Por ocasião do Ano Novo, temos o
costume de desejar às pessoas os mais nobres sentimentos para o ano que se
inicia. Desejamos, dentre tantos, bens a paz. A Igreja, através do seu Romano
Pontífice, o Bispo de Roma, o Papa, há quarenta e cinco anos, possui o costume
de, na ocasião do Dia Mundial da Paz, festejado concomitantemente com o Ano
Novo, lançar os seus mais felizes votos pelo período do ano que se avizinha,
publicando uma mensagem que augura estas duas datas: o Dia Mundial da Paz e a
Passagem para o Ano Novo. É a tradicional Mensagem para a Celebração do Dia
Mundial da Paz, que, neste ano tem por tema: “Educar os jovens para a justiça e
a paz”.
Quase
sempre, na iminência de um novo ano, fazemos muitos propósitos. Assim agimos
porque somos impulsionados pela esperança. É este sentimento que nos faz pensar
positivo, dando-nos força e coragem para enfrentarmos as diversas, e tantas
vezes adversas, situações da vida. Acreditamos que, quanto mais próximos de
Deus, mais o nosso coração se abastece da esperança, pois, como nos alude São
Paulo, “A esperança não decepciona”(Rm 5, 5). Esta certeza nós temos porque aprendemos
e experimentamos a fidelidade de Deus, mesmo quando lhe somos infiéis com os
nossos pecados, com as nossas fraquezas. Ainda sabemos que, juntamente com a
esperança, a pessoa que crê é presenteada por Deus com tantas outras benesses.
O
cristão autêntico, mais do que ninguém, deve “dar razões da sua fé”. E, nestes
últimos dias de violência, de tragédias, de corrupção, de frustrações, de crise
(inclusive de valores éticos e culturais) devemos dar, com a esperança em nosso
peito, o pleno testemunho de que o mundo possui jeito. A desesperança do mundo
advém de uma falsa sensação de autonomia de Deus. E, a partir daí, da vã
tentativa de viver sem o Absoluto, as pessoas caem no vazio e na falta de
profundas perspectivas. E quais são elas, senão uma vida desinteressadamente
material e eminentemente transcendental? Sim, o caminho para a paz começa pela
sensação da ação da Providência Divina. Quantas vezes percebemos que as pessoas
vivem freneticamente em função do material, daquilo que é efêmero, passageiro.
Quase nunca estas pessoas possuem como norte de sua vida a busca constante dos
bens transcendentais. E qual é a via para assim vivermos? Jesus, no Evangelho,
nos mostra o caminho: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça
e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,33). Não raramente
somos capazes de trocar o que é perene, eterno, pela vaidade do ter e do
aparentar. Neste ano que adentramos, muitos foram os votos de saúde, dinheiro,
de uma parcial prosperidade que trocamos entre nós. Não estamos querendo dizer
que estas coisas não são importantes. Sim, elas têm a sua importância, porém
não são fundamentais. E qual é o fundamento da vida do cristão? Deus! Por isso,
devemos desejar, não somente por ocasião do Ano Novo, mas sempre, que as
pessoas tenham Deus, não o tendo como uma propriedade sua, mas que ele esteja
no coração e na vida. Assim sendo, ao desejarmos os votos de Ano Novo,
deveríamos dizer: “Tenha um ano repleto de Deus!”
Em um mundo desesperançado e
infeliz, Deus é a resposta antiga e sempre nova que solucionará as suas
incertezas. E o Papa, ao referir-se às pessoas que nutrem a esperança no
coração, aplicará para elas o salmo 130, 6, dizendo: “O salmista diz que o
homem de fé aguarda o Senhor ‘mais do que a sentinela pela aurora’, aguarda por
Ele com firme esperança, porque sabe que trará luz, misericórdia, salvação”
(Mensagem para o XLV Dia Mundial da Paz, 1). O fato de saber que Deus é a
grande resposta para as tragédias de diversas ordens presentes no mundo deve
ser destinado de uma forma especialíssima para a juventude.
Os
jovens são os construtores do amanhã. Eles devem, muito mais dos que os
adultos, nutrir a esperança para a “construção dum futuro de justiça e da paz”
(Ibidem, 1). A juventude deve tomar a
dianteira neste intento, pois tal atividade “não é só uma oportunidade mas um
dever primário de toda a sociedade” (Ibidem,
1).
Muitos
se enganam ao afirmar, genericamente, que a juventude esta transviada, que é
indiferente aos destinos da humanidade. No entanto, encontramos acesa, em
muitos deles, a chama do desejo de um futuro promissor, não somente em um plano
egoísta e materialmente supérfluo, mas em um âmbito extensivamente coletivo,
coadunando as suas expectativas com a vontade de fazer deste um mundo mais
humanizado em todos os sentidos, inclusive mais espiritualizado, repleto de
Deus. Aqui, não estamos abominando a busca de melhores condições de vida, a
luta por direitos, até porque este fatores contribuem para uma melhor dignidade
de vida pessoal e social. Isso é perceptível na juventude quando vemos neles “o
desejo de receber uma formação que os prepare de maneira mais profunda para
enfrentar a realidade” (Ibidem, 1), uma aspiração de superação de
diversos níveis de dificuldade que se iniciam no seio das suas famílias,
perpassando, inclusive, pela procura de um emprego estável, e ainda,“da
capacidade de intervir no mundo da política, da cultura e da economia
contribuindo para a construção duma sociedade de rosto mais humano e solidário”
(Ibidem, 1).
No
afã de construir um mundo mais justo e pacífico faz-se mister uma educação, não
apenas técnico-científica, mas que, antes de tudo, sirva para a vida. A ação de
educar para a vida inicia-se no seio familiar. No dizer de Bento XVI, “A
família é a célula originária da sociedade” (Ibidem, 2). Mas, como
poderemos esperar que a sociedade vá bem se encontramos as famílias
desajustadas pela falta de diálogo, pelos vícios de seus membros, pelo
bombardeamento destrutivo do conceito de família baseado originariamente no
amor entre um homem e uma mulher, seja graças aos meios de comunicação social,
seja pela ideologia monstruosa dos que querem transformar os laços familiares
em contratos, ou mesmo do que querem apoiá-los na indecência e na bestialidade?
E a família que deveria ser a escola preliminar dos nossos jovens cai aos
frangalhos em uma sociedade permissiva e pervertida. A justiça e a paz devem começar
nos nossos lares através da iniciativa do diálogo sincero e constante entre os
seus membros.
A
educação para a vida também deve acontecer nas instituições com tarefas
educativas, ou seja, nas escolas, a fim de que possam “ensinar a saborear a
alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o
próximo e de participar ativamente na construção duma sociedade mais humana e
fraterna” (Ibidem, 2). Que os nossos centros educacionais,
em seus diversos graus de escolaridade, sejam templos não somente de
disciplinas tecnicamente exatas e humanas, mas sobre que sejam das verdadeiras
humanidades, as quais primam pela ética, pelos salutares costumes propagados
pelo cristianismo, base de toda cultura ocidental.
A educação para a vivência humana
deve ser responsabilidade eminente dos políticos e governantes, não somente
patrocinando a educação bancária dos cidadãos, mas primando pelo apoio a
dignidade integral do indivíduo baseado nos valores morais e éticos, não se
deixando levar pela praga do relativismo e do laxismo de consciência da
sociedade atual. Este apoio aos bons costumes deve ser iniciado através de uma
prática política transparente, não corrupta, tampouco mercenária como meio
fácil de vida e acumulação de bens. Política não é profissão, é serviço. Por
isso, os políticos e os governantes “proporcionem aos jovens uma imagem
transparente da política, como verdadeiro serviço para todos” (Ibidem, 2).
Se
o jovem é educado para a vida, igualmente é formado para a verdade e a
liberdade: a primeira, aspiração intrínseca do homem: todos ansiamos por
conhecer a verdade. E já sabemos que a verdade nos vem por Aquele que diz de si
mesmo “Eu sou a Verdade” (Jo 14, 6): Jesus Cristo, Suma Verdade que nos
apresenta o autêntico sentido da vida; a liberdade, que nunca deve ser
confundida pela libertinagem, se fundamenta, primariamente, em Deus, “Autor de
toda liberdade e que faz do ser humano livre”, como também no respeito por si e
pelo outro, regrado pela lei moral natural.
Meus
queridos irmãos, se queremos um mundo melhor, apostemos na educação dos nossos
jovens para a paz e para a justiça. Somente nesta esperança poderemos construir
com eles e com Deus este horizonte novo e fecundo para a humanidade, onde não
haverá luto, dor, violência, corrupção, pecado. Pois o Senhor, com a sua cruz,
já calcou as mazelas do pecado e o mal já não tem nenhum poder sobre nós.
Façamos, pois, a nossa parte!
Desejo,
de coração, um Ano Novo repleto de Deus e de suas bênçãos para todos!
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