(Ano C – 14 de abril de 2013)
Pelo Seminarista André
Fernandes
I Leitura: At 5,27b-32.40b-41
Salmo Responsorial: Sl 29(30),2 e 4.5 e 6.
11 e 12a e 13b (R/ 2a)
II Leitura: Ap 5,11-14
Evangelho: Jo 21,1-19 (Pesca e Pedro)
“Aclamai a Deus, toda a terra, cantai a glória de
seu nome, rendei-lhe glória e louvor, aleluia” (Cf. Antífona da Entrada).
Caríssimos irmãos,
No
desdobramento do santo Tempo Pascal, temos observado a tônica tão peculiar desse
tempo Litúrgico. Eis que este, como já pudemos refletir na Liturgia precedente,
o Segundo Domingo Pascal, é pautada através do ‘kérigma apostólico’, ou seja, o
anúncio solene do evento da nossa salvação realizado na plenitude dos tempos na
pessoa do Filho de Deus, o Verbo encarnado, que “tendo amado os seus, amou-os
até o extremo”, como no-lo testifica o Evangelista e Apóstolo São João. Eis o
Mistério Pascal! Lembremo-nos da Catequese de Nosso Senhor para com o discípulo
Nicodemos no capítulo terceiro de São João: “Deus amou tanto o mundo que deu o
seu Filho único para que não morra quem Nele crer, mas tenha a vida eterna”.
Sabido deste honroso e santíssimo evento da economia da salvação, celebramos,
com a Mãe Católica, o Terceiro Domingo do Tempo Pascal.
À
Primeira Leitura, deparamo-nos com a objeção do Sinédrio para com Pedro e os
apóstolos outros. No quadro proposto pelo Lecionário da hodierna liturgia
dominical, somos conduzidos ao pensamento das cruentas perseguições pelas quais
os apóstolos e os nossos primeiros irmãos cristãos padeceram às primícias da
pregação apostólica nos primeiros séculos até o Quarto Século. Por que tais
tormentos? Por que verter sangue? Por que imolar-se por um Jesus que, na
concepção d’alhures, permanece caduco e esquecido no tempo? Por que entregar-se
uma vez que o “Jesus é só histórico”? Em verdade, tais indagações são
proferidas por muitos que se declaram, como diz o Apóstolo, “inimigos da cruz
do Senhor” e outrossim por aqueles que se veem céticos e ateus. O que
vale este Jesus?
A
posição do conselho contraria todas as perguntas supracitadas o que deixa cair
por terra que o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é deveras, amiúde, um
fato sempre novo, pois, Ele chega, como entoara Maria Santíssima naqueles
versos do singular “Magnificat” “de geração a geração”. Havia um incômodo no
que tangencia as autoridade romanas e judaicas, no ministério dos apóstolos e
doutros irmãos que com o anuncio do Cristo morto e ressuscitado convertia
a muitos e estes tornavam-se seguidores do ‘Caminho’, nome primário dado ao
Cristianismo.
De
Santo Inácio de Antioquia recebemos: “Ubi
Petrus, ibi Eclesia est”, onde está Pedro aí está a Igreja. O venerado
apóstolo é ousado quando toma a palavra e diz: “É preciso obedecer a Deus antes
que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes,
pregando-o numa cruz. Deus, por seu poder, o exaltou, tornando-o Guia Supremo e
Salvador, para dar ao povo de Israel a conversão e o perdão dos pecados. E
disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que
lhe obedecem”. A têmpera de Pedro e dos demais apóstolos é a “parresia” que indica a ousadia em
conclamar o senhorio do Filho de Deus a toda criatura, mesmo que tal ato custe
o martírio da própria vida.
Vejamos
a palavra de São Pedro: “É preciso obedecer a Deus que aos homens”. Quão
presente, para os nossos dias, cristãos do tão moldurado Século XXI! Dum
século, como os seus precedentes, em que a intenção do homem é anular a
revelação plena em Cristo e substituí-lo pelo exacerbado “antropos”, pondo-o ao centro. Eis, a, digamos, ousada profissão de
fé do apóstolo é também a nossa, porquanto não seguimos uma vã e falaciosa
doutrina como pensavam e concebem, mas deixamo-nos, na liberdade, sermos
encontrados por uma Pessoa: Jesus de Nazaré! E mais: não é o ‘jesus’ das ideias
e formulações humanas, mas, sim, o Cristo do Santo Evangelho, imagem reveladora
do Pai e crido por sua Esposa, a Igreja e conservado pela Sagrada
Tradição.
“É
preciso (constantemente) obedecer a Deus que aos homens”. Para quem é dirigida
as palavras de Pedro? Para quem é descrente! Para quem em debalde acha que a
inabalável fé cristã, católica e apostólica ruirá mais tarde. Não, insensatos! “A
pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular e isto é
maravilhoso para o Senhor nosso Deus!” Se falara o egrégio apóstolo é porque é
Pedro, isto é, como sabemos, a edificação do Corpo Místico de Cristo que
sustenta e supera as vicissitudes das vias da existência na realidade temporal.
À
Segunda Leitura, somos imergidos na teofania do vidente São João. Podemos dizer
sim que se trata duma profissão de fé para ratificar as comunidades cristãs,
uma vez que estará o apóstolo exilado na Ilha de Patmos e escreveu ora em
visões, ora em alegorias para que os cristãos não temessem no seguimento a
Nosso Senhor. São João nos descreve uma belíssima visualização: O Cordeiro
Imaculado, o que, posteriormente, tornar-se-á parte da iconografia cristã. Por
que o Cordeiro? Por que o é imaculado?
O
cordeiro é o tipo de animal dos sacrifícios da antiga aliança para a obtenção
da libação dos pecados. Recordemos da vez em que o sacerdote adentrava o Tempo
e oferecia o sacrifício expiatório, ora por seus pecados, ora pelos pecados do
povo. Na eterna aliança, temos o Novo Cordeiro Pascal: o Filho de Deus. De fato
é ele simultaneamente: o sacerdote, a vítima e o altar. É o ‘Agnus Dei’ como na Liturgia dos Divinos
Mistérios cantamos com a Igreja-Esposa, para que o Cordeiro Pascal nos torne
menos indignos de recebermos a oblação do Corpo do Senhor aí velado no
Santíssimo Sacramento.
No
Evangelho, somos surpreendidos por mais uma aparição do Ressuscitado no Lago de
Tiberíades. É mister fazermos a perlustração diligente de tal aparição. A priori, verificamo-la: às margens do
Lago de Tiberíades ou o Lago de Genesaré. Neste ambiente, Jesus, ordenara a
Simão Pedro para lançar-se “às águas mais profunda”. A tomar outras redes e navegar numa Barca
maior e que concentra peixe de todos os tipos! Sendo assim, caríssimos irmãos,
visualizamos a constante presença do Crucificado-Ressuscitado entre os seus. E
onde? Na Igreja! A pesca só pode acontecer por causa da ordem do Senhor: “Lançai
as vossas redes à direita da barca e achareis”. E assim pescaram, diz o texto
sagrado, “cento e cinquenta e três grandes peixes”. Qual a razão de tamanha
quantidade? Por que ainda nos coloca à par o Evangelho o pormenor de que “apesar
da quantidade a rede não se rompeu?”
Porque,
assim como a Barca é de Pedro, a rede também o é, logo são símbolos da
realidade que é a Igreja! A primeira porque concentra os batizados (barca) e a
segunda porque “apanha peixes de todos os tipos”. Aqui, aferimos a nota da universalidade
da Esposa de Cristo, porquanto Nela estar o Salvador do Gênero Humano. A
quantidade de peixes revela isto: Jesus de Nazaré veio para tirar o pecado do
mundo. Veio para muitos que, ao encontrá-Lo, põe-se debaixo do seu adorado
senhorio!
Na
narração também ouvimos de maneira solene a tríplice profissão de amor de
Simão! Quão misterioso é este fragmento! “- Pedro tu me amas? - Sim, Senhor, tu
sabes tudo, sabes que te amo! - Apascenta os meus cordeiros”. Jesus insiste
três vezes à aparente indagação. A palavra de Jesus a Simão Pedro é a
confirmação do seu ministério de apóstolo e do seu primado cujo ofício
primordial é-nos confirmar na fé de sempre! As consequentes respostas de Pedro
sinalizam a ascensão da sua caridade por Jesus, de modo que, como diz São
Paulo, “nem a vida nem a morte, nem a fome, nem a perseguição...”, nenhuma
situação, poder-me-á “separar do Amor de Deus manifestado em Cristo Jesus”.
O bendito Pedro que, a vez primeira que viu o Senhor às margens do mar, deixou
a barca, a rede, os seus e foi. Este santo apóstolo é o mesmíssimo que
entregará a vida, como diz a tradição, suspenso numa cruz para baixo, “pois não
era digno de morrer na mesma posição do Mestre”. Por que o faz? Porque o seu
amor é genuíno e autêntico. “Petros, agapâs-me?”
(Pedro, amas-me incodicionalmente?), “Petros,
fileîs-me?” (Pedro, amas-me pelo menos como amigo?). E é de fato aqui que
se concentra o cerne da Liturgia deste Domingo Pascal.
Deparar-se com o Cristo Ressuscitado, encontrá-Lo e
até mesmo lançar-se ao mar como sinal de indignidade é a razão cônscia de quem
se dispõe como Pedro a lançar as redes para águas mais profundas. Ao Cristo, o
vencedor do pecado e da morte a glória, o poder e a eternidade por todo o
sempre. Amém.
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