sábado, 18 de julho de 2015

XVI DOMINGO COMUM

                                       (Ano B- São Marcos- 2015)
                        

                        


                                                                Por: Dom Henrique Soares da Costa- Bispo de Palmares


                                                   
               
           


   
      Se pensarmos bem, caríssimos em Cristo, tudo quanto a Igreja tem para dizer ao mundo é Jesus: Ele é a Palavra viva do Pai, Ele é o Salvador e a Salvação, é a Ele que a Igreja dirige continuamente o olhar e o coração, para contemplá-Lo, escutá-Lo e Nele beber das fontes da Vida e da paz! Pois bem: é de Jesus que a Palavra santa hoje nos fala – de Jesus Bom Pastor!
   
     Em Israel, pastores do povo eram seus dirigentes: reis, aristocracia, sacerdotes, escribas, profetas. Infelizmente, de modo frequente, esses eram pastores maus e infiéis, pois não faziam o que era de se esperar de quem apascenta: não amavam o rebanho, dele não cuidavam, com ele não se preocupavam. Faziam como os políticos brasileiros de agora, nossos governantes, enganando, mentindo e fazendo-se passar por bons, sem, no entanto, terem outra preocupação que o próprio bem-estar e os próprios poder e prestígio.
   
   Dos maus pastores, Santo Agostinho dizia que procuram somente o leite e a lã das ovelhas, sem com elas se preocuparem. O leite simboliza os bens materiais; a lã, o prestígio e os aplausos. Pobres ovelhas, o povo brasileiro, tantas vezes assaltadas por cruéis ataques de pastores maus: basta pensar no mensalão, petrolão, eletrolão e nos gatunos de todos os níveis e especialidades. Que Deus ajude esse povo a discernir políticos de politiqueiros, dos poucos preocupados com o bem comum, dos muitos ocupados com o próprio bem!
      
     Contudo, não devemos esquecer de modo algum que os pastores do novo Povo de Deus, que é a Igreja, são os ministros de Cristo: Bispos, padres e diáconos. Se o antigo Povo era segundo a raça e marcado por critérios nacionais, o novo Povo de Deus é marcado pela fé em Cristo, que nos dá o Santo Espírito no Batismo... Ora, aos Seus ministros, pastores do Seu rebanho, também o Senhor repreende neste hoje e a eles exorta a que se convertam e sejam pastores de verdade!Mas, quem é pastor de verdade na Igreja? Quem é um verdadeiro Bispo, um autêntico padre, um genuíno diácono? Quem se deixa plasmar pelo verdadeiro Pastor, pelo único Pastor, Aquele que é a própria justiça, a própria santidade de Deus: “Este é o nome com que O chamarão: ‘Senhor, nossa Justiça’”. Falamos de Jesus Cristo – o Bom, o Perfeito, o Pleno, o Belo Pastor!
   
      Ante os maus pastores da Israel, que infestaram todo o tempo do Antigo Testamento, o Senhor prometeu, da Casa de Davi, um novo pastor: “Eis que virão dias em que farei nascer um descendente de Davi; reinará e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra”. Aqui Deus fala do Messias; e esse Messias é a própria presença de Deus apascentando o seu povo: “Eu reunirei o resto de Minhas ovelhas de todos os países para onde forem expulsas, e as farei voltar a seus campos, e elas se reproduzirão e multiplicarão”.

    Eis, portanto: um Messias, presença do próprio Deus, Pastor do seu povo, cuidador do seu rebanho... É precisamente assim que o evangelho de hoje nos apresenta Jesus: “Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”. 
   
      Que imagem sublime, que cena tão doce! Jesus cansado, pensando em algo tão humano, tão legítimo: um dia de descanso em companhia dos Doze. E quando chega ao local escolhido para o merecido repouso, lá estava a multidão cansada e acabrunhada, sedenta de luz, sedenta de Vida, sedenta de verdes pastagens, desorientada, como ovelhas sem pastor... E Jesus, Bom Pastor, esquece de Si mesmo, deixa de lado Seu cansaço e, cheio de compaixão, vai cuidar das ovelhas... Por isso mesmo, Ele é o Pastor por excelência, o Belo, Perfeito, Pleno Pastor! Ele ama o rebanho, preocupa-Se com ele, dele se compadece e por ele vai dando, derramando, diariamente, a própria vida.
   
     Nunca se viu Jesus poupar-Se, nunca se testemunhou Jesus fazendo um milagre em benefício próprio, nunca se apanhou o Senhor buscando algum favor para Si. Não! Toda a Sua vida foi vida vivida para o rebanho por amor ao Pai, vida dada, vida doada, entregue de modo total, até a morte e morte de cruz.
Tem razão São Paulo, quando diz aos Efésios, na segunda leitura de hoje: “Agora, em Cristo, vós que outrora estáveis longe, vos tornastes próximos, pelo sangue de Cristo. Ele, de fato é a nossa paz!”

    Eis, caríssimos! O Bom Pastor, entregando a vida pela humanidade, nos atraiu, abrindo um novo caminho, suscitando uma nova esperança para judeus e pagãos, reunindo-os todos no Seu aconchego, no Seu coração de Pastor, dando-nos a paz e fazendo de nós a Sua Igreja!
Igreja aqui reunida, em torno deste Altar, tu nasceste da dedicação do teu Pastor; tu és fruto da Sua vida entregue amorosa e dolorosamente!
O Apóstolo afirma, de modo profundo e comovente que Cristo “quis reconciliá-los, judeus e pagãos, com Deus, ambos em um só corpo, por meio da cruz; assim Ele destruiu em Si mesmo a inimizade”. Prestai bem atenção: na carne de Cristo, no corpo ferido de Cristo, na vida dilacerada de Cristo, deu-se a nossa paz!
– Ó Senhor Jesus, que Tu mesmo, de corpo e alma, de sonho e de dor és o nosso repouso, és nossa segurança! Tu mesmo és a nossa paz! E quão alto foi o preço dessa paz! E tudo isso para que, no Teu Santo Espírito, tivéssemos acesso Àquele a Quem Tu chamas de Pai, fonte de toda Vida!
Caríssimos, tanto para nós, pastores, quanto para vós, ovelhas, o exemplo de Cristo é motivo de questionamento e chamado à conversão.
Para nós, pastores, é forte apelo a que sejamos como Ele, sejamos presença Dele no meio do rebanho, tendo Seus sentimentos, Suas atitudes, participando de Sua entrega total. Pastores que não apascentam em Cristo, que não vivem a vida de Cristo na carne de sua vida, não são pastores de fato; são maus pastores, ladrões e salteadores, como aqueles do Antigo Testamento.

   E para vós, ovelhas, que apelos o Bom Pastor hoje vos faz?
    Ele que Se deu todo a vós como pastor, vos convida a que vos entregueis totalmente a Ele como ovelhas. Como a ovelha do Salmo da Missa de hoje, que confia totalmente no seu pastor, ainda mesmo que passe pelo vale tenebroso, porque sabe que o pastor é fiel, que o pastor haverá de defendê-la, assim também nós, ovelhas do Seu pasto, confiemo-nos ao Senhor, sigamo-Lo, nele coloquemos a nossa existência. E que Ele, cheio de amor e misericórdia, nos conduza às campinas verdejantes, nos faça descansar, restaure nossas forças, guie-nos no caminho mais seguro, nos prepare a Mesa eucarística, unja-nos com o suave óleo do Seu Espírito, faça transbordar a taça da nossa exultação e nos dê habitação na Sua Casa pelos tempos infinitos. Amém.


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