(Ano C – 02 de dezembro de 2012)
Salmo Responsorial: Sl 24(25),4bc-5ab.8-9.10.14
(R/.1b)
II Leitura: 1Ts 3,12-4,2
Evangelho: Lc 21,25-28.34-36 (Fim do mundo)
Queridos irmãos,
Com a celebração de
hoje, iniciamos o Tempo do Advento e, com ele, o terceiro ciclo de Ano
Litúrgico (o chamado Ano C). A palavra que designa este tempo forte na Igreja,
Advento, provém da adição dos termos latinos ad venire, aquele que está para chegar, preparando-nos não somente
para a liturgia do Natal do Senhor, mas para a sua Segunda Vinda. Por isso,
este tempo é marcado pela dupla expectativa do Senhor: a primeira, uma
recordação litúrgica, uma vivência mística do seu nascimento em nossa pobre
carne e natureza humanas; a segunda, uma vivência temporal de espera Daquele
que virá para ‘julgar os vivos e os mortos’, tal como professa a Igreja. Esperamos
o Cristo, e com ele toda a plenitude de graça. Algo que somente ele pode nos
conceder. A primeira e segunda vindas, antes de se imbricarem, se inserem em um
mesmo mistério: o da redenção do gênero humano pelo próprio Deus que, tomando a
condição de homem, quis salvar-nos, e salvando-nos, nos levará para a sua
morada eterna no fim dos tempos, fazendo-nos reinar com Ele, mas que antes
disso, virá a nós mais uma vez.
Interessante
percebermos que a Liturgia da Palavra deste Domingo, insere-nos nesta dinâmica
da dúplice vinda do Senhor. Assim, já na Primeira Leitura de hoje, o próprio
Deus, pelo profeta Jeremias, no Exílio da Babilônia do povo de Israel, recorda
o cumprimento de suas promessas: a salvação, que se dará pela justiça. Poderíamos
questionar-nos: ‘- Como pela justiça, se nós nada merecemos?’ Esta justiça não
se dará conforme a nossa medida ou balança, mas segundo a misericórdia do
Senhor: é aí que a justiça se embute. Com esta visão oferecida por Jeremias,
percebemos uma faceta do Messias, o Prometido por Deus e o Esperado pelos
homens: o Justo. Daqui para o término do Tempo do Advento, mais especificamente
no dia 21 de dezembro, na última semana antes do Natal, nas antífonas do Ó, a
Igreja exclamará: “Ó Sol nascente justiceiro, resplendor da Luz eterna. Oh,
vinde e iluminai os que jazem entre as trevas e, na sombra do pecado e da morte,
estão sentados!”. E a profecia vai além, falando também do novo povo de
Jerusalém, ou seja, tece a nosso respeito, os remidos: “Jerusalém terá uma
população confiante; este é o nome que servirá para designá-la: ‘O Senhor é a
nossa justiça’” (Jr 33,16). Portanto, aos libertos da escravidão do mal pelo
Cristo, pelo Senhor, ser-nos-á atribuída a designação memorável da Sua justiça,
pois “o Senhor fez conhecer a salvação e às nações revelou a sua justiça” (Sl
97,2), ou como o próprio Salmo Responsorial de hoje: “Ele dirige os humildes na
justiça, e aos pobres ele ensina o seu caminho” (Sl 24,2), querendo-nos encetar
acerca da necessidade de permanecermos com o coração em Deus, na humildade, para
alcançarmos-lhe pelo caminho da justiça de seus mandamentos.
No Evangelho, temos,
dentro da apocalíptica lucana, a descrição da parusia, da vinda gloriosa de Cristo.
Aqui, se faz notória a eclosão de fenômenos cósmicos, até então inéditos, que
testemunharão a proximidade do retorno do Filho do Homem e da libertação dos
homens. Estes eventos por parte da natureza querem realçar a onipotência do que
virá. Comparando as duas do Senhor, São Cirilo de Jerusalém, em suas
catequeses, afirmará: “Tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem
quase sempre dupla dimensão. […] Dupla descida: uma, discreta como a chuva
sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro”. Inclusive,
este trecho das catequeses de São Cirilo é-nos apresentada hoje na Segunda
Leitura do Ofício das Leituras. Acompanhada a esta descrição de eventualidades
cósmicas, temos, ainda no Evangelho, uma dupla reação por parte dos homens: os
pecadores se horrorizarão e temerão, ao tempo em que, os fiéis ao Senhor
levantar-se-ão e erguerão a cabeça, fazendo valer a sua dignidade de seguidores
de Jesus. Erguer a cabeça é posição de que é vencedor. E, neste caso, estes não
o são de per si, mas pelo Cristo; pela força de Seu Divino Nome, enfrentaram as
perseguições deste mundo (cf. Ap 7,14). Mas como os fiéis ao Senhor? Estes são
os que seguiram à risca as orientações do Cristo, em contrapartida ao que é
ensinado pelo mundo e seus prazeres: “Tomai cuidado para que vossos corações
não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da
vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma
armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. Portanto, ficai atentos e
vigiai, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para
ficardes em pé diante do Filho do Homem”. Este retorno do Senhor será a base de
certeza, a partir de agora, para a vida do homem.
A insistência por
parte da Segunda Leitura da vivência no Cristo, far-nos-á preparados para o ‘dia
do Senhor’. Esta é, pois, a vivência da santidade: o agradar a Deus em um
processo contínuo. A sede em possuir o Reino celeste, plenamente manifestada em
obras, testemunhará o nosso rumar ao Senhor, testemunhar-nos-á para a tomada de
nosso lugar à direita do Cristo, na comunidade dos justos (cf. Oração de Coleta
do I Domingo do Advento).
Como afirmávamos outrora, o Advento é uma ocasião de dupla espera: uma
místico-litúrgica, outra cronológica e escatológica. E, nesta intermitência
entre ambas, resta-nos preparar, não somente a vinda do Senhor, mas
preparar-nos, rumo a Ele que vem, aprontar-nos para este bendito e definitivo
encontro. E o Tempo do Advento inspira-nos a isso de maneira mais enérgica: “Por
isso, a Igreja, como mãe amantíssima e cheia de zelo pela nossa salvação, nos
ensina durante este tempo, com diversas celebrações, com hinos, cânticos e
outras palavras do Espírito Santo, como receber convenientemente e de coração
agradecido este imenso benefício e a enriquecer-nos com seus frutos, de modo
que nos preparemos para a chegada de Cristo nosso Senhor com tanta solicitude
como se ele estivesse para vir novamente ao mundo” (Das Cartas Pastorais de São Carlos Borromeu). Que aproveitemos o
Espírito de Deus, que quer agir em nós, para preparar-nos, a fim de sermos
menos indignos de acolhermos o Senhor em nosso coração. Para tanto, admirando o
exemplo dos patriarcas, dos profetas, de tantas homens e mulheres que esperaram
o Senhor ao longo da história da Salvação, peçamos a intercessão da Virgem
Maria. Ela que, de maneira singular, esperou, concebeu e gerou o Filho de Deus
na carne, ajudar-nos-á em nossos esforços para acolhermo-lo também.
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