual ao Pai Eterno na Glória, enquanto homem, foi
elevado acima de todos os Anjos e de todos os Santos, e constituído Senhor de
todas as coisas. No entanto, é sabido por nós que Jesus Cristo, depois da sua
ressurreição, esteve quarenta dias na terra, antes de subir ao Céu, para
provar, com várias aparições, que ressuscitara verdadeiramente, ao mesmo tempo
em que instruía melhor os Apóstolos, confirmando-os nas verdades da fé.
Mas, por que Jesus Cristo subiu ao Céu? Primeiramente, para
tomar posse do seu Reino, que havia merecido com sua morte. Depois, para
preparar o nosso lugar na glória, e para ser nosso Mediador e Advogado junto do
Pai Eterno. Por fim, para enviar o Espírito Santo aos seus Apóstolos.
O Senhor subiu aos céus; ascendeu. Este verbo ‘ascender’ é
proveniente do latim, ascendere,
subir com as suas próprias forças, sem intermediários. Jesus assim o faz porque
é Deus e Homem. Por virtude própria, ele vai se elevando e assume o seu lugar
de Senhor, retomando o seu trono de glória, existente desde toda a eternidade,
mas deixado pelo evento de sua encarnação. Ascensão difere de assunção. O
Cristo ascendeu aos céus; Maria não. Ela, como criatura, foi assunta, foi
elevada pelos anjos, embora sendo a mais digna de todas as obras de Deus. Ela
nunca teve este poder pertencente unicamente a Deus, o de adentrar por si só na
glória celestial.
O Senhor subiu aos céus e assumiu o seu trono de glória,
sentando-se à direita de Deus Pai. Estas palavras significam a posse pacífica
que Jesus Cristo tem da sua Glória. Está à direita de Deus Pai todo-poderoso
exprime que Ele tem o lugar de honra sobre todas as criaturas. A esperança de
sua volta anima os cristãos. Jesus não voltará para causar-nos terror. O dito
popular diz que ‘quem não deve não teme’, se nós estamos quites com Deus, por
que temer a sua volta? Não dizemos em todas as missas: “Anunciamos, Senhor, a
vossa Morte e proclamamos a vossa Ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”?
Subentende-se com isto que desejamos ardentemente que ele volte. Mas, se lhe
devemos algo por estarmos em situação de pecado...
O Senhor subiu aos céus, assumiu o seu trono de glória, mas
virá novamente, não como da primeira vez, quando da encarnação, no silêncio, na
docilidade e singeleza de uma criança, mas envolvido em sua glória, em seu
esplendor. Esta é a verdade de fé que o sétimo artigo do Credo professa. Virá
esplendorosamente em um dia tremendo e glorioso para julgar os vivos e os
mortos. Ressuscitar-nos-á e julgar-nos-á: “Os que praticaram o bem irão para a
ressurreição da vida, e aqueles que praticaram o mal ressuscitarão para serem
condenados” (Jo 5,29). Os Novíssimos ensinados pela Igreja são morte, juízo,
Inferno e Paraíso. O juízo está aí; integra-se aos Novíssimos pregados pela
Esposa de Cristo, a Mãe e Mestra Católica como um meio para se alcançar o Céu
ou não. Imediatamente quando morrermos, caríssimos irmãos, adentraremos no
juízo particular, ou seja, prestaremos contas a Deus de tudo quanto fizemos
nesta terra. Será uma espécie de ‘acerto’ de nossa parte. Deus não nos julgará
arbitrariamente, mas serão as nossas ações os nossos acusadores ou defensores.
Mediante este julgamento, seremos encaminhados para o Céu, o Purgatório ou para
o Inferno. Entendamos por Céu a vida em comunhão definitiva com Jesus; a
bem-aventurança e a felicidade eterna de ver a Deus e estar junto dele. O
Purgatório, por sua vez, significa que há pessoas que, no dia de sua morte,
ainda não estão preparadas para um encontro com Deus e uma plena comunhão com
ele. Nós acreditamos que Deus, em sua misericórdia, os purifica e lhes dá o
perdão para que entrem, posteriormente, no Paraíso, no Céu. Ele prepara-os para
esse encontro. Daí a importância de rezarmos pelos mortos, principalmente
intercedendo pelas almas do Purgatório. Por Inferno, entendamos a exclusão
definitiva da comunhão com Jesus, a infelicidade e a miséria dos que se
separaram voluntariamente de Deus. Por isso, o Inferno ser tido como um estado
de alma de tormentos e de sofrimentos. Um estado irreversível.
O sétimo artigo do Credo ensina-nos que no fim do mundo
Jesus Cristo, cheio de glória e de majestade, há de vir do Céu para julgar
todos os homens, bons e maus, e para dar a cada um o prêmio ou o castigo que
tiver merecido. Podemos questionar-nos: Se cada um, logo depois da morte, há de
ser julgado por Jesus Cristo no juízo particular, por que havemos de ser
julgados todos no Juízo universal? Isso acontecerá por várias razões:
primeiramente, para glória de Deus; depois, para glória dos Santos, que alcançaram
o Céu por uma vida de amizade com Deus; para confusão dos maus, que
conquistaram a sua própria condenação; finalmente, para que o corpo, depois da
ressurreição universal, tenha juntamente com a alma a sua sentença de prêmio ou
de castigo.
No Juízo universal, há de manifestar-se a glória de Deus,
porque todos hão de reconhecer, transparentemente, a justiça com que ele
governa o mundo, embora se vejam às vezes na presente realidade que os bons
estão a sofrer e os maus em prosperidade. Sendo um único Deus com o Pai e o
Espírito Santo, no Juízo universal também há de manifestar-se a glória de Jesus
Cristo, porque, tendo Ele sido injustamente condenado pelos homens, aparecerá à
face do mundo inteiro como Juiz supremo de todos. Dissemos, amparados pela sã
doutrina da Mãe e Mestra ‘Senhora’ Católica, que no Juízo universal há de
manifestar-se a glória dos Santos, porque, tendo sido muitos deles desprezados
e mortos pelos maus, hão de ser glorificados em presença de todos os homens. No
Juízo universal, a confusão dos maus será enorme, especialmente aqueles que
oprimiram os justos, e aqueles que, durante a vida, procuraram ser tidos,
falsamente, por homens virtuosos e bons, pois verão manifestados, à vista de
todos, os pecados que cometeram, ainda que ocultamente.
Queridos irmãos, peçamos, a Cristo Jesus Nosso Senhor, o
Justo Juiz, que possamos, mergulhados e comprometido na fé e com a fé da
Igreja, instruídos por ela, esperar ansiosamente a sua vinda gloriosa e
benditíssima, a fim de que ele nos encontre atentos e preparados para, juntos
com ele, reinarmos no Céu, onde habitaremos no coração de Deus. Que nos afastemos das tentações, com a força
do Espírito de Deus e assim não seremos arrastados para a perdição eterna, o
temido e indesejado Inferno. Que os Santos, nossos percussores na Pátria
Celeste, intercedam por nós e nos ajudem com os seus exemplos!
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