Caríssimos irmãos,
Nesta data de hoje, a Igreja de Aracaju se rejubila com o aniversário da Dedicação da nossa Igreja Catedral. Assim sendo, nas liturgias realizadas no Templo dedicado, bem como no território da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição - Catedral Metropolitana, este dia é marcado pela celebração com o caráter de Solenidade. Neste ano, como se trata de um sábado, o Ofício Divino a ser rezado é extraído do Comum da Dedicação, com I Vésperas, no entanto, sem II Vésperas que devem ser as do domingo (nesta ocasião, as I Vésperas da Solenidade de Cristo Rei do Universo). Nas Missas, do Comum da Dedicação, récita (ou cântico) do Glória, Credo, e o prefácio a ser utilizado é o da Dedicação. As leituras (três), à escolha no Lecionário (vol. III, pp. 235-249), obviamente seguindo as rubricas.
No restante da Arquidiocese, hoje é uma Festa. Por isso, Ofício festivo do Comum da Dedicação, logicamente sem I e II Vésperas (as I serão as Vésperas da sexta - já que é uma Festa, enquanto que as II Vésperas serão as I Vésperas do domingo, nesta feita, da Solenidade de Cristo Rei); na Hora Média, antífonas e salmos do dia. Missa do Comum da Dedicação, incluso Glória e o Prefácio da Dedicação; as duas Leituras ficam à critério, conforme o Lecionário (vol. III, pp. 235-249), obviamente seguindo as rubricas.
Com este sentido, com o intuito de mergulharmos na espiritualidade e na história dispensada pela nossa Catedral (principalmente nestes últimos tempos em que há um bombardeamento de notícias acerca da sua estrutura física), publicamos um texto inédito de um amigo e leitor nosso, Dhiego Guimarães, estudante do curso de História, na Universidade Tiradentes, a quem, desde já, agradecemos a diligência neste trabalho.
Vale a pena ler!
Seminarista Everson Fontes Fonseca
CATEDRAL METROPOLITANA DE ARACAJU:
PATRIMÔNIO DOS SERGIPANOS EM MAIS DE UM SÉCULO DE HISTÓRIA
“Imaculada, Maria de
Deus, Coração pobre acolhendo Jesus. Imaculada, Maria do Povo, Mãe dos aflitos
que estão junto à Cruz...” Há muito, eis o hino entoado na Catedral
Metropolitana de Aracaju, monumento tangível, que não somente retrata as
manifestações de fé do povo católico da capital sergipana, como também evoca a
memória histórica local, criando uma identidade cultural precisa e despertando
para a consciência que preservar, conservar, manter, é salvaguardar nossa
história de vida e de fé para as futuras gerações. Em mais de um século de história, muitas
foram as significações em que a Igreja local de Aracaju teve a oferecer para a
sociedade sergipana, visto que Sergipe nasceu e cresceu com a presença da
mesma.
Em pleno século XXI, em
que as informações nos chegam rapidamente e ao mesmo tempo em que se vão,
evocar o passado, realidade de ausências, nada mais é que tornar presente a
memória contida e perpetuá-la para as
futuras gerações; é evidenciar a realidade da nossa centenária catedral, como
patrimônio ofertado à toda população. O termo Patrimônio, na Antiguidade,
precisamente na Grécia Antiga, denotava herança deixada pelo pai. Hoje em dia,
possui carga semântica similar que é empregado aos bens culturais. A nossa
Catedral Metropolitana, em especial, como templo visível da Igreja de Cristo
espalhada pelo mundo, é um legado, uma dádiva de Deus deixada para os católicos
e para a população sergipana.
A história da Catedral de Aracaju se confunde
com a realidade das demais construções religiosas inseridas no surgimento das
cidades. O insuspeito escritor Viriato Correia diz que: “não há, talvez, país
que tenha, como o Brasil, a sua vida intimamente ligada às batinas e aos
hábitos. A formação da nossa nacionalidade, começa à sombra das virtudes
cristãs dos padres, primeiros pedreiros do monumento da vida nacional”. De fato,
assim o é. Há um entrelaçamento entre a
história da sociedade e a história da Igreja, que não se pode separar uma da
outra sem mutilação. Quando não foram as primeiras casas que se levantaram ao
lado das capelinhas, foram estas que se levantaram ao lado daquelas. Esta é a
história de quase todas as cidades brasileiras, muitas das quais cresceram e se
desenvolveram como São Paulo, que cada dia se levanta por entre esplendores das
suas vitórias e da grandeza do seu progresso, numa demonstração inequívoca do
maior trinfo cultural e econômico do Brasil, senão da América do Sul. Do mesmo
modo, não poderia ter sido diferente com a próspera terra dos cajueiros.
Quando foi criada a
cidade de Aracaju, a nova Capital de Sergipe Del’ Rei, já existia nas praias,
entre os mangues, lagoas e córregos da Capital, a presença da Igreja. Até
porque está já vinha atuando na antiga capital, São Cristovão e em outras
cidades oriundas das missões jesuíticas. Segundo o Monsenhor Carvalho: “A
presença participativa da Igreja Católica na história da comunidade sergipana
e, em particular, da cidade de Aracaju, fundada por Inácio Joaquim Barbosa
para, desde o dia 17 de março de 1855, ser a Capital do Estado de Sergipe, foi
e é de fundamental importância”. Com a proposta do levantamento dos primeiros
prédios públicos, para instalação da nova Capital do nosso Estado, no ano de
1855, foi também marcado o local para sua primeira Igreja, conhecida hoje, como
Igreja de São Salvador, localizada no calçadão da Rua Laranjeiras com João
Pessoa. Com a oficialização, em 17 de março de 1855, da fundação da cidade com
sua consequente e imediata elevação à categoria de Capital de Sergipe,
intensificou-se a participação da Igreja Católica na vida da recém-criada
capital. Esta participação desenvolveu-se e ainda se desenvolve em duas
dimensões: uma estreitamente espiritual e outra, mais perceptível, de caráter
político-cultural.
Para júbilo dos
cristãos católicos, no dia 22 de maio de 1856 foi festivamente batida a
primeira pedra da futura Matriz da nova capital sergipana, cuja obra esteve a
cargo do engenheiro Coronel Francisco Pereira da Silva. Relatos revelam que, em
virtude da urgência no levantamento da referida igreja, foi alterada a sua
primeira planta, admitindo-se um plano mais leve e rápido para atender às
necessidades religiosas e urgentes da população da nova Capital, “até que as
circunstâncias permitissem edificar-se uma matriz correspondente à importância
que breve teria a capital da Província”.
A Catedral
Metropolitana de Aracaju, localizada no Parque Teófilo Dantas, no centro da
cidade, é um dos mais significativos monumentos da arquitetura religiosa de
Aracaju. A Igreja Matriz Nossa Senhora
da Conceição foi construída em 1862, mas só foi inaugurada em 22 de dezembro de
1875. Sendo que teve sua obra interrompida por algum tempo, devido a morte do
fundador da nova capital, Ignácio Joaquim Barbosa, e pela epidemia de cólera
que dizimou centenas de cidadãos na mesma época. Tornou-se Catedral em 03 de
janeiro de 1910, quando foi criada a Diocese de Aracaju. Esmiuçando a palavra “catedral”,
derivada do latim cátedra, encontramos
como significado a sede do bispo, cadeira de onde é assistido o culto religioso
e de onde é governada a diocese. Para facilitar as necessidades pastorais e
melhor exercer o aprimoramento do trabalho de evangelização católica e de formação
humana que já vinha sendo feito em Sergipe, o Papa Pio X, através da bula Divina Disponente Clementia, de 03 de
janeiro de 1910, desmembrou da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, a Igreja
que estava em Sergipe Del’ Rei, transformando-a em Diocese que abrangia todo o
Estado de Sergipe. Sua instalação se deu no dia 04 de dezembro de 1911, com a
posse solene do seu 1º bispo, Dom José Thomaz Gomes da Silva. De fato, com a
instalação da Diocese e posse do 1º bispo de Aracaju, a presença da Igreja na história
de Aracaju e de Sergipe tornou-se cada vez mais efetiva. Sendo que, é
importante ressaltar que a Igreja Católica local teve grande contribuição para
o desenvolvimento da capital sergipana nos aspectos culturais, sociais,
intelectuais etc. Cinquenta anos mais tarde, a mesma passará à categoria de
Arquidiocese, com a criação da Província Eclesiástica de Aracaju, com cuja sintonia
estarão as recém-criadas Dioceses de Estância e Propriá. Com esta promoção, à
Catedral Diocesana de Nossa Senhora da Conceição é conferida a titulação
Catedral Metropolitana de Aracaju, já que esta sede é a metrópole da Província
Eclesiástica.
A sede católica dos
fiéis de Aracaju, o velho templo, a antiga Matriz da Imaculada Conceição,
elevada à condição de Catedral, com a criação e instalação da Diocese de
Aracaju, não estava condizente com o progresso da cidade, tampouco com o título
outorgado, com isto, a comunidade católica desejava vê-la adaptada às novas
condições da Capital. Seria necessário adaptá-la aos novos tempos. Era
necessário reformá-la em um imponente templo, aprimorando sua beleza
arquitetônica e artística remetida em seu estilo gótico. A História encontrou
em documentações precisas que a edificação, que é símbolo histórico da capital
e de bela arquitetura, é falha, como foi atestada segundo o relatório do Dr.
José Bento apresentado em setembro de 1872, à assembléia provincial, onde
encontra-se a seguinte referência: “A matriz da capital nunca será um templo
perfeito, a sua planta é de mau gosto, contém defeitos de arquitetura que não
se podem mais corrigir, faltando-lhe sobretudo as acomodações exigidas pelas
necessidades de culto, são defeitos tão salientes que não escapam ao olho menos observador”. A
necessidade de melhor embelezá-la fez-se mister tanto pelo seu significado,
como para constituir-se o centro das atenções de quantos visitam a bela e
acolhedora capital, aderindo a uma fascinante impressão do povo aracajuano. E eis
que, dentre os “Padres de Dom José”, como assim eram conhecidos, surge o culto
e corajoso Mons. Carlos Camélio Costa, membro do Cabido Diocesano, da Academia
Sergipana de Letras e um dos seus fundadores. Tendo sido nomeado Pároco da
Catedral, recebe a permissão, a bênção e a confiança de seu bispo, Dom José
Thomaz, para iniciar as obras de restauração, ou melhor, quase reconstrução da
igreja. Foram 10 anos interruptos de trabalhos, de sacrifícios e de
incompreensões.
Para melhor vislumbrar os
que freqüentaram ou freqüentam o templo, como também quem se dedica a
apreciação de belas artes e encontra no belo a presença de Deus, a Catedral
Metropolitana foi enfeitada e embelezada, com uma decoração que está
estreitamente ligada aos elementos marcantes do neoclassicismo (que é a arte
que busca inspiração no equilíbrio e na simplicidade, bases da criação na
Antiguidade) e do gótico (que expressa-se, sobretudo, na arquitetura, à qual
determina as demais artes; sendo que a pintura e a escultura são apenas
complementos decorativos).Em seus arcos ogivais bem delineados e com textura
marcante, que carrega em si a simbologia que aponta para o alto, e que ao mesmo
tempo é canal de ligação entre o céu e a terra, é expressado a certeza de uma
vida espiritual que não cessa de fazer experiência com o Transcendente.
Sua cúpula é ornada de
belíssimas pinturas do século passado, pois o imponente edifício com seu estilo
neo-gótico, como conhecemos hoje, nem sempre foi deste modo. Foi no início do
século XX que artistas italianos vieram da Bahia para reformá-la, dando-lhe o
aspecto que atualmente é apresentada, dentre eles estava Orestes Gatti (artista
italiano, nascido em 1840, chegou a Aracaju como integrante da “missão
italiana” em 1918, no governo de Pereira Lobo, para a programação das
comemorações do Centenário da Independência de Sergipe em 1920. Foi responsável
pela pintura do interior da Catedral Metropolitana de Aracaju e da Catedral de
Estância). Internamente, precisamente na nave central, para fascínio dos
frequentadores da mesma, a sua pintura é em estilo “trompe l’oeil” que dá um efeito de relevo ao jogar com perspectivas
luz e sombra. Acima do altar principal, havia uma pintura do sergipano Horácio
Hora, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Aracaju, e a quem a
igreja está consagrada, ainda a mesma pintura já esteve no teto e hoje, se encontra
exposta na sacristia do templo. No seu interior, precisamente no coro, há o
órgão de tubos, que hoje está desativado, o seu som era algo indescritível. A
cúpula das torres é revestida de pedrinhas e conchas do mar, para remeter à
regionalidade local, visto que Aracaju é cidade litorânea. Em São Paulo, há uma
cidade cuja igreja reproduz a nossa catedral, inclusive com as conchas na
torre. Ainda a capela lateral, conhecida como capela do Santíssimo, possui um
lindo trabalho em ferro na grade. Sem mencionar os sinos que com o passar do
tempo foram substituídos por som eletrônico, causando entre as pessoas que
convivem e trabalham nas mediações do templo fundamental importância para a
demarcação das horas.
Atualmente, é considerada um dos mais belos pontos
turísticos de Aracaju. Os turistas católicos e até não católicos, que visitam
Aracaju, têm como referencial da fé da gente aracajuana a adequada localização
e a imponência da bela Igreja Catedral. Foi tombada pelo decreto de número
6819, de 28 de janeiro de 1985 pelo Patrimônio Histórico Estadual. Na época, a
seleção e necessidade de proteção do bem patrimonial do prédio da Catedral
Metropolitana de Aracaju se deram mediante a importância da ação da Igreja
Católica para o desenvolvimento direto e eficaz da capital sergipana no que diz
respeito ao campo, não só religioso, como também das demais contribuições da
mesma. Vale a pena destacar em síntese, algumas das contribuições da Igreja
para a História de Aracaju e, por que não dizer, do povo sergipano. São elas:
fundação da Academia Sergipana de Letras; os beneméritos padres salesianos
fundaram o Colégio Salesiano Nª. Srª. Auxiliadora; foi construído e instalado
na Praça Tobias Barreto em Aracaju, o Colégio Patrocínio de São José;
instalação do Seminário, o grande precursor do ensino superior em Sergipe;
criação do Colégio Arquidiocesano e do Instituto Dom Fernando Gomes; fundação
do SAME (asilo dos idosos carentes); Instalação da faculdade de Filosofia e
Serviço Social, e posteriormente, foi decisiva para a criação da Universidade
Federal de Sergipe; fundação do Hospital São José; construção da Casa da
Doméstica, Creche Dom Távora e Rádio
Cultura de Sergipe; criação do Museu de Arte Sacra de Sergipe, entre outros mais
variados contributos da Igreja Católica para a sociedade sergipana.
A Catedral de Aracaju é local de grandes
manifestações artísticas e culturais, além de conservar as obras do renomado artista
sergipano Horácio Hora, também serviu de espaço para as apresentações do coral
da Sofise e, até hoje, outros grupos musicais lá apresentam seus concertos, a
exemplo da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Atualmente, propõe-se a execução de
uma restauração para a mesma, a fim de que o imponente prédio histórico, artístico
e religioso, seja preservado para as futuras gerações e continue servindo como
atrativo cultural e turístico na capital sergipana.
Hoje, passados todos estes anos, somos testemunhas
do progresso da Igreja Católica em Sergipe, ao tempo em que somos herdeiros de
uma maravilhosa construção arquitetônica, que é o prédio da Catedral. É preciso
salvaguardar não somente o prédio de “pedra e cal” revestido de bela
arquitetura e pintura, mas pela sua importância que teve e ainda tem para a
história dos aracajuanos. O ano de 2011, Ano Jubilar da Arquidiocese de Aracaju,
nos remete a gratidão às inúmeras pessoas muito especiais que registraram sua
presença na edificação do templo não só material, como também espiritual: bispos,
padres, religiosas e leigos que, no anonimato ou não, foram protagonistas desta
bela história. Interessante é saber que fomos atores e expectadores de tão
preciosa recordação. Em todos estes anos, quantas lutas e labutas, lágrimas e
risos... Mais de um século em solo sergipano, seja com a alegria por cada
nascimento, batizado, chegada de alguém e também de saudade pela partida dos
que se foram, eis nossas preces e louvações. Desde o projeto arquitetônico,
construção e reforma, dedicação do templo e altar, tombamento, seja com o
primeiro ou o atual sacerdote, a presença de Deus e a proteção da Imaculada
sempre se fizeram presentes. Eis-nos diante de uma liturgia, de uma ação de
graças e de uma bela história, e o melhor desta “patrimonialidade” em festa é
que ela é nossa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário