Caros irmãos,
Ainda imersos às
alegrias do singular evento da Encarnação do Verbo sempiterno, Nosso Senhor
Jesus Cristo, voltamo-nos para o presépio e eis, que hoje, na segunda das
maiores Solenidades do Tempo do Natal, encontramos a Sagrada Família e, dentre
muitos, os sábios magos oriundos do Oriente; e da boca da Igreja escutamos,
como é bem expressa à Antífona da Entrada da Missa de hoje: ‘‘Eis que veio o
Senhor dos senhores, em suas mãos, o poder e a realeza.’’ Celebramos hoje a Solenidade da Epifania do
Senhor.
Do grego,
‘’Θεοφάνεια’’, significa etimologicamente, "manifestação", aparição,
revelação.’’ Sabido disto, é, pois, a Manifestação do Senhor a todo o mundo. Aquele
lá das alturas, toma a nossa forma humana, a nossa visibilidade, ou seja, é próximo
de nós, o Divino companheiro, Emanuel, Deus conosco que veio salvar a todos: o
que se verifica na diversidade dos magos.
Este
arcano desígnio de salvação é expresso em todos os textos que a Liturgia da
Palavra nos apresenta. Vejamos as palavras de Isaías profeta: Levanta-te, acende as luzes Jerusalém,
porque chegou a tua luz apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a
terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti
apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti (cf. Is 60, 1
sg.).
À priori é a
imagem que encoraja o Povo de Israel à volta da peleja e severa servidão em Babilônia.
Longe do Templo, imersos na idolatria, destarte abandonando o Deus Bendito dos
seus pais. Continua o Profeta: Os povos caminham à tua luz e os reis ao
clarão de tua aurora... Ao vê-los, ficarás radiante, com o coração vibrando e
batendo forte, pois com eles virão as riquezas de além-mar e mostrarão o
poderio de suas nações; será uma inundação de camelos e dromedários de Madiã e
Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamando a
glória do Senhor .Esta exortação fora dirigida ao povo da primitiva
aliança, pois voltavam para a Cidade de Sião, para adorar o Deus Santo que bem
fez todas as coisas!
Nestes tempos, que
são os últimos, tomamos o Antigo Testamento, e nele, constatamos as epifanias
feitas pelo Senhor na paulatina história da salvação. As alianças sancionadas,
a aparição a Moisés na visão da sarça, faz-nos lembrar o ensinamento de Santo
Agostinho, contido no Catecismo da Igreja Católica, nº 2055- Novum in Vetere
latet in Novo Vetus patet- o Novo Testamento está escondido no Antigo, ao
passo que o Antigo é desvelado no Novo. Como somos cônscios, iluminados pela
Palavra de Deus e pelo Magistério Apostólico, a plenitude da Revelação é o
Verbo encarnado, esta é, por antonomásia, a epifania de Deus entre povos, como
canta hoje o Salmo setenta e um: As nações de toda terra hão de adorar-vos, ó
Senhor. Os reis de toda a terra hão de adorá-lo, e todas as nações hão de
servi-lo.
Pois bem: Quem é
Jerusalém?
É a Igreja, que acolhe todos as gentes e fá-los único: os batizados,
que iluminados pelo fulgor da Luz, tornam-se reflexos seus para o mundo
descrente, como disse o mesmíssimo profeta, na Noite de Natal: O povo, que andava na escuridão, viu uma
grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu.
Porque nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho.
A hodierna Solenidade
revela-nos que somente Deus é o Senhor dos senhores. Esta verdade é-nos
colocada pelo Evangelho quando da atitude dos magos: Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande.
Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se
diante dele, e o adoraram (cf. Mt 2, 1 sg.). A adoração é uma atitude de
reconhecimento do senhorio de Cristo diante daquilo que somos. Impressiona-nos
a presença da estrela. Não nos detendo nas diversas possibilidades que possa
sê-la, cabe-nos a interrogação: Se aqueles que também eram entendedores da ciência astronômica, que tinham um conhecimento mais enfático sobre os
corpos celestes, suas posições, aparições, por que, então, não “permaneceram”
absortos pela luz do astro? Não! A estrela, ainda que tenha luz própria, não
poderia conter Aquele que é “Lumen gentium”, o único que pode fazer das trevas luz e colocar o homem no seu lugar para que Deus reine!
Neste aspecto, vale
sublinhar, o que reflete o Papa Bento
XVI: poder-se-ia falar de uma espécie de
guinada atropológica: o homem assumido por Deus- como aqui se mostra no Filho
Unigênito- é maior que todos os poderes do mundo material e vale mais do que o
universo inteiro (cf. A Infância de Jesus, p. 86). O recém- nascido
encontrado, agora, pelos sábios oriundos das terras do outro polo geográfico do
mundo, é, pois, um início da Igreja que no primeiro Pentecostes fora pelo
Espírito Santo, através dos apóstolos e os seus colaboradores, dispersa com as
sementes do Evangelho para que se encontre e se proponha a via de salvação que
traz a Sua Cabeça, no Unigênito da Virgem Maria. Nela, (Igreja), muito além das
concepções alheias e desprovidas da sua essência, ela é “Mysterium”. O homem
enxertado em Cristo pelo Batismo, entra, como os magos ao presépio e, então,
chegam à conclusão, à verdadeira finalidade: E entraram na casa, e acharam o menino com Maria, sua Mãe e,
prostrando-se, O adoraram (cf. Mt 2, 11 sg.)
Outro dado
importante é o que encerram-se em seus cofres: o ouro, o incenso e a mirra.
Quais os sinais destas dádivas? São símbolos que anunciam a verdade do
Infante-Deus. O ouro: Ele é Rei do Universo. O incenso: Ele é Deus; o soberano
‘’que supera todos os deuses, pois um nada são os deuses dos pagãos. Bem diz o
salmista:’’ Têm olhos, mas não podem ver’, têm ouvidos mas não podem ouvir, têm
nariz mas não podem cheirar, têm boca, mas não podem falar” e uma especial
atenção à mirra. Esta é sinal da Paixão, do fel, do vinagre dado, da glória do
martírio cruento, que aguarda o Divino Infante.
À segunda leitura,
da Carta de São Paulo aos Efésios, (cf. Ef 3, 2sg.), diz o Apóstolo: Este
mistério, Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas, mas acaba
de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus apóstolos e profetas: os pagãos são
admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma
promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho. O referido mistério é a Revelação plena de
Deus em o seu Unigênito, sim, Aquele mesmíssimo, que, como diz São João, ‘’estava
na intimidade do Pai’’, manifesta-se
para salvar o homem da imundície do pecado, por isso mesmo diz São Paulo que os pagãos são admitidos à mesma herança, são
membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio
do Evangelho.
Celebrar a
Epifania do Senhor é reconhecer no Filho de Deus, a “imagem do Deus invisível’’,
que, tendo se manifestado a todos os povos para salvá-los, já levou, a nossa
humanidade redimida, quando ascendeu ao mais alto dos céus!
Vamos, pois ,e o Adoremos, Aquele que é, foi e será!
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