sábado, 17 de agosto de 2013

‘’Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça.’’ (cf. Ap. 12,1)



     Caros irmãos,

   Com esta antífona ora cantada pelo coro ou dita pelo sacerdote, a Igreja nos introduz no admirável mistério da hodierna Solenidade da Assunção de Maria Santíssima aos céus.  No Ano Santo de 1950, o Santo Padre, o Papa Pio XII, fez-nos ouvir esta tamanha verdade dogmática proclamando o dogma da Assunção de Nossa Senhora.  Por que afirmamos ser a elevação da Virgem à glória dos céus um mistério? Por que Maria, a Toda Santa, assuntou aos céus? Qual a esperança que nos leva a professar esta verdade de fé?
        Somos cônscios de que toda a economia da salvação chega à sua plenitude quando o Filho sempiterno de Deus, o Verbo ‘’pré-existente’’, encarna-se no seio da Virgem Filha de Sião e ‘’arma a sua tenda em nosso meio’’, ou seja, participa de maneira singular da mesma condição humana que a nossa, a fim de que, como no-lo exorta o apóstolo São Paulo ‘’aonde abundou o pecado, superabundou a graça.’’ E noutra passagem podemos ouvir declaração similiar: ‘’quando sou fraco aí é que sou forte.’’ Deus, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, quis, de bom grado, que o seu Unigênito, aceitasse a nossa humilde condição para aniquilar a ‘’morte eterna’’ já sentenciada pela crua desobediência dos nossos primeiros pais.
        A solene narrativa do memorial da Anáfora VII, (Sobre reconciliação-I) aprovada pela Sé Apostólica para o uso aqui no Brasil, do Missal Romano, de maneira misteriosa, faz-nos, na Sagrada Liturgia, sentirmos a consequência do pecado original, quando, da boca do sacerdote, ouvimos: ‘’Enquanto estávamos perdidos e incapazes de vos encontrar, vós nos amastes de modo admirável: pois vosso Filho- o Justo e Santo- entregou-se em nossas mãos aceitando ser pregado na cruz.’’ 
        Foi segundo o beneplácito de Deus, na potência do Espírito Santo, que o projeto salvífico passasse por uma nova Mulher, conforme, com razão excelsa já contém no ‘’Proto-Evangelho’’: ‘’Porei hostilidade entre a tua descendência e a descendência da Mulher.’’ (cf. Gn 3, 15) Eis ai: Por Eva, a primeira vivente, o advento da desobediência foi transmitida e pela obediência  da segunda e definitiva Eva, Maria Virgem, adentrou, com o seu ‘’fiat’’, a obediência como obséquio de salvação do cosmos e do gênero humano pelo ‘’ente-santo’’ nascido de suas fecundíssimas entranhas.
    Celebrar a assunção de Nossa Senhora é vislumbrarmos desde o cântico expoente do Novo Testamento, o Magnificat, a obra perfeita que Deus, desde sempre, fizera em Maria. São inspiradoras e crédulas as palavras: ‘’o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor.’’ Maria, predestinada para ser a Mãe do Redentor, é assunta aos céus. É nesta observância que voltamos o nosso olhar para a Mãe de Deus que se torna a medianeira entre nós e o seu Filho glorificado, feito Pontífice da nossa fé!
     Maria santíssima é o ‘Tipo perfeito’ do Corpo Místico de Cristo. Esta é a segunda razão pela qual reverenciamos a ‘’Regina caelorum’’. Assevera-nos o Sagrado Concílio  Vaticano II, na Constituição Apostólica ‘Lumen Gentium’ número 62: ‘’Assunta aos céus, não abandonou este salvífico múnus, mas por sua multíplice intercessão prossegue em granjear-nos os dons da salvação eterna. Por sua maternal caridade cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à feliz pátria. Por isso a Bem-Aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Adjutriz, Medianeira. Isto, porém, se entende de tal modo que nada derrogue, nada acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador.’’
      A Igreja, ‘já e ainda não’, tem em Maria a perfeitíssima consumação da obra de salvação. Maria é aquela que nos precede à Páscoa Eterna. À destra do Ressuscitado Ela que já goza das realidades escatológicas para onde, ‘’pressurosos e na penumbra da fé’’, peregrinamos. Esta solenidade nos lança um olhar de eternidade e este só pode ser trilhado a lume da fé. O Evangelho que hoje a Liturgia nos reserva mui bem nos faz imergir na postura e atitude crédula de Maria. Por isso a Mãe de Deus é reverenciada. ‘’Bem-Aventurada é aquela que acreditou porque se cumprirão as coisas que da parte do Senhor te foram ditas.’’ Maria vai ao encontro de sua parenta Isabel, naquela região montanhosa da Judeia, porque creu!  Neste cenário não nos cabe conter como uma visita familiar, mas, é, sobretudo, um encontro de fé. A anciã Isabel que em seu ventre trouxera o precursor do Messias e Maria que traz a salvação.

      A fé obediente de Maria sempre foi vista como a fé de Abraão. Este que parte para uma terra desconhecida para formar o Povo escolhido de Deus, que oferecera seu Filho em holocausto... aquela, que, em sua vida, deixou ser tocada por Deus e em ‘’previsão dos méritos de Cristo’’ foi plasmada e transbordante pelo Espírito Santo.  Ao pensarmos na glória que Maria recebeu, após o transcurso de sua peregrinação terrestre, devemos perlustrar a nossa vida cristã. Somos o Novo Israel que peregrina em direção à vida eterna. Com bastante razão valem as palavras de São Paulo: ‘’Aspirai as coisas do alto.’’  Que a mediação da gloriosa Virgem Maria, assunta aos céus, valha-nos, para que, nos acontecimentos desta vida busquemos a nossa plena realização na vida dos bem-aventurados, a qual, Ela, é protótipo e esperança da Igreja em milícia. Amém!

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