sexta-feira, 4 de maio de 2012

V DOMINGO DA PÁSCOA

(Ano B – 06 de maio de 2012)




I Leitura: At 9,26-31
Salmo Responsorial: Sl 21(22),26b-27.28.30.31-32 (R/. 26a)
II Leitura: 1Jo 3,18-24
Evangelho: Jo 15,1-8 (Videira e Ramos)



Queridos irmãos,



Nesta caminhada litúrgica do Tempo Pascal e existencial rumo à Pátria Definitiva, gostaríamos de refletir um pouco acerca do Evangelho deste V Domingo da Páscoa.


Ego sum vitis vos palmite. Qui manet in me et ego in eo, hic fert fructum multum: quia sine me nihil potestis facere” – Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5). Eis o mistério do crescimento da Igreja: a união com o seu Deus. Neste domingo, como cristãos, somos convidados a nos voltar para o mistério da Igreja, para o mistério de nossa vida; somos invitados para um olhar avaliativo da nossa caminhada e a questionarmo-nos acerca do nosso fundamento vital que deve ser o próprio Cristo Senhor.


Videira e ramos. Ao utilizar tal alusão da ligação existente entre esses dois elementos (videira e ramos), Jesus nos incomoda, pois aparenta estar apelando para uma lógica infantil. Como se desenvolve um ramo, como tem vida, se não está ligado a um tronco, a uma matriz? Somente a partir daí é que ele desenvolve-se, gera frutos, é canal de nutrientes para encher de sabor aquilo que produz e que vai alimentar e saciar a um outrem, às vezes até a um estranho. E, consequentemente, como produzirá vida um ramo que está cortado de sua raiz? Em um sentido não mais alegórico, mas real, o estar ligado à raiz, ao tronco, significa estar atento ao Cristo na escuta da Palavra e na frequência devota dos Sacramentos. As Divinas Escrituras e os Sacramentos são promotores da união profunda com Jesus, pois somente eles podem nos levar a Deus de uma forma ordinária e seguramente correta porque partem da fé da Igreja, Esposa de Cristo. O “sentire cum Ecclesia” (sentir com a Igreja) é um elemento imprescindível para a nossa união com o Senhor. Se estivermos em suas fileiras, fazendo-o não por conveniência, mas de modo convicto e condigno, estaremos estreitamente unidos ao Salvador que, Nela, nos fala e nos alimenta, doando-nos, continuamente, a vida divina.


“Eu sou a videira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa para que dê mais fruto ainda” (v. 1-2). Sabemos que para o desenvolvimento de certas culturas, como é o caso da vinícola, faz-se necessário a dispensa de um cuidado especial, inclusive de podas. Logicamente, o desbaste nunca é feito na raiz, mas nas ramagens. Em que consistiria esta limpeza na vida prática da Igreja, do cristão? Ao apresentar-nos o Pai, associando-o nesta alegoria como agricultor, Jesus demonstra-nos o cuidado que o Ele tem para com aqueles que estão de alguma forma unidos ao Cristo, Verdadeira Videira. A todo o que produz fruto, o Divino Agricultor o limpa. Quer dizer, procura os que portam em si frutos abundantes. Percebamos que ele não trata da raiz, que é indefectível, pois é o próprio Jesus, mas somente dos sarmentos, acenando que os discípulos é que necessitam de grandes cuidados. Em linhas gerais, São João Crisóstomo afirma: “O que não produz fruto algum não o mantém na vida nem pode Ele permanecer nele; e ao que produz fruto o torna mais frutífero” (Sobre o Evangelho de João, 76).


O que significa a atitude do agricultor de limpar os ramos? Não é vontade de Deus que se abata o sofrimento no coração e na vida das pessoas. Porém, Deus assim o permite para que seja provada a sua fé. As dificuldades da existência humana, se encaradas com fidúcia Naquele que já venceu por nós, são ocasião especial de crescimento na graça diante de Deus, “pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho” (Hb 12,6). Somos filhos bem queridos de Deus no Filho eternamente amado. Ante as provações que a vida nos reserva, mesmo sem entendê-las, somos convidados a dar ‘um passo adiante’ na nossa experiência de fé. Isto é produção de frutos! E, como no caso da videira, os frutos nunca são para ela mesma, mas são entregues a fim de que sacie e leve o ‘vinho da alegria’ a outrem. Se o mundo necessita de sinais para achegar-se a Deus, esses devem ser a nossa vida pautada no evangelho da luta cotidiana, fundamentada primariamente no próprio Senhor Ressuscitado, razão do nosso existir e para quem rumam os nossos passos nas vias da existência terrena. Somente Jesus nos fortalece nas agruras de nossa condição, principalmente se as sofremos por amor ao Evangelho: “Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei” (v. 3).


Se formos sinais de vida e alegria saudáveis para o mundo, seremos cônscios de que a nossa vida está regrada corretamente e, a partir do meu viver, Deus será glorificado: “Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (v. 7-8). A vida humana somente tem sentido se for uma contínua aspiração de agradar e glorificar a Deus. Neste sentido, peçamos sempre ao Senhor apenas as virtudes necessárias para manifestarmo-lo ao mundo com a nossa paupérrima existência. Interessante: quando o fruto é aprazível ao olhar de quem o vê e saboroso ao paladar de quem o degusta, nunca o elogio é direcionado ao fruto apenas, tampouco à ramagem na qual aquele foi desenvolvido, mas dirige-se, sobretudo, à árvore que o produziu. Assim devemos ser também: é nossa obrigação e deve ser nossa satisfação encher o mundo dos frutos de Deus colhidos em nós. Daí, Jesus afirmar: “Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados” (v. 6). Não somos ignorantes no que refere ao que significa ser lançado ao fogo, pois o que leva uma vida fútil, separada do Cristo, está absorto em uma existência prófuga, abandonado ao léu da sua própria sorte. A estes está reservada a destruição eterna.


Que, inteiramente abertos ao Cristo Senhor, Videira Verdadeira, deixemos que a sua suave e fortificante linfa nos preencha para que, como ramos que não temos vida em nós mesmos, mas Nele, possamos produzir frutos abundantes para o bem do mundo, tal como a Virgem Maria que, dando o seu sim, concebeu em seu coração e em seu ventre o Bendito Fruto, Jesus Cristo, Senhor Nosso.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário