sábado, 4 de maio de 2013

VI DOMINGO DA PÁSCOA


(Ano C – 05 de maio de 2013)

Pelo Seminarista André Fernandes



I Leitura: At 15,1-2.22-29
Salmo Responsorial: Sl 66(67),2-3.5.6 e 8 (R/ 4)
II Leitura: Ap 21,10-14.22-23
Evangelho: Jo 14,23-29 (Espírito Santo e a paz)

“Anunciai com gritos de alegria, proclamai até os extremos da terra: o Senhor libertou o seu povo, aleluia!” (cf. Antífona da Entrada)

           Caríssimos irmãos,

Com a hodierna celebração deste domingo, o Sexto do Tempo Pascal, a Igreja de Cristo, sobretudo na disciplina hebdomadária em alimentar-nos com a Sagradas Letras, proclamada à Mesa da Palavra, na Sagrada Liturgia, prepara-nos com mais proximidade à Solenidade de Pentecostes que é o termo do Mistério Pascal, quando, o Filho, eternamente glorificado, dá com Pai, o Espírito, pontuado pela Sagrada Escritura como: o Espírito de Amor, o Consolador, o Paráclito, o Espírito da Verdade... um elenco de epítetos para denotar a Terceira Pessoa da Trindade Santíssima: o Espírito Santo!
            À Primeira Leitura, a Igreja põe-nos defronte do primeiro concílio da História, o Concílio de Jerusalém. Este realizado na capital de Israel, centro da pregação dos apóstolos, depois de Antioquia, uma vez que aí a problemática eclodiu e onde primariamente os seguidores do 'Caminho’ foram tratados como cristãos. A ’Igreja de Sião’ era presidida pelo apóstolo São Tiago, cuja Festa litúrgica celebramos na última sexta passada.
             A causa para a convocação daquele, deu-se, pelo fato, da prática da circuncisão que os pagãos oriundos do judaísmo estavam praticando nas comunidades neocristãs. Por isso, segue a discussão entre Paulo e Barnabé. Assim ensinavam os vindos do judaísmo: “Vós não podereis salvar-vos, se não fordes circuncidados, como ordena a Lei de Moisés”. Ora, toda a discussão estava pautada acerca da referida assertiva. Poderá se salvar quem não é circuncidado? Lembremo-nos de que a prática da circuncisão é prescrita no Levítico; ela seria realizada no primogênito da família como signo de Consagração ao Senhor. Jesus, depois dos dias em que a Lei previa posterior a gravidez, foi, como era de praxe, com seus pais e ali O ofereceram nos braços do piedosíssimo  Simeão.
            Em verdade, a apresentação de Nosso Senhor no Templo, para cumprir a Lei mosaica, é uma prefiguração da sua subida e apresentação na cruz. No mistério de sua Paixão, Morte e triunfante Ressurreição, fora realizada, por antonomásia, a real circuncisão da humanidade, pois, como reza a Igreja na Liturgia da Semana Santa, no Prefácio da Paixão: “um por todos ele aceitou ser pregado na cruz”. Deste modo é inválida, para os cristãos, aquela prática, porquanto temos um único Salvador que, com sua libérrima oblação na ara da cruz, “reconquistou-nos e reconciliou-nos com o Pai!”
            Ainda podemos observar que como é da natureza daqueles concílios dogmáticos, como o de Jerusalém, é proclamada uma unilateral ‘verdade de fé’ e que é eterno não podendo ter uma obtenção de ‘’prazo de validade’’ para o término. A Igreja, na sua ininterrupta sucessão apostólica, zela e vive do ‘depósito da fé’. Com a proclamação desta passagem da redação do primeiro concílio, devemos sempre recordar que esse não se perdeu no transcurso da história ou, até mesmo, é um fato dito do ‘passado’ da Igreja quando nos primórdios do Cristianismo. Não! A decisão conciliar no que tangencia o combate às formulações heréticas que contrariam a fé de sempre são constantemente afirmadas pelo sagrado magistério.
            Vale-nos sublinhar o que diz a missiva enviada pelos apóstolos através de Paulo, Barnabé, Judas, dito Bársabas e Silas à Igreja em Antioquia: “Ficamos sabendo que alguns dos nossos causaram perturbações com palavras que transtornaram vosso espírito. [...] Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo [...]” Por esta razão, caros irmãos, vislumbramos a magnanimidade dos concílios. Um não pode ser desmerecido em favor do outro. É o que o Santo Padre, Bento XVI, exortara a Barca de Pedro na ‘’hermenêutica da continuidade’’ sustentada pela mesmíssima Sagrada Escritura e pela autêntica Sagrada Tradição.
            Na Segunda Leitura, São João descreve-nos, alegoricamente, a Jerusalém Celeste. O recurso literário usado pelo autor através das metáforas põe-nos defronte do supremo mistério da ‘pátria celeste’. Verdadeiramente, o Apóstolo narra o esplendor da Igreja triunfante. Nas entrelinhas do texto diz: “Estava cercada por uma muralha maciça e alta, com doze portas. Sobre as portas estavam doze anjos, e nas portas estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel. A muralha da cidade tinha doze alicerces, e sobre eles estavam escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro”.
            Quem é esta “Nova Sião”? Ei-la: a Igreja de Cristo! A Esposa do Cordeiro! Quais os seus sustentáculos? A fé dos apóstolos que “comeram e beberam com Nosso Senhor” e hoje, pela sucessão apostólica, em Pedro e no Colégio universal dos Bispos. A Igreja celeste tem a sua realidade já antecipada para nós, ainda partícipes, pelo Batismo, da Igreja peregrina, na Sagrada Liturgia, como bem expõe o Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium, número 137: “Nossa união com a Igreja celeste se realiza de modo nobilíssimo mormente na Sagrada Liturgia, em que a força do Espírito Santo atua sobre nós por meio dos sinais sacramentais, quando em comum exaltação cantamos os louvores de divina majestade, e todos, redimidos no sangue de Cristo, de toda tribo, língua, e povo, e nação, congregados numa só Igreja, em um só cântico de louvor, engrandecemos o Deus Uno e Trino. E, portanto, na celebração do sacrifício eucarístico que certamente nos unimos mais estreitamente ao culto da Igreja celeste [...]’’
            No Evangelho, ao contexto daquela ‘ceia sacrifical’, na qual fora instituída o Sacramento da Caridade, a Eucaristia, Jesus, concomitantemente, deixou-nos o Novo Mandamento, recordado na Liturgia do Quinto Domingo da Páscoa. Salienta o Evangelho: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Estas palavras do nosso Divino Salvador ligam-nos intimamente ora à Eucaristia, ora ao mandamento do Amor.
Afirmemos que entre a ordem de Cristo em amar-nos como Ele, até a Hora do Calvário, nos amou ‘até o fim’ e o sacramento da sua Páscoa não há dissociação. É no sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, vivo e ressuscitado, que nós encontramos a seiva para vivermos a radicalidade do amor evangélico. De fato, somos provados para ‘guardar a palavra de Cristo’, ou seja buscar, a concretização do amor uns com os outros, mas, somos animados com o que disse Nosso Senhor: “sem mim nada podeis fazer” (cf. Jo 15)
            Como conservar em nossos corações, em profundos intentos, os preceitos de Nosso Senhor? Como lhe seremos obedientes? Eis: a promessa do envio do Espírito Santo! Este, o Amor entre o Pai e o Filho, é o reconfortador para nos formar segundo a vontade do próprio Deus. É somente na potência do Espírito, que a Igreja receberá no Pentecostes, que as palavras de Cristo ser-nos-ão esclarecidas plenamente; porquanto é o Espírito que agora sustém o Corpo Místico de Cristo. Por isso adoramo-lo em natureza e igual majestade com o Pai e o Filho.
     “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração”. Qual o significado desta doação de Jesus para nós? Do seu ‘shalom’ dado plenamente após os oitos dias no cenáculo aos apóstolos? Esta paz é a garantia da sua presença em nosso meio. Uma paz que desconcerta os incrédulos à força do Evangelho. Sim! A paz de Nosso Senhor é universal, contudo não é uma utopia, distante, mas sempre presente, graças aos méritos de sua Páscoa na força do Espírito!
              Oxalá, possamos sempre permanecer em Cristo, Alfa e Ômega, o Consumador da nossa salvação, de modo tal, naquele derradeiro e glorioso dia, participemos da eleição dos ‘bem-aventurados’ para gozarmos perenalmente da vida eterna! Abençoado Domingo!

  
      

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