Este bordão, nestes últimos
dias, está sendo repetido em músicas, em mensagens de bons votos natalinos à beça.
Luzes, árvores, enfeites, a troca de presentes, a figura de um ‘bom velhinho’
eternizado pelo comércio como Papai Noel, querem anunciar a chegada do Natal.
São os efeitos exteriores desta época do ano, e isto sentimos, ao tempo em que
nos mexe grandemente, fazendo climatizar uma espécie de harmonia peculiar entre
as pessoas pela temporada. Longe da pretensão, pensamos que estas considerações
a seguir sejam um instrumento iminente de preparação para uma data tão
magnânima: o Natal de Jesus Cristo, tal como nos propõe o tempo do Advento.
Natal. Este termo
aparenta estar esvaziado do seu sentido genuíno. O que festejamos? Para o
comércio, esta é a estação mais próspera para os seus negócios; é uma fase de
muitas vendas e lucros. Os centros comerciais efervescem. Em muitos setores, o superávit do Natal extrapola o do
montante do resto do ano. Vive-se a data única e exclusivamente pela data, pela
estação. O presépio? A atenção das crianças e as ornamentações dos lares são
desviadas dele e dirigidas a um ser de cuja fundamentação é inexistente na
vivência originariamente natalina: o Papai Noel. Para a decoração de nossas
cidades, a representação mais autêntica do Natal, o presépio, passou a ser
relegado a um plano inferior; em nossos lares, até a árvore de natal, com as
suas bolas e luzes coloridas, rouba-lhe a cena, o lugar. Será o que presépio
tornou-se ‘cafona’? Ele deixou de passar a sua mensagem, como pensara São
Francisco, o pobrezinho de Assis, grande apaixonado pelo mistério da
Encarnação? Questionamo-nos seriamente pelos dados fatídicos que nos são
oferecidos pelas atitudes das pessoas. O presépio quer nos levar “a entender as
lições que Jesus nos dá desde Menino, desde recém-nascido, desde que os seus
olhos se abriram para esta bendita terra dos homens” (São Josemaría Escrivá de
Balaguer. In: É Cristo que passa, n. 14)
Mas, até agora, nos
detivemos nos aspectos exteriores do Natal. Até mesmo se todos montassem o
presépio em detrimento da supervalorização dos outros símbolos natalinos, se
este não transmitir nada ao coração das pessoas, de nada servirá. O sentimento
que brota no Natal pode até ser despertado pelos enfeites, pelo clima que se
impõe nesta festa (para muitos tão aguardada), ou mesmo, pode ser algo que
nasce do interior e se externa como consequência: a ordem em que o ‘sentir
natalino’ surgirá pouco importará. O que realmente vale é que ele surja.
O Natal, como festejos
do nascimento de Jesus Cristo, é, desde a Sua vinda redentora aos homens,
ocasião eminente de sentimentos. Os Evangelhos, ao narrarem o acontecimento do
Natal do Filho de Deus, irão nos mostrar as emoções no coração de algumas
pessoas: de Maria, de João Batista, de Zacarias e Isabel, dos Magos, de
Herodes, da cidade de Belém. Sentimentos que vão desde uma expectativa serena e
terna como a de Maria, que ‘tudo guardava no coração’ (cf. Lc 2,19.51), até
mesmo ao pavor e ódio de Herodes que manda matar todas as crianças de seu
reinado, da região de Belém. Porém, hoje, nestas vésperas do Natal, faz-se
interessante ter diante dos olhos os anseios de glorificação e gratidão a Deus
e de paz no coração dos homens: “Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra
paz aos homens de boa-vontade” (Lc 2,14). Se isto nos for possível, muita coisa
será diferenciada e a harmonia, de que falávamos a pouco, não será uma quimera
ou mesmo pré-datada pela ocasião das festividades deste período do ano, mas,
deste momento, irradiará toda a existência da pessoa e buscará enredar toda a
humanidade. Aqui, rememoramos a antífona da Missa da Noite do Natal, a
vulgarmente conhecida Missa do Galo, quando afirma, coadunando os sentimentos
de alegria e paz: “Alegremo-nos todos no Senhor: hoje nasceu o Salvador do
mundo; hoje nasceu a nossa paz”.
Sabemos que o Cristo
nasceu, historicamente, apenas uma vez. Quanto à datação ‘exatíssima’ e
cientificamente provada deste fato, esta não enriquecerá bastante o nosso
coração. A celebração do Natal do Cristo, proposta todos os anos pela Igreja,
não é aniversário de Jesus. Mas a Liturgia assim o faz para que, misticamente,
os cristãos tenham, pelo menos uma vez ao ano, a bendita oportunidade de gerar
a Paz, que é o próprio Senhor, em seu coração. Jesus nasceu na história, no
século, e, agora, quer nascer em nós espiritualmente. Seria de bom alvitre que
isto se desse cotidianamente, instantaneamente. Mas, se isto não acontece, será
um bom começo se o concebermos por ocasião desta celebração do mistério do
nascer do Cristo, pois este é o grande convite deste dia do calendário
litúrgico sugerido a nós pela Igreja, pedagoga dos homens que anseiam o Reino
de Deus. Se isto acontecer de verdade, poderemos cantar com entusiasmo e
propriedade o refrão: “Então, é Natal!”
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