terça-feira, 14 de junho de 2011

DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES: SANTÍSSIMA TRINDADE




I Leitura: Ex 34, 4b-6.8-9
Cântico responsorial: Dn 3, 52. 53. 54. 55. 56 (R/. 52b)
II Leitura: 2Cor 13, 11-13
Evangelho: Jo 3, 16-18 (Deus tanto amou o mundo)


Queridos irmãos,

Hoje celebramos, após o Domingo de Pentecostes, a Solenidade da Santíssima Trindade. Muito embora a Páscoa já tenha sido encerrada no domingo passado com o hoje teológico do Pentecostes, a solenidade da Santíssima Trindade, quanto a sua data, depende de todo o caminhar temporal da Páscoa. Hoje a Igreja reflete acerca da essência trinitária de Deus: uma Único e Suprema divindade em Três Pessoas. Esta é a primeira de três solenidades conseguintes, já que, na próxima quinta-feira, toda a Igreja celebra a Solenidade de Corpus Christi; e, na sexta-feira da semana seguinte, a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Cada uma destas três datas litúrgicas possui uma evidência peculiar, já que elas pretendem abarcar todo mistério da vida cristã da salvação, sintetizando, de certa maneira, a revelação de Jesus Cristo, da sua encarnação à morte, ressurreição, ascensão, bem como à doação do Espírito Santo. A solenidade de hoje nos convida à contemplação de um “céu aberto”, depois de uma revelação paulatina, mas profunda, de cada uma das Pessoas Trinitárias, inserindo-nos, com o olhar da fé, no mistério de um Deus, Uno na substância e Trino nas Pessoas.
A Oração de Coleta inicia apresentando o Pai como o remetente da missão do Filho e do Espírito Santo. O Pai envia em missão o Filho e o Espírito com a finalidade de revelar ao mundo o seu “inefável mistério”. Mas, por que o Pai tem esta atitude? O Evangelho é uma chave de resposta: “Deus tanto amou o mundo, que deu seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). É porque nos ama. É para que nos salvemos que Deus se revela. Porém, ao revelar sua glória Trinitária e Unidade onipotente, Deus nos vocaciona para o seio desta “Comunidade de Amor”, onde o Pai ama eternamente o Filho, o Amante Divino ao Eterno Amado (cf. Mt 3, 17; 17, 4; Mc 1, 11; 9, 7; Lc 9, 35; Jo 5, 20; Cl 1, 13; 2Pd 1, 17), ao tempo em que o Eterno Amado corresponde ao sentimento do Pai amando-o, fazendo inteiramente a sua vontade. Deste inesgotável intercâmbio, eis o Espírito Santo, o Amor, promotor desta relação misteriosa, porque é divina. É ainda vontade do Pai que a criatura humana seja inserida pelo Filho nesta “Comunidade”, embora pelo que, por nós mesmos, não tenhamos nada a acrescentar nesta sublime relação intra-trinitária. Somos filhos pelo Filho, a salvação nada mais é do que este habitar eternamente no seio de Deus, Uno e Trino. Aí se encontra a plenitude da vida.
A Primeira Leitura ilustra com justeza a predileção de Deus pela humanidade. Deus apresenta a sua glória a Moisés, no Sinai. Ora, o Monte Sinai figura o céu, é a elevação do Senhor. É neste acidente geográfico que acontecem muitas das teofanias do Pentateuco. Se lermos o capítulo 33, 8, veremos o pedido de Moisés a Deus: “Mostra-me a tua glória”, ao que Deus responde: “Eu te mostrarei todo o bem, e proclamarei diante de ti o nome ‘Senhor’; usarei de misericórdia com quem eu quiser, e serei clemente com aquele de quem me agradar”. Logo, temos uma promessa, não só dirigida a Moisés, mas ao povo. Promessa de benevolência, de misericórdia, de clemência. Tais favores foram demonstrados ao longo da história do povo de Israel, culminando com a chegada daquele que é, não mais em figuras, “esplendor da glória do Pai” (Hb 1, 3), o Verbo Encarnado, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
No diálogo, Deus ainda diz: “Não poderás ver a minha face, porque o homem não pode ver-me e viver”. Por que, ao ver Deus, o homem morreria? Porque o ser humano, assim como as outras criaturas, por si mesmo, não suportaria ver a glória de Deus.
Na economia das Pessoas Trinitárias, Deus se revela. E, na plenitude dos tempos, encarna-se. Pela encarnação do Verbo não somos mais prejudicados pela visão da glória da divindade: Ele se abaixa à nossa condição, faz-se um de nós: Kénosis. Somente assim, contemplamos o seu rosto. É pelo conjunto kenótico (Encarnação, Vida, Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão) de Jesus, Deus Encarnado, que o homem é divinizado. Logo, o ser humano passar a ver Deus, herda a sua glória, co-habitando na Trindade. Mais do que Moisés, que vê o Senhor apenas pelas costas, pela vinda do Filho, vemos Deus por inteiro, tornamo-nos herdeiros de Deus.
Mesmo vendo apenas as costas de Deus, Moisés o aclama, recordando alguns dos atributos da divindade: “Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (vers. 6). Além dos atributos relativos à promessa que Deus faz anteriormente, Moisés proclama um substantivo correlato a glória, o verdadeiro nome de Deus (IHWH), aqui traduzido como Senhor.
Ao extasiar-se com o que vira, Moisés, o intercessor por excelência do Povo da Antiga Aliança, pede ao Senhor, em adoração profunda, graças aos seus próprios méritos, pelo seu povo: “caminha conosco; [...] perdoa nossas culpas e pecados e acolhe-nos como propriedade tua” (vers. 9). No mistério trinitário, o intercessor do povo da Nova Aliança, é o próprio Deus, o Filho. É por seus méritos que o Pai nos escuta, no Espírito Santo que ora em nós, nos une como irmãos, nos une à Trindade. Tal relacionamento impele-nos a viver sentimentos que nos aproximam de Deus e dos irmãos, tal como São Paulo nos ordena na Segunda Leitura: alegria, perfeição, coragem, concórdia, pacificidade. Tais parâmetros de vida são iniciados desde esta nossa passagem terrena, já almejando a completude do céu, até quando formos um só, “perdendo-nos” na Alegria Verdadeira, Perfeição Sublime, Concórdia Infinda, Pacificidade Suprema, ou seja, quando adentrarmos no coração da Trindade.                

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