Dom
Dulcênio Fontes de Matos, à convite de Sua Excelência Reverendíssima Dom
Antônio Muniz Fernandes, Arcebispo Metropolitano de Maceió, pregou, na manhã de
hoje, 27, na Solene Concelebração Eucarística da Festa de Nossa Senhora dos
Prazeres, excelsa padroeira da capital de Alagoas. Eis, na íntegra, as suas
palavras:
MARIA,
MÃE DA IGREJA. “EM JERUSALÉM, ESTAVAM NA SALA SUPERIOR, ONDE SE REUNIRAM:
PEDRO, JOÃO, TIAGO E ANDRÉ, FILIPE E TOMÉ, BARTOLOMEU E MATEUS, TIAGO FILHO DE
ALFEU, SIMÃO, O ZELOTE E JUDAS FILHO DE TIAGO. TODOS, UNÂNIMES, ERAM ASSÍDUOS À
ORAÇÃO, COM ALGUMAS MULHERES, ENTRE AS QUAIS MARIA, A MÃE DE JESUS, E COM OS
IRMÃOS DE JESUS” (ATOS 1,13-14).
Nesta hora de exultação da Igreja e
do povo de Maceió, momento em que a fé se faz latente aqui, nesta Catedral e a
partir dela; momento em que o sentimento de afeto filial é dispensado a Virgem
Maria intitulada Nossa Senhora dos Prazeres por gente que a ama porque adora o
seu Altíssimo Filho. Como Pastor da Igreja Particular de Palmeira dos Índios,
de cuja alegria por seu Jubileu Áureo conseguimos vislumbrar e sentir, agradecemos
a solidariedade da Igreja de Maceió neste clima de festa que nos invade. De muita
polidez foi este alvitre do senhor Arcebispo Metropolitano, Dom Antônio Muniz,
do Vigário desta Sé Catedral, do clero e de todo o povo maceioense em comungar
do nosso gáudio, ao inserir na temática da festa da magna patrona deste
Arcebispado a realidade por nós vivenciada do quinquagésimo ano de criação da
nossa Diocese, convidando para a presidência de cada noite de novenário, rumo à
festa de hoje, um dos nossos presbíteros, bem como, Dom José Francisco Falcão,
ilustre filho de nosso bispado e que atualmente é Bispo Auxiliar do Ordinariado
Militar do Brasil, e mesmo por nos convidar para pregar nesta solene
concelebração eucarística de coroamento das festividades alusivas a Nossa
Senhora dos Prazeres. Este vosso intento é um reflexo visível do que prezamos e
tentamos viver: a fraternidade da Igreja de Jesus na Província Eclesiástica de
Maceió.
Indubitavelmente, cremos que a Santa
Igreja de Cristo é conduzida pelo Espírito Santo, derramado no Cenáculo de
Pentecostes. Sim, caros irmãos e irmãs, a Igreja, longe de ser uma inventiva
humana, é fundação do próprio Cristo, é guiada pelo Espírito Santo e oferece ao
Pai o sacrifício de Jesus, ao tempo em que continua a missão de seu fundador:
salvar o homem porque é depositária da salvação do Cristo.
Diante dos olhos, temos uma assembleia
de fé, e, no coração, o sentimento de pertença a um corpo: o Corpo Místico de
Cristo. Fazemos parte da Igreja que, temporalmente, caminha nas sendas da
história deste mundo e ruma até a eternidade da Pátria Celeste. Sob entraves,
sob alegrias, a única Igreja de Jesus, governada visivelmente pelos seus
pastores inspirados pelo Divino Espírito, é sacramento de Cristo. E, por sê-lo,
chamamo-la de Mãe e Mestra. Sim, irmãos, todos somos conscientes do que tais
adjetivos representam em nossa cultura: Mãe porque gera, mas gera pela fé dos
sacramentos; Mãe porque alimenta a fé de sua prole com os sacramentos; Mãe
porque acompanha os seus com os sacramentos. Assim, toda ação da Igreja em
benefício da humanidade acontece porque ela é Mãe, muito embora não de todos,
mas dos que se decidiram pelo Cristo, o seu Sublime Esposo. A Igreja é Mãe
porque Deus é Pai. A Igreja é guardiã do rebanho do seu Senhor. Mas como exerce
este pastoreio? Ela pastoreia ao tempo em que é rebanho? Sim, caríssimos irmãos
e irmãs, agora queremos afirmar o magistério da Igreja. Ela é Mestra. E, como
tal, é responsável pela prédica da Verdade que, longe de ser filosófica, é um
ser especialíssimo, pois é vivo e real, não idealizado no abstrato, é o próprio
Cristo que, vindo anunciar-nos a Boa Nova, disse de si mesmo: “Eu Sou o
Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). A Igreja prega o que fora dito por
Jesus. É, desta forma, o eco de suas palavras que ressoam pelo trilhar da
humanidade. Ela apregoa o Cristo.
A Igreja, Mãe e Mestra, ensina os
seus filhos gerando-os na fé, ao mesmo tempo em que gera filhos ensinando-os a
fé. Mas donde lhe vem esta força vital se não do grande Doador de Dons, o
Espírito Santo? Se a Igreja fosse um intento meramente humano já teria sido
naufragada pelo mar da história, da nossa história. Digo da nossa por conta dos
inúmeros pecados que cometemos. Quantos pastores e fiéis, frágeis por sua
concupiscência inclinada às iniquidades, deram testemunho contrário ao querido
pelo Senhor e proposto pela Igreja, de uma vida impregnada pela santidade mesma
de Jesus? A Igreja é, indubitavelmente, sem mancha e sem ruga, resplandecente
de beleza. Logo, não possui pecados. Os pecados da Igreja, como muitos enchem a
boca para afirmar, não são dela, mas de seus filhos. Por ter Cristo Jesus como
cabeça, a Igreja é santificada; por ser Corpo indefectível de Cristo, a Igreja
é imaculada. No entanto, Nosso Senhor, ao fundar a sua Igreja sob o alicerce
apostólico, disse ao que possui o primado dentre eles, dentre os apóstolos: “Tu
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno
não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Este sentimento de eclesialidade, de
pertença a um Corpo Divino, porque é de Cristo, é-nos ressaltada pela própria
Sagrada Escritura, quando o Apóstolo das Nações, São Paulo, afirma: “Já não
sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da
família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo
por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É nele que todo edifício,
harmonicamente disposto, se levanta até formar um templo santo no Senhor. É
nele que também vós outros entrais conjuntamente, pelo Espírito, na estrutura
do edifício que se torna a habitação de Deus” (Ef 2,19-22).
Esta Igreja de Jesus possui como nota
característica, além da unidade, santidade e apostolicidade, a catolicidade, ou
seja, está espalhada por todo o mundo, reunindo no rebanho do Senhor gente de
diversas raças, culturas e línguas, fazendo-nos irmãos pelo Batismo. Também em
nossas terras alagoanas a Igreja de Jesus se faz presente, porque também nós
somos chamados à santidade proveniente da Salvação em Cristo.
Há poucos dias, para sermos mais
exatos, no dia 19 próximo passado, celebrávamos em Palmeira dos Índios o
Jubileu Áureo Diocesano, recordando os cinquenta anos de criação e instalação
da nossa Igreja Particular. Com a presença de mais de 20 bispos, de inúmeros
sacerdotes e de milhares de pessoas, sentimos, como que empiricamente, esta
catolicidade da Esposa de Cristo. Porém, independentemente disso, o sentimento
de catolicidade deve está presente no coração dos fiéis, principalmente, quando
estão junto ao seu Bispo, Sucessor legítimo dos Apóstolos, que, por sua vez,
está consoante ao Sucessor de Pedro, o Papa, Bispo de Roma.
A Igreja Particular, como o próprio
nome já nos alude, é uma parte da grandiosa Igreja de Cristo. Neste sentido,
uma das Constituições Dogmáticas do também jubilando áureo Vaticano II,
denominada Lumen Gentium, no número
23, esclarece-nos: “As Igrejas particulares são formadas à imagem da Igreja
universal; é nelas e a partir delas que existe a Igreja Católica una e
única”. No entanto, esta afirmativa trazida pelo Concílio Vaticano II não é
originada aí, mas remonta aos primeiros séculos do cristianismo, mais
especificamente ao III da era cristã. São Cipriano alegava veementemente em
prol da unidade da túnica inconsútil de Jesus, a sua Igreja: “É Igreja una por
todo o mundo, em muitos membros dividida”. E o Vaticano II prossegue: “Por
isso, cada bispo representa a sua Igreja; e todos, juntamente com o Papa,
representam toda a Igreja no vínculo da paz, do amor e da unidade” (LG 23).
Logo, concluímos que em toda e cada Igreja particular está presente a única
Igreja Católica, a única Esposa de Cristo, pois como recorda-nos a mesma Lumen Gentium: “A Igreja de Cristo
subsiste na Igreja Católica”.
Conscientes da unicidade da Igreja do
Senhor, somos convidados a olhar como a Esposa de Cristo incultura-se nas
regiões onde ela se instala para propagar o Evangelho. Paulo VI já bem dizia:
“A Igreja é perita em humanidade”. Assim sendo, a Esposa de Cristo possui como
missão um prolongamento daquela que também é missão de Jesus: “O Espírito do
Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova
aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a
redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos,
para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19), não em uma atitude díspare
da do seu Mestre, mas anunciando-o e, assim fazendo discípulos para ele,
prestar o culto a Deus e elevar o homem a sua plena estatura na ordem da Graça;
portanto, anunciando e salvando. A Igreja, com suas multíplices facetas,
conformes às culturas, às gentes em que se faz presente, procura fazer-se uma
com os seus filhos, tal como uma mãe generosa e abnegada. Compartilha com eles
as suas agruras e felicidades. Sejam pobres ou ricos, a Igreja tem uma
preocupação com o homem todo e todos os homens.
Aqui, na Arquidiocese de Maceió, o
nosso irmão, Dom Antônio Muniz Fernandes, tem um dito: “A Igreja de Maceió é
missionária e samaritana”. Paremos e pensemos a real carga significativa desta
sua fala. A Igreja de Maceió, assim como toda a Igreja Universal anuncia o
Cristo, vivo e glorioso, que fala aos homens pelo Evangelho, a Boa Nova. Porém,
a Igreja maceioense preocupa-se também em reconhecer o Cristo e servi-lo onde
ele grita por socorro: nos pobres e marginalizados, pois como dissera Jesus: “Tive
fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me
acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e
viestes a mim […] Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a
um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt
25,35-36.40). No entanto, a Igreja, mesmo se não se preocupasse com o social,
faria um supereminente serviço à humanidade somente com o anúncio do Evangelho,
pois, fazendo-o, estaria transformando corações e vidas, conquistando
discípulos autênticos, tal como ordenara Nosso Senhor: “Ide, pois, e ensinai a
todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os
dias, até o fim do mundo” (Mt 28,19-20).
Depois de termos tentado discorrer
acerca da Igreja, faz-se mister tratarmos daquela a quem a Tradição chama de “Typos” da Igreja: a Bem-Aventurada
Virgem Maria.
A santa Virgem Maria, venerada hoje
como Senhora dos Prazeres, é uma mulher repleta do Espírito Santo. Quando da
Anunciação do Anjo, ela concebeu pelo poder do Espírito Divino. Assim,
virginalmente Mãe, Maria educou de forma autêntica o Filho eterno de Deus feito
homem para salvar a humanidade. Foi com os seus auspícios celestes que ela
cumpriu o seu papel de Mãe e Mestra de Jesus. E foi portanto que, a partir da
cruz, ela hauriu do seu Filho benditíssimo a maternidade universal, quando dele
escuta: “Mulher, eis aí o teu filho!” (Jo 19,26). Neste momento, sendo Mãe dos
viventes, quando do peito aberto de seu Filho e Senhor vê correrem a água e o
sangue, sacramentos da Igreja, Maria torna-se testemunha visível do que com o
mistério da Encarnação e da Páscoa nascia: a Igreja. Fazendo valer o seu papel
maternal, estava junto aos Doze na hora mais difícil da história da Igreja: o
seu nascimento. Maria confortava e confirmava com a sua confiança inabalável os
apóstolos, sendo junto com eles assídua na oração.
Lembro-me que no ano passado refletia
aqui, nesta Catedral, a realidade embutida no título de Nossa Senhora dos
Prazeres. Recordo-me falar dos sete gozos de Maria. O Pentecostes, embora não
esteja formalmente nesta listagem, foi um momento de exultação na vida de Maria
Santíssima, pois, mais uma vez, o Espírito Santo a preenche e concede-lhe seus
dons, justamente a ela, que fora escolhida para ser Mãe de Deus. Se antes desta
teofania grande já era a fé de Nossa Senhora, quanto maior será agora, quando o
Espírito de Deus, do Pai e de seu Filho, derrama sobre a Igreja Nascente a sua
potência e vitalidade. Se antes Maria já encorajava os apóstolos, imaginemos
agora. Se antes Maria rezava com e pela Igreja, quanto não orará depois deste
magnânimo evento?
Com a sua Assunção aos céus, Maria
não se afasta da sua função de ser pela Igreja. Muito pelo contrário, diante de
seu Deus, ela é intercessora. Seu patrocínio é sentido desde há muito. E, para
isto, basta-nos olhar a história da Igreja e percebermos as graças infindas que
nos advieram quando muitos, pastores e fiéis, recorreram à sua maternal
intercessão. E, como mestra, Maria, com a sua vida ilibada, continua a ser
modelo para os filhos da Igreja. Se Maria é Mãe da Igreja o é porque,
concomitantemente, é Filha da Igreja, a mais venturosa da prole da Esposa de
Cristo.
A
Virgem Maria é para o corpo eclesial modelo de fé e caridade; por isso é “typos”. Maria inspira a Igreja em seu
serviço caritativo em favor do próximo, como também lhe move na fé
incondicional ao seu Deus. Maria, que peregrinou na fé, alcançou, quando do fim
de seus dias nesta terra, a sua glorificação diante de Deus e dos homens. Maria
enche-nos de esperança para caminhar nesta terra com o olhar voltado para o céu.
Com esta expectativa e com a intercessão daquela a quem denominamos Mater Ecclesiae, a Senhora dos Prazeres,
a Igreja alcançará, depois da jornada fatigante pelas vicissitudes da história
neste exílio temporal, o seu trunfo: a glória da Santíssima Trindade. A quem
seja dada a glória pelos séculos dos séculos!
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