(Ano B – 18 de dezembro de 2011)
I Leitura: 2Sm 7,
1-5.8b-12.14a.16
Salmo Responsorial:
Sl 88 (89), 2-3. 4-5. 27 e 29 (R/. cf. 2a)
II Leitura: Rm 16,
25-27
Evangelho: Lc 1,
26-38
Rejubila-te, ó
Igreja bradante pelo seu Salvador! Implora a sua vinda e ele descerá de seu
trono, de sua majestade, em teu socorro! Ele reinará sobre tudo, reinando sobre
ti.
Queridos irmãos,
Paulatinamente, estamos nos achegando ao dia da libertação
do gênero humano, quando Deus descerá de sua glória e vai fazer morada entre
nós, sem deixar de ser o que é: Deus, porém humanado, o que não o diminui. Ele
o Shekinah, Deus presente, o Emanuel,
Deus conosco. A Igreja, tal como Maria, grande mulher do Advento, está gestante
de seu Deus e carrega no seu ventre ele mesmo, querendo apresentá-lo ao mundo
como seu Senhor. Não que a Esposa divina a tenha querido por escolha, mas
acontece justamente o contrário: Deus, o Divino Esposo a escolheu e a
constituiu para si. Não percamos de vista que somos Igreja porque estamos, pelo
Sangue de Cristo, nos acercado, quando do nosso Batismo, em suas benditas
fileiras. Portanto, estamos prenhes do Deus que nos amou e nos quis para si,
estamos na expectativa de dar-lhe a luz, já que o estamos gerando em nosso
íntimo, em nosso coração.
A Igreja clama e, obviamente, nós, junto com ela e nela:
“Céus, deixai cair o orvalho, nuvens, chovei o justo; abra-se a terra, e brote
o Salvador!” (Is 45, 8; Antífona de entrada do IV Domingo do Advento). Sim, já
não podemos mais nos conter; esta espera nos custa e por isso o chamamos: “Vem,
Senhor!”
A Liturgia da Palavra de hoje nos apresenta o Messias como
verdadeiro herdeiro do trono de Davi. E, como de praxe, principalmente no
Advento, no Evangelho vamos ter o cumprimento da profecia que a Primeira
Leitura anuncia. Assim sendo, no trecho do segundo livro de Samuel que nos foi
proferido pela Magistra Ecclesia
(Igreja Mestra), temos a figura de Davi que, tendo-se estabelecido em
Jerusalém, feliz e próspero no trono de Israel, preocupa-se com um templo,
local de habitação de Deus em meio ao povo. Interessante notarmos que a
presença de Deus em meio ao povo é garantida pela arca da aliança. Dar um
abrigo digno àquela que resguardava em seu interior as Tábuas da Lei e outros
elementos da manifestação do Senhor, é asilar Deus mesmo.
A lógica de Deus difere da de Davi. À tentativa de
“enclausurar” a presença do Poderoso de Israel, tal como pensava Davi, em um
templo, em um edifício de pedra construído por mãos continentes, limitadas, é
um absurdo rejeitado imediatamente por Aquele que, essencialmente, é
incontinente, ilimitado. E o Senhor, pelo profeta Natã, replica: “Porventura és
tu que me construirás uma casa para eu habitar? Fui eu que te tirei do
pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses chefe do meu povo, Israel.
Estive contigo em toda parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos
os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre como o dos homens mais famosos
da terra” (2 Sm 7, 5. 8b-9). Não. Ainda que seja um centro de culto o intento
de Davi construir uma casa para Deus, Aquele que operou maravilhas não quer que
o seu servo faça-lhe uma casa; pelo contrário, preparando um lugar pacífico e
profícuo para o seu povo, Deus fará morada no meio dele, ou melhor, Deus já
está junto dele. E a profecia vai além ao afirmar: “E o Senhor te anuncia que
te fará uma casa. Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais,
então suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. Eu
serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Tua casa e teu reino serão
estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre” (v.
11-12. 14a. 16). Cronologicamente, vemos que o sucessor de Davi será o seu
filho Salomão, conhecido por sua brilhante inteligência, e, depois deste, o seu
neto Roboão. O primeiro sábio, como dissemos, porém, no término de sua vida,
infiel ao Senhor; foi graças ao segundo que Israel foi seccionado em dois, e o
trono que outrora era de Davi reinou em apenas uma parte mínima do que antes
comandava. Logo, se fôssemos levar em conta unicamente o aspecto histórico, a
profecia teria falhado.
A sucessão prometida
a Davi não se baseará em aspectos sucessivamente temporários, mas possui uma
profunda dimensão teológica que estará bastante em voga no Evangelho proclamado
hoje. Aliás, não somente o ponto da linhagem sucessiva de Davi que está
exposto, mas toda a perícope de Samuel meditada a pouco estará sendo
explicitada no Evangelho da Anunciação.
Se na Primeira Leitura o Senhor se comunica com Davi pelo
sonho de Natã, na plenitude dos tempos, Deus se comunica a Maria de maneira
solene: através de seu anjo, de um mensageiro especial: Gabriel (cf. Dn 8, 16;
9, 21). Lucas faz questão de ressaltar que o anjo se dirige a uma virgem,
Maria, prometida em casamento a um descendente de Davi, José. Logo, podemos
localizar o aceno que o Evangelista quer fazer ao falar da procedência
genealógica de Jesus, a do rei Davi. Com esta acentuação, Lucas pretende
ressaltar que o fruto do seio da Virgem não procede apenas como um mero
parente, mas como de fato é: o grande esperado da casa de Davi; o sucessor
prometido por Deus. Este que veio para ocupar o lugar de seu pai é o sentido de
ser do reinado do seu antepassado Davi: “Suscitarei, depois de ti, um filho
teu, e confirmarei a sua realeza” (2 Sm 7, 12). Portanto, a grandeza do reinado
davídico não está em si mesmo, mas no seu magno sucessor, Jesus, cuja ascendência
estava um milênio após o seu ilustre antecessor, Davi.
Se no Antigo Testamento existia a arca da aliança, em cujo
conteúdo estavam símbolos representativos da presença de Deus junto a Israel,
em Maria, sublime Arca da Nova e Eterna Aliança não estará representação, e
sim, o próprio Deus, Jesus cujo sangue derramado é o marco da Nova e Inextinguível
Aliança. O rebento da Virgem é autenticidade plena de que Deus está conosco
(Emanuel), que habita entre nós (Shekinah).
Se antes Deus falava por pessoas-instrumentos, a Virgem carrega o Verbo de
Deus: “Et Verbum caro factum est et
habitavit in nobis et vidimus gloriam eius gloriam quasi unigeniti a Patre
plenum gratiae et veritatis” - E o Verbo se fez carne e habitou
entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai,
cheio de graça e de verdade. (Jo 1, 14). Enquanto que a primeira arca era
pretendida ser encerrada por Davi em uma casa, a Nova Arca é resguardada pela
força do próprio Deus: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te
cobrirá com a sua sombra” (Lc 1, 35). Eis um fato inédito na Escritura: uma
virgem conceber; virgem integralmente. Desta proeza só nos poderia vir alguém
unicamente especial. Somente Maria, incorrupta de todo fermento de maldade, foi
grandemente abençoada. Maria é templo nunca profanado que abriga o Incontinente
que, por seu próprio desígnio, humilhou-se, limitando-se a nossa carne sem
deixar de ser o que lhe é essencial. Que escândalo bendito para nossa simples
razão!
Maria Virgem sabe, pela anunciação do Arcanjo, que o menino
que dela nascerá não será um grande homem apenas, como fora Samuel, João
Batista, Isaac, cujos nascimentos foram preditos, mas que esperará em seu seio
o Grande, Filho do Altíssimo, Aquele que se assentará eternamente sobre o trono
de Davi, seu famoso e célebre ancestral. A partir do início daquela intervenção
divina que perdurará por toda sua existência, a Jovem de Nazaré possui a
certeza de que o seu Jesus é o cumprimento de toda a promessa destinada a
Israel, aqui representado pelo trecho “ele reinará para sempre sobre a
descendência de Jacó” (v. 33). Em Jacó por figura, em Jesus realmente, a
promessa de descendência numerosíssima se cumpre. Neste sentido, a Igreja
recorre ao que afirma São Paulo na Segunda Leitura: “Agora este mistério foi
manifestado e, mediante as Escrituras proféticas, conforme determinação do Deus
eterno, foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência
da fé” (Rm 16, 26). O que Maria, por ora, esconde no ventre, será, no Natal,
manifestação sensível do mistério eterno do coração de Deus. Logo, tudo o que
acontece no ventre da Virgem é, como nos afirma o Salmo Responsorial: a
lealdade do Senhor para sempre (cf. Sl 88, 3).
Por fim, referindo-se ao sim de Maria, São Bernardo de Claraval reza e nós, Igreja, misticamente com ele à Maria: “Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem – tu ouviste – mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia. Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida. Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta reposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés. E não é sem razão, pois de tua palavra dependem o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a sua raça. Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, reponde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna. Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar a tua piedade pela palavra. Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38)”. (Oratio IV de B.M.V., 8 s.).
“Vinde, Senhor! Vinde sem demora, ó nosso Esperado! Eis que clamamos, eis que bradamos, porque fielmente esperamos por vós. Não tardeis!”
Por fim, referindo-se ao sim de Maria, São Bernardo de Claraval reza e nós, Igreja, misticamente com ele à Maria: “Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem – tu ouviste – mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia. Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida. Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta reposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés. E não é sem razão, pois de tua palavra dependem o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a sua raça. Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, reponde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna. Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar a tua piedade pela palavra. Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38)”. (Oratio IV de B.M.V., 8 s.).
“Vinde, Senhor! Vinde sem demora, ó nosso Esperado! Eis que clamamos, eis que bradamos, porque fielmente esperamos por vós. Não tardeis!”
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