sábado, 23 de julho de 2011

O LOUVOR DO SENHOR


             Nas páginas do Evangelho de Mateus, encontramos, dentre tantas outras, uma passagem que revela qual é a predileção do Senhor: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11, 25).
            Estamos mal-habituados em pensar que a sabedoria está reservada aos que, humanamente falando, são tidos como doutos ou bem formados academicamente. Esquecemo-nos de que ela é proveniente de Deus, e não dos bancos escolares; de que é um dom e não uma mera conquista; e sendo dom é dada gratuitamente, não sendo atraída pela nossa auto-suficiência e arrogância. Por isso, um adjetivo que podemos conceder-lhe, com toda justeza, é o de pura, já que ela é dada aos que se abrem à Graça divina, é fruto do santo temor do Senhor: “É puro o temor do Senhor, imutável para sempre.”
            O verdadeiro sábio é o que possui no coração um sentimento de liberdade, de desapego às coisas e às vãs seguranças, tendo-as como banalidades. Sábio é quem se deixa tocar pelas palavras doces que saem da boca do Senhor, e o reconhece como Aquele que de fato é o alento em meio às tristezas, segurança nas incertezas. Os pequeninos, a quem Jesus exalta como bem-aventurados, são os que possuem um coração indiviso e, assim, o amam: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; sabedoria e disciplina, os tolos as desprezam.” (Pr 1, 7).
            Neste sentido, tantas são as pessoas simples que no cotidiano de suas vidas manifestam corajosamente a fé pura que têm de forma sincera, homens e mulheres autenticamente piedosos. Não raras também são as que, mesmo iletradas, manifestam uma experiência teologicamente profunda, fruto de uma intimidade profunda com Deus, chegando, com a sabedoria que possuem, a nos desconsertar, principalmente a nós que nos julgamos espertos na Teologia, só porque a estudamos. Agora, se faz entendível a máxima: “Credo ut intelligam” (Creio para entender). O louvor do Senhor é dirigido ao Pai por conta destas pessoas. Elas são teologicamente sensíveis a Deus; são os pobres em espírito ditos por Jesus no Sermão das Bem-Aventuranças: “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3).
            Muitos foram os santos que, numa vida toda cheia de Deus, alcançaram a sabedoria. Como não pensar no exemplo de São Benedito, o Mouro; de Santa Josefina Bakita; de São Juan Diego. Eles, na humildade daquilo que faziam, e humanamente desconhecidos como tal, sentiam o Senhor a quem lhes falava ao coração, revelando-lhes a sua intimidade, infundindo-lhes a sua sabedoria, Ele que é a fonte da Sabedoria. Também, como não ter diante dos olhos as pessoas que são tidas, aos olhos humanos, como sábias, e, com este reconhecimento, não se ensoberbeceram, mas aproveitaram para profusamente mergulharem no mistério de Deus. É inegável o modelo deixado pelos santos Agostinho, Tomás de Aquino, Teresa d’Ávila, Ambrósio, e muitos outros.
            Ser pequenino não é produto de uma inteligência brilhante, fantástica. Ser pequeninos é ser sábio. Ser sábio é ser santo. O pequeno é o predileto de Deus. É aquele que é notado pelo Pai. O que consegue traduzir em vida aquilo que acredita. Por isso, façamos o compromisso de, em tudo, preferirmos ser os menores, os humildes, tendo sempre presente que humildade não é mediocridade. Só assim a sabedoria, dom provindo do alto repousará em nós, e o Senhor nos olhará benigno, como olhou a Virgem Maria: “O Senhor olhou para a pequenez de sua serva” (Lc 1, 48). Se dessa forma perseverarmos, estaremos caminhando pressurosos para a santidade.       

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