(Ano B – 08 de janeiro de 2012)
I Leitura: Is 60, 1-6
Salmo Responsorial:
Sl 71 (72), 1-2. 7-8. 10-11. 12-13 (R/. cf. 11)
II Leitura: Ef 3, 2-3a.5-6
Evangelho: Mt 2, 1-12
Queridos irmãos,
Hoje, respirando o tempo litúrgico do Natal do Senhor (cujo
término se dará amanhã, com a Festa do Batismo de Jesus), a Igreja, solenemente,
celebra a manifestação de Jesus. Esta celebração (que durante muitos séculos
fora comemorada em 06 de janeiro, e ainda o é em muitos países do mundo, exceto
no Brasil, quando, por motivos pastorais, é transferida para o domingo entre 02
e 08 de janeiro) aparece inicialmente no Cristianismo – ainda no século IV – com
características mescladas da Natividade do Senhor e recordação do Batismo de
Cristo.

Tendo em vista a manifestação do Senhor, logicamente a
Liturgia da Palavra primará pelo fato da revelação de Cristo às nações, ou seja,
Deus que se manifestando, não somente aos judeus, mas, em Jesus, a toda humanidade,
quer salvar-nos, dando-nos o acesso ao céu. As manifestações de Jesus como Deus
Verdadeiro (as chamadas Teofanias),
é, ao mesmo tempo, conhecimento da salvação proveniente dele ao homem prostrado
pelo pecado. Daí, vermos atestada na Oração de Coleta: “Ó Deus, que hoje revelastes
o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela, concedei aos vossos servos e
servas que já vos conhecem pela fé, contemplar-vos um dia face a face no céu”.
Em suma, a revelação de Jesus aos diversos povos de distintos tempos sucessivos
ao evento da Encarnação é a certeza da visão beatífica (conhecimento pleno de
Deus) para os que, pela fé, já o reverenciam, adorando-o (conhecimento pela fé).
Na Primeira Leitura, temos Isaías vislumbrando o retorno dos
filhos de Israel que estavam no Exílio da Babilônia. Na releitura cristã, numa
dimensão mais ampla e profunda, vemos, com este texto, a chegada dos pagãos à
Nova Jerusalém (cf. Ap 3, 12; 21, 2), à Igreja, provenientes do exílio do
Pecado e da Morte, guiados pela luz do Senhor: “Este povo, que jazia nas
trevas, viu resplandecer uma grande luz; e surgiu uma aurora para os que jaziam
na região sombria da morte” (Is 9,1; Mt 4,16); ou, no dizer da leitura: “Levanta-te,
acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória
do Senhor. […] Levanta os olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti;
teus filhos vêm chegando de longe com tuas filhas, carregadas nos braços” (Is
60, 1.4). Quem proporcionou a chegada dos filhos da Nova Jerusalém, a Igreja,
senão a glória do seu Divinal Esposo e Senhor, a sua luz? Interessante notarmos
que Isaías tinha algo mais em vista do que um simples retorno dos filhos do
antigo Israel de um exílio, ainda que fosse o da Babilônia: “Pois com eles
virão as riquezas de além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; será uma
inundação de camelos e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os
de Sabá trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor” (v. 5b e 6).
Madiã, Efa e Sabá são cidades estrangeiras que sequer ficam próximas da Babilônia.
Logo, podemos concluir que, mediante a luz do Senhor e a sua glória, a riqueza
da Igreja é os seus filhos que, espalhados pelo mundo e por diversas culturas,
se achegam ao seu seio. Nós, que estávamos sem rumo, fomos atraídos pelo Senhor
para o seu Corpo, isto é, a sua Igreja, ganhamos, um rumo o céu, a Igreja
Triunfante, a “Jerusalém do Alto” (cf. Hb 12, 22), o próprio Senhor; somos o
seu povo multíplice, mas único.
A idéia da universalidade do reinado do Senhor também nos é
apregoado pelo Salmo que, dentre tantos figurativos, nos apresenta: “De mar a
mar estenderá o seu domínio, e desde o rio aos confins de toda a terra” (Sl 71,
8).
Na Segunda Leitura, São Paulo, escrevendo aos efésios fala
de um mistério divino, antes oculto, porém, imediatamente, revelado a nós como novidade
pelo Espírito: “Os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo
corpo, são associados à mesma promessa em Jesus, por meio do Evangelho” (Ef 3,
6). Assim, se os judeus se ufanavam em ser o povo da Aliança por meio de
Moisés, o servo de Deus, nós, fomos inseridos por Jesus, Verdadeiramente Deus e
Homem, em uma Nova e Eterna Aliança. Portanto, somos membros do povo de Deus,
não como os judeus, mas pertencemos a um corpo perfeito: o de Cristo. Nossa
herança é superior a dos judeus, pois ela é o próprio Senhor que nos veio para
nos levar a si. Com esta nossa afirmação, não estamos desmentindo Paulo (Muito
pelo contrário! Quem somos nós para irmos de encontro ao Apóstolo dos Gentios?!).
Paulo quer dizer que nós, que outrora éramos pagãos, sem dignidade alguma,
fomos elevados pelo Cristo à condição de povo de Deus, povo da Aliança, membros
do Corpo de Cristo. Teologicamente, comparados ao que éramos, somos
co-herdeiros da Aliança juntamente com os judeus; todavia, se compararmos a
nossa condição atual a dos judeus, teremos a certeza de que nós temos uma
herança maior: o próprio Cristo; somos o povo da Nova e Inextinguível Aliança;
enfim, somos o povo de Deus plenamente. Ao ser derrubada a barreira que nos
separava dos nossos ‘irmãos mais velhos’, os judeus, não roubamos deles o que
são, contudo, fomos sobrelevados, superando-os.

E
nós, ao contemplarmos a misteriosa manifestação de Jesus, velado como Deus e travestido
em nossa natureza, qual o sentimento que nos brota? Estamos agindo como filhos
das trevas ou como filhos da luz? Estamos temerosos como Herodes que ojeriza a idéia
de um sucessor, há muito já esperado; ou estamos ansiosos por adorar o Salvador
de toda a humanidade como os Magos fizeram? Para muitos cristãos a idéia da
manifestação de Jesus é encarada com certa superficialidade, pois afirmam com a
boca que Jesus já veio, está entre nós e virá, porém não encarnam esta certeza
em sua vivência, sendo-lhe alheios. O mundo carece do testemunho de cristãos
que manifestem a vida do Senhor em suas vidas e não de pessoas frustradas que
traçam sobre si o sinal da cruz auto-afirmando serem seguidoras do Cristo, ao
tempo em que deixam transparecer em si as trevas do poder do pecado e da morte.
E mediante esta resposta de quem somos, seremos novamente interrogados: Como
cristãos, tomamos consciência de que éramos tolhidos como indigentes, mas que
fomos sobrelevados de maneira ímpar à condição de filhos de Deus pelo Filho, ao
se manifestar ao mundo, principalmente aos que têm um coração sensível e
ansioso para acolher o Deus Salvador?
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