quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O ‘BANHO’ DO PERDÃO


Queridos irmãos,

A Igreja, que é Mãe e Mestra, é a única depositária da salvação operada pelo Cristo. Ao tempo em que ela custodia também distribui tal graça eminente. Entrementes, muitos, inclusive os ‘cristãos desinformados’, não acreditam que a Igreja tem o poder de perdoar pecados, duvidam-lhe na sua extrema autoridade espiritual dada pelo próprio Deus. Não obstante aos incrédulos, temos em vista outros tantos ‘cristãos desleixados’ que não se deixam reconciliar com Deus pelo meio ordinário da Igreja que são os sacramentos. “Creio na remissão dos pecados”: eis o décimo artigo da Profissão de Fé da Igreja de Cristo.
Em algumas páginas do Evangelho, encontramos o fundamento para esta prática da Igreja. O próprio Senhor, ao demonstrar com o seu perfeito exemplo o modo de libertar as pessoas integralmente, curando-lhes principalmente o coração, o interior, não raramente afirmava aos miseráveis que o procuravam, pedindo-lhe vida nova: “Os teus pecados estão perdoados” (cf. Mt 9,2; Mc 2,5; Lc 5,20; 7,47-48). Esta prática não se bastou ao Cristo, que a confiou a Sua Igreja, continuadora de Sua missão redentora, conferindo ao Colégio Apostólico, as “colunas de Seu Corpo Místico”, o seu exercício baseado em um poder inigualável, procedente do próprio Deus: “Tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19); “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23); “Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia” (Tg 5,14-16).
A limpeza operada por Deus através da Igreja e dos seus sacramentos se dá primariamente no banho da regeneração: o Batismo. Já constatamos esta verdade no Símbolo Niceno-Constantinopolitano: “Professo um só Batismo para a remissão dos pecados”. O principal efeito deste proto-sacramento, ao ser recebido pelo indivíduo com fé e conversão, é introduzi-lo no universo da graça, fazendo com que, ao serem-lhe perdoados os pecados, mergulhe na morte para o pecado e ressurja, regenerado e renovado pelo Espírito Santo, revestido de Cristo, santificado Nele.
A justa adesão de fé ao que crê a Igreja de Cristo, a ‘Senhora Católica’, encaminha o nosso olhar e vida para o Sacramento da Confissão (ou Reconciliação). Sabendo da debilidade humana que, mesmo regenerada em Si, ainda seria propensa ao pecado, Jesus, sapiente e providentemente, instituiu à Igreja o poder de anular todos os pecados por meio do sacramento que sana as faltas que cometemos após o banho batismal, reintegrando-nos a Deus e à comunidade cristã, ‘desencardindo a nossa alva veste batismal, enodoada pela infidelidade a Deus, pelo mal que cometemos’. O Senhor brindou-nos com o Sacramento da Penitência no dia da Sua ressurreição, no dia do Seu maior triunfo, quando, ressurgindo, venceu o pecado e a morte (cf. Jo 20,23). Por antonomásia, ao instituir tal sacramento no dia mesmo de Sua Páscoa, Jesus quer a ressurreição de nossa alma, tendo em vista que, se o pecado é a morte de nossa alma, o perdão que recebemos sacramentalmente é a sua ressurreição.
Quem já bebeu da graça sacramental da confissão, certamente sentiu o doce alívio que o ‘estar quite’ com Deus e Sua Igreja traz ao nosso interior. Imaginemos se Cristo não tivesse tal iniciativa de instituição, fruto do Seu coração misericordioso; se Cristo não tivesse dado à Sua Igreja o poder de perdoar os pecados, quantas pessoas não estariam em paz com Deus, com os irmãos, com a sua própria consciência? Quantos não viveriam no desespero e nos remorsos produzidos pelos pecados graves, comprometendo até mesmo a esperança da salvação? Poderíamos afirmar sem o medo do exagero: A confissão é a salvação dos pecadores. Alguns poderiam retrucar: “A salvação é Cristo!”. Treplicamos: Mas, quem é que salva o homem pela realidade sacramental, não é o próprio Jesus que confia à Sua Igreja tão grande mistério para oferecê-lo aos homens? Em um anoso manual de catequese (o livro “Leitura de Doutrina Cristã”, publicado pela Editora Vozes, em 1958), encontramos uma curiosa analogia: “A corda que salva o pecador da morte eterna e do poço do inferno é a confissão. Devemos agarrar-nos a ela quando cairmos em algum pecado. E foi Jesus que deu à sua Igreja esta corda de salvação dando-lhe o poder de perdoar os pecados” (p. 247).
Quem na Igreja exerce tal ministério de perdoar iniquidades? São Pio X, em seu famoso catecismo, responderá: “Os que na Igreja exercem o poder de perdoar os pecados são, em primeiro lugar, o Papa que é o único que possui a plenitude de tal poder; depois os Bispos e, sob a dependência dos Bispos, os Sacerdotes” (Questão 236). Solenemente, Cristo reveste os Apóstolos, seus sucessores e seus colaboradores imediatos, os sacerdotes, deste poder único. Ele poderia ter feito diferente, mas não o quis, pois desejou que esta faculdade do perdão passasse pelas mãos e voz dos homens, instrumentos de Sua misericórdia, quando dizem: “Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Muitos, entretanto, se queixam da vergonha e do medo que se lhes invadem em auto-acusar-se na Confissão, chegando até a introjetar em suas mentes: “Eu não sei me confessar!”. Temos que ter muito cuidado: o demônio pode estar se utilizando dos nossos receios de humilhar-nos diante da poderosa misericórdia de Deus para fazer-nos, pecadores, subservientes seus. E outra: se temos vergonha de apontar os nossos erros, por que não temos acanhamento em cometê-los? São Pio de Pietrelcina afirmava, encorajando os penitentes: “A confissão é o único tribunal em que os ‘réus’ se acusam e saem inteiramente absolvidos”. Já Tertuliano compara o cristão que prescinde do Sacramento da Penitência (seja por ignorá-lo, seja por embaraço), de confessar os seus delitos ao sacerdote a um doente que, por bloqueio, não quer mostrar ao médico as feridas. Santo Agostinho de Hipona insistia: “Não basta confessar os pecados a Deus, para quem nada é oculto, é preciso também acusá-los ao sacerdote, que é o Seu ministro”.

Como sacramento que traduz esta potência da Igreja no perdão dos pecados temos também a Unção dos Enfermos, cuja instituição encontramos quando o Senhor Jesus Cristo envia os Apóstolos em missão: [Eles] “Ungiam com óleo a muitos enfermos e os curavam” (Mc 6,13). Igualmente nas Escrituras averiguamos a prática da Igreja mediante a ordem do Senhor (cf. Tg 5,13). O efeito da Unção dos Enfermos é a comunicação da graça, apagando as faltas que o doente ainda tem que expiar, inclusive aquilo que o Concílio de Trento chamará de “reliquias peccati” – sequelas do pecado, consolando e confirmando a alma do doente, excitando-o maiormente na confiança da divina misericórdia, por quem, reanimado, aprende a suportar com mais docilidade os desconfortos e sofrimentos impostos pela enfermidade, ao tempo em que adquire crescente resistência às insídias do demônio. Tudo isto sem olvidar da possibilidade de reaver a saúde do corpo, quando for importante para a alma (cf. Dz 1696).

Deus nos ama, e, por amar-nos, nos dá o seu perdão. Se desesperarmos de Sua infinita misericórdia, por quem esperaremos? Caríssimos irmãos, busquemos sempre o Senhor que se deixa, continuamente, encontrar por um coração arrependido, contrito, mas confiante em sua bondade e com desejo de servi-Lo (cf. Sl 129). Não paremos em nossas misérias. Não! Mergulhemos nesta senda de amor infinito que nos quer purificados e junto a Si, imirjamos sempre em Deus, banhemo-nos desta fonte que a Igreja nos oferece que é a divina misericórdia.  

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