terça-feira, 30 de abril de 2013

COM A SUA MORTE DESTRUIU A NOSSA MORTE E COM A SUA VIDA TEMOS NOVA VIDA


Queridos irmãos,

Existe um ícone da tradição oriental em que Jesus Cristo aparece à Mansão dos Mortos e resgata pelo braço, mais propriamente pelo punho, Adão e Eva, representando assim toda a humanidade presa aos infernos, antes da sua morte redentora, bem como chamando ao Paraíso todos os justos do Antigo Testamento, inclusive Abraão, Moisés e João Batista. Cremos que esta representação iconográfica responda o afã interrogativo de muitos, quando se questionam: “Por que Jesus ressuscita após três dias? O que estaria fazendo ao longo deste tríduo?”
Representação iconográfica de Cristo que, descendo aos Infernos, resgata, a partir de Adão e Eva, todos os justos que esperavam a redenção
  No Símbolo Apostólico, a mais antiga Profissão de Fé da ‘Mãe Católica’ (utilizando os termos eclesiológicos agostinianos), temos, integralmente: “[Jesus Cristo] desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia”. Esta afirmativa equivale ao quinto artigo de fé proposto pelo Credo. Lembrando, desde agora, que a Ressurreição de Cristo, em consonância com todo o Mistério Pascal do Senhor (que também contempla a Sua Paixão e Morte), é o núcleo central de nossa fé. Assim sendo, no quinto artigo do Credo, vislumbramos a alma de Jesus Cristo que, logo após ter se separado do corpo quando da sua morte salvadora na cruz, foi ao Limbo, também chamado mansão dos mortos, ou ainda aos infernos, ao lugar onde estavam as almas dos justos, esperando a redenção de Jesus Cristo, e que, ao terceiro dia, se uniu de novo ao corpo, para nunca mais dele se separar.
“Descendit ad ínferos” – Desceu à mansão dos mortos. Este conteúdo inspira-nos no entendimento de que realmente Jesus morreu, tal como todos os homens expiram, e assume uma vida após a morte. No capítulo terceiro do Gênesis, lemos a passagem da queda e expulsão de Adão e Eva do Éden, graças ao pecado da desobediência. Com eles, também foi privada à humanidade a vivência no Paraíso. Viram-se privados da amizade plena com Deus, a intimidade com a Divindade; viram-se privados da visão de Deus. Para a tradição judaica (e de fato isso era condizente), todos os que morriam estavam destinados à morada dos mortos (em hebraico, Sheol). Independentemente de terem sido moralmente maus ou bons, lá esperavam o seu Redentor. As almas dos justos, portanto, não foram introduzidas no Paraíso antes da morte de Jesus Cristo, porque, graças ao pecado de Adão, o Paraíso estava fechado; e convinha que Jesus Cristo, cuja morte o reabriu, fosse o primeiro a entrar nele.
Jesus desce aos infernos para anunciar aos mortos a Boa Nova (cf. Jo 5,25; 1Pd 4,6; Hb 2,14-15; Ap 1,18), cumprindo até a plenitude o anúncio evangélico da salvação, encerrando a sua missão messiânica. A partir desta descida, a todos os homens, de todos os tempos e lugares, é descortinada a entrada da morada celeste, para uma contemplação inédita da Trindade, que nem sequer o antigo Paraíso entrevê. No Ofício das Leituras do Sábado Santo, precisamente na Segunda Leitura, a Igreja orante oferece-nos para meditação uma anosa homilia, arcana em autor, que tenta espiritualmente traduzir o ingresso de Jesus aos Infernos, não para destruí-lo, como condenação, mas para libertar os condenados. Diz-nos o escrito: “Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos. O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: ‘O meu Senhor está no meio de nós’. E Cristo respondeu a Adão: ‘E com teu espírito’. E tomando-o pela mão, disse: ‘Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. […] Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste’”. Deus, que ‘É’, vai onde não existe o ser, onde existe o ‘não-ser’, surpreendendo ao ingressar onde não deveria estar, vencendo, de uma vez para sempre, a morte e, com ela, o seu autor,o Diabo.
“Resurrexit a mortuis” – Ressuscitou dos mortos. No terceiro dia, estando no seio da terra, o Senhor ressuscita, conforme havia anunciado de sobremaneira. No Catecismo de São Pio X, no número 117, temos: “Por que Jesus Cristo quis esperar até ao terceiro dia para ressuscitar? Jesus Cristo quis demorar até ao terceiro dia para ressuscitar, para mostrar de modo insofismável, que verdadeiramente tinha morrido”. Por ressurreição de Cristo jamais a apresentemos como um mero retorno à vida terrenal. Não! O Cristo Ressuscitado é detentor de um corpo glorioso por ser participante da vida divina. Por tal motivo, o Ressuscitado não é atido pelas leis físicas e fisiologicamente humanas, tendo a liberdade soberana de aparecer a quem Ele quer, como e onde Ele quer, sob aspectos diferentes. A Ressurreição de Jesus Cristo não foi semelhante à dos outros homens ressuscitados, como por exemplo Lázaro (Jo 11,1-44), o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17) e a filha de Jairo (Mc 5,21-43). Eles apenas tornaram a viver, foram ressuscitados por virtude de Deus, enquanto que o Senhor ressuscitou por virtude própria.
Mesmo ressuscitando por seus próprios méritos, por ser um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, obviamente não se exclui a obra trinitária deste evento magnânimo. Deste modo, “o Pai manifesta o seu poder; o Filho ‘retoma’ a vida que livremente ofereceu (Jo 10,17), reunindo a sua alma e o seu corpo, que o Espírito vivifica e glorifica” (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 130).
Na Cristologia, temos o estudo teológico da vida de Jesus Cristo. Neste campo da Teologia Dogmática, aprendemos que toda a vida de Cristo na história humana se dá desde a Encarnação até a Sua Páscoa Redentora. A Igreja crê – e nós com ela – que neste derradeiro evento da vida de Jesus Cristo Nosso Senhor encontra-se o ápice da Encarnação e todo o seu sentido. O Seu ressuscitar confirma tudo o que fez e ensinou, mesmo o que é inacessível ao espírito humano, acha o significado em Cristo Ressurreto. Nele estão as primícias da nossa ressurreição, pois Nele recebemos a filiação adotiva que é real participação do seu ser divino, já que ressuscitando, a humanidade de Cristo entra na glória de Deus, elevando consigo toda a humanidade: “Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram! Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião de sua vinda. Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado, toda potestade e toda dominação” (1Cor 15,20-24).
           
Irmãos, gozando o admirável Tempo Pascal, a certeza impera em nós pela fé: Cristo ressuscitou! Somos suas testemunhas! Com Ele também ressuscitaremos! Ele prometeu-nos igualmente como disse que ressuscitaria! Que esta realidade não seja proferida distantemente da vida, mas que sempre vivamos tendo este dado de fé diante de nós, com os olhos fixos no Ressuscitado.

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