sexta-feira, 7 de novembro de 2014

FESTA DA DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

(09 de novembro de 2014)



I Leitura: Ez 47,1-2.8-9.12
Salmo Responsorial: Sl 45(46),
II Leitura: 1Cor 3,9c-11,16-17
Evangelho: Jo 2,13-22

           
           

Hoje, celebramos a antiquíssima festa da Dedicação da Basílica do Latrão, Catedral de Roma, em recordação à sua consagração pelo Papa Silvestre em 09 de novembro de 324. Esta igreja, construída pelo Imperador Constantino, é a mais antiga e a primeira em dignidade das igrejas do Ocidente, sendo, por isso mesmo, considerada a “Mãe e Cabeça de todas as igrejas de Roma e do mundo” (Urbi et Orbe).
            Na realidade, celebrar a festa de hoje é celebrar Cristo Jesus, morada de Deus entre nós; Ele que montou a Sua ‘tenda’ em nosso meio, o Sheninah. Aquele que é Deus, e, portanto, atemporal e não pode ser contido em espaço algum, vem até nós, encarnando-se, para congregar-nos em Si, em Seu interior. Mesmo existindo na história, Cristo Senhor, morada eminentíssima de Deus entre nós, continua a congregar tantos em Si e a Si pelo mistério da Igreja. Ele, a Cabeça; nós, os membros que só temos vida e sentido se interligados ao cerne do corpo, fonte das emoções e da razão.
            A Primeira Leitura de hoje, que nos traz a visão profética de Ezequiel em relação ao Templo, é, de fato, uma visão prefigurativa do mistério de Cristo e da Igreja. Cristo é o Templo, cuja contemplação absorve o olhar de Ezequiel; a sua Graça é escorrida pela correnteza da Igreja; o curso desta correnteza, ou seja, a sangria deste rio esplendoroso é a história e a Terra inteiras, desbravadas por este majestoso e fecundo rio; às suas margens observa-se o crescimento de toda espécie de árvores frutíferas, cujas folhas são imarcescíveis e frutos infindáveis, porque às pessoas de todos os séculos e lugares aos quais chegou, chega e chegará a Graça Divina através da Igreja, única despenseira da vida imperecível para a humanidade, produziram frutos incalculáveis e insondáveis. Como poderíamos medir ou quantificar o bem produzido pelos cristãos ao longo destes dois milênios, se a Graça de Deus transmitida a eles pela Igreja através dos Sacramentos age neles? Nossa vida só frutifica e remedia o mundo se estamos fincados na Igreja, Corpo Místico de Cristo.
            Creio, meus irmãos, que a cena de Cristo no Calvário, crucificado, com o seu peito dilacerado, jorrando sangue e água em abundância, é a concretização desta visão de Ezequiel. É do peito aberto do Senhor que nasce a Igreja, que, por ser Sacramento de Cristo, congrega, revitaliza a vida de tantos quantos estão mortos, ressequidos, cujas ramagens estão secas. E como isto acontece senão pelos sete sacramentos simbolizados no sangue e na água que irromperam do Crucificado, do Verdadeiro Templo de Deus?
            Também nós somos habitação de Deus pelo Espírito que age e mora em nós.  Esta é a reflexão da Segunda Leitura. A Igreja, por sua prática sacramental, infunde em nós esta condição de santuário de Deus, alicerçados em Cristo – que também nos é pedra angular, pedra de amarração da construção que somos nós. Santo Agostinho afirma com toda clareza: “Aqueles que habitam na casa de Deus, são também eles mesmos casa de Deus”. Logo, entrevemos a importância de estarmos congregados na única Igreja de Cristo, a Igreja Católica, Corpo Místico do Senhor, ao tempo em que também nós somos, por participação, esta Igreja, este Corpo.

            No Evangelho, temos o Senhor, consumido de zelo pela casa de Deus, purificando-a de vendilhões, trapaças e crimes. Na realidade, movido de ímpeto, Nosso Senhor, com chicote de cordas não quer expulsar somente os cambistas do templo. A mensagem vai além: Cristo Senhor decreta o fim da importância do judaísmo profanado pela infidelidade e pelo desrespeito a Deus. O templo a ser purificado não é aquele, mas o que será fundado sobre o seu Corpo – por este motivo, Jesus fala de reconstruí-lo em três dias. Jesus quer fundar a Sua Igreja límpida, purificada, a tão ponto bela que faz dela a Sua Esposa; o Senhor ao falar do Seu corpo, fala também de nós, da nossa pureza, da nossa limpidez, da nossa purificação e da nossa beleza garantidas pelo Seu triunfo pascal – Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão. No Corpo Majestoso do Senhor, estamos nós.
            São Cesário de Arles, no distante século VI, ilustra-nos a necessidade de prezarmos pela beleza do Templo de Deus, em seus dois aspectos: o interior (que somos nós) e o edifício de pedras, ao qual, por conveniência, também denominamos igreja: “Todos nós, caríssimos, antes do batismo fomos templos do demônio; depois do batismo, obtivemos ser templos de Cristo. E se meditarmos com atenção sobre a salvação de nossa alma, reconheceremos que somos o verdadeiro templo vivo de Deus. Deus não habita somente em construções de mão de homem (At 17,24) nem em casa feita de pedras e madeira; mas principalmente na alma feita à imagem de Deus e edificada por mãos deste artífice. Desse modo pôde São Paulo dizer: O templo de Deus, que sois vós, é santo (1Cor 3,17). […] Queres ver bem limpa a basílica? Não manches tua alma com as nódoas do pecado. Se desejas que a basílica seja luminosa, também Deus quer que tua alma não esteja em trevas, mas que em nós brilhe a luz das boas obras, como disse o Senhor, e seja glorificado aquele que está nos céus. Do mesmo modo como tu entras nesta igreja, assim quer Deus entrar em tua alma, conforme prometeu: E habitarei e andarei entre eles (cf. Lv 26,11.12)”.
            Que esta festa hoje celebrada nos encha de zelo para cuidarmos da propriedade de Deus neste mundo: a Igreja, habitação interior de Deus, que somos nós; e a igreja-edifício, sublime casa onde nos reunimos para nos nutrir dos Sacramentos e da Palavra de Deus pela fé, e para a reunião dos crentes em Jesus.
                  


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