domingo, 5 de julho de 2015

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM


(Ez 2,2-5; Sl 122; 2Cor 12,7-10; Mc 6,1-6) 

O encontro com a Palavra de Deus proclamada pela Igreja neste 14º Domingo do Tempo Comum ilumina o mundo com a vocação profética de todos os batizados. Num tempo em que vozes se elevam com tons de profecia e, muitas vezes, ludibriam as pessoas com essa prerrogativa, somos orientados pelas leituras que nos apresentam sinais claros para o reconhecimento dos verdadeiros profetas.

Primeiramente, cabe-nos a seguinte pergunta: quem é o profeta? Ou melhor, quem são os profetas? Podemos começar a respondê-la por aquilo que não se entende pelos profetas: não são pessoas extintas do passado, nem são encarregados de fazer milagres ou prever o futuro. O Catecismo da Igreja Católica nos ajuda a compreender muito bem o papel dos profetas e a sua missão na economia da salvação, especialmente para o povo de Israel, “povo sacerdotal e Deus” (cf. Ex 19,6). A profecia, principalmente no Antigo Testamento, pode ser compreendida através da Aliança que Deus faz com a humanidade: “Por meio dos profetas, Deus forma o seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma Aliança nova e eterna destinada a todos os homens, e que será impressa nos corações. Os profetas anunciam uma redenção radical do Povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades, uma salvação que incluirá todas as nações. Serão sobretudo os pobres e os humilhados os portadores desta esperança.” (CIC, 64) Deus espera que os profetas sejam a sua voz para o mundo e isso prescinde uma dimensão da escuta. É preciso que a mensagem de Deus penetre até o íntimo de seu coração e lhe provoque o desejo de anunciá-la.

A primeira leitura relata a missão do profeta Ezequiel. O encargo confiado por Deus é de ir ao encontro dos israelitas e recordar-lhes de que não estão sozinhos, de que o Senhor não os abandonou. Mesmo sendo “uma nação de rebeldes” (v. 3) e tendo se afastado dEle, o Senhor não desiste. Deus não desiste da humanidade! Essa é a lógica que Ele usa para manifestar o seu amor, provar a sua bondade e o seu cuidado para conosco. É interessante perceber que a profecia não nasce de um desejo ou interesse individual, ou seja, o profeta não está a serviço de suas vaidades, não fala em nome próprio. Ao contrário, a iniciativa é sempre de Deus. É Deus quem chama (v. 3) e dá as condições para perseguir o caminho.

A vocação de profeta, comum a todos os cristãos, não é uma vocação fácil, pois nem sempre os homens querem ouvi-lo. Este é um aspecto comum da profecia de Ezequiel (v. 5) e as palavras de Jesus no Evangelho. A missão é ser voz no meio do povo, voz esta que às vezes não é ouvida ou sequer notada. Contudo, o profeta não deve se esmorecer diante dos desafios. Esta dimensão nos faz lembrar o dito popular de que “santo de casa não faz milagre.” Esta é a expressão de Jesus ao dizer que “um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (v. 4), certamente um dos versículos mais repetidos e mais conhecidos do Evangelho narrado pela liturgia hodierna.

A experiência de Cristo narrada por Marcos no Evangelho (cf 6,1-6) nos ajuda a compreender bem a dimensão do profeta. Ele retorna a Nazaré, sua terra, e entra na sinagoga (v. 1) causando espanto, admiração e escândalo naqueles que estão presentes. Este Jesus não podia ser o Messias esperado. Quem, então, eles esperavam? Certamente estavam à espera de alguém grandioso, um guerreiro como Davi, um sábio como Salomão. Ou, mesmo que não tivessem a envergadura destes, uma pessoa desconhecida. O profeta esperado não poderia ser um humilde carpinteiro. Eles o conheciam muito bem: o carpinteiro, filho de Maria, não poderia ser o enviado de Deus. Todas as categorias humanas na narrativa (v. 3) expressam a rejeição àquilo que se revela em Jesus, pois não querem mudar de procedimento não querem mudar de vida. O profeta não trabalha com a brandura de palavra, ele diz aquilo que o povo precisa ouvir. A palavra de Jesus escandaliza, pois não se coaduna com interesses políticos, está sempre a favor da vida, interpela à mudança, à conversão. Mesmo com a incompreensão do povo, o profeta é sempre o homem da comunhão com Deus, é alguém que permanece fiel à mensagem do Pai, atento às realidades do próximo. Aqui compreendemos bem a mensagem de João no prólogo de seu Evangelho: “ela veio para os que eram seus, mais os seus não a receberam.” (cf. Jo 1,11).

Na segunda leitura, somos motivados pelo testemunho de Paulo e o seu valioso contributo para os cristãos na superação das dificuldades encontradas em seu apostolado. Fraqueza, incapacidade, injúrias, necessidades, perseguições, angústias, tudo isso desaparece quando somos amparados pela graça de Deus. Paulo assegura aos cristãos de Corinto, que Deus atua e manifesta seu poder no mundo através de instrumentos fracos e limitados. Na situação em que ele se encontra, Deus o faz perceber que é “na fraqueza que a força se manifesta” (v. 9) Todos nós, ainda hoje, temos tantos espinhos a nos espetar a carne para nos lembrar que “onde abundou o pecado, superabundou a graça.” (cf. Rm 5,20). Somente a partir de um encontro profundo, pessoal e verdadeiro com Jesus Cristo somos capazes de perceber a sua ação na nossa vida e na nossa história. Ele é o rosto do Pai a nos comunicar a generosidade de seu amor.

Por fim, a liturgia deste domingo nos convida, através do exemplo de Ezequiel, Jesus e Paulo, a não desanimarmos diante das dificuldades encontradas na missão. É certo que nem tudo são flores, mas também não há só pedras. Quando nos abrimos ao Espírito Santo e deixamos que Ele aja em nossas palavras e em nossos atos, chegamos aos ouvidos e ao coração das pessoas e somos canais da graça de Deus. Não desanimemos, pois “os nossos olhos estão fitos no Senhor!” (cf. Sl 122).

Por: Marcus Tullius 

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