sexta-feira, 12 de abril de 2013

IESUS CHRISTUS EST “PASSUS SUB PONTIO PILATO, CRUCIFIXUS, MORTUUS, ET SEPULTUS”




Queridos irmãos,



Retornamos, depois de certo tempo, às nossas pequenas ‘catequeses’ acerca do Ano da Fé. Nesta ocasião, queremos tratar sobre o quarto artigo do nosso Credo: “Padeceu sob Pôncio Pilatos. Foi crucificado, morto e sepultado”. O presente artigo de fé foi bem comentado durante os últimos dias, na Semana Santa e no Sacro Tríduo Pascal. No entanto, é salutar que nos debrucemos sobre a temática mais uma vez, agora à lume do Ano proposto pela Igreja para o aprofundamento do crer a fé da ‘Esposa de Cristo’.
            O quarto artigo do Credo ensina-nos que Jesus Cristo, para remir o mundo com o seu precioso Sangue, padeceu sob Pôncio Pilatos, governador da Judéia entre os anos 26-36 d.C., e, como sabemos, Jesus morreu no madeiro da Cruz, da qual foi descido, e no fim sepultado. O termo ‘padeceu’ (em latim, passus, da mesma raiz etimológica da palavra paixão) tal como porta o Símbolo dos Apóstolos e o Niceno-Constatinopolitano, exprime, com justeza, todos os sofrimentos suportados por Jesus Cristo na sua Paixão. Mesmo sendo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, Jesus Cristo padeceu enquanto homem somente, porque enquanto Deus não podia padecer nem morrer, graças à imortalidade de que só Deus goza.
O Senhor foi crucificado. Mas que espécie de castigo era esse? Para quem servia? O suplício da cruz era, naqueles tempos, o mais cruel e ignominioso de todos os suplícios (cf. 1Cor 1,24). Mesmo reconhecendo a inocência de Jesus, Pilatos ordena que o crucifiquem, cedendo, covardemente, às ameaças dos judeus. Logo, foi um conchave entre as autoridades judaicas e o poder romano que ludibriaram o povo. Jesus sofre a pena máxima porque afirmou ser ‘Filho de Deus’ – o que de fato era. Acusado de blasfêmia, Jesus paga o mais alto preço: a perda da vida com a máxima pena: ser crucificado!
“E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,8). Jesus bem que poderia ter-se livrado das mãos dos judeus e de Pilatos (“O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo” – Jo 18,36). Sim, Jesus Cristo podia livrar-se das mãos dos judeus ou de Pilatos; mas, conhecendo que a vontade do seu Eterno Padre era que Ele padecesse e morresse pela nossa salvação, submeteu-Se voluntária e obedientemente, e até saiu ao encontro dos seus inimigos, e deixou-se espontaneamente prender e conduzir à morte em uma cruz que encimou o Monte Calvário, ou Gólgota (em hebraico, ‘Lugar da Caveira’).
Muitas foram dádivas que nos advieram de Jesus na cruz: o exemplo de perdão e oração pelos inimigos; deu por Mãe ao discípulo São João, e na pessoa dele a nós todos, a sua mesma Mãe, Maria Santíssima; deu-nos os sacramentos, graças ao seu peito aberto, de onde jorrou sangue e água; ofereceu a sua morte em sacrifício, e satisfez à justiça de Deus pelos pecados dos homens. Mas, o maior de todos os presentes foi o restabelecimento e a sublimação da nossa união com Deus pela salvação do gênero humano em seu corpo estendido na cruz. Não bastaria que viesse um Anjo satisfazer por nós, porque a ofensa feita a Deus pelo pecado era, sob certo aspecto, infinita; e para satisfazê-la requeria-se uma Pessoa que tivesse merecimento infinito, Jesus Cristo, homem, para poder padecer e morrer, e Deus, para que os seus sofrimentos fossem de valor infinito. Por isso, Santo Agostinho exclama: “O certe necessarium Adæ peccátum, quod Christi morte delétum est! O felix culpa, quæ talem ac tantum méruit habére Redemptorem!” – Ó pecado de Adão, de que certamente se pode afirmar, que foi necessário; sendo ele extinto pela morte de Cristo! Ó culpa feliz, que nos valeu semelhante e tão grande Redentor! – Este mesmo canto é imortalizado no Exúltet, proclamação da Páscoa na Mãe de todas as vigílias, a Vigília Pascal.
Ainda relacionado ao tamanho dos méritos do Redentor para a nossa salvação, ressaltamos que eles deveriam ser de valor infinito, porque a majestade de Deus, ofendida pelo pecado, é infinita. No entanto, não era absolutamente necessário que Jesus Cristo padecesse tanto, porque o menor dos seus sofrimentos bastaria para a nossa redenção, pois cada um dos seus atos era de valor infinito. Jesus quis sofrer tanto, para satisfazer mais abundantemente à justiça divina, para nos mostrar mais claramente o seu amor, e para nos inspirar maior horror ao pecado. Mesmo expirando no patíbulo da cruz, a divindade não se separou nem do corpo nem da alma de Jesus Cristo; morreu como todos os homens morrem: somente a alma se separou do seu corpo.
Acompanhados das dádivas de Jesus estendido no ‘altar da cruz’, percebemos, graças aos evangelhos, alguns prodígios na morte de Jesus, que revelam a magnanimidade de sua extenuação: obscureceu-se o sol, tremeu a terra, abriram-se algumas sepulturas, e muitos mortos ressuscitaram.
Jesus Cristo morreu pela salvação de todos os homens, e satisfez por todos. Todavia, nem todos se salvam, porque nem todos O reconhecem, nem todos seguem a sua lei, nem todos se servem dos meios de santificação que nos deixou. Isso significa dizer que, para nos salvarmos não basta que Jesus Cristo tenha morrido por nós, mas é necessário que sejam aplicados, a cada um de nós, o fruto e os merecimentos da sua Paixão e morte, aplicação que se faz, sobretudo, por meios dos Sacramentos, instituídos para este fim pelo mesmo Jesus Cristo; e como muitos ou não recebem os Sacramentos, ou não os recebem com as condições devidas, eles tornam inútil para si próprios a morte de Jesus Cristo.
            Queridos irmãos, bebamos da graça da salvação haurida por Cristo inanimado na cruz. A sua morte, a morte da Vida trouxe-nos vida na morte: aproveitemo-la enormemente! Que sempre exclamemos com palavras e boas obras: “Bendita e louvada seja a paixão e morte de Jesus Cristo, Nosso Senhor. Que quis padecer e morrer por nosso amor!”

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