(Ano A – 23 de novembro de 2014)
I Leitura: Ez 34, 11-12. 15-17
Salmo Responsorial: Sl 22 (23), 1-2a. 2b-3. 5-6 (R/. 1)
II Leitura 1Cor 15, 20-26.28
Evangelho: Mt 25, 31-46 (O último julgamento)
Queridos irmãos,
Com este domingo que, desde 1925, é conhecido como
Solenidade de Cristo Rei do Universo, estamos encerrando um terço do ciclo
litúrgico trienal, o Ano A. Com a
solenidade de hoje, a Igreja quer ressaltar a soberana autoridade de Cristo
sobre a humanidade e, com o contexto mais hodierno, sobre as instituições
diante dos progressos do laicismo na sociedade. Prova disso, rezamos ao Pai na
Oração de Coleta: “Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas
as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo, fazei que todas as criaturas,
libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem
eternamente”. A Igreja entende que muitas das desordens provocadas pelo
laicismo ateu são consequentes das agitações provocadas pela escravidão do
pecado. O pecado afasta o homem de Deus, fazendo com que a criatura humana
olvide dos valores evangélicos, bases fundamentais da cultura ocidental.
O Apocalipse, por sua vez, nos apresenta o Cristo como “o Alfa
e o Ômega”. Hoje é vislumbramos oportunamente este dizer da visão de São João.
O próprio Jesus, Verbo eterno de Deus, por meio de quem todas as coisas foram feitas e fim para o qual tudo ruma, é
o Senhor de toda história. Ele possui os tempos nas mãos (chronos e kairós); é o centro da história e da humanidade. A volta do Senhor
Jesus é uma promessa bastante citada na Sagrada Escritura, Ele que diz à sua
Igreja, alentando-a: “Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo,
para dar a cada um conforme as suas obras” (Ap 22,12).
A liturgia de hoje, com seu teor escatológico, não pretende
atemorizar o homem, antes disso, quer alargar em nosso coração a perspectiva do
primado de Cristo, Ele, Senhor dos tempos e da eternidade. Neste domingo, a Mãe
Católica, antes de apresentar o Senhor como Juiz, apresenta-o como Rei Supremo
e Universal, apresenta-o com uma imagem terna de pastor. O julgamento do Senhor
se embute na sua realeza, como também na sua mansidão, pois o Senhor assim nos
garantiu: “O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo” (Lc 17,20).
Neste sentido, a Liturgia da Palavra de hoje nos traz Jesus
revelando a sua Segunda Vinda (Parusia).
Coadunando com a Primeira Leitura, o Evangelho nos apresenta o Senhor como
rei-pastor. Percebamos, caros amigos, que Jesus não prima por uma imagem de um
rei cujo resplendor ensoberbece um poder opressivo, mas na sua magnificência -
“Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos,
então se assentará em seu trono glorioso”(v. 31), manifesta delicadeza. Sim,
delicadeza! Vejamos que ele não nos vai julgar a seu bel-prazer, de qualquer
forma, sendo arbitrário ao que fizemos, mas segundo as nossas práticas nesta
terra. Assim, se não nos preocupamos com os que sofrem, com os esquecidos e
marginalizados, estamos relegando o próprio Jesus, Rei glorioso e Justo Juiz,
ao escanteio. Onde está a maior manifestação da glória de Jesus na terra senão
nos famintos, sedentos, estrangeiros e sem-teto, nus, doentes e encarcerados,
não apenas em um sentido estritamente literal, mas tantos que são desprovidos
de dignidade de diversas ordens. Jesus se traveste neles. Assim, desde a
encarnação, “o Senhor escolhe o que é fraco para confundir os fortes” (1Cor
1,27). Grande prova disto é o seu despojamento da glória fazendo-se aos homens
semelhante: “mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e
assemelhando-se aos homens”. (Fl 2,7). O Senhor nos vem cotidianamente no
irmão!
Se o Senhor, Rei e Juiz se compadece de nós, qual pastor
preocupado com o seu redil, principalmente com aquela ovelha dispersa,
extraviada, alquebrada, ferida (cf. Ez 34, 15), quem somos nós para não
possuirmos os mesmos sentimentos de compaixão do próprio Deus? Interessante, o
Pastor Divino se interessa por todo o seu aprisco, indistintamente, porém, a
quem mais precisa de atenção e cuidados, o zelo torna-se maior. Essa é a
justiça de Deus a ser imitada. Cristo é Pastor que reúne as ovelhas e as
segrega em bons e maus: “Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e eles
separará uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. E
colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda” (Mt 25,32-33)
O nosso povo, em sua simplicidade, afirma: “Quem não deve,
não teme”. Por que nos aterroriza o dia do juízo? Se nos sentimos apavorados é
sinônimo de que a nossa caminhada não está sendo trilhada conforme o querido
por Deus. Se isso realmente acontece, há uma incongruência entre o que rezamos
e a nossa prática de fé, já que, diariamente, pedimos na Oração do Senhor:
“Venha a nós o Vosso Reino!”.
O dia do juízo deve abastecer de esperança a todos.
Lembremo-nos o que a Carta de São Paulo aos Romanos alude: “Pois sabemos que
toda a criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia” (Rm 8,22).
Logo, todos ansiamos por este dia; a Igreja expecta esta bem-aventurada data
das calendas divinas, por isso, cotidianamente ela implora: “Vem, Senhor
Jesus!” (Ap 22, 20), ou ainda,
“Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição: Vinde,
Senhor Jesus!”.
Na Segunda Leitura, São Paulo, mais uma vez, afirma a
fé-fundamento da Igreja: Cristo ressuscitou. Para isso, ele utiliza uma palavra
bastante atípica, ‘primícias’ para falar do Ressuscitado. Assim sendo, ele
começa a perícope: “Na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias
dos que morreram” (1Cor 15, 20). Primícias são os primeiros frutos de uma
árvore a cada estação frutuosa. Dependendo das primícias, sabemos a qualidade
dos outros frutos. Ora, se as primícias são boas, os frutos subsequentes também
serão da mesma qualidade; o contrário, também é válido. Pois bem, as primícias
da fé cristã é a ressurreição do Senhor, por ele e como ele igualmente
ressuscitaremos; assim como Adão é primícias de morte, Cristo é primícias da
ressurreição. Como Cristo ressuscitado é vitorioso sobre a morte, nós também o
seremos. Tudo acontece a partir dele: “Em primeiro lugar, Cristo, como
primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda” (v.
23). A ressurreição de todos nós será a realização plena e perfeita da obra de
Cristo; é a entrega do Reino de Cristo ao Pai, quando seremos um e nos
“perderemos em Deus” (cf. v. 28).
Que Cristo Senhor, Rei do Universo, inicie o seu reinado em
nossa vida. Que lhe sejamos submissos. Ele que é bendito e já reina para
sempre.
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