terça-feira, 2 de agosto de 2011

O TRABALHO E A DIGNIDADE DO HOMEM



           Escutamos, desde a nossa tenra idade, o seguinte dito popular: “O trabalho dignifica o homem”. No entanto, no cotidiano de sua existência, o trabalhador satura-se e parece que se esquece do dito que acima estas nossas linhas. Mas, por que isto acontece?
            Em meio a um mundo tresloucado onde “tempo é dinheiro”, a humanidade vê-se obrigada a lutar contra o relógio para que, na economia do tempo, possa obter lucros, ainda que sejam mínimos. Aqui, não nos referimos a ganhos estritamente financeiros, também fazemos menção aos proveitos de uma melhor qualidade de vida obtidos a cada dia que passa. De per si, tal intento não ruim. Não se pode defender a miséria financeira, tampouco a miserabilidade da qualidade de vida. O que estamos dizendo aqui é que, no afã dos bens materiais (os quais, na justa medida são necessários à sobrevivência), algumas pessoas são capazes de muitos atos, inclusive o de explorar indivíduos, esquecendo-se que estes são seus semelhantes, tratando-os como se fossem instrumentos propiciadores de renda. Diríamos mais: tais pessoas buscam na exploração do trabalho alheio algo que é atípico a atividade laboral, pois, a priori, os quefazeres são uma colaboração com a obra do Criador.
            O profissional, onde quer que atue, é chamado a ter consciência da importância daquilo que faz, por mais simples e aparentemente banal que seja. Ao envolver-se com um trabalho digno e honesto, o homem responde ao grande Artífice do Universo com um “sim” vocacional. Ao chamado-encargo feito de ser uma espécie de ‘co-criador’ (cf. Gn2, 15), o ser humano deve interpretar o seu labor, não como um castigo ou peso, mas como uma responsabilidade assumida para com Deus, para com o outro, para consigo mesmo. Estas devem ser as grandes ferramentas que nos auxiliarão na consecução da labuta que cotidianamente fazemos, e que, às vezes, nos custa bastante.
            O grande problema de encararmos o “ganha-pão” como uma colaboração com o Criador habita no fato de trazermos presente em nosso arcabouço intelectivo, ainda que involuntariamente, a imagem que se tinha na Grécia Antiga, de que esta atividade era reservada somente aos que não eram cidadãos, ou seja, aos escravos, aos que eram tidos como pessoas de “segunda categoria”. A etimologia da palavra trabalho nas línguas clássicas, inclusive no latim (tripalium), nos oferece uma ideia de atividade penosa, desagradável, alienante e fatigável, que pode levar a uma subordinação humilhante. No latim, por exemplo, o tripalium era um instrumento de castigos físicos. Na língua portuguesa, tal conceituação não está distante do pensamento conceitual das línguas antigas.
Muitos ainda utilizam alegoricamente o Gênesis para provar o âmbito de penalidade que o trabalho possui. Se o afazer devesse ser encarado desta forma, então deveríamos riscar da Sagrada Escritura a imagem de Deus como um grande trabalhador, que aparenta cumprir jornadas de trabalho ao criar tudo o que existe (cf. Gn 1, 1 – 2, 4).
            A faina bem valorizada e reconhecida tem haver com a dignidade humana. São Paulo nos afirma: “Quem não quer trabalhar também não deve comer” (2Ts 3,10). O trabalho faz parte do ser do homem. Não como uma atividade exploradora e penosa, mas como fruto de uma ação racional de união a Deus que cria com esmero. Nada mais humilhante do que não sobreviver com o próprio sustento, ou seja, com dependências de outrem. Aqui, recordemos de tantos que, incansavelmente, lutam para fazer valer um direito que lhes é reservado: o sustento como fruto de seu trabalho.
           
           Peçamos a Deus, o “Grande Operário”, que nos ensine a dar valor ao encargo laboral que fazemos no dia-a-dia. Para que, com ele, possamos dar a nossa parcela de contribuição para a construção de um mundo melhor, mais justo, mais fraterno, mais humano.           

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