quarta-feira, 7 de setembro de 2011

FESTA DA NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA


(08 de setembro de 2011)







Queridos irmãos,


A Igreja se reveste de júbilo pelo natal Daquela que foi a predestinada para a Mãe do Salvador. Hoje, nasceu-nos a Imaculada Senhora Mãe de Deus e Nossa!


Esta festa originariamente oriental, passados nove meses da Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, é tida pelos bizantinos como “o anuncio jubiloso de uma boa nova: a Mãe do Salvador já está entre nós!”. Ao festejarmos o nascimento de Nossa Senhora, celebramos o início histórico da nossa redenção, pois o Tabernáculo Puro e Digníssimo do Divino Salvador nasceu. Logo, antes mesmo de ser uma festa de caráter mariológico ela possui eminentemente um teor cristocêntrico, embora todas as celebrações marianas já o tenham por natureza. Por tal motivação, São Pedro Damião atesta: “Hoje é o dia em que Deus começa a pôr em prática o seu plano eterno, pois era necessário que se construísse a casa, antes que o Rei descesse para habitá-la. Casa linda, porque, se a Sabedoria constrói uma casa com sete colunas trabalhadas, este palácio de Maria está alicerçado nos sete dons do Espírito Santo. Salomão celebrou de modo soleníssimo a inauguração de um templo de pedra. Como celebraremos o nascimento de Maria, templo do Verbo encarnado? Naquele dia a glória de Deus desceu sobre o templo de Jerusalém sob forma de nuvem, que o obscureceu” (Segundo Sermão sobre a Natividade da Virgem Maria). Se por ocasião da dedicação do templo dos judeus a nuvem pousou como símbolo da pertença divina, na concepção do ventre da Menina que hoje nos nasceu, não é uma imagem, mas o próprio Espírito que a cobre com a sua divinal sombra.


A Igreja convida a percebemos em Maria uma criança inigualável, o fruto do ditoso ventre de uma estéril anciã, cujo cônjuge era um velho sacerdote. Ó quão ditoso sois venerável Joaquim porque de vossa estirpe sacerdotal brotou o Lírio da Integridade Materno-Virginal, a “Filha de Sião”! Ó quão feliz sois, Ana, porque daquilo que era ressequido pela tua esterilidade nos veio a Aurora do grande Sol da Justiça. A Igreja contempla o fruto do vosso ventre, ó Ana, a Igreja se vê, como que em protótipo, em vossa venerável Menina, a “Flor de Israel”. Com razão veneramos a vossa família, ó Joaquim e Ana!


Em Maria, a Escritura encontra cumprimento de forma plena: eis que o Esperado das nações já se aproxima; eis o Noivo da Igreja. No ventre da Menina hoje nascida, toda a Escritura se converge: os Patriarcas do Antigo Testamento se alegram porque, em Maria, reconheceram a figura da Mãe do Cristo, a Regina Patriarcharum. Eles e os justos do Antigo Documento há muito aguardavam, queriam serem admitidos na glória celeste pela aplicação na fé dos méritos de Cristo, o bendito fruto da Virgem Maria, Ela a Ianua Caeli. Todos os homens se alegram, porque o nascimento da Virgem, o Auxilium Christianorum, veio anunciar-lhes a aurora do grande dia da libertação pela qual aguardam todos os povos. Todos os anjos de Deus se alegram, porque neste dia foi-lhes dada pela primeira vez a ocasião de reverenciar a sua futura Rainha, a Regina Angelorum.


Ó Imaculada e Doce Menina, o que poderíamos vos oferecer como donativo pelo vosso nascimento? Eis que “conceberás e darás a luz” (Lc 1, 31) ao Rei do Universo. O que poderíamos vos ofertar? Eis que a Esposa de vosso Filho vos rende louvores. Com a corte dos justos vos aclamamos:




“Vinde, todas as nações, vinde, homens de todas as raças, línguas e idades, de todas as condições: com alegria celebremos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se os gregos destacavam com todo o tipo de honras - com os dons que cada um podia oferecer - o aniversário das divindades, impostos aos espíritos por mitos mentirosos que obscureciam a verdade, e também o dos reis, mesmo se eles fossem o flagelo de toda a existência, que deveríamos nós fazer para honrar o aniversário da Mãe de Deus, por quem toda a raça mortal foi transformada, por quem o castigo de Eva, nossa primeira mãe, foi mudada em alegria? Com efeito, uma ouviu a sentença divina: “Darás à luz no meio de penas” (Gn 3, 16); a outra ouviu, por seu turno: “Alegra-te, oh Cheia de Graça” (Lc 1, 28). À primeira disse-se: “Inclinar-te-ás para o teu marido” (Gn 3, 16), mas à segunda: “O Senhor está contigo” (Lc 1, 28). Que homenagem ofereceremos então nós à Mãe do Verbo, senão outra palavra? Que a criação inteira se alegre e festeje, e cante a natividade de uma santa mulher, porque ela gerou para o mundo um tesouro imperecível de bondade, e porque por ela o Criador mudou toda a natureza num estado melhor, pela mediação da humanidade. Porque se o homem, que ocupa o meio entre o espírito e a matéria, é o laço de toda a criação, visível e invisível, o Verbo criador de Deus, ao se unir à natureza humana, uniu-se através dela a toda a criação. Festejemos assim o desaparecimento da humana esterilidade, pois cessou para nós a enfermidade que nos impedia a posse dos bens. Mas porque nasceu a Virgem Maria de uma mulher estéril? Àquele que é o único verdadeiramente novo debaixo do sol, como coroamento das Suas maravilhas, deviam ser preparados os caminhos por maravilhas, para que lentamente as realidades mais baixas se elevassem de modo a serem as mais altas. E eis uma outra razão, mais alta e mais divina: a natureza cedeu o lugar à graça, pois ao vê-la tremeu, e não quis mais ter o primeiro lugar. Como a Virgem Mãe de Deus devia nascer de Ana, a natureza não ousou prevenir o fruto da graça, mas permaneceu ela própria sem fruto, até que a graça trouxesse o seu. Era necessário que fosse primogênita aquela que deveria gerar “o Primogênito de toda a criação, no Qual tudo subsiste” (Cl 1, 15). Oh Joaquim e Ana, casal venturoso! Toda a criação está em dívida para convosco, porque através de vós ela pôde oferecer ao Criador o dom - entre todos o mais excelso - de uma Mãe venerável, a única digna d'Aquele que a criou. Ditosos os rins de Joaquim, de onde saiu uma semente totalmente imaculada, e admirável o seio de Ana,  graças ao qual se desenvolveu lentamente, onde se formou e de onde nasceu uma tão santa criança! Oh entranhas que levastes um céu vivo, mais vasto que a imensidade dos céus! Oh moinho onde foi amassado o Pão vivificante, segundo as próprias palavras de Cristo: “Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, ficará só” (Jo 12, 24). Oh seio que aleitaste aquela que alimentou o Aquele que alimenta o mundo! Maravilha das maravilhas, paradoxo dos paradoxos! Sim, a inexprimível Encarnação de Deus, cheia de condescendência, devia ser precedida por estas maravilhas. [...] Hoje as portas da esterilidade abrem-se, e uma porta virginal e divina avança: a partir dela, por ela, o Deus que está acima de todos os seres deve “vir ao mundo” “corporalmente” (Cl 2, 9), segundo a expressão de Paulo, ouvinte dos segredos inefáveis. Hoje, da raiz de Jessé saiu uma vergôntea, de onde surgirá para o mundo uma flor substancialmente unida à divindade. Hoje, a partir da natureza terrena, um céu foi formado sobre a terra por Aquele que outrora o tornara sólido separando-o das águas, elevando o firmamento nas alturas. É um céu verdadeiramente mais divino e mais elevado que o primeiro, porque Aquele que no primeiro céu criara o sol Se elevou a Si próprio neste novo como um sol de justiça.(...) Hoje, o “Filho do Carpinteiro” (Mt 13, 25), O Verbo universalmente ativo d'Aquele que tudo construiu por Ele, o Braço Poderoso do Deus Altíssimo, querendo afiar pelo Espírito - que é como o seu dedo - a lâmina embotada da natureza, construiu para Si uma escada viva, cuja base está firmada na terra, com o cimo a tocar os céus: Deus repousa sobre ela. É dela a figura que Jacó contemplou, e por ela Deus desceu da Sua imobilidade, ou melhor, inclinou-Se com condescendência, tornando-Se assim “visível sobre a terra, e conversando com os homens”. [...] A escada espiritual, a Virgem, está fixa na terra, pois na terra ela tem a sua origem, mas a sua cabeça eleva-se até ao céu. A cabeça de toda a mulher é o homem, mas para ela, que não conheceu homem, Deus Pai ocupa o lugar de sua cabeça: pelo Espírito Santo, Ele concluiu uma aliança e, como semente divina e espiritual, enviou o Seu Filho e Verbo, força onipotente. Em virtude do beneplácito do Pai, não é por uma união natural, mas é superando as leis da natureza, pelo Espírito Santo e pela Virgem Maria, que o Verbo Se fez carne e habitou entre nós. É por aqui que se vê que a união de Deus com os homens se cumpre pelo Espírito Santo.  Hoje é edificada a Porta do Oriente, que dará a Cristo “entrada e saída” (Jo 10, 9), e “essa porta estará fechada” (Jo 10, 9). Nela está Cristo, “a Porta das Ovelhas” (Jo 10,7), e “o Seu nome é Oriente” (cf. Is 41, 25): por Ele obtivemos acesso ao Pai das Luzes. Hoje sopraram as brisas anunciadoras duma alegria universal. Alegre-se o céu nas alturas, que debaixo dele “exulte a terra”, que os mares do mundo bramam, porque no mundo acaba de ser concebida uma concha, a qual pelo clarão celeste da divindade conceberá em seu seio, gerando a pérola inestimável, Cristo. Dela sairá o “Rei da Glória” (Sl 23), revestido da púrpura de sua carne, para “visitar os cativos, e proclamar a libertação” (Is 61, 1; Lc 4, 19). Que a natureza transborde de alegria: a cordeirinha vem ao mundo, graças à qual o Pastor revestirá a ovelha, tirando-lhe as túnicas da antiga mortalidade. Que a virgindade forme os seus coros de dança, pois nasceu a Virgem que, segundo Isaías, “conceberá e dará à luz um filho, que será chamado Emanuel, o que quer dizer Deus conosco” (Is 7, 14). [...] “Deus conosco”! Não é nem só um homem, nem um mensageiro, mas o Senhor em Pessoa que virá e nos salvará” (São João Damasceno, Homilia da Natividade de Nossa Senhora).


Abençoai-nos, ó Menina venerada pela Trindade e pela humanidade, para que cheguemos a gozar eternamente o que vós já vivenciais!

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