(Ano B – 03 de junho de 2012)
I Leitura: Dt
4,32-34.39-40
Salmo Responsorial:
Sl 32(33),4-5.6.9.18-19.20.22 (R/. 12b)
II Leitura: Rm
8,14-17
Evangelho: Mt
28,16-20 (Despedida na Galileia)
Queridos irmãos,
Hoje celebramos, após o Domingo de Pentecostes, a Solenidade
da Santíssima Trindade. Muito embora a Páscoa já tenha sido encerrada no
domingo passado com o hoje teológico do Pentecostes, a solenidade da Santíssima
Trindade, quanto a sua data, depende de todo o caminhar temporal da Páscoa.
Hoje a Igreja reflete acerca da essência trinitária de Deus: uma Única e
Suprema divindade em Três Pessoas. Esta é a primeira de três solenidades
conseguintes, já que, na próxima quinta-feira, toda a Igreja celebra a
Solenidade de Corpus Christi; e, na sexta-feira da semana seguinte, a
Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Cada uma destas três datas litúrgicas
possui uma evidência peculiar, já que elas pretendem abarcar todo mistério da
vida cristã da salvação, sintetizando, de certa maneira, a revelação de Jesus
Cristo, da sua encarnação à morte, ressurreição, ascensão, bem como à doação do
Espírito Santo. A solenidade de hoje nos convida à contemplação de um “céu
aberto”, depois de uma revelação paulatina, mas profunda, de cada uma das
Pessoas Trinitárias, inserindo-nos, com o olhar da fé, no mistério de um Deus,
Uno na substância e Trino nas Pessoas.
A Oração de Coleta inicia apresentando-nos o Pai como o
remetente da missão do Filho e do Espírito Santo: "Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes o vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente". O Pai envia em missão o Filho
e o Espírito com a finalidade de revelar ao mundo o seu “inefável mistério”.
Mas, por que o Pai tem esta atitude? O Evangelho segundo São João é uma chave
de resposta: “Deus tanto amou o mundo, que deu seu Filho Unigênito, para que
não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). É porque
nos ama. É para que nos salvemos que Deus se revela. Porém, ao revelar sua
glória Trinitária e Unidade onipotente, Deus nos vocaciona para o seio desta
“Comunidade de Amor”, onde o Pai ama eternamente o Filho, o Amante Divino ao Eterno
Amado (cf. Mt 3, 17; 17, 4; Mc 1, 11; 9, 7; Lc 9, 35; Jo 5, 20; Cl 1, 13; 2Pd
1, 17), ao tempo em que o Eterno Amado corresponde ao sentimento do Pai
amando-o, fazendo inteiramente a sua vontade. Deste inesgotável intercâmbio,
eis o Espírito Santo, o Amor, promotor desta relação misteriosa, porque é
divina. É ainda vontade do Pai que a criatura humana seja inserida pelo Filho
nesta “Comunidade”, embora pelo que, por nós mesmos, não tenhamos nada a acrescentar
nesta sublime relação intratrinitária. Somos filhos pelo Filho, a salvação nada
mais é do que este habitar eternamente no seio de Deus, Uno e Trino. Aí se
encontra a plenitude da vida.
Na economia das Pessoas Trinitárias, Deus se revela. E, na
plenitude dos tempos, encarna-se. Pela encarnação do Verbo não somos mais
prejudicados pela visão da glória da divindade: Ele se abaixa à nossa condição,
faz-se um de nós: Kénosis. Somente
assim, contemplamos o seu rosto. Jesus é o rosto humano de Deus, como bem
afirmara o Beato João Paulo II. É pelo conjunto kenótico (Encarnação, Vida,
Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão) de Jesus, Deus Encarnado, que o homem é
divinizado. Logo, o ser humano passa a ver Deus, herda a sua glória,
co-habitando na Trindade. Mais do que Moisés, que vê o Senhor apenas pelas
costas, pela vinda do Filho, vemos Deus por inteiro, tornamo-nos herdeiros de
Deus.
Que o Amor trinitário (o Espírito Divino) nos invada e nos conduza à
comunhão com a Trindade Santíssima, para que, desde já, nesta terra de exílio
rumo à Pátria Definitiva nos irmanemos na comunidade cristã, imitando, com
afinco, a doçura e harmonia das Pessoas Trinitárias.
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