sábado, 27 de abril de 2013

V DOMINGO DA PÁSCOA


(Ano C – 28 de abril de 2013)

 Pelo Seminarista André Fernandes


I Leitura: At 14,21b-27
Salmo Responsorial: Sl 144(145),8-9.10-11.12-13ab (R/. cf. 1)
II Leitura: Ap 21,1-5a
Evangelho: Jo 13,31-33a.34-35 (Glorificação e amor)

“Verdadeiramente é digno e justo, razoável e salutar, que Vos louvemos, Senhor, em todo tempo e com especialidade, mais gloriosamente neste tempo, em que Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (cf. Prefácio para o Tempo Pascal)

            Caríssimos irmãos,
No transcorrer do Tempo da Ressurreição do nosso Divino Salvador, podemos perceber, através da leitura dos Atos dos Apóstolos, ora no Lecionário Dominical, ora no Lecionário Ferial, as consequências do evento do Mistério Pascal. Essas são manifestadas, sobretudo, no que tangencia a pregação apostólica executada por Pedro, Tiago, João e aqueles outros recém-conversos que se uniram ao número daqueles seguidores do ‘Caminho’.
            À Primeira Leitura, somos colocados no contexto do término da primeira viagem apostólica de Paulo e Barnabé. Voltaram para as cidades de Listra, Icônio e Antioquia. Nestas, mediante o testemunho e pregação dos apóstolos, muitos creram no nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, como bem sabemos, tal adesão trará sérios desdobramentos. Se para os nossos tempos a profissão de fé viva e verdadeira no Filho de Deus é, como disse Jesus, no solene discurso das Bem-Aventuranças: “Felizes sois, quando vos injuriaram e vos perseguirem e, mentido, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós” (cf. Mt 5, 11-12).
            Pensemos nos primeiros anos da propagação da fé cristã, quando recebida diretamente dos apóstolos. Pensemos nos nossos primeiros irmãos, que, às escondidas, nas catacumbas, reuniam-se, como nós, em assembleia litúrgica, para fazer “zikáron”, ou seja, memória atualizada pelo sacrifício incruento da Eucaristia do Mistério da Páscoa. Apraz-nos lembrar às palavras de Tertuliano aos protomártires da Igreja de Cristo nos primeiros séculos: “O sangue dos mártires é semente para novos cristãos”. Com esta assertiva, irmãos, tão viva e atual, vemos-nos que nos tornamos cristãos pelo mergulho à pia batismal e outrossim pelo perenal legado de fé testemunhal dos primeiros!
            Com as veneráveis palavras do apóstolo dos gentios ao encorajar os cristãos daquelas cidades: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”, nós também, conforme assinalou o Papa Bento XVI quando de sua renúncia à Cátedra de São Pedro ao afirmar que “os nossos tempos passam por rápidas transformações”, precisamos da obtenção daquela fé genuína não adquirida, mas transmitida pelos Doze por benevolência e graça, concedeu-nos o Senhor através da sua Esposa. Na transitoriedade dos acontecimentos, jamais podemos perder o centro da nossa ‘peregrinação terrestre’, ei-la, a saber: Jesus Cristo.
            Devemos, quotidianamente , recobrar a consciência e nos questionarmos acerca da fé no Filho de Deus: Desejamos ardentemente o Cristo das Sagradas Escrituras? Creio em Nosso Senhor, cuja doutrina provém da ‘Senhora Católica’? Quero o Cristo dos Evangelhos que sempre me proporá a cruz e ir após Ele? Indagações como estas precisam ser retomadas pelos cristãos, porquanto, verdadeiramente, elas sustentam a nossa adesão ao Evangelho, de modo que, não obstante a nossa tibieza, suportaremos as adversidades da existência e, como diz, o Bem-Aventurado Pedro, o Apóstolo: “Se sofreis por causa da justiça, bem-aventurado sois! Não tenhais medo de nenhum deles, nem fiqueis conturbados, antes, santificai a Cristo, o Senhor, em vossos corações, estando sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede” (cf. 1Pd 3, 13-15).
            São Lucas ainda pontua, a suma importância, daqueles que foram constituídos, pela imposição das mãos dos apóstolos, presbíteros, anciãos para a primaz colaboração no exercício do sacerdócio apostólico: “Os apóstolos designaram presbíteros para cada comunidade”. A função dos presbíteros, exercida na colegialidade, com os apóstolos, hoje na pessoa do Bispo, sucessor dos apóstolos, e dos seus diretos colaboradores, os presbíteros em união total com o Vigário de Cristo, é mister para assistir a fé dos crentes na pregação da palavra, na celebração dos sacramentos, e com excelência a Sagrada Eucaristia.
À Segunda Leitura, João mostra-nos a vitória do Cordeiro. Este, por sua vez, é por ora apresentado na belíssima alegoria do Esposo que vem ao encontro da nova Jerusalém, sua Esposa. A visão joanina, fragmentada em alegorias, sintetiza o aniquilamento total do mal: “Vi um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi a cidade santa, a Nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, vestida qual esposa enfeitada para o seu marido”. A misteriosa visão de São João é presente no Antigo Testamento como a era do Messias, ou que dizemos de o “kairós”, o tempo da Graça, por razão mesmíssima, diz o apóstolo: “Deus vai morar no meio deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles. Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque passou o que havia antes”.
            Na perspectiva da leitura do Apocalipse, vemos, clarividente, dois grandes momentos na história da salvação: o primeiro quando Deus, através, do seu Verbo, ‘armara a sua tenda entre os homens’, inaugurando a plenitude dos tempos com a concretização das promessas outrora feitas à primeira aliança. O segundo é de pendor escatológico quando o Crucificado-Ressuscitado, o Justo Juiz, consumará a história da salvação com o seu advento glorioso e aí, a Nova Jerusalém será desposada quando os bem-aventurados forem introduzidos “às núpcias do Cordeiro Pascal”.
            No Evangelho, encontramos-nos diante do quadro da paixão do Senhor. Ao final daquela ceia com os Doze, antecipação incruenta da cruz, Jesus institui o seu Testamento: o mandamento da caridade. Percebamos, caríssimos irmãos, onde nasce o mandamento da caridade. Registra-nos o Evangelho: “Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: ‘Agora foi glorificado o Filho do Homem e Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo’”.  Eis: é durante a traição do Iscariotes!
           
Naquele ínterim em que o Cordeiro Pascal imolar-se-ia e na terrível traição do Iscariotes concede, Nosso Senhor, pelos méritos de sua beatíssima Paixão e Morte de cruz, o mandamento da caridade. O que diz Jesus naquela hora do início da sua ‘suprema agonia’, torna-se o fato do mistério da salvação na ara da cruz. A glorificação do Filho de Deus encontra a sua máxima no mandamento da caridade e também no gesto sacerdotal da entrega livremente à cruz! Aqui, concentra-se toda a ação de Cristo desde o limiar do seu ministério até a subida a Jerusalém e a chegada ao calvário! A glória de Cristo, da qual, discorre, São João é, de fato, a hora da sua paixão e morte. Porque é a destruição do pecado e da morte.
            Oxalá possamos nós, milícia do Senhor dos exércitos, viver a plenitude da caridade que consiste em unir-se ao Divino Pelicano e como Ele imolarmo-nos, amarmo-nos, porque o “vínculo da perfeição é a caridade”, segundo São Paulo. Ao ‘Kyrios’ glorificado, Senhor do tempo e da eternidade, a glória, a adoração e a realeza por todo o sempre. Amém!
                 

Nenhum comentário:

Postar um comentário