sábado, 19 de novembro de 2011

XXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM - SOLENIDADE DE CRISTO REI DO UNIVERSO


(Ano A – 20 de novembro de 2011)



I Leitura: Ez 34, 11-12. 15-17
Salmo Responsorial: Sl 22 (23), 1-2a. 2b-3. 5-6 (R/. 1)
II Leitura 1Cor 15, 20-26.28
Evangelho: Mt 25, 31-46 (O último julgamento)



Queridos irmãos,



Com este domingo que, desde 1925, é conhecido como Solenidade de Cristo Rei do Universo, estamos encerrando um terço do ciclo litúrgico trienal, o Ano A.  Com a solenidade de hoje, a Igreja quer ressaltar a soberana autoridade de Cristo sobre a humanidade e, com o contexto mais hodierno, sobre as instituições diante dos progressos do laicismo na sociedade. Prova disso, rezamos ao Pai na Oração de Coleta: “Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, Rei do Universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente”. A Igreja entende que muitas das desordens provocadas pelo laicismo ateu são conseqüentes das agitações provocadas pela escravidão do pecado. O pecado afasta o homem de Deus, fazendo com que a criatura humana olvide dos valores evangélicos, bases fundamentais da cultura ocidental.


O Apocalipse, por sua vez, nos apresenta o Cristo como “o Alfa e o Ômega”. Hoje é vislumbramos oportunamente este dizer da visão de São João. O próprio Jesus, Verbo eterno de Deus, por meio de     quem todas as coisas foram feitas e fim para o qual tudo ruma, é o Senhor de toda história. Ele possui os tempos nas mãos (chronos e kairós); é o centro da história e da humanidade. A volta do Senhor Jesus é uma promessa bastante citada na Sagrada Escritura, Ele que diz à sua Igreja, alentando-a: “Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras” (Ap 22,12).


A liturgia de hoje, com seu teor escatológico, não pretende atemorizar o homem, antes disso, quer alargar em nosso coração a perspectiva do primado de Cristo, Ele, Senhor dos tempos e da eternidade. Neste domingo, a Mãe Católica, antes de apresentar o Senhor como Juiz, apresenta-o como Rei Supremo e Universal. O julgamento do Senhor se embute na sua realeza.



O Papa Bento XVI, na Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, no ano de 2008, afirma: “A realeza de Cristo é a revelação e atuação da realeza de Deus Pai, o qual governa todas as coisas com amor e justiça. O Pai confiou ao Filho a missão de dar aos homens a vida eterna até ao sacrifício supremo, e ao mesmo tempo conferiu-lhe o poder de os julgar, a partir do momento que se fez Filho do Homem, em tudo semelhante a nós” (Papa Bento XVI. Ângelus, 23 de novembro de 2008).


Neste sentido, a Liturgia da Palavra de hoje nos traz Jesus revelando a sua Segunda Vinda (Parusia). Coadunando com a Primeira Leitura, o Evangelho nos apresenta o Senhor como rei-pastor. Percebamos, caros amigos, que Jesus não prima por uma imagem de um rei cujo resplendor ensoberbece um poder opressivo, mas na sua magnificência - “Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono glorioso”(v. 31), manifesta delicadeza. Sim, delicadeza! Vejamos que ele não nos vai julgar a seu bel-prazer, de qualquer forma, sendo arbitrário ao que fizemos, mas segundo as nossas práticas nesta terra. Assim, se não nos preocupamos com os que sofrem, com os esquecidos e marginalizados, estamos relegando o próprio Jesus, Rei glorioso e Justo Juiz, ao escanteio. Onde está a maior manifestação da glória de Jesus na terra senão nos famintos, sedentos, estrangeiros e sem-teto, nus, doentes e encarcerados, não apenas em um sentido estritamente literal, mas tantos que são desprovidos de dignidade de diversas ordens. Jesus se traveste neles. Assim, desde a encarnação, “o Senhor escolhe o que é fraco para confundir os fortes” (1Cor 1, 27). Grande prova disto é o seu despojamento da glória fazendo-se aos homens semelhante: “mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens”. (Fl 2,7). O Senhor nos vem cotidianamente no irmão!


Se o Senhor, Rei e Juiz se compadece de nós, qual pastor preocupado com o seu redil, principalmente com aquela ovelha dispersa, extraviada, alquebrada, ferida (cf. Ez 34, 15), quem somos nós para não possuirmos os mesmos sentimentos de compaixão do próprio Deus? Interessante, o Pastor Divino se interessa por todo o seu aprisco, indistintamente, porém, a quem mais precisa de atenção e cuidados, o zelo torna-se maior. Essa é a justiça de Deus a ser imitada.


A Igreja coloca em nossos lábios, por ocasião desta Solenidade de hoje, um belíssimo e antiquíssimo hino escatológico, datado do século XII, o Dies Irae:
Dies iræ! dies illa
Solvet sæclum in favilla
Teste David cum Sibylla!

Quantus tremor est futurus,
quando judex est venturus,
cuncta stricte discussurus!

Tuba mirum spargens sonum
per sepulchra regionum,
coget omnes ante thronum.

Mors stupebit et natura,
cum resurget creatura,
judicanti responsura.

Liber scriptus proferetur,
in quo totum continetur,
unde mundus judicetur.

Judex ergo cum sedebit,
quidquid latet apparebit:
nil inultum remanebit.

Quid sum miser tunc dicturus?
Quem patronum rogaturus,
cum vix justus sit securus?

Rex tremendæ majestatis,
qui salvandos salvas gratis,
salva me, fons pietatis.

Recordare, Jesu pie,
quod sum causa tuæ viæ:
ne me perdas illa die.

Quærens me, sedisti lassus:
redemisti Crucem passus:
tantus labor non sit cassus.

Juste judex ultionis,
donum fac remissionis
ante diem rationis.

Ingemisco, tamquam reus:
culpa rubet vultus meus:
supplicanti parce, Deus.

Qui Mariam absolvisti,
et latronem exaudisti,
mihi quoque spem dedisti.

Preces meæ non sunt dignæ:
sed tu bonus fac benigne,
ne perenni cremer igne.

Inter oves locum præsta,
et ab hædis me sequestra,
statuens in parte dextra.

Confutatis maledictis,
flammis acribus addictis:
voca me cum benedictis.

Oro supplex et acclinis,
cor contritum quasi cinis:
gere curam mei finis.
Dia da Ira, aquele dia
Em que os séculos se desfarão em cinzas,
Testemunham Davi e Sibila!

Quanto terror é futuro,
quando o Juiz vier,
para julgar a todos irrestritamente!

A trompa esparge o poderoso som
pela região dos sepulcros,
convocando todos ante o Trono.

A morte e a natureza se aterrorizam
ao ressurgir a criatura
para responder ao Juiz.

o Livro escrito aparecerá
em que tudo há
em que o mundo será julgado.

Quando o Juiz se assentar
o oculto se revelará,
nada haverá sem castigo!

Que direi eu, pobre miserável?
A que Paráclito rogarei,
quando só os justos estão seguros ?

Rei, tremenda Majestade,
que ao salvar, salva pela Graça,
salva-me, fonte Piedosa.

Recordai-vos, piedoso Jesus,
de que sou a causa de Vossa Via;
não me percais nesse dia.

Resgatando-me, sentistes lassidão,
me redimistes sofrendo a Cruz;
Que tanto trabalho não tenha sido em vão.

Juiz Justo da Vingança Divina,
Dai-me a remissão dos meus pecados,
antes do dia Final.

Clamo, como condenado,
a culpa enrubesce meu semblante
suplico a Vós, ó Deus

Ao que perdoou a Madalena,
e ouviu à súplica do ladrão,
Dai-me também esperança.

Minha oração é indigna,
mas, pela Vossa Bondade atuais,
Não me deixeis perecer cremado no Fogo Eterno.

Colocai-me com as ovelhas
Separai-me dos cabritos,
Ponde-me à Vossa direita;

Condenai os malditos,
lançai-os nas flamas famintas,
Chamai-me aos benditos.

Oro-Vos, rogo-Vos de joelhos,
com o coração contrito em cinzas,
cuidai do meu fim.
Lacrimosa dies illa,
qua resurget ex favilla
judicandus homo reus.

Huic ergo parce, Deus:
Pie Jesu Domine,
dona eis requiem. Amen.
Lacrimoso aquele dia
no qual, das cinzas, ressurgirá,
para ser julgado, o homem réu.

Perdoai-os, Senhor Deus
Piedoso Senhor Jesus,
Dai-lhes descanso eterno, Amém!



Este riquíssimo poema, antes de abater o cristão, quer fazer com que este reflita sobre aquele dia pleno em que vivos e falecidos estarão diante do Senhor, fazendo jus ao que piamente professamos: “Donde virá para julgar os vivos e os mortos, e o Seu Reino não terá fim”.



O nosso povo, em sua simplicidade, afirma: “Quem não deve, não teme”. Por que nos aterroriza o dia do juízo? Se nos sentimos apavorados é sinônimo de que a nossa caminhada não está sendo trilhada conforme o querido por Deus. Se isso realmente acontece, há uma incongruência entre o que rezamos e a nossa prática de fé, já que, diariamente, pedimos na Oração do Senhor: “Venha a nós o Vosso Reino!”.


O dia do juízo deve abastecer de esperança a todos. Lembremo-nos o que a Carta de São Paulo aos Romanos alude: “Pois sabemos que toda a criação geme e sofre como que dores de parto até o presente dia” (Rm 8,22). Logo, todos ansiamos por este dia; a Igreja expecta esta bem-aventurada data das calendas divinas, por isso, cotidianamente ela implora: “Vem, Senhor Jesus!”  (Ap 22, 20), ou ainda, “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição: Vinde, Senhor Jesus!”.


Na Segunda Leitura, São Paulo, mais uma vez, afirma a fé-fundamento da Igreja: Cristo ressuscitou. Para isso, ele utiliza uma palavra bastante atípica, ‘primícias’ para falar do Ressuscitado. Assim sendo, ele começa a perícope: “Na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15, 20). Primícias são os primeiros frutos de uma árvore a cada estação frutuosa. Dependendo das primícias, sabemos a qualidade dos outros frutos. Ora, se as primícias são boas, os frutos subseqüentes também serão da mesma qualidade; o contrário, também é válido. Pois bem, as primícias da fé cristã é a ressurreição do Senhor, por ele e como ele igualmente ressuscitaremos; assim como Adão é primícias de morte, Cristo é primícias da ressurreição. Como Cristo ressuscitado é vitorioso sobre a morte, nós também o seremos. Tudo acontece a partir dele: “Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda” (v. 23). A ressurreição de todos nós será a realização plena e perfeita da obra de Cristo; é a entrega do Reino de Cristo ao Pai, quando seremos um e nos “perderemos em Deus” (cf. v. 28).


Que Cristo Senhor, Rei do Universo, inicie o seu reinado em nossa vida. Que lhe sejamos submissos. Ele que é bendito e já reina para sempre.


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Saúdo fraternalmente aos internautas de diversos países que visitaram o nosso blog durante essa semana passada: 98 pessoas no Brasil; 4 na Rússia; 3 na França; 3 na Alemanha; 3 nos Estados Unidos; 2 na Espanha; 2 em Portugal; 1 na Coréia do Sul e 1 na Holanda.



A vocês, caros internautas, a nossa oração e agradecimento. Tenhamos a certeza de que, professando a Fé Católica, estamos muito mais próximos uns dos outros do que se fisicamente estivéssemos juntos, pois a Fé no Senhor Ressuscitado rompe as barreiras das distâncias.


Que a mártir Santa Cecília, cuja memória celebraremos em todo o orbe no próximo 22 de novembro, interceda por nós.


Peço-lhes ainda que, ao visitar o nosso blog durante esta semana, coloquem como comentário os seus nomes, a cidade e o país de onde vocês nos acompanham.


Até breve!


Seminarista Everson Fontes Fonseca

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