Na próxima quarta-feira, 22 de
fevereiro, a Igreja inicia o tempo da quaresma, tempo de oração, esmola, jejum
e abstinência em preparação para a Páscoa do Senhor. Então, com a recordação de
que somos pó e para o pó retornaremos (cf. Gn 3,19), somos convocados à
conversão profunda de vida. O antiquíssimo costume da imposição das cinzas –
cujo início se deu a partir do século V –, na celebração da próxima quarta,
auxiliar-nos-á na entrada deste mistério que fazem deste tempo litúrgico uma
espécie de ‘retiro espiritual’ para toda a Igreja.
A Sagrada Liturgia, ao
referir-se à prática da abstinência, reza: “Vós acolheis nossa penitência como
oferenda à vossa glória. O jejum e a abstinência que praticamos, quebrando
nosso orgulho, nos convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com
os necessitados” (Prefácio da Quaresma III). Portanto, as ações de jejuar-se e
abster-se não são fraternalmente estéreis e insensíveis, mas visam um
aniquilamento pessoal para uma fortificação contra o pecado, bem como, aquilo
do qual me privo servirá de caridade ao necessitado.
Destarte, estão obrigados à lei
da abstinência (privação de algo que não seja necessariamente o alimento)
aqueles que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei do
jejum (privação de parte do alimento) todos os maiores de idade (quem completou
18 anos) até os sessenta anos começados. Todavia, os pastores de almas e pais
cuidem para que sejam formados para o genuíno sentido da penitência também os
que não estão obrigados à lei do jejum e da abstinência, em razão da pouca
idade (cf. Cân. 1252). Logicamente, também são dispensados do jejum os que, por
motivos de agravamento de saúde, não o podem realizá-lo. Porém, estes impedidos
não descurem da abstinência.
“No Brasil, toda sexta-feira do ano é dia de penitência, a
não ser que coincida com solenidade do calendário litúrgico. Os fiéis nesse dia
se abstenham de carne ou outro alimento, ou pratiquem alguma forma de
penitência, principalmente obra de caridade ou exercício de piedade. A
Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa, memória da Paixão e Morte de
Cristo, são dias de jejum e abstinência. A abstinência pode ser substituída
pelos próprios fiéis por outra prática de penitência, caridade ou piedade,
particularmente pela participação nesses dias na Sagrada Liturgia” (Legislação
complementar da CNBB quanto aos cânones 1251 e 1253 do Código de Direito
Canônico).
Muitos nos questionam: “Não consigo ficar sem deixar de
fazer uma refeição. Como posso jejuar?”. É simples: se a pessoa costuma fazer
três refeições ao dia, pode continuar a fazê-las; porém, que a soma das porções
de cada refeição não ultrapasse a de duas. Este é um método muito fácil para
jejuar. Esta é uma dica. Obviamente, não vale fazer lanches intermediários, nem,
tampouco, retirar a carne e comer um prato requintado no almoço, como muitos
fazem, parecendo até que os dias dos jejuns quaresmais são um forte convite
para um rebuscado cardápio culinário. O jejum deve ser exercitado dentro de uma
frugalidade pertinente, ou seja, sem “caprichos” ou quereres.
Que espiritualidade quaresmal invada o nosso coração,
fazendo-nos repensar na prática de nosso cristianismo, para que, corrigidos os
nossos vícios, elevados os nossos sentimentos, fortificando o nosso espírito
fraterno, possamos, em breve, celebrar com mais dignidade os mistérios da
Páscoa do Senhor, e, trilhando por caminhos de uma vida irrepreensível,
alcançar a eterna recompensa.
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