(08 de setembro de 2012)
Queridos irmãos,
A Igreja se reveste de júbilo pelo natal Daquela
que foi a predestinada para a Mãe do Salvador. Hoje, nasceu-nos a Imaculada
Senhora Mãe de Deus e Nossa!
Esta festa originariamente oriental, passados nove
meses da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, é tida pelos bizantinos
como “o anuncio jubiloso de uma boa nova: a Mãe do Salvador já está entre
nós!”. Ao festejarmos o nascimento de Nossa Senhora, celebramos o início
histórico da nossa redenção, pois o Tabernáculo Puro e Digníssimo do Divino
Salvador nasceu. Logo, antes mesmo de ser uma festa de caráter mariológico ela
possui eminentemente um teor cristocêntrico, embora todas as celebrações
marianas já o tenham por natureza. Por tal motivação, São Pedro Damião atesta:
“Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em prática o seu plano eterno, pois era
necessário que se construísse a casa, antes que o Rei descesse para habitá-la.
Casa linda, porque, se a Sabedoria constrói uma casa com sete colunas
trabalhadas, este palácio de Maria está alicerçado nos sete dons do Espírito
Santo. Salomão celebrou de modo soleníssimo a inauguração de um templo de
pedra. Como celebraremos o nascimento de Maria, templo do Verbo encarnado?
Naquele dia a glória de Deus desceu sobre o templo de Jerusalém sob forma de
nuvem, que o obscureceu” (Segundo Sermão
sobre a Natividade da Virgem Maria). Se por ocasião da dedicação do templo
dos judeus a nuvem pousou como símbolo da pertença divina, na concepção do
ventre da Menina que hoje nos nasceu, não é uma imagem, mas o próprio Espírito
que a cobre com a sua divinal sombra.
A Igreja convida a percebemos em Maria uma criança
inigualável, o fruto do ditoso ventre de uma estéril anciã, cujo cônjuge era um
velho sacerdote. Ó quão ditoso sois venerável Joaquim porque de vossa estirpe
sacerdotal brotou o Lírio da Integridade Materno-Virginal, a “Filha de Sião”! Ó
quão feliz sois, Ana, porque daquilo que era ressequido pela tua esterilidade
nos veio a Aurora do grande Sol da Justiça. A Igreja contempla o fruto do vosso
ventre, ó Ana, a Igreja se vê, como que em protótipo, em vossa venerável Menina,
a “Flor de Israel”. Com razão veneramos a vossa família, ó Joaquim e Ana!
Em Maria, a Escritura encontra cumprimento de forma
plena: eis que o Esperado das nações já se aproxima; eis o Noivo da Igreja. No
ventre da Menina hoje nascida, toda a Escritura se converge: os Patriarcas do
Antigo Testamento se alegram porque, em Maria, reconheceram a figura da Mãe do Cristo,
a Regina Patriarcharum. Eles e os
justos do Antigo Documento há muito aguardavam, queriam serem admitidos na
glória celeste pela aplicação na fé dos méritos de Cristo, o bendito fruto da
Virgem Maria, Ela a Ianua Caeli. Todos
os homens se alegram, porque o nascimento da Virgem, o Auxilium Christianorum, veio anunciar-lhes a aurora do grande dia
da libertação pela qual aguardam todos os povos. Todos os anjos de Deus se
alegram, porque neste dia foi-lhes dada pela primeira vez a ocasião de reverenciar
a sua futura Rainha, a Regina Angelorum.
Ó Imaculada e Doce Menina, o que poderíamos vos
oferecer como donativo pelo vosso nascimento? Eis que “conceberás e darás a
luz” (Lc 1, 31) ao Rei do Universo. O que poderíamos vos ofertar? Eis que a
Esposa de vosso Filho vos rende louvores. Com a corte dos justos vos aclamamos:
“Vinde,
todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as
condições: com alegria celebremos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se
os gregos destacavam com todo o tipo de honras - com os dons que cada um podia
oferecer - o aniversário das divindades, impostos aos espíritos por mitos
mentirosos que obscureciam a verdade, e também o dos reis, mesmo se eles fossem
o flagelo de toda a existência, que deveríamos nós fazer para honrar o
aniversário da Mãe de Deus, por quem toda a raça mortal foi transformada, por
quem o castigo de Eva, nossa primeira mãe, foi mudada em alegria? Com efeito,
uma ouviu a sentença divina: “Darás à luz no meio de penas” (Gn 3, 16); a outra
ouviu, por seu turno: “Alegra-te, oh Cheia de Graça” (Lc 1, 28). À primeira
disse-se: “Inclinar-te-ás para o teu marido” (Gn 3, 16), mas à segunda: “O
Senhor está contigo” (Lc 1, 28). Que homenagem ofereceremos então nós à Mãe do
Verbo, senão outra palavra? Que a criação inteira se alegre e festeje, e cante
a natividade de uma santa mulher, porque ela gerou para o mundo um tesouro
imperecível de bondade, e porque por ela o Criador mudou toda a natureza num
estado melhor, pela mediação da humanidade. Porque se o homem, que ocupa o meio
entre o espírito e a matéria, é o laço de toda a criação, visível e invisível,
o Verbo criador de Deus, ao se unir à natureza humana, uniu-se através dela a
toda a criação. Festejemos assim o desaparecimento da humana esterilidade, pois
cessou para nós a enfermidade que nos impedia a posse dos bens. Mas porque
nasceu a Virgem Maria de uma mulher estéril? Àquele que é o único
verdadeiramente novo debaixo do sol, como coroamento das Suas maravilhas,
deviam ser preparados os caminhos por maravilhas, para que lentamente as
realidades mais baixas se elevassem de modo a serem as mais altas. E eis uma
outra razão, mais alta e mais divina: a natureza cedeu o lugar à graça, pois ao
vê-la tremeu, e não quis mais ter o primeiro lugar. Como a Virgem Mãe de Deus
devia nascer de Ana, a natureza não ousou prevenir o fruto da graça, mas
permaneceu ela própria sem fruto, até que a graça trouxesse o seu. Era
necessário que fosse primogênita aquela que deveria gerar “o Primogênito de
toda a criação, no Qual tudo subsiste” (Cl 1, 15). Oh Joaquim e Ana, casal
venturoso! Toda a criação está em dívida para convosco, porque através de vós
ela pôde oferecer ao Criador o dom - entre todos o mais excelso - de uma Mãe
venerável, a única digna d'Aquele que a criou. Ditosos os rins de Joaquim, de
onde saiu uma semente totalmente imaculada, e admirável o seio de Ana,
graças ao qual se desenvolveu lentamente, onde se formou e de onde nasceu uma
tão santa criança! Oh entranhas que levastes um céu vivo, mais vasto que a
imensidade dos céus! Oh moinho onde foi amassado o Pão vivificante, segundo as
próprias palavras de Cristo: “Se o grão de trigo não cair na terra e morrer,
ficará só” (Jo 12, 24). Oh seio que aleitaste aquela que alimentou o Aquele que
alimenta o mundo! Maravilha das maravilhas, paradoxo dos paradoxos! Sim, a
inexprimível Encarnação de Deus, cheia de condescendência, devia ser precedida
por estas maravilhas. [...] Hoje as portas da esterilidade abrem-se, e uma
porta virginal e divina avança: a partir dela, por ela, o Deus que está acima
de todos os seres deve “vir ao mundo” “corporalmente” (Cl 2, 9), segundo a
expressão de Paulo, ouvinte dos segredos inefáveis. Hoje, da raiz de Jessé saiu
uma vergôntea, de onde surgirá para o mundo uma flor substancialmente unida à
divindade. Hoje, a partir da natureza terrena, um céu foi formado sobre a terra
por Aquele que outrora o tornara sólido separando-o das águas, elevando o
firmamento nas alturas. É um céu verdadeiramente mais divino e mais elevado que
o primeiro, porque Aquele que no primeiro céu criara o sol Se elevou a Si
próprio neste novo como um sol de justiça.(...) Hoje, o “Filho do Carpinteiro”
(Mt 13, 25), O Verbo universalmente ativo d'Aquele que tudo construiu por Ele,
o Braço Poderoso do Deus Altíssimo, querendo afiar pelo Espírito - que é como o
seu dedo - a lâmina embotada da natureza, construiu para Si uma escada viva,
cuja base está firmada na terra, com o cimo a tocar os céus: Deus repousa sobre
ela. É dela a figura que Jacó contemplou, e por ela Deus desceu da Sua
imobilidade, ou melhor, inclinou-Se com condescendência, tornando-Se assim
“visível sobre a terra, e conversando com os homens”. [...] A escada
espiritual, a Virgem, está fixa na terra, pois na terra ela tem a sua origem,
mas a sua cabeça eleva-se até ao céu. A cabeça de toda a mulher é o homem, mas
para ela, que não conheceu homem, Deus Pai ocupa o lugar de sua cabeça: pelo
Espírito Santo, Ele concluiu uma aliança e, como semente divina e espiritual,
enviou o Seu Filho e Verbo, força onipotente. Em virtude do beneplácito do Pai,
não é por uma união natural, mas é superando as leis da natureza, pelo Espírito
Santo e pela Virgem Maria, que o Verbo Se fez carne e habitou entre nós. É por
aqui que se vê que a união de Deus com os homens se cumpre pelo Espírito Santo.
Hoje é edificada a Porta do Oriente, que dará a Cristo “entrada e saída”
(Jo 10, 9), e “essa porta estará fechada” (Jo 10, 9). Nela está Cristo, “a
Porta das Ovelhas” (Jo 10,7), e “o Seu nome é Oriente” (cf. Is 41, 25): por Ele
obtivemos acesso ao Pai das Luzes. Hoje sopraram as brisas anunciadoras duma
alegria universal. Alegre-se o céu nas alturas, que debaixo dele “exulte a
terra”, que os mares do mundo bramam, porque no mundo acaba de ser concebida
uma concha, a qual pelo clarão celeste da divindade conceberá em seu seio,
gerando a pérola inestimável, Cristo. Dela sairá o “Rei da Glória” (Sl 23),
revestido da púrpura de sua carne, para “visitar os cativos, e proclamar a
libertação” (Is 61, 1; Lc 4, 19). Que a natureza transborde de alegria: a
cordeirinha vem ao mundo, graças à qual o Pastor revestirá a ovelha,
tirando-lhe as túnicas da antiga mortalidade. Que a virgindade forme os seus
coros de dança, pois nasceu a Virgem que, segundo Isaías, “conceberá e dará à
luz um filho, que será chamado Emanuel, o que quer dizer Deus conosco” (Is 7,
14). [...] “Deus conosco”! Não é nem só um homem, nem um mensageiro, mas o
Senhor em Pessoa que virá e nos salvará” (São João Damasceno, Homilia da Natividade de Nossa Senhora).
Abençoai-nos, ó Menina venerada pela Trindade e
pela humanidade, para que cheguemos a gozar eternamente o que vós já vivenciais!
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