O BISPADO DE PALMEIRA DOS
ÍNDIOS E O CONCÍLIO VATICANO II
A Diocese de
Palmeira dos Índios, nos auguros do seu Jubileu de Ouro, tem a felicidade de
compartilhar também da alegria de toda a Igreja Universal que, como família de
Cristo, comemora os cinquenta anos da realização do Concílio Vaticano II. Nesta
nossa prédica, queremos, ousadamente, tentar pontuar as relações existentes
entre os dois grandes eventos para a história da Igreja, cada um com uma
amplitude que, longe de ser despautério, acontecem concomitantes no sertão e no
agreste alagoanos, e por que não dizer em todo o território da “Terra dos Marechais”,
já que envolveram as três dioceses componentes da Província Eclesiástica de
Maceió.
O Concílio Vaticano
II foi convocado através da bula “Humanae
Salutis” pelo carinhosamente apelidado “il
Papa Buono” (Papa Bom), João XXIII, a 25 de dezembro de 1961, Solenidade do
Natal do Senhor. Ainda que este Pontífice já tivesse, em 25 de janeiro de 1959,
anunciado à Cúria Romana a sua intenção de realizar um Concílio Ecumênico, a
sua ideia não foi levada a muito crédito, já que o último concílio, o Vaticano I,
havia sido encerrado, em 1870, às pressas, por receio dos padres conciliares
diante do início da Guerra Franco-Prussiana. O Vaticano I, cuja duração foi de apenas
sete meses e dez dias, tinha como principal baliza defender a Igreja dos
ataques tresloucados do modernismo e suas doutrinas – racionalismo, liberalismo
e materialismo – que afrontavam a infalibilidade papal e, consequentemente, a
anulação do papel da Igreja no mundo.
Quais eram as
intenções do Papa Roncalli ao convocar um Concílio Ecumênico? Pierre Pierrard,
em sua obra História da Igreja,
descreve que, já em 25 de janeiro de 1959, diante dos cardeais e de toda a
Cúria Romana, ambos estupefatos, João XXIII anunciava que a convocação do
concílio possuía um duplo objetivo: “assegurar a renovação da Igreja face ao
mundo moderno e preparar a unidade cristã” (PIERRARD, 1982, p. 272). João XXIII
não escondia de ninguém este seu desejo de “aggiornamento
della Chiesa” – termo italiano que
equivale no português a tornar hodierna a Igreja, frente aos desafios
inumeráveis do século XX. Por isso, já na bula de convocação do concílio,
afirma: “A Igreja assiste, hoje, à grave crise da
sociedade. Enquanto para a humanidade surge uma era nova, obrigações de uma
gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja, como nas épocas mais
trágicas da sua história. Trata-se, na verdade, de pôr em contato com as
energias vivificadoras e perenes do evangelho o mundo moderno. […] Se voltarmos
à atenção para a Igreja, vemos que ela não permaneceu inerte espectadora em
face destes acontecimentos, mas seguiu, passo a passo, a evolução dos povos, o
progresso científico, as revoluções sociais; opôs-se, decididamente, às
ideologias materialistas e negadoras da fé; viu, enfim, brotarem de seu seio e
desprenderem-se imensas energias de apostolado, de oração, de ação em todos os
campos […] Diante deste duplo espetáculo: um mundo que revela um grave estado
de indigência espiritual e a Igreja de Cristo, tão vibrante de vitalidade, nós,
desde quando subimos ao supremo pontificado, não obstante nossa indignidade e
por um desígnio da Providência, sentimos logo o urgente dever de conclamar os
nossos filhos para dar à Igreja a possibilidade de contribuir mais eficazmente
na solução dos problemas da idade moderna […] (A Igreja), embora não tendo
finalidade diretamente terrestre, ela, contudo, não pode desinteressar-se, no
seu caminho, dos problemas e dos trabalhos de cá de baixo. Sabe quanto
aproveitam ao bem da alma aqueles meios que são aptos a tornar mais humana a
vida de cada homem, que deve ser salvo; sabe que, vivificando a ordem temporal,
com a luz de Cristo, revela também os homens a si mesmos, o próprio ser, a
própria dignidade e a própria finalidade” (Bula Humanae Salutis, n. 3.5.6.11). João XXIII apresentava,
assim, como um profeta, um visionário, que, ao incomodar o aparente torpor em
que alguns membros da Igreja se encontravam, queria, com o auxílio do Santo
Espírito de Deus, proporcionar-lhe um vigor, frente aos descasos do mundo,
inclusive do de hoje.
A Diocese de
Palmeira dos Índios foi criada aos 10 de fevereiro de 1962 pelo mesmo Santo
Padre então reinante no sólio petrino, João XXIII, com a Bula “Quam Supremam”, a partir da finalidade
de dar “aos povos cristãos a oportunidade de conservar cuidadosamente a
religião e de ajustar o modo de vida aos preceitos do Sagrado Evangelho”. Mesmo
tendo sido criada em fevereiro daquele ano de 1962, a outrora recém-criada Sé
Diocesana de Palmeira dos Índios só foi instalada em 19 de agosto do mesmo ano
pelo Senhor Núncio Apostólico na República Brasileira, Sua Excelência
Reverendíssima Dom Armando Lombardi, Arcebispo Titular de Cesareia de Filipe. O
nosso bispado nasceu no burilar do Vaticano II; quando estavam sendo pautados
os nortes para a sua realização. Todos sabiam que aquela neo Igreja particular
de Palmeira dos Índios já tinha, no seu pastor diocesano, uma grande
responsabilidade para com a Igreja em todo o Orbe: colaborar, mesmo com a sua
pueril história, no traçar dos rumos da Igreja Católica frente aos enormes
desafios a ela imposta pelo mundo moderno.
No começo da nossa
preleção, afirmávamos que a Igreja nas terras alagoanas tinha uma dupla
novidade: a convocação do Vaticano II e a criação de uma nova diocese, a de
Palmeira dos Índios, cuja sede está em uma cidade que, na época,
caracterizava-se por sua pujança. E esta última inovação mudaria em altos tons
o quadro da administração pastoral da Igreja nestas plagas, pois, para a
composição do território da nova circunscrição eclesiástica foram desmembrados
municípios da Igreja Arquidiocesana de Maceió (Quebrangulo e Paulo Jacinto) e
da Igreja Particular de Penedo (Água Branca, Batalha, Belo Monte, Cacimbinhas,
Delmiro Gouveia, Dois Riachos, Igaci, Major Isidoro, Jacaré dos Homens,
Maravilha, Mata Grande, Monteirópolis, Olho d’Água das Flores, Olivença,
Palmeira dos Índios, Pão de Açúcar, Piranhas, Poço das Trincheiras, Santana do
Ipanema, São José da Tapera), sendo os Bispos das respectivas Igrejas Dom
Ranulfo da Silva Farias e Dom José Terceiro de Souza.
O
decreto Christus Dominus, de 28 de
outubro de 1965, do mesmo Concílio Vaticano II, define Diocese como “a porção do Povo de Deus, que se confia a um Bispo para que
a apascente com a colaboração do presbitério, de tal modo que, unida ao seu
pastor e reunida por ele no Espírito Santo por meio do Evangelho e da
Eucaristia, constitui uma Igreja particular, na qual está e opera a Igreja de
Cristo, una, santa, católica e apostólica” (n. 11). Assim, o Sagrado Concílio
Vaticano II resgata uma ideia da era patrística, mais propriamente de São
Cipriano, logo, querendo recordar que em uma Igreja particular está presente
toda a Igreja Universal, porque é formada à sua imagem (cf. Constituição
Dogmática Lumen Gentium 23). E,
relacionado aos limites territoriais diocesanos, o mesmo decreto conciliar
determina que: “Para se conseguir a finalidade própria da diocese, é preciso que a natureza
da Igreja se manifeste claramente no Povo de Deus que pertence à diocese; que
os Bispos possam cumprir eficazmente nelas os próprios deveres pastorais; e
que, finalmente, se atenda, o mais perfeitamente possível, à salvação do Povo
de Deus. Isto exige quer a conveniente delimitação territorial das dioceses,
quer uma distribuição dos clérigos e dos recursos racional e correspondente às
exigências do apostolado. Tudo isto reverte em benefício não só dos clérigos e
dos fiéis diretamente interessados mas também de toda a Igreja católica.
Portanto, em matéria de limites das dioceses, o sagrado Concílio dispõe que, na
medida em que o bem das almas o exigir, quanto antes se realize com prudência a
conveniente revisão, dividindo ou desmembrando ou unindo dioceses, alterando
limites ou transferindo para locais mais convenientes as sedes episcopais, ou,
por fim, sobretudo quando se tratar de dioceses que compreendem grandes
cidades, dando-lhes nova organização interna” (Decreto Christus Dominus, 22). Foi na aspiração destes termos posteriormente
constituídos – já que somente foram oficialmente estabelecidos no final do
Vaticano II – que o Beato João XXIII criou a Dioecesis Palmiriensis Indorum, bem como
tantas outras inúmeras dioceses no mundo. Curiosamente, João XXIII e João Paulo
II foram os pontífices que mais erigiram dioceses na História Eclesiástica.
Antevendo
recepcionar a nova Diocese, ainda na década de 50, o incansável Vigário da
Paróquia Nossa Senhora do Amparo, em Palmeira dos Índios, o Reverendíssimo
Monsenhor Francisco Xavier Macedo remodelou a Igreja Matriz para que,
posteriormente, pudesse, com imponência, receber o título de Igreja Catedral,
bem como organizou a construção do Palácio e Cúria Episcopais.
Para primeiro Bispo
de Palmeira dos Índios, em 04 de julho de 1962, foi eleito por João XXIII Dom
Otávio Aguiar Barbosa, na época Bispo de Campina Grande. O paraibano Dom Otávio
era, no dizer da Bula de sua eleição, “homem sem dúvida cheio das virtudes
episcopais e também notável pela grande piedade e pelas suas obras”. O Prelado foi empossado na Sé Catedral
Diocesana de Nossa Senhora do Amparo em Palmeira dos Índios automaticamente no
dia da Instalação Canônica da nova Diocese (ou seja, em 19 de agosto de 1962)
diante de Dom Armando Lombardi (Núncio Apostólico), de inúmeros bispos e
autoridades estaduais e municipais. O Concílio tratou, e muito, acerca do
episcopado. Em linhas gerais, poderíamos dizer que o conceito de ouro com a
qual o Vaticano II nomeia os bispos é o de que na pessoa dos bispos está
presente o Cristo: “Na pessoa dos Bispos, assistidos
pelos presbíteros, está presente no meio dos fiéis o Senhor Jesus Cristo,
pontífice máximo. Sentado à direita de Deus Pai, não deixa de estar presente ao
corpo dos seus pontífices, mas é principalmente por meio do seu exímio
ministério, prega a todas as gentes a palavra de Deus, administra continuamente
aos crentes os sacramentos da fé, incorpora por celeste regeneração e graças à
sua ação paternal (cf. 1 Cor. 4,15) novos membros ao Seu corpo e, finalmente,
com sabedoria e prudência, dirige e orienta o Povo do Novo Testamento na
peregrinação para a eterna felicidade. Estes pastores, escolhidos para
apascentar o rebanho do Senhor, são ministros de Cristo e dispensadores dos
mistérios de Deus (cf. 1 Cor. 4,1); a eles foi confiado o testemunho do
Evangelho da graça de Deus (cf. Rom. 15,16; At. 20,24) e a administração do
Espírito e da justiça em glória (cf. 2 Cor. 3, 8-9)” (Constituição Dogmática Lumen Gentium, 21). E, desde já,
afirmamos que essa imagem se fez presente com toda a sua justeza nos três
primeiros bispos de Palmeira dos Índios, ao tempo em que, humildemente, como
Sucessor dos Apóstolos nestas terras, também nos esforçamos para tal.
Longe traçarmos uma
linha historicamente definida, os bispos de Palmeira dos Índios, percebendo a
escassez do clero, sendo homens visionários, apoiaram o surgimento de novas
vocações para a vida sacerdotal, Prova disto, foi a implantação das Obras das
Vocações Sacerdotais (OVS) já por Dom Otávio que, no seu próprio dizer,
afirmava ser “com vistas ao futuro da assistência religiosa, tanto na sede como
no interior”. Dom Otávio já antevia o que o Concílio determinará, mas que
também já era práxis da Igreja: “O dever de fomentar
as vocações pertence a toda a comunidade cristã, que as deve promover sobretudo
mediante uma vida plenamente cristã. […] A Obra das vocações, segundo os
documentos pontifícios nesta matéria, já fundada ou a fundar no âmbito de cada
diocese, região ou nação, organize metódica e coerentemente e promova com zelo
e discrição uma ação pastoral de conjunto para o fomento de vocações, sem
deixar de lado nenhum dos meios que as hodiernas ciências psicológicas e
sociológicas utilmente oferecem” (Decreto Optatam
Totius, 2). No transcorrer do tempo,
Dom Fernando Iório, já na década de 80, também deu seu enorme contributo à
promoção das vocações, tal como aconselhava o Vaticano II. Para isto, fundou
o Seminário Propedêutico “Cura D’Ars”. No episcopado de meu predecessor
imediato foram ordenados aproximadamente quarenta sacerdotes. A Diocese de
Palmeira dos Índios, quando da sua instalação em 1962, contava com apenas onze
paróquias, inclusive tendo algumas que possuíam uma vasta extensão territorial.
Era necessário criar mais comunidades paroquiais. Interessante que a nossa Igreja
Diocesana viu surgir alguns municípios, acompanhando, como Mestra e Mãe, o
desenvolvimento do povo do agreste e sertão alagoanos. Assim, no decorrer de
cinquenta anos, surgiram os municípios de Canapi, Carneiros, Estrela de
Alagoas, Inhapi, Jaramataia, Mar Vermelho, Olho d’Água do Casado, Ouro Branco,
Palestina, Pariconha e Senador Rui Palmeira. Ao longo destes cinquenta anos,
foram instaladas diversas paróquias em todo o território do bispado.
Atualmente, nossa Diocese consta de 33 paróquias, bem como de outras
comunidades que, dentro em breve, serão elevadas a categoria paroquial. Também,
para um maior serviço ao povo de Deus, instalaram-se na Diocese algumas
Congregações Religiosas: Congregação das Religiosas do Sagrado Coração de
Jesus, Irmãs Franciscanas de Santo Antônio e Congregação das Missionárias de
Santo Antônio Maria Claret. Estes institutos, juntamente com a Congregação das
Filhas do Amor Divino que em Palmeira dos Índios já residia, realizam, ainda
hoje, inúmeros trabalhos de evangelização e promoção humana.
A Diocese de
Palmeira dos Índios, percebendo as necessidades sociais do seu povo, iniciou, a
partir do seu primeiro pastor, Dom Otávio, e seguindo com os outros prelados
que aí residiram, ações que viabilizaram o anúncio do Reino e valorização integral
da pessoa humana. A Igreja de Palmeira dos Índios quis fazer valer o que o
Concílio reza na Constituição Dogmática Gaudium
et Spes, 40: “A Igreja, que tem a sua origem no
amor do eterno Pai, foi fundada, no tempo, por Cristo Redentor, e reúne-se no
Espírito Santo, tem um fim salvador e escatológico, o qual só se poderá atingir
plenamente no outro mundo. Mas ela existe já atualmente na terra, composta de
homens que são membros da cidade terrena e chamados a formar já na história
humana a família dos filhos de Deus, a qual deve crescer continuamente até à
vinda do Senhor. […] A Igreja pensa, assim, que por meio de cada um dos seus
membros e por toda a sua comunidade, muito pode ajudar para tornar mais humana
a família dos homens e a sua história”. Concretamente, surgiram em nosso meio
algumas obras sociais que tinham a intenção a pouco explicitada: o
Centro Social Diocesano, cujo papel estava voltado para a integração das
pessoas mais pobres na sociedade, desenvolvendo-as no ensino de habilidades
domésticas tais como o curso de alfabetização, corte e costura, bordado, crochê
e arte culinária; o Clube de Mães que buscava realizar serviços de assistência
às gestantes e parturientes, inclusive orientando as mulheres sobre a
maternidade, cuidados prévios com o nascimento dos bebês, alimentação,
pré-natal, educação das crianças, religião, deveres do lar, etc; a construção
da Vila João XXIII, conjunto de casas populares destinado aos pobres sem
abrigo; o Asilo Vila do Idoso e Casa da Menina, ambas fundadas por Dom Fernando
Iório; a instalação de dessalinizadores de água na região semiárida da Diocese;
a Fazenda da Esperança Nossa Senhora do Amparo; a Casa do Menor São Miguel
Arcanjo; e outras iniciativas.
Relacionada ao
compromisso que brota do Evangelho para a Igreja como formadora cultural dos
fiéis, a Diocese de Palmeira dos Índios funda, em 1966, os colégios Sagrada
Família, em Palmeira dos Índios, e São Vicente de Paulo, na cidade de Pão de
Açúcar, além de creches nos municípios de São José da Tapera e Palestina. Faz-se
salutar recordarmos ainda de outras instituições promotoras de cultura fundadas
pela Igreja em nossas terras: o Colégio de Santana do Ipanema; o Museu Xucurus
que funciona, desde a sua fundação, na Igreja do Rosário, na sede da Diocese; a
Facesta (Faculdade Santo Tomás de Aquino); os convênios com a Universidade
Federal de Alagoas e o Centro de Estudos Superiores de Maceió para a
implantação de cursos superiores em Palmeira dos Índios; a Faculdade São
Vicente de Paulo, em Pão de Açúcar. Com
estas atitudes, os nossos pastores, cada qual ao seu tempo, demonstraram uma concórdia
com o espírito conciliar: “O sagrado Concílio
Ecumênico considerou atentamente a gravíssima importância da educação na vida
do homem e a sua influência cada vez maior no progresso social do nosso tempo.
[…] Assim, a escola católica, enquanto se abre convenientemente às condições do
progresso do nosso tempo, educa os alunos na promoção eficaz do bem da cidade
terrestre, e prepara-os para o serviço da dilatação do reino de Deus, para que,
pelo exercício duma vida exemplar e apostólica, se tornem como que o fermento
salutar da comunidade humana” (Declaração Gravissimum
Educationis, 1.8).
Relacionado à
promoção da vida pastoral da Igreja particular de Palmeira dos Índios, muitas
foram as atividades desenvolvidas ao longo deste cinquentenário. Se Dom Otávio
estruturou a Diocese, Dom Epaminondas José de Araújo preocupou-se
primordialmente com a formação do Clero acerca do “aggiornamento” trazido pelo Concílio Vaticano II, cumprindo o que
Paulo VI ordenava na Carta Apostólica de encerramento do Concílio, em 08 de
dezembro de 1965: “Mandamos também e ordenamos que tudo quanto foi estabelecido
conciliarmente seja observado santa e religiosamente por todos os fiéis, para a
glória de Deus e honra da Santa Mãe Igreja, tranquilidade e paz de todos os
homens”. Já Dom Fernando Iório reuniu o povo de Deus e os padres em Assembleias
Diocesanas para inteirar a Igreja Palmeirense das proposições da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil. O terceiro bispo de Palmeira dos Índios adquiriu
ainda o prédio do Colégio Pio XII para servir de Centro de Treinamento da
Diocese, bem como a construção do Lar Sacerdotal.
Ao longo deste meio
século, foi característica marcante dos nossos pastores as constantes visitas
pastorais, conforme o ordenado pelo atual Código de Direito Canônico no cânon
396 §1: “O Bispo é obrigado a visitar cada ano a diocese, total ou
parcialmente, de modo que visite a diocese toda ao menos cada cinco anos, por
si ou, estando legitimamente impedido, pelo Bispo coadjutor, pelo auxiliar,
pelo Vigário geral ou episcopal, ou por outro presbítero”. Muito embora se
comparado ao Código de Direito Canônico de 1917, esta prática, de per si, não é novidade do atual Código
outorgado em 1983, já pelo papa então reinante, o Beato João Paulo II, tendo em
vista o que fora determinado pelo Concílio Vaticano II.
O Presbitério de
Palmeira dos Índios também deu dois de seus filhos para o Episcopado: Dom Jorge
Tobias de Freitas, primeiramente eleito para a Diocese de Caxias, no Maranhão,
sendo transferido mais tarde para Nazaré da Mata, Pernambuco, onde se tornou
Bispo Emérito; Dom José Francisco Falcão de Barros, Bispo Titular de Auguro e
Auxiliar para a Arquidiocese Militar do Brasil.
De muitas formas os
Bispos Diocesanos dirigiram-se aos fiéis: suas vidas ilibadas, inúmeras
pregações, exortações. Como não recordar as Cartas Pastorais de Dom Epaminondas:
Sobre a Liturgia, Sobre a Evangelização, Sobre a Catequese, Sobre a Política e
Bem Comum. Todas embasadas nos documentos conciliares. Os escritos de Dom
Fernando Iório Rodrigues. O seu amor às Letras esteve sempre a serviço do
Evangelho de Jesus Cristo; suas canções que tocaram e continuam a emocionar
corações de muitos. O jornal “Igreja em Ação”; o endereço da Diocese na rede
mundial de computadores; o programa dominical “A Hora Católica”...
Esta nossa prédica será,
a partir de agora, um exame de vida, uma espécie de confissão, não feita
somente a vós, nobres espectadores, nem apenas a grei do Senhor confiada à
nossa fraqueza, mas, antes de tudo a Deus e um exame da minha consciência. Como
quarto Bispo de Palmeira dos Índios, temos, durante os nossos seis anos de
episcopado, procurado exercer o nosso pastoreio como “imagem viva de Deus Pai”,
no dizer de Santo Inácio de Antioquia. E, se nos detivermos aqui, apenas com
esta belíssima afirmativa do santo bispo e mártir de Antioquia, como elemento
caracterizador de nosso governo episcopal, sentir-nos-emos extremamente
satisfeitos, pois, como servos inúteis, fizemos aquilo que deveríamos fazer (cf.
Lc 17,10).
Apraz-nos possuir a
certeza de que, não pelos nossos méritos, mas pelo beneplácito de Deus, cujos
caminhos nos são insondáveis, também fazemos parte deste cinquentenário.
Refiro-me não somente ao Jubileu Áureo da Diocese de Palmeira dos Índios, mas,
como Bispo da Igreja de Cristo, às comemorações dos dez lustros do Concílio Vaticano
II. Diante das dificuldades inerentes ao nosso múnus episcopal, não somente do
Dom Dulcênio em particular, mas dos bispos da Igreja, somos alentados pelo
Senhor por meio do seu auxílio divino e providente na consecução da nossa
árdua, mas altiva missão, que, na realidade é Dele, só que confiada a nossa
indignidade. Aqui, não tratamos em fazer desabafos, mas de manifestarmos uma
convicção baseada em São Paulo: Aquele que nos chamou é fiel, e cumprirá por
nós, instrumentos troncos e insuficientes, o que é do seu desígnio misterioso e
correto.
Queridos amigos
presentes neste recinto onde letras, palavras e ideias são explanadas. Humildemente,
não quisemos fazer da nossa fala uma síntese histórica da grande homenageada
desta sessão solene: a Igreja de Cristo espalhada também no agreste e sertão
alagoanos, a qual denominamos Diocese de Palmeira dos Índios. Antes, quisemos
estabelecer uma relação, mostrando que nós, pastores da Igreja, não agimos por
nossas vontades ou meros caprichos, mas, antes de tudo, assistidos pelo
Espírito Santo de Deus, que dinamiza a Igreja de Cristo Senhor pelas sendas da
história, não obstante as nossas limitações; quisemos demonstrar como esta
vitalidade da Igreja de Jesus presente em todo o mundo, inclusive através da
reunião do Colégio Universal dos Bispos, denominado Concílio, atinge
positivamente a nossa vida, o agir e o apostolado de tantos que se doaram,
consumiram-se por amor a Deus e a Sua Igreja, aos irmãos.
O Senhor nunca
abandonou a Sua Esposa, a Sua Bem-Amada Igreja. Não oponente a fragilidade e
contingência daqueles que participam do Seu Corpo Místico, a Sua Graça sempre
superabundou por nós e em nosso meio. A tantos homens e mulheres – papas,
bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e fiéis leigos –, rendemos a nossa
gratidão pelos valorosos contributos oferecidos à nossa história de Igreja
diocesana. Rogamos a Deus, nosso Senhor, a graça de que a força da vitalidade e
jovialidade da Igreja, Esposa de Cristo, sempre nos anime como membros vivos e
escolhidos, “membros do mesmo corpo e participantes da promessa em Jesus Cristo
pelo Evangelho” (Ef 3,6). Pois a Ele é devida a glória, a nós, “servos
inúteis”, o trabalho. Ao tempo em que agradecemos, como Bispo de Palmeira dos
Índios, o distinto e honroso preito tributado por esta casa do saber, da
memória e da cultura do valoroso povo alagoano à Igreja de Cristo Senhor.
Obrigado!
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