(Ano C – 28 de
abril de 2013)
Pelo Seminarista André Fernandes
I Leitura: At 14,21b-27
Salmo Responsorial: Sl 144(145),8-9.10-11.12-13ab
(R/. cf. 1)
II Leitura: Ap 21,1-5a
Evangelho: Jo 13,31-33a.34-35
(Glorificação e amor)
“Verdadeiramente
é digno e justo, razoável e salutar, que Vos louvemos, Senhor, em todo tempo e
com especialidade, mais gloriosamente neste tempo, em que Cristo, nossa Páscoa,
foi imolado” (cf. Prefácio para o Tempo Pascal)
Caríssimos
irmãos,
No transcorrer do Tempo da Ressurreição
do nosso Divino Salvador, podemos perceber, através da leitura dos Atos dos
Apóstolos, ora no Lecionário Dominical, ora no Lecionário Ferial, as
consequências do evento do Mistério Pascal. Essas são manifestadas, sobretudo,
no que tangencia a pregação apostólica executada por Pedro, Tiago, João e
aqueles outros recém-conversos que se uniram ao número daqueles seguidores do ‘Caminho’.
À
Primeira Leitura, somos colocados no contexto do término da primeira viagem
apostólica de Paulo e Barnabé. Voltaram para as cidades de Listra, Icônio e
Antioquia. Nestas, mediante o testemunho e pregação dos apóstolos, muitos
creram no nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, como bem sabemos, tal adesão
trará sérios desdobramentos. Se para os nossos tempos a profissão de fé viva e
verdadeira no Filho de Deus é, como disse Jesus, no solene discurso das
Bem-Aventuranças: “Felizes sois, quando vos injuriaram e vos perseguirem e,
mentido, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e
regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim
que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós” (cf. Mt 5, 11-12).
Pensemos
nos primeiros anos da propagação da fé cristã, quando recebida diretamente dos
apóstolos. Pensemos nos nossos primeiros irmãos, que, às escondidas, nas
catacumbas, reuniam-se, como nós, em assembleia litúrgica, para fazer “zikáron”, ou seja, memória atualizada
pelo sacrifício incruento da Eucaristia do Mistério da Páscoa. Apraz-nos
lembrar às palavras de Tertuliano aos protomártires da Igreja de Cristo nos
primeiros séculos: “O sangue dos mártires é semente para novos cristãos”. Com
esta assertiva, irmãos, tão viva e atual, vemos-nos que nos tornamos cristãos
pelo mergulho à pia batismal e outrossim pelo perenal legado de fé testemunhal
dos primeiros!
Com
as veneráveis palavras do apóstolo dos gentios ao encorajar os cristãos
daquelas cidades: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no
Reino de Deus”, nós também, conforme assinalou o Papa Bento XVI quando de sua
renúncia à Cátedra de São Pedro ao afirmar que “os nossos tempos passam por
rápidas transformações”, precisamos da obtenção daquela fé genuína não
adquirida, mas transmitida pelos Doze por benevolência e graça, concedeu-nos o
Senhor através da sua Esposa. Na transitoriedade dos acontecimentos, jamais podemos
perder o centro da nossa ‘peregrinação terrestre’, ei-la, a saber: Jesus
Cristo.
Devemos,
quotidianamente , recobrar a consciência e nos questionarmos acerca da fé no
Filho de Deus: Desejamos ardentemente o Cristo das Sagradas Escrituras? Creio
em Nosso Senhor, cuja doutrina provém da ‘Senhora Católica’? Quero o Cristo dos
Evangelhos que sempre me proporá a cruz e ir após Ele? Indagações como estas
precisam ser retomadas pelos cristãos, porquanto, verdadeiramente, elas
sustentam a nossa adesão ao Evangelho, de modo que, não obstante a nossa
tibieza, suportaremos as adversidades da existência e, como diz, o Bem-Aventurado
Pedro, o Apóstolo: “Se sofreis por causa da justiça, bem-aventurado sois! Não
tenhais medo de nenhum deles, nem fiqueis conturbados, antes, santificai a
Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre prontos a dar a razão da
vossa esperança a todo aquele que vo-la pede” (cf. 1Pd 3, 13-15).
São
Lucas ainda pontua, a suma importância, daqueles que foram constituídos, pela
imposição das mãos dos apóstolos, presbíteros, anciãos para a primaz
colaboração no exercício do sacerdócio apostólico: “Os apóstolos designaram presbíteros
para cada comunidade”. A função dos presbíteros, exercida na colegialidade, com
os apóstolos, hoje na pessoa do Bispo, sucessor dos apóstolos, e dos seus
diretos colaboradores, os presbíteros em união total com o Vigário de Cristo, é
mister para assistir a fé dos crentes na pregação da palavra, na celebração dos
sacramentos, e com excelência a Sagrada Eucaristia.
À Segunda Leitura, João mostra-nos a
vitória do Cordeiro. Este, por sua vez, é por ora apresentado na belíssima
alegoria do Esposo que vem ao encontro da nova Jerusalém, sua Esposa. A visão
joanina, fragmentada em alegorias, sintetiza o aniquilamento total do mal: “Vi
um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira terra passaram,
e o mar já não existe. Vi a cidade santa, a Nova Jerusalém, que descia do céu,
de junto de Deus, vestida qual esposa enfeitada para o seu marido”. A
misteriosa visão de São João é presente no Antigo Testamento como a era do
Messias, ou que dizemos de o “kairós”,
o tempo da Graça, por razão mesmíssima, diz o apóstolo: “Deus vai morar no meio
deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles. Deus enxugará
toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto,
nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes”.
Na perspectiva da leitura do
Apocalipse, vemos, clarividente, dois grandes momentos na história da salvação:
o primeiro quando Deus, através, do seu Verbo, ‘armara a sua tenda entre os
homens’, inaugurando a plenitude dos tempos com a concretização das promessas
outrora feitas à primeira aliança. O segundo é de pendor escatológico quando o
Crucificado-Ressuscitado, o Justo Juiz, consumará a história da salvação com o
seu advento glorioso e aí, a Nova Jerusalém será desposada quando os bem-aventurados
forem introduzidos “às núpcias do Cordeiro Pascal”.
No
Evangelho, encontramos-nos diante do quadro da paixão do Senhor. Ao final
daquela ceia com os Doze, antecipação incruenta da cruz, Jesus institui o seu
Testamento: o mandamento da caridade. Percebamos, caríssimos irmãos, onde nasce
o mandamento da caridade. Registra-nos o Evangelho: “Depois que Judas saiu do
cenáculo, disse Jesus: ‘Agora foi glorificado o Filho do Homem e Deus foi
glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo’”. Eis: é durante a traição do Iscariotes!
Oxalá
possamos nós, milícia do Senhor dos exércitos, viver a plenitude da caridade
que consiste em unir-se ao Divino Pelicano e como Ele imolarmo-nos, amarmo-nos,
porque o “vínculo da perfeição é a caridade”, segundo São Paulo. Ao ‘Kyrios’ glorificado, Senhor do tempo e
da eternidade, a glória, a adoração e a realeza por todo o sempre. Amém!
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