sábado, 20 de agosto de 2011

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

(Ano A – Liturgia do Dia – 21 de agosto de 2011)





I Leitura: Ap 11, 19a, 12, 1.3-6a.10ab
Salmo Responsorial: Sl 44 (45), 10bc. 11 e 12ab e 16 (R/. 10 b)
II Leitura: 1Cor 15, 20-27
Evangelho: Lc 1, 39-56 (Cântico de Maria)


Queridos irmãos,


Hoje, a Virgem Maria foi elevada ao Céu em corpo e alma! A morte não poderia corromper o corpo Daquela que nunca foi corrompida pelo pecado. O sono da morte não poderia abater Aquela que trouxe o Sol Brilhante da Justiça, Jesus Cristo Senhor Nosso, cujos raios despertam a humanidade do torpor dos vícios e da miséria de sua condição. Hoje, a Virgem Maria rumou para a Pátria dos Eleitos, a fim de ocupar o Seu lugar honroso na Corte Celestial, junto do Seu Filho Bem-Amado; Aquela que trouxe no seio virginal O que veio do Céu é, hoje, conduzida pelos anjos ao mesmo Céu, para ser acolhida por quem antes acolhera.

Em todos os anos, quando no Hemisfério Norte do Planeta é verão, justamente no cerne desta estação, toda a Igreja celebra com fé a mais anosa de todas as festas marianas: a Solenidade da Assunção da Beatíssima Virgem Maria. Esta festividade é um convite magnânimo para, com Maria, elevarmo-nos para o céu, para “onde se respira o ar puro da vida sobrenatural e se contempla a beleza mais autêntica, a da santidade” (Bento XVI, Homilia de 15 de agosto de 2008). Se a cada momento somos invitados a elevar os nossos corações, tendo como expectativa as realidades celestes, hoje, ao contemplarmos a Virgem Maria sendo conduzida às alturas Celestes, nossa esperança multiplica-se infindamente, pois vemos cumprir-se o que o Apóstolo dos Gentios nos alenta na Segunda Leitura desta celebração: “Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda” (1Cor 15, 22-23). Portanto, nossa esperança multiplica-se porque tendo a absoluta certeza que Jesus, as primícias da nossa ressurreição e imortalidade, nos abriu o véu da sua glória, a nós que acreditamos (“por ocasião da sua vinda”), ao mesmo tempo contemplamos muitos que, tal como nós, creram no Cristo e, por isso, já participam dos júbilos do Prêmio eterno. Desta forma, ao celebrarmos a glorificação de Maria, festejamos a mesma glória de Cristo que comungaremos junto com Ela. A Virgem nos antecede nos céus! A glória que ela possui, graças aos méritos de seu Filho, a teremos também, pelo mesmo merecimento.
Na Primeira Leitura, escutamos a narração da visão apocalíptica de São João acerca da abertura do “Templo de Deus que está no céu”, e, a partir do Templo, aparece a arca da Aliança. Ora, qual a importância da arca na religião judaica e, consequentemente, no Antigo Testamento? Este objeto era uma espécie de relicário para os blocos pétreos em que estavam grafadas o Decálogo e que foram entregues a Moisés. Estas tábuas foram, segundo os livros do Êxodo e do Deuteronômio, escritas pelo “dedo de Deus” (cf. Ex 31, 18; Dt 9, 10). Elas se tornaram, dentro da tradição do judaísmo, símbolo da Aliança entre Deus e o povo de Israel.

Na perícope do Apocalipse apresentada hoje, logo após o anúncio da aparição da Arca, vemos a narração do Apóstolo João: “Então apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1-2). E continua: “Então apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão, cor de fogo” (v. 3). Percebamos as nuances do texto: na segunda parte, vemos João que diz que apareceu um sinal; enquanto que, na primeira, ele manifesta aos seus ouvintes que o sinal era “grande”. Se o Templo de Deus se abriu, logo, entendemos automaticamente que ele estava lacrado; abrindo-se o Templo surge a arca da Aliança; e, após este relato, o estupendo sinal. Podemos traduzir esta visão do Apóstolo como: O Céu, Morada de Deus se abre, e aparece a Arca da Aliança. Esta é sinônima da presença de Deus, não em si mesma, mas porque porta a escrita de Deus. O Céu se abre e Deus vem habitar em Maria, a Arca, a qual, em si, não possui grande relevância, mas sua grandeza reside no fato de portar em seu bojo o próprio Deus. É por este motivo que, na Litania de Nossa Senhora, carinhosamente, a titulamos de “Foederis Arca” – Arca da Aliança. A continuidade do texto, ao apresentar o grande sinal, faz com que tenhamos igual certeza.

Qual é o sinal grandioso? Em um primário relance, o leitor tem a impressão de que, em si mesma, a mulher é o grande sinal. Não! A Mulher apocalíptica em si, não possui esta magnificência, mas é o que ela porta que a faz exacerbadamente nobre, muito embora devamos ter em mente as especialidades que ela possui já que nos planos de Deus ela foi eternamente agraciada, pois, como explicita o Catecismo da Igreja Católica: “Convinha que fosse ‘cheia de graça’ a mãe daquele em quem ‘habita corporalmente a Plenitude da Divindade’ (Cl 2, 9). Por pura graça, ela foi concebida sem pecado como a mais humilde das criaturas, a mais capaz de acolher o Dom inefável do Todo-Poderoso” (CIC 722). Tal como a Arca do Antigo Testamento não poderia ter sido feita de um material qualquer (cf. Ex 25, 10-22), a Arca da Sublime, Nova e Eterna Aliança não poderia ser de qualquer sorte. A sua elegância e imponência (vestida de sol, lua debaixo dos pés, coroa com doze estrelas) não é em vista de seus méritos, mas nela resplandece a dignidade de um invólucro que guarda uma preciosidade. Se entendermos a Mulher do Apocalipse como a Virgem Maria, “Typus da Igreja” (como afirma Santo Agostinho), teremos diante dos olhos a majestade da virgindade plena da Imaculada Senhora. Tendo-a como esta imagem apocalíptica, devemos ter consciência de que os ornatos vistos por João são figuras de sua inteira virgindade e pureza. Maria foi a digníssima Arca da Aliança irrevogável, Nova e Eterna, Jesus Cristo. Este Verdadeiro Deus e Verdadeiro homem é o Verbo, a Palavra de Deus; é Deus!

Os ornatos da Mulher muito dizem acerca da sua vivência. Ao estar vestida de sol, a mulher está envolvida por uma luz que a abraça inteiramente. O que seria esta luz esplendorosa senão o próprio Deus que abrange Maria com a sua graça, tornando-a “Plena de Graça” (Lc 1, 28), este mesmo Senhor que a cobre com a sua sombra (cf. Lc 1, 35), e, neste paradoxo de sombra e luz faz germinar em terra “fértil e virginal” Aquele que é a Luz do Mundo, Sombra para os que estão exauridos pelo ardor das luzes ofuscantes e alucinantes do mundo e do pecado (cf. Mt 11, 28)? Fértil porque deu o melhor dos frutos nunca antes visto; virginal porque nunca germinou nada além de seu adorável fruto, Jesus (cf. Lc 1, 42), tal como São Lucas nos apresenta. O que designa a lua pisoteada pela mulher senão o poder do maligno sendo calcado pela Virgem (cf. Gn 3, 15)? A lua, na religiosidade do paganismo animista, era tida como divindade. Maria, Mãe do Verdadeiro Deus, vem esmagar tudo aquilo que, sendo ídolos (deuses falsos), quer roubar o coração dos homens do Único e Verdadeiro Senhor por quem se vive, como afirmou a Virgem em sua aparição ao índio Juan Diego. A Mulher é também coroada com doze estralas porque Aquele a quem ela carrega no ventre reunirá em torno de si as Doze Tribos de Israel, designando que “veio para governar todas as nações com cetro de ferro” (Ap 12, 5). As doze estrelas que coroam a cabeça da Mulher representam-nos também todas as virtudes com as quais Maria foi coroada (Doze é o número da totalidade). É por este motivo que São João Maria Vianney fala: “A Santa Virgem sem mancha, é ornamentada com todas as virtudes que a tornam bela e agradável à Santíssima Trindade. A santa Virgem é a bela criatura que nunca desiludiu o bom Deus” (NODET B., O pensamento e a alma do Cura d'Ars, Turim 1967, p. 303). Por isto, a Igreja nunca cansa de repetir para a Virgem Maria “Tota pulchra es, Maria!” Maria é a estrela matutina que nos orienta para o seu Filho, Sol da Salvação. Em Maria, Deus fez resplandecer para o seu povo peregrino nesta terra um sinal de consolação e de esperança segura.



A Virgem Maria é o protótipo da Igreja! O que aconteceu com a Mãe de Cristo irá acontecer com a Divinal Esposa do Senhor. Sem prejuízo, a imagem da Mulher do apocalipse se associa também a esta. A “Mãe Católica” é a Arca da Aliança porque porta em sua essência o Novo e Eterno Testamento selado com o Sangue preciosíssimo de seu Senhor e Salvador. Ela é sinal magnânimo, portanto, sacramento que provém do Céu graças Àquele que a instituiu. Reveste-se Daquele a quem fielmente anuncia (vestida de sol). A amplitude de sua beleza e dignidade abrange até os povos dos extremos do mundo (coroa de doze estrelas). Ainda relacionada à sua coroa de doze estrelas, naturalmente, ela localiza-se na cabeça da Mulher, da Igreja. E quem é a cabeça da Igreja senão o próprio Jesus? Cristo-Cabeça atrai para o seu Corpo Místico gente de todos os povos e nações.  Por ser do seu Amado indivisivelmente, esmaga o mal e toda potência maligna (lua debaixo dos pés). Esta distinta Dama está prenhe Daquele que governa todos os povos com um cetro férreo, ou seja, com um poder indissolúvel. A Mulher-Igreja está pronta para dar à luz Àquele a quem ansiosa e alegremente espera. Porém, este parto será precedido e sequenciado por inúmeras investidas do que é Derrotado para sempre, o qual pretende, a todo custo, devorar o Seu Filho que é vitorioso eternamente.

Após dar à luz, a Mulher foi enviada para o deserto. Logo, entendemos que a Igreja possui um duplo aspecto: ao mesmo tempo em que é triunfante, por estar no Céu, ela é militante, por estar no mundo. Lá e aqui são lugares de uma mesma realidade divinamente instituída, a Igreja. Nela, observamos a concretude da salvação, da força e da realeza de Deus. E qual é a relação entre Maria e a Igreja? A Lumen Gentium nos revela: “Assim como no céu, onde já está glorificada em corpo e alma, a Mãe de Deus representa e inaugura a Igreja em sua consumação no século futuro, da mesma forma nesta terra, enquanto aguardamos a vinda do Dia do Senhor, ela brilha como sinal de esperança segura e consolação para o Povo de Deus em peregrinação” (LG 68) 

No Evangelho de hoje, passagem da visita de Maria a Isabel, chama-nos à atenção o trecho em que Isabel brada, estupefata: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”. Com esta afirmativa, percebemos que Isabel, movida pelo Espírito, torna-se uma profetiza. Ela fala a respeito do futuro glorioso da Virgem: o de trazer ao mundo o Filho de Deus; o da sua assunção e glorificação em corpo e alma no Céu. Maria é feliz pela fé! Maria é assunta graças à sua fé no Filho! Mas por que desta felicidade, deste mérito de ser elevada ao céu de corpo e alma? Apenas por ter sido escolhida para a Mãe do Salvador? Não! Mas, principalmente porque, como ninguém, acreditou no Senhor e em suas promessas. Esta verdade não é somente realçada nesta frase de Isabel, como o próprio Cristo também a diz: “Bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!” (Lc 11, 27). Se por Abraão foi iniciada a obra de salvação; pela fé da Santíssima Virgem Maria, elevada hoje aos céus, temos o seu definitivo cumprimento: a vinda de Jesus Nosso Senhor, e, com Ele a nossa garantia de imortalidade.

Maria é bem-aventurada porque creu. Inseriu perfeitamente em sua vida a fé que possuía. Parafraseando o Bispo de Hipona, Maria, antes de O conceber em seu ventre virginal, Ela já O tinha concebido em seu virginal coração. E, como prêmio, recebeu a “coroa imarcescível da Glória”. Tendo-a como modelo de fé, creiamos! E, porque cremos, o Justo Juiz também nos concederá a coroa da imortalidade, a habitação da Pátria Celeste, “Jerusalém do Alto”, a qual já a experimentamos desde agora na Igreja peregrina e triunfante, nossa Mãe! Assim como o Cristo ergueu Maria do sepulcro e tomou-a para si, nós seremos igualmente erguidos e elevados para o festim do Noivo! Enquanto este dia não nos vem, elevemos continuamente o nosso crédulo coração a Deus; Ele o acolherá. Não porque merecemos, mas pela virtude do seu amor que é eterno. E quando nos vir tão majestoso dia, poderemos ter a certeza de que estaremos, tal como a Senhora do Céu, reinando com Cristo nos séculos sem fim, resplandecentes de glória e beleza.

Com Maria, deixemo-nos ser elevados! Por hora, de coração; um dia, de fato. Elevemo-nos! Elevemo-nos e contemplaremos Deus; a glória que Ele, em sua infinda bondade, nos reservou. Glória que nos faz reinar com Ele! Glória da imortalidade!     

          

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