sábado, 27 de agosto de 2011

DOM DULCÊNIO PREGA NA FESTA DA CATEDRAL DE MACEIÓ


HOMILIA PARA A MISSA SOLENE DE NOSSA SENHORA DOS PRAZERES, EXCELSA PADROEIRA DE MACEIÓ

(Catedral Metropolitana de Maceió, 27 de agosto de 2011)




·         Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Frei Antônio Muniz Fernandes, Arcebispo Metropolitano de Maceió;


     ·         Reverendíssimo Monsenhor Celso Alípio Mendes, Pároco do Curato da Sé Metropolitana de Maceió;


·         Reverendíssimos sacerdotes;


·         Caríssimos diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas;


·         Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo Jesus Nosso Senhor;


 

MÃE DE JESUS, MÃE DA ALEGRIA – “FELIZ DAQUELA QUE ACREDITOU QUE TERIAM UM CUMPRIMENTO AS COISAS QUE LHE FORAM DITAS DA PARTE DO SENHOR”. “MARIA É FELIZ PORQUE TEM FÉ, PORQUE ACREDITOU, E, ACOLHEU NO SEU VENTRE O VERBO DE DEUS PARA DÁ-LO AO MUNDO”




Desde há muito, o devoto povo maceioense tem o bendito costume de cantar os louvores a Deus por meio da Virgem dos Prazeres, entoando: Padroeira de nossa cidade / Santa Mãe dos Prazeres Maria / protegei-nos, ó Mãe de Bondade / dai-nos paz, dai-nos a alegria. / Sem vós nossa luta é renhida / Somos pobres humílimos seres / defendei-nos, ó Virgem querida / sustentai-nos ó Mãe dos Prazeres!

O título de Maria, a Virgem dos Prazeres nos leva a refletir acerca da Bem-Aventurança da Mãe de Deus. Esta designação mariana está associada, não a um singular momento da vida de Nossa Senhora, mas possui uma longa raiz que perpassa toda a existência da Soberana Virgem, Mãe de Jesus e da humanidade.

Sempre o povo de Maceió soube reconhecer quão ditosa foi a vida daquela que, cumulada de alegrias por ter sido escolhida para Mãe do Salvador, tornou-se matrona destas terras. Assim, festejar Nossa Senhora dos Prazeres é celebrar as alegrias de Maria, não como contentamentos banais, mas como recompensa de sua fé.

Segundo uma arraigada tradição, cujo saber todos vós tendes, a invocação de Nossa Senhora dos Prazeres remonta a Portugal no século XVI. Ao aparecer para uma jovem em uma fonte, a Senhora do Céu promete-lhe que aos que beberem daquela água jorrada, seriam validos de suas enfermidades. Pede-lhe que seja construída uma ermida naquele local, cuja denominação seria dada pelo patrocínio de Nossa Senhora dos Prazeres, ao tempo em que a Virgem Maria presenteia aquele povo com uma imagem sua.


A antiquissima imagem de Nossa Senhora dos Prazeres venerada nesta Catedral sintetiza aquilo que o seu título embute. Vemos a Virgem ornada com vestes áureas, o que na iconografia representa a glória com a qual Maria foi por Deus adornada. Nossa Senhora está entre as nuvens e aos pés possui anjos, designando que a glória de Maria, mesmo iniciada ainda nesta terra, possui a sua completude na Pátria dos Santos. A Virgem leva às mãos um ramalhete de rosas, o que simboliza a alegria com a qual o Senhor a ornou. No rosto a imagem estampa um singelo sorriso o que demonstra a sua felicidade, o seu prazer em ser toda do Senhor e, por isso, ser cumulada de bens espirituais como nenhuma criatura o foi.  A soberana Senhora do povo maceioense repousa sobre o ventre a sua mão direita, manifestando que as suas alegrias iniciaram quando, nela, o próprio Deus se fez carne. Logo, Maria, em si mesma, não possui nenhum mérito, mas tudo o que lhe aconteceu se deu unicamente pelos méritos do seu Filho e Senhor.

A titulação “dos Prazeres” remonta-nos à ideia de que a vida de Maria foi ornada de um setenário de alegrias. Por isso, eu ter afirmado anteriormente que o título de vossa padroeira perpassa toda a vida da Virgem, desde o anúncio do Anjo Gabriel até a sua Assunção e Coroação no Céu.

Ao tratarmos das alegrias de Maria, se faz mister termos diante de nós a Palavra de Deus. Assim, no Evangelho de São Lucas, quando da anunciação do Anjo, a Virgem, mesmo estando estupefata pela embaixada do mensageiro divino, aí encontra a sua alegria ao dizer: “Eis aqui a Serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!”. Digo que neste primeiro momento a Senhora Imaculada encontra a sua alegria porque o seu prazer está em cumprir a vontade de seu Deus: “Eis que venho fazer com prazer a vossa vontade, Senhor!” (Sl 39, 9).

Em um segundo momento, temos como gozo de Maria a sua visita a Isabel. Quanta vibração o coração de Nossa Senhora teve ao escutar de sua prima as palavras: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42). Neste sentido, Orígenes afirma: “Disse, pois: ‘Bendita ti entre as mulheres’. Nenhuma foi jamais tão cumulada de graça, nem poderia ser-la, por que somente ela é Mãe de um fruto divino”.
Isabel, imbuída do Espírito, não só proclama a beatitude de Maria, como também se sente honrada pelos dois ilustres visitantes: Deus feito homem e a sua Mãe. Disse Isabel: “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio” (Lc 1, 43-44). Se o coração de Nossa Senhora já estava radiante de júbilo, ao sentir-se tão tributada, ela tinha consciência de que o motivo de toda aquela receptividade não se dava prioritariamente por sua pessoa, mas por conta do Verbo a quem ela carregava como receptáculo.


Ó felizarda Isabel, se te admiras de ter concebido um menino na tua velhice, com maior honra foste cumulada ao receber sob o teto de tua casa o próprio Salvador e sua Mãe. Se te alegras em conceber um homem, ainda que seja um profeta de grande quilate, quão felicidade não tiveste em reconhecer o Cristo ainda no ventre de sua Mãe. Se rejubilaste em ter dado à luz ao “Precursor do Altíssimo”, quão júbilo não tiveste ao ser cuidada por aquela que devotamente iria zelar pela vida do Deus Encarnado! Ó feliz Isabel, mais agraciada que tu, só mesmo a Virgem Mãe de Deus!”

A idosa bendiz a Maria, não apenas pela sua gestação carnal, mas porque, antes mesmo desta, ela já estava prenhe da fé na Palavra do Senhor. Por isso, Isabel prorrompe: “Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1, 45). Esta veneração e predição de Isabel é um reconhecimento da importância da Virgem na obra de salvação da humanidade. O Catecismo da Igreja Católica, ao tratar sobre a resposta do homem a Deus, põe a fé de Maria em um lugar de prestígio: “A Virgem Maria realiza da maneira mais perfeita a obediência da fé. Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazida pelo anjo Gabriel, acreditando que ‘nada é impossível a Deus’ (Lc 1, 37) e dando o seu assentimento: ‘Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1, 38). Isabel a saudou: ‘Bem-aventurada a que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido’ (Lc 1, 45). É em virtude desta fé que todas as gerações a proclamarão bem-aventurada” (CIC 148).

Se Isabel prorrompe em gozo, a alma de Maria possui maiores motivos para elevar louvores a Deus, por isso entoa o Magnificat. Se Isabel profetiza acerca da Virgem, esta possui uma profecia mais pontual. Maria, humildemente, reconhece o que Deus fará à humanidade por meio dela, e se alegra estupendamente proclamando as maravilhas de Deus: “Minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva.” (Lc 1, 46-48). Parafraseando, é como se ela quisesse dizer: As maravilhas que Deus pronunciou as cumprirá em meu corpo; no entanto a minha alma não será infrutuosa diante de Deus. Porque quanto maior é o milagre com que sou honrada, tanto maior é a obrigação que tenho de honrar Àquele que em mim realiza coisas maravilhosas.

Dando continuidade, a Virgem declara: “Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1, 48-49). A esta profecia de Maria sobre si mesma, onde todas as gerações a chamarão feliz, temos Isabel como a primeira na longa série das gerações que declaram a Mãe do Salvador como bendita. Isabel é a primeira a cumprir o que Deus falava pelas palavras de Maria. É baseado nesta passagem que a Igreja eleva a Nossa Senhora o seu preito e veneração. O louvor iniciado, outrora, pela idosa Isabel chega hoje aos nossos corações a fim de ser proclamado pelos nossos lábios. Não proclamamos as maravilhas de Maria, mas bendizemos a Deus pelo que Ele se dignou fazer naquela a qual escolheu para ser a Mãe do Verbo; é pelos méritos de Cristo que honramos a Doce Senhora do Céu.

O Cântico de Maria é a litania dos sem voz e sem vez, é o pregão dos humildes e marginalizados. Por tal motivo, a Virgem profetiza a elevação dos humildes e indigentes. Neste sentido, afirma-nos São Basílio: “Certamente que a presente passagem nos afasta das coisas sensíveis, ensinando-nos a incerteza dos bens mundanos, pois são caducos, como a onda que aqui e lá se difunde pelo ímpeto dos ventos. Tomado intelectualmente, o gênero humano teria fome, a exceção dos judeus, a quem havia enriquecido com a tradição da Lei e os ensinamentos dos profetas; mas como não aderiram humildemente ao Verbo humanado, foram deixados vazios, não levando nada, nem fé, nem ciência. Foram privados da esperança dos bens e da terrena Jerusalém e excluídos da vida futura. No entanto, aqueles dentre os gentios que tinham fome e sede, havendo aderido ao Senhor, foram cumulados de bens espirituais” (In Psalmo, 33).

A terceira e quarta alegrias de Maria se dão, respectivamente, no Nascimento do Salvador e na visita dos Magos ao recém-nascido Jesus. Quando não havia a assolação das guerras, quando a paz reinava sobre o mundo, eis que aparece a Esperança do Povo, o Messias, enviado pelo Pai. Aqui, somos invitados a contemplar a satisfação de uma mãe, desta escolhida para levar o Menino Deus em seu ventre e em seus braços, expondo ao mundo, mergulhado nas trevas do pecado, a Luz Resplandecente do Cristo. Maria o mostra: a sua criança é o prêmio e garantia da humanidade. Ela tem na consciência o que anjo afirmou: “Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo” (Lc1, 32), e a grande prova disto é a visita dos Reis Magos que, provindos do Oriente, oferecem valiosos presentes. Naquela pobreza, Maria reconhece mais uma vez a grandiosidade do seu menino. Por este motivo, garante-nos Santo Agostinho: Consumado o milagre do parto virginal, em que o útero cheio da divindade deu à luz ao Deus-Homem sem perder o selo da sua integridade, entre os tenebrosos esconderijos de um estábulo e a estreitez de um presépio, nos quais a Majestade infinita, reduzindo-se nas curtas dimensões de um terno corpinho, permite ser envolto em simples panos, um novo astro aparece de repente no céu iluminando a terra. E, dissipada a névoa que cobria todo o mundo, converte a noite em dia para que o dia não ficasse oculto entre a noite. Por isso disse o evangelista: ‘Pois quando nasceu’” (In sermone 5 de Epiphania). Imaginemos quanta ternura Maria dispensou àquela criança; o quanto a Virgem o estreitou, acariciou o seu Jesus...

Outra exultação de Nossa Senhora pode ser vista quando ela reencontra Jesus adolescente no Templo, porque este se perdera de seus pais durante uma festa judaica. Quanta aflição Maria não deve ter experimentado naquela hora? O sentimento de preocupação deve ter invadido o seu Imaculado Coração. Perder de vista o seu adorável Filho e Deus. A angústia foi tanta que ela, ao encontrá-lo na posição de Mestre entre os mestres do povo de Israel, respira aliviada. Os que eram doutos na Escritura e nas Leis sendo interrogados por um meninote imberbe.

Quando Maria encontra o seu Filho, ela se extasia, o contempla, o admira. Isso sem falar do alívio que ela deve ter sentido. Surpresa Maria diz: “Meu filho, que nos fizeste?! Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição” (Lc 2, 48); ao que o menino responde: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?” (Lc 2, 49). E São Lucas prossegue: “Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera” (Lc 2, 50). Embora tivesse ficado, como que atordoada, Maria deve ter se alegrado em saber que a cada dia que se passava o Menino Jesus vai tomando consciência de quem ele é e da sua missão: revelar o Pai, interessando-se pelas coisas que se referem a Ele.

O sexto júbilo da Virgem dos Prazeres: a contemplação da ressurreição de seu Jesus. Se grande foi a agonia da Sexta-Feira da Paixão do Senhor, quanta felicidade o seu coração não experimentou ao ver Jesus ressuscitado em um corpo glorioso, manifestando a humanidade o seu poder e a sua vitória sobre o pecado e morte, manifestando ao mundo a sua divindade? Embora não exista nenhum argumento bíblico que narre Maria contemplando o Ressuscitado, por óbvia dedução a Igreja afirma este fato, porque já que Jesus apareceu à Igreja e Maria estava sempre com ela, logo, ela também o viu e o adorou. Maria é a Senhora da Alegria Pascal.

Por fim, muito ligada à sexta, temos a sétima alegria: a glorificação de Maria. A morte não poderia corromper o corpo Daquela que nunca foi corrompida pelo pecado. O sono da morte não poderia abater Aquela que trouxe o Sol Brilhante da Justiça, Jesus Cristo Senhor Nosso, cujos raios despertam a humanidade do torpor dos vícios e da miséria de sua condição. A Virgem Maria rumou para a Pátria dos Eleitos a fim de ocupar o Seu lugar honroso na Corte Celestial, junto do Seu Filho Bem-Amado; para isto ela foi arrebatada em corpo e alma. Aquela que trouxe no seio virginal O que veio do Céu é conduzida pelos anjos ao mesmo Céu, para ser acolhida por quem antes acolhera.

Ao venerarmos a Senhora dos Prazeres como assunta aos céus em corpo e alma, possuímos um convite magnânimo para, com Maria, elevarmo-nos para o céu, para “onde se respira o ar puro da vida sobrenatural e se contempla a beleza mais autêntica, a da santidade” (Bento XVI, Homilia de 15 de agosto de 2008). Se a cada momento somos invitados a elevar os nossos corações, tendo como expectativa as realidades celestes, ao contemplarmos a Virgem Maria sendo conduzida às alturas Celestes, nossa esperança multiplica-se infindamente, pois vemos cumprir-se o que o Apóstolo dos Gentios nos alenta: “Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda” (1Cor 15, 22-23). Portanto, nossa esperança multiplica-se porque tendo a absoluta certeza que Jesus, as primícias da nossa ressurreição e imortalidade, nos abriu o véu da sua glória, a nós que acreditamos (“por ocasião da sua vinda”), ao mesmo tempo contemplamos muitos que, tal como nós, creram no Cristo e, por isso, já participam dos júbilos do Prêmio eterno. Desta forma, ao celebrarmos a glorificação de Maria, festejamos a mesma glória de Cristo que comungaremos junto com Ela. A Virgem nos antecede nos céus! A glória que ela possui, graças aos méritos de seu Filho, a teremos também, pelo mesmo merecimento.

Enquanto este ditoso dia não nos vem, momento em que adormeceremos com Cristo para nele revivermos, contamos com uma ímpar intercessora: Maria, aquela cuja vida foi toda repleta de prazeres autênticos, alegrias provenientes de uma vida sintonizada com Deus.

Maria está na Glória dos Eleitos, nós, militando. Mas esta certeza nos acompanha: do céu ela intercede, vela por nós. Por isso, vós maceioenses, nunca enfastiando de cantar os seus louvores entoam solenemente:



Sem vós nossa luta é renhida

Somos pobres humílimos seres

Defendei-nos, ó Virgem querida

Sustentai-nos ó Mãe dos Prazeres!

 

Que ela vos acompanhe com a sua materna intercessão!



Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

      

       








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