(Domenica
in Albis ou da Misericórdia)
(Ano C – 07 de abril de 2013)
Pelo Seminarista André Fernandes
I Leitura:
At 5,12-16
Salmo
Responsorial: Sl 117(118),2-4.22-24.25-27a (R/.1)
II Leitura:
Ap 1,9-11a.12-13.17-19
Evangelho:
Jo 20,19-31 (Tomé)
“Como crianças recém-nascidas,
desejai o puro leite espiritual para crescerdes na salvação, aleluia” (Antífona
da Entrada).
Caros
irmãos,
Nos júbilos da Páscoa de Nosso
Senhor, nesse último dia na Oitava, o Segundo Domingo, oito dias depois, da
alegria perenal advinda do sepulcro vazio, dos vestidos dobrados, das aparições
primeiras do Ressuscitado, das mulheres que, por primeiro, o viram gloriosamente,
adentramos no Tempo Litúrgico da Páscoa. Que é este? Ei-lo: a Igreja no-lo
responde em todas as missas no prefácio que abre solenemente a Anáfora. ‘’mas,
sobretudo, neste Tempo Solene em que Cristo, nossa Páscoa foi imolado;
transbordando de alegria pascal.’’
O Tempo Pascal tem o seu
desdobramento desde à Quinta-Feira Santa, na Ceia do Senhor, principiando o
Tríduo Sacro do Crucificado-Ressuscitado e prolonga-se durante cinquenta dias
quando culmina-se a obra da redenção. O Filho volta para o seio do Pai, Ascensão,
e, na plena unidade, concede à sua Esposa o Espírito Santo, efundido no
cenáculo de Jerusalém no Quinquagésimo dia após o evento da ressurreição. O
caractere por excelência do Tempo da Páscoa é a pregação apostólica. Em que a
consiste? Quem a faz por primazia?
Encontramo-la de maneira solene
no Livro dos Atos dos Apóstolos redigido por São Lucas Evangelista, todo o
conteúdo é justificado e ratificado num único Evangelho e que nós o escutamos
no Domingo, na Ressurreição do Senhor da boca de São Pedro. ‘ ‘Vós
sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do
batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o
Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a
todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele. E nós
somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos Judeus e em Jerusalém.
Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não
a todo povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: nós, que comemos e
bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. E Jesus nos mandou pregar
ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos. Todo
aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome o perdão dos pecados’’ (cf.
At 10, 34-37). Este é o miolo da pregação dos apóstolos e que, na ininterrupta
Tradição, garantida pela sucessão apostólica, perdura, na Igreja de Cristo e é
centralidade de todo o apostolado: o Evento Cristo na sua paixão, morte de cruz
e triunfante ressurreição. Quem o faz? Já fomos orientados: Pedro. É Nele, na
sua fé genuína e autêntica, que acontece a pregação. E este é o “kérigma’’, o anúncio solene: Jesus
Cristo é o Crucificado-Ressuscitado.
Este Domingo é tido como o “Domenica in Albis’’ ou seja: o dia em
que os neófitos que haviam recebidos no Sábado Santo os sacramentos da
iniciação cristã despiam-se das suas vestes brancas e assim comprometiam-se em
levar uma vida irrepreensível, sem mácula, semelhante àquela vestimenta usada
no Banho da Regeneração, o Batismo. O Beato Papa João Paulo II convencionou o
Segundo Domingo como o Domingo da Misericórdia, considerando a aparição do
Senhor à Santa Faustina.
À Primeira Leitura, ouvimos o
quanto as multidões estavam aderindo à pregação petrina. Os Atos dos Apóstolos
evidencia a expansão da Igreja de Cristo. De fato, é em Pentecostes que o tempo
da Igreja é iniciado. Cristo, qual cabeça no Corpo, volta para a glória dos
céus e deixa os seus como diretos colaboradores na economia da salvação. Esta
que se dá pelo anúncio da Sua Pessoa e da administração dos sacramentos,
sobretudo o Batismo. O texto sagrado destaca que muitos levavam os enfermos nas
macas para que, “ao menos a sombra de Pedro os tocasse’’. Pedro, com o predicativo
de Vigário de Cristo, continuará a missão do Ungido do Senhor: mostrar-lhes a
salvação através dos sinais. É bem sublinhado por Lucas: “Crescia em mais
multidão os que aderiam o Senhor pela fé, em número de homens e mulheres’’. O
testemunho de Pedro e dos demais foi crucial para que a semente do Evangelho
caísse no coração de muitos e, deste modo, adquirir o conhecimento paulatino da
pessoa de Cristo que se dá na comunidade de fé, isto é, a Igreja.
No Evangelho, ouvimos o que se
chama de ‘’Pentecostes joanino’’. Oito dias depois estavam os apóstolos
reunidos no Cenáculo e as portas estavam fechadas por medo das autoridades. Eis
aqui um ponto que devemos refletir. O medo, na verdade, é um espasmo pelo novo,
por um acontecimento. Os discípulos estavam ainda boquiabertos com todos
aqueles fatos. E a característica outra daquele temor é justamente pensar quem
seriam por eles? O nosso Mestre, o Nazareno, foi crucificado e morto; mas tudo
é mudado quando o Senhor saúda-lhes como o “Shalom”,
a Paz: “A paz esteja convosco!”
Cautelemos-nos! A saudação do
Ressuscitado não é utópica; abstrata! Quando o Senhor, já em estado glorioso,
deseja-lhes a paz, quer falar de Si mesmo. Eu sou a vossa paz, não precisa
haver temor! É como se Jesus dissesse que todos os acontecimentos recentes
atingiram o máximo no dia terceiro, naquela manhã, quando a Paz, ou seja, a
reconciliação de Deus para conosco voltara em seu Unigênito.
Dentre os onze, não estava Tomé,
o Dídimo, e como nos diz a Escritura, que não crê no testemunho da comunidade.
Por que será tal reação? Será Tomé, mesmo há muito, com Jesus, ter-se tornado
um cético? É demasiada misteriosa e digna de ensinamentos a ausência e a
presença do apóstolo. Quando Tomé não está dentre os crentes que formara o Colégio
dos apóstolos é um sinal de quem se distancia da fé arraigada em Nosso Senhor.
Longínquo do “nós cremos, ouvimos
e por isso testemunhamos” certamente ruirá a experiência pessoal da fé no
Ressuscitado: Nós cremos! Vejamos, meus irmãos, experimentamos e
conhecemos a Nosso Senhor por aquela fé primeira, herdada no Batismo e do
testemunho, mas, deveras, para sustê-la por causa das vicissitudes e da
efemeridade da nossa existência é mister permanecermos na comunhão e unidade,
pois estas são atributos notabilíssimos do Corpo Místico de Cristo. Neste
sentido podemos aferir: não há emancipação da fé! A fé é guardada e transmitida
desde os nossos primeiros irmãos da pia batismal.
Tomé, à distância, é o exemplo de
quem concebe que a sua religião é executada em casa quando ‘uma velinha é acesa
para o meu santo de devoção’. Não! Fé é professada com uma multidão de irmãos
numa adesão pessoal, porque, do contrário, “a lâmpada não será colocada na
vasilha, mas, sim sob a cama e apagar-se-á”. Como nos admoesta os Padres
apostólicos, “em Tomé, o Senhor veio ao encontro da nossa falta de fé”. Logo,
diz: “Bem-Aventurados sois vós que crerdes sem terem visto”. Que a profissão de
fé pronunciada por São Tomé seja, literalmente, um valioso testemunho quando
pensarmos em não ser fieis a Cristo. Lembremo-nos que a fidelidade e a fé
constituem-se em uma única realidade!
Há ainda, neste relato do Segundo
Domingo da Páscoa, a grande dádiva que o Senhor deixou à sua Esposa Divinal: o
Sacramento da Penitência! Jesus na força da sua ressurreição, impregnado do
Espírito Santo, sopra, o ‘ruah’ de
Deus. Na primeira criação Deus insufla nas narinas de Adão para torná-lo
vivente, animado! Hoje, já, a segunda e perfeita recriação a partir de Cristo
tal sopro, mesmíssimo, é feito para os apóstolos, pois se tornando ministros
da misericórdia, da ‘hesed’, do
Senhor que recriará o homem, uma vez que este fora afeito no Batismo. E
aqui observamos a Tradição: desde aí os gestos penitenciais do Antigo
Testamento, eram penumbras da realidade do Sacramento da Reconciliação.
Que o Tempo Pascal nos torne mais
apóstolos do Senhor como Maria Madalena e tantos outros e tenhamos audácia para
conclamarmos: ‘’Eu vi o Senhor!’’ A Ele, o Primogênito de entre os mortos a
glória e a imortalidade pelos séculos dos séculos. Amém!
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