sábado, 13 de abril de 2013

III DOMINGO DA PÁSCOA


(Ano C – 14 de abril de 2013)

Pelo Seminarista André Fernandes



I Leitura: At 5,27b-32.40b-41
Salmo Responsorial: Sl 29(30),2 e 4.5 e 6. 11 e 12a e 13b (R/ 2a)
II Leitura: Ap 5,11-14
Evangelho: Jo 21,1-19 (Pesca e Pedro)



“Aclamai a Deus, toda a terra, cantai a glória de seu nome, rendei-lhe glória e louvor, aleluia” (Cf. Antífona da Entrada).


    Caríssimos irmãos,


No desdobramento do santo Tempo Pascal, temos observado a tônica tão peculiar desse tempo Litúrgico. Eis que este, como já pudemos refletir na Liturgia precedente, o Segundo Domingo Pascal, é pautada através do ‘kérigma apostólico’, ou seja, o anúncio solene do evento da nossa salvação realizado na plenitude dos tempos na pessoa do Filho de Deus, o Verbo encarnado, que “tendo amado os seus, amou-os até o extremo”, como no-lo testifica o Evangelista e Apóstolo São João. Eis o Mistério Pascal! Lembremo-nos da Catequese de Nosso Senhor para com o discípulo Nicodemos no capítulo terceiro de São João: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho único para que não morra quem Nele crer, mas tenha a vida eterna”. Sabido deste honroso e santíssimo evento da economia da salvação, celebramos, com a Mãe Católica, o Terceiro Domingo do Tempo Pascal.
À Primeira Leitura, deparamo-nos com a objeção do Sinédrio para com Pedro e os apóstolos outros. No quadro proposto pelo Lecionário da hodierna liturgia dominical, somos conduzidos ao pensamento das cruentas perseguições pelas quais os apóstolos e os nossos primeiros irmãos cristãos padeceram às primícias da pregação apostólica nos primeiros séculos até o Quarto Século. Por que tais tormentos? Por que verter sangue? Por que imolar-se por um Jesus que, na concepção d’alhures, permanece caduco e esquecido no tempo? Por que entregar-se uma vez que o “Jesus é só histórico”? Em verdade, tais indagações são proferidas por muitos que se declaram, como diz o Apóstolo, “inimigos da cruz do Senhor” e outrossim por aqueles que se  veem céticos e ateus. O que vale este Jesus?
A posição do conselho contraria todas as perguntas supracitadas o que deixa cair por terra que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é deveras, amiúde, um fato sempre novo, pois, Ele chega, como entoara Maria Santíssima naqueles versos do singular “Magnificat” “de geração a geração”. Havia um incômodo no que tangencia as autoridade romanas e judaicas, no ministério dos apóstolos e doutros irmãos que com o anuncio do Cristo morto e ressuscitado  convertia a muitos e estes tornavam-se seguidores do ‘Caminho’, nome primário dado ao Cristianismo.
De Santo Inácio de Antioquia recebemos: “Ubi Petrus, ibi Eclesia est”, onde está Pedro aí está a Igreja. O venerado apóstolo é ousado quando toma a palavra e diz: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz. Deus, por seu poder, o exaltou, tornando-o Guia Supremo e Salvador, para dar ao povo de Israel a conversão e o perdão dos pecados. E disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem”. A têmpera de Pedro e dos demais apóstolos é a “parresia” que indica a ousadia em conclamar o senhorio do Filho de Deus a toda criatura, mesmo que tal ato custe o martírio da própria vida.
Vejamos a palavra de São Pedro: “É preciso obedecer a Deus que aos homens”. Quão presente, para os nossos dias, cristãos do tão moldurado Século XXI! Dum século, como os seus precedentes, em que a intenção do homem é anular a revelação plena em Cristo e substituí-lo pelo exacerbado “antropos”, pondo-o ao centro. Eis, a, digamos, ousada profissão de fé do apóstolo é também a nossa, porquanto não seguimos uma vã e falaciosa doutrina como pensavam e concebem, mas deixamo-nos, na liberdade, sermos encontrados por uma Pessoa: Jesus de Nazaré! E mais: não é o ‘jesus’ das ideias e formulações humanas, mas, sim, o Cristo do Santo Evangelho, imagem reveladora do Pai e crido por sua Esposa, a Igreja e conservado pela Sagrada Tradição. 
“É preciso (constantemente) obedecer a Deus que aos homens”. Para quem é dirigida as palavras de Pedro? Para quem é descrente! Para quem em debalde acha que a inabalável fé cristã, católica e apostólica ruirá mais tarde. Não, insensatos! “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular e isto é maravilhoso para o Senhor nosso Deus!” Se falara o egrégio apóstolo é porque é Pedro, isto é, como sabemos, a edificação do Corpo Místico de Cristo que sustenta e supera as vicissitudes das vias da existência na realidade temporal.
À Segunda Leitura, somos imergidos na teofania do vidente São João. Podemos dizer sim que se trata duma profissão de fé para ratificar as comunidades cristãs, uma vez que estará o apóstolo exilado na Ilha de Patmos e escreveu ora em visões, ora em alegorias para que os cristãos não temessem no seguimento a Nosso Senhor. São João nos descreve uma belíssima visualização: O Cordeiro Imaculado, o que, posteriormente, tornar-se-á parte da iconografia cristã. Por que o Cordeiro? Por que o é imaculado?
O cordeiro é o tipo de animal dos sacrifícios da antiga aliança para a obtenção da libação dos pecados. Recordemos da vez em que o sacerdote adentrava o Tempo e oferecia o sacrifício expiatório, ora por seus pecados, ora pelos pecados do povo. Na eterna aliança, temos o Novo Cordeiro Pascal: o Filho de Deus. De fato é ele simultaneamente: o sacerdote, a vítima e o altar. É o ‘Agnus Dei’ como na Liturgia dos Divinos Mistérios cantamos com a Igreja-Esposa, para que o Cordeiro Pascal nos torne menos indignos de recebermos a oblação do Corpo do Senhor aí velado no Santíssimo Sacramento.
No Evangelho, somos surpreendidos por mais uma aparição do Ressuscitado no Lago de Tiberíades. É mister fazermos a perlustração diligente de tal aparição. A priori, verificamo-la: às margens do Lago de Tiberíades ou o Lago de Genesaré. Neste ambiente, Jesus, ordenara a Simão Pedro para lançar-se “às águas mais profunda”.  A tomar outras redes e navegar numa Barca maior e que concentra peixe de todos os tipos! Sendo assim, caríssimos irmãos, visualizamos a constante presença do Crucificado-Ressuscitado entre os seus. E onde? Na Igreja! A pesca só pode acontecer por causa da ordem do Senhor: “Lançai as vossas redes à direita da barca e achareis”. E assim pescaram, diz o texto sagrado, “cento e cinquenta e três grandes peixes”. Qual a razão de tamanha quantidade? Por que ainda nos coloca à par o Evangelho o pormenor de que “apesar da quantidade a rede não se rompeu?”
Porque, assim como a Barca é de Pedro, a rede também o é, logo são símbolos da realidade que é a Igreja! A primeira porque concentra os batizados (barca) e a segunda porque “apanha peixes de todos os tipos”. Aqui, aferimos a nota da universalidade da Esposa de Cristo, porquanto Nela estar o Salvador do Gênero Humano. A quantidade de peixes revela isto: Jesus de Nazaré veio para tirar o pecado do mundo. Veio para muitos que, ao encontrá-Lo, põe-se debaixo do seu adorado senhorio!
Na narração também ouvimos de maneira solene a tríplice profissão de amor de Simão! Quão misterioso é este fragmento! “- Pedro tu me amas? - Sim, Senhor, tu sabes tudo, sabes que te amo! - Apascenta os meus cordeiros”. Jesus insiste três vezes à aparente indagação. A palavra de Jesus a Simão Pedro é a confirmação do seu ministério de apóstolo e do seu primado cujo ofício primordial é-nos confirmar na fé de sempre! As consequentes respostas de Pedro sinalizam a ascensão da sua caridade por Jesus, de modo que, como diz São Paulo, “nem a vida nem a morte, nem a fome, nem a perseguição...”, nenhuma situação, poder-me-á “separar do Amor de Deus manifestado em Cristo Jesus”. O bendito Pedro que, a vez primeira que viu o Senhor às margens do mar, deixou a barca, a rede, os seus e foi. Este santo apóstolo é o mesmíssimo que entregará a vida, como diz a tradição, suspenso numa cruz para baixo, “pois não era digno de morrer na mesma posição do Mestre”. Por que o faz? Porque o seu amor é genuíno e autêntico. “Petros, agapâs-me?” (Pedro, amas-me incodicionalmente?), “Petros, fileîs-me?” (Pedro, amas-me pelo menos como amigo?). E é de fato aqui que se concentra o cerne da Liturgia deste Domingo Pascal.
Deparar-se com o Cristo Ressuscitado, encontrá-Lo e até mesmo lançar-se ao mar como sinal de indignidade é a razão cônscia de quem se dispõe como Pedro a lançar as redes para águas mais profundas. Ao Cristo, o vencedor do pecado e da morte a glória, o poder e a eternidade por todo o sempre. Amém.

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