Queridos irmãos,
A Igreja, que é Mãe e Mestra, é a única depositária da
salvação operada pelo Cristo. Ao tempo em que ela custodia também distribui tal
graça eminente. Entrementes, muitos, inclusive os ‘cristãos desinformados’, não
acreditam que a Igreja tem o poder de perdoar pecados, duvidam-lhe na sua
extrema autoridade espiritual dada pelo próprio Deus. Não obstante aos
incrédulos, temos em vista outros tantos ‘cristãos desleixados’ que não se
deixam reconciliar com Deus pelo meio ordinário da Igreja que são os
sacramentos. “Creio na remissão dos pecados”: eis o décimo artigo da Profissão
de Fé da Igreja de Cristo.
Em algumas páginas do Evangelho, encontramos o fundamento
para esta prática da Igreja. O próprio Senhor, ao demonstrar com o seu perfeito
exemplo o modo de libertar as pessoas integralmente, curando-lhes
principalmente o coração, o interior, não raramente afirmava aos miseráveis que
o procuravam, pedindo-lhe vida nova: “Os teus pecados estão perdoados” (cf. Mt
9,2; Mc 2,5; Lc 5,20; 7,47-48). Esta prática não se bastou ao Cristo, que a
confiou a Sua Igreja, continuadora de Sua missão redentora, conferindo ao
Colégio Apostólico, as “colunas de Seu Corpo Místico”, o seu exercício baseado
em um poder inigualável, procedente do próprio Deus: “Tudo o que ligares na
terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos
céus” (Mt 16,19); “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados;
àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23); “Está alguém
enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele,
ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o
Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai
os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados.
A oração do justo tem grande eficácia” (Tg 5,14-16).

A justa adesão de fé ao que crê a Igreja de Cristo, a
‘Senhora Católica’, encaminha o nosso olhar e vida para o Sacramento da
Confissão (ou Reconciliação). Sabendo da debilidade humana que, mesmo
regenerada em Si, ainda seria propensa ao pecado, Jesus, sapiente e
providentemente, instituiu à Igreja o poder de anular todos os pecados por meio
do sacramento que sana as faltas que cometemos após o banho batismal, reintegrando-nos
a Deus e à comunidade cristã, ‘desencardindo a nossa alva veste batismal,
enodoada pela infidelidade a Deus, pelo mal que cometemos’. O Senhor brindou-nos
com o Sacramento da Penitência no dia da Sua ressurreição, no dia do Seu maior
triunfo, quando, ressurgindo, venceu o pecado e a morte (cf. Jo 20,23). Por
antonomásia, ao instituir tal sacramento no dia mesmo de Sua Páscoa, Jesus quer
a ressurreição de nossa alma, tendo em vista que, se o pecado é a morte de
nossa alma, o perdão que recebemos sacramentalmente é a sua ressurreição.
Quem já bebeu da graça sacramental da confissão, certamente
sentiu o doce alívio que o ‘estar quite’ com Deus e Sua Igreja traz ao nosso
interior. Imaginemos se Cristo não tivesse tal iniciativa de instituição, fruto
do Seu coração misericordioso; se Cristo não tivesse dado à Sua Igreja o poder
de perdoar os pecados, quantas pessoas não estariam em paz com Deus, com os
irmãos, com a sua própria consciência? Quantos não viveriam no desespero e nos
remorsos produzidos pelos pecados graves, comprometendo até mesmo a esperança
da salvação? Poderíamos afirmar sem o medo do exagero: A confissão é a salvação
dos pecadores. Alguns poderiam retrucar: “A salvação é Cristo!”. Treplicamos:
Mas, quem é que salva o homem pela realidade sacramental, não é o próprio Jesus
que confia à Sua Igreja tão grande mistério para oferecê-lo aos homens? Em um anoso
manual de catequese (o livro “Leitura de Doutrina Cristã”, publicado pela
Editora Vozes, em 1958), encontramos uma curiosa analogia: “A corda que salva o
pecador da morte eterna e do poço do inferno é a confissão. Devemos agarrar-nos
a ela quando cairmos em algum pecado. E foi Jesus que deu à sua Igreja esta
corda de salvação dando-lhe o poder de perdoar os pecados” (p. 247).

Como sacramento que traduz esta potência da
Igreja no perdão dos pecados temos também a Unção dos Enfermos, cuja instituição
encontramos quando o Senhor Jesus Cristo envia os Apóstolos em missão: [Eles] “Ungiam
com óleo a muitos enfermos e os curavam” (Mc 6,13). Igualmente nas Escrituras
averiguamos a prática da Igreja mediante a ordem do Senhor (cf. Tg 5,13). O
efeito da Unção dos Enfermos é a comunicação da graça, apagando as faltas que o
doente ainda tem que expiar, inclusive aquilo que o Concílio de Trento chamará
de “reliquias peccati” – sequelas do
pecado, consolando e confirmando a alma do doente, excitando-o maiormente na
confiança da divina misericórdia, por quem, reanimado, aprende a suportar com
mais docilidade os desconfortos e sofrimentos impostos pela enfermidade, ao
tempo em que adquire crescente resistência às insídias do demônio. Tudo isto
sem olvidar da possibilidade de reaver a saúde do corpo, quando for importante
para a alma (cf. Dz 1696).
Deus nos ama, e, por amar-nos, nos dá o seu
perdão. Se desesperarmos de Sua infinita misericórdia, por quem esperaremos?
Caríssimos irmãos, busquemos sempre o Senhor que se deixa, continuamente,
encontrar por um coração arrependido, contrito, mas confiante em sua bondade e
com desejo de servi-Lo (cf. Sl 129). Não paremos em nossas misérias. Não!
Mergulhemos nesta senda de amor infinito que nos quer purificados e junto a Si,
imirjamos sempre em Deus, banhemo-nos desta fonte que a Igreja nos oferece que
é a divina misericórdia.
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