domingo, 16 de setembro de 2012

A IGREJA E A SUA SANTIDADE INDEFECTÍVEL


          
       

             De veneranda memória, as Profissões de Fé da Igreja Católica sempre foram uma síntese riquíssima das verdades da nossa fé, logicamente apoiadas na mais sã teologia, provenientes da Escrituras Sagradas e da Tradição dos Apóstolos. Assim, perpassaram ao longo da história da Igreja o que os fiéis sempre creram com fundamentos doutrinais da fé católica. Debruçados sobre elas, nós decidimos fazer uma acurada pesquisa acerca daquilo que constantemente professamos: “Credo in Sancta Ecclesia”. Portanto, constatamos que esta ideia de que a Igreja é Santa graças aos méritos de seu Divinal Fundador já é arraigada desde cedo em esmagadora maioria das fórmulas de fé e que é uma constante independentemente do lugar em que são professadas. Mesmo as que não fazem referência direta a santidade da Igreja não fazem uma alusão contrária. A partir deste dado inicial, supomos logicamente que se a Igreja, de fato, fosse pecadora, maculada pelos erros de seus membros, o Magistério da Igreja já havia, há muito, acenado para este dado, não o excluindo do seu Credo. Com estas informações iniciais, queremos, utilizando documentações não segundo uma devida ordem cronológica, mas conforme o desejado para ilustrar o nosso pensamento, provar a santidade da Igreja como elemento ontológico de seu ser e agir no mundo, continuadora da missão de Cristo, sendo Sacramento de Salvação operada pelo seu Deus e Fundador.


          O Catecismo Romano nos diz: “Crer que a Igreja é ‘santa’ e ‘católica’ e que ela é ‘una’ e ‘apostólica’ é inseparável da fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo” (1,10). As quatro notas revelam a identidade da Igreja e a sua operação no mundo. A Igreja não é uma mera reunião de pessoas, mas, existindo já no coração de Deus (cf. LG 2), é uma ‘convocatio fidelis’, existindo independentemente de nós, pois é uma instituição do próprio Cristo. É convocação de fiéis porque, mesmo tendo sido querida e edificada pelo Senhor, nós, pelo Batismo, somos integrados nela: “Já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. É nele que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um templo santo no Senhor. É nele que também vós outros entrais conjuntamente, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a habitação de Deus” (Ef 2,19-22). Desta forma, excluamos a pretensa e reducionista ideia de que formamos a Igreja por nós mesmos, fazendo com que todas as nossas atividades (inclusive os míseros nossos pecados) sejam também do “Corpo Místico de Cristo”, tal como aconteceria em uma relação hipostática. Somos Igreja por uma alusão, que é verdadeira e válida, mas alusão.  Daqui, somos suficientemente inteligentes para excluirmos a ideia herética de que a Igreja é santa e pecadora.


      Coadunando com o que já afirmamos, exporemos, adiante, o que a Igreja, em seus diversos pronunciamentos em concílios, sínodos e outras formas do exercício do seu Magistério, afirma:


          “Cremos também que a Igreja Católica, sem mancha no operar e sem ruga [cf. Ef 5,23-27] na fé, é o seu corpo [de Cristo] e possuirá o Reino, com a sua Cabeça, o onipotente Cristo Jesus, depois que esta realidade corruptível se tiver vestido com a incorrupção e esta realidade mortal, com a imortalidade [1Cor 15,53], ‘a fim de que Deus seja tudo em todos’ [ib. 15,53]. Por meio desta fé são purificados os corações [cf. At 15,9], mediante ela são extirpadas as heresias, nela, a Igreja inteira já toma lugar no Reino celeste e, permanecendo (ainda) no século presente, se gloria; e não há salvação em outra fé ‘pois não foi dado aos homens outro nome debaixo do céu, no qual devamos ser salvos’ (At 4,12)” (VI Sínodo de Toledo, iniciado em 9 de janeiro de 638; Denzinger 493).


           “Se alguém, de modo confesso, pensa e louva a opinião dos iníquos hereges e com apresentada tolice diz que estas são as doutrinas da piedade, transmitidas pelos que desde o início foram testemunhas oculares e ministros da Palavra – isto é, os cinco Sínodos santos e ecumênicos –, enquanto calunia os próprios cinco santos Sínodos ecumênicos, para engano dos mais simples ou amparo à própria fé errônea e profana, esse tal seja condenado. Se alguém, de acordo com os iníquos hereges, de algum modo…remove ilicitamente os marcos que fixaram de modo irremovível os santos Padres da Igreja Católica – isto é, os cinco Sínodos santos e ecumênicos –, e temerariamente inventa inovações e exposições de outra fé, ou fórmulas ou leis ou estatutos, ou livros, ou artigos, ou cartas, ou assinaturas, ou falsos testemunhos, ou sínodos, ou atos de registro, ou ordenações inválidas não reconhecidas pela regra eclesiástica, ou representações ou representantes sem legalidade e acanônicos; e, em suma, se faz qualquer outra coisa que os ímpios hereges costumam fazer, mediante operação diabólica, tortuosa e astutamente, contrariando as pias e ortodoxas pregações da Igreja católica – isto é, dos seus Padres e Sínodos –, para destruir a sincera profissão do Senhor nosso e Deus Jesus Cristo; e se persevera até o fim sem arrependimento neste ímpio agir, seja condenado pelos séculos dos séculos, ‘e todo o povo dirá: assim seja, assim seja’ [Sl 106,48]” (Sínodo de Latrão, ocorrido entre 5-31 de outubro de 649, cânones 19-20. Denzinger 521-522).


 “Como, porém, ‘sem a fé é impossível agradar a Deus’ [Hb 11,6] e chegar ao consórcio dos seus filhos, ninguém jamais pode ser justificado sem ela, nem conseguir a vida eterna se nela não ‘perseverar até o fim’ [Mt 10,22 ;24,13]. Ora, para que pudéssemos cumprir o dever de abraçar a verdadeira fé e nela perseverar constantemente, Deus instituiu, por meio de seu Filho Unigênito, a Igreja, e a muniu com os sinais manifestos da sua instituição, para que pudesse ser por todos reconhecida como guarda e mestra da palavra revelada. Porquanto somente à Igreja Católica pertencem tudo o que, tão numeroso e tão prodigioso, foi por Deus disposto para tornar evidente a credibilidade da fé cristã. Além disso, a Igreja em si mesma, pela sua admirável propagação, exímia santidade e inesgotável fecundidade em todos os bens, por sua unidade católica e invicta estabilidade, é um grave e perpétuo motivo de credibilidade, e um testemunho irrefutável da sua missão divina” (Concílio Ecumênico Vaticano I: Constituição “Dei Filius”. Denzinger 3012-3013).



Cristo, mediador único, estabelece e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível, a Sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça. Porém, a sociedade organizada hierarquicamente, e o Corpo místico de Cristo, o agrupamento visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino. Apresenta por esta razão uma grande analogia com o mistério do Verbo encarnado. […] Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica; depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo 21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cf. Mt 28,18 ss.), e erigindo-a para sempre em ‘coluna e fundamento da verdade’ (I Tim 3,5). […] Enquanto Cristo ‘santo, inocente, imaculado’ (Hb 7,26), não conheceu o pecado (cf. 2Cor 5,21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (Hb 2,17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação” (LG 8).


“A Igreja é santa, mesmo tendo pecadores em seu seio, pois não possui outra vida senão a da graça: é vivendo de sua vida que seus membros se santificam; é subtraindo-se à vida dela que caem nos pecados e nas desordens que impedem a irradiação da santidade dela. É por isso que ela sofre e faz penitência por essas faltas, das quais tem o poder de curar seus filhos, pelo sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo” (Paulo VI. Credo do Povo de Deus, 19).                                                                                 


“A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade, só na glória celeste alcançará a sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração de todas as coisas (cf. At 3,21) e, quando, juntamente com o gênero humano, também o universo inteiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele atinge o seu fim, for perfeitamente restaurado em Cristo (cf. Ef, 1,10; Col. 1,20; 2Pd. 3,10-13). […] Já chegou, pois, a nós, a plenitude dos tempos (cf. 1Cor 10,11), a restauração do mundo foi já realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo: com efeito, ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquanto não se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (cf. 2Pd 3,13), a Igreja peregrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal, leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus (cf. Rom 8,19-22)” (LG 48).


         “Sendo desta fé, a santa Igreja católica, purificada pela água do batismo, redimida mediante o precioso sangue de Cristo e sem ruga na fé nem mancha de obras sórdidas [cf. Ef 5,23-27], é rica de insígnias, reluz pelas virtudes e resplandece cheia de dons do Espírito Santo. Ela reinará para sempre com a sua Cabeça, nosso Senhor Jesus Cristo, de quem, sem sombra de dúvida, é o corpo; e todos aqueles que agora de modo algum estão nela, ou nela não estarão, ou se afastaram ou dela se afastarão, ou que, pelo mal da incredulidade, negam que nela os pecados são remitidos, se não retornarem a ela com o auxílio da penitência e não tiverem crido de sombra de dúvida todas as afirmações que o Sínodo de Niceia ..., a reunião de Constantinopla … e a autoridade do primeiro Concílio de Éfeso decidiram aceitar e que a vontade unânime dos santos Padres de Calcedônia ou dos outros Concílios, ou também de todos os venerandos Padres que viveram retamente na santa fé prescrevem observar, (todos eles) serão sancionados com a condenação à punição eterna e, no fim do tempo, serão queimados com o diabo e os seus asseclas em fogueiras vomitando chamas” (XVI Sínodo de Toledo, iniciado em 02 de maio de 693, cânones 36-37. Denzinger 575).


        Pode aparentar uma pretensão e arrogância, porém, acreditamos que diante destas considerações nossas, utilizando as palavras mesmas da Igreja para uma definição acerca de si mesma, deva ser execrado todo o pensar tortuoso de alguns ditos ‘teólogos católicos’ que levantam a bandeira sorrateiramente contra as ortodoxas fé e teologia da Imaculada Esposa de Cristo e que invadem a prática de piedade e o conhecimento de muitos dos que professamos, desde há muito, a fé dada por Jesus aos seus para que a guardassem e a anunciassem.


       Que ao Supremo Pastor da Mater Ecclesia seja dada a glória imensa que lhe é devida e que a Santidade que dele brota e que perpassa pelo úbere do seu ditoso redil possa alcançar-nos mediante a abertura de nosso ser à experiência de uma fé sem arestas e confusões ensinadas pela sua mesma Igreja.

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