sábado, 6 de abril de 2013

II Domingo da Páscoa

(Domenica in Albis ou da Misericórdia)
(Ano C – 07 de abril de 2013)

Pelo Seminarista André Fernandes


I Leitura: At 5,12-16
Salmo Responsorial: Sl 117(118),2-4.22-24.25-27a (R/.1)
II Leitura: Ap 1,9-11a.12-13.17-19
Evangelho: Jo 20,19-31 (Tomé)


“Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual para crescerdes na salvação, aleluia” (Antífona da Entrada).

Caros irmãos,                                                                  

Nos júbilos da Páscoa de Nosso Senhor, nesse último dia na Oitava, o Segundo Domingo, oito dias depois, da alegria perenal advinda do sepulcro vazio, dos vestidos dobrados, das aparições primeiras do Ressuscitado, das mulheres que, por primeiro, o viram gloriosamente, adentramos no Tempo Litúrgico da Páscoa. Que é este? Ei-lo: a Igreja no-lo responde em todas as missas no prefácio que abre solenemente a Anáfora. ‘’mas, sobretudo, neste Tempo Solene em que Cristo, nossa Páscoa foi imolado; transbordando de alegria pascal.’’
O Tempo Pascal tem o seu desdobramento desde à Quinta-Feira Santa, na Ceia do Senhor, principiando o Tríduo Sacro do Crucificado-Ressuscitado e prolonga-se durante cinquenta dias quando culmina-se a obra da redenção. O Filho volta para o seio do Pai, Ascensão, e, na plena unidade, concede à sua Esposa o Espírito Santo, efundido no cenáculo de Jerusalém no Quinquagésimo dia após o evento da ressurreição. O caractere por excelência do Tempo da Páscoa é a pregação apostólica. Em que a consiste? Quem a faz por primazia?
Encontramo-la de maneira solene no Livro dos Atos dos Apóstolos redigido por São Lucas Evangelista, todo o conteúdo é justificado e ratificado num único Evangelho e que nós o escutamos no Domingo, na Ressurreição do Senhor da boca de São Pedro. ‘ ‘Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele. E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos Judeus e em Jerusalém. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se  não a todo povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos. Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome o perdão dos pecados’’ (cf. At 10, 34-37). Este é o miolo da pregação dos apóstolos e que, na ininterrupta Tradição, garantida pela sucessão apostólica, perdura, na Igreja de Cristo e é centralidade de todo o apostolado: o Evento Cristo na sua paixão, morte de cruz e triunfante ressurreição. Quem o faz? Já fomos orientados: Pedro. É Nele, na sua fé genuína e autêntica, que acontece a pregação. E este é o “kérigma’’, o anúncio solene: Jesus Cristo é o Crucificado-Ressuscitado.

Este Domingo é tido como o “Domenica in Albis’’ ou seja: o dia em que os neófitos que haviam recebidos no Sábado Santo os sacramentos da iniciação cristã despiam-se das suas vestes brancas e assim comprometiam-se em levar uma vida irrepreensível, sem mácula, semelhante àquela vestimenta usada no Banho da Regeneração, o Batismo. O Beato Papa João Paulo II convencionou o Segundo Domingo como o Domingo da Misericórdia, considerando a aparição do Senhor à Santa Faustina.
À Primeira Leitura, ouvimos o quanto as multidões estavam aderindo à pregação petrina. Os Atos dos Apóstolos evidencia a expansão da Igreja de Cristo. De fato, é em Pentecostes que o tempo da Igreja é iniciado. Cristo, qual cabeça no Corpo, volta para a glória dos céus e deixa os seus como diretos colaboradores na economia da salvação. Esta que se dá pelo anúncio da Sua Pessoa e da administração dos sacramentos, sobretudo o Batismo. O texto sagrado destaca que muitos levavam os enfermos nas macas para que, “ao menos a sombra de Pedro os tocasse’’. Pedro, com o predicativo de Vigário de Cristo, continuará a missão do Ungido do Senhor: mostrar-lhes a salvação através dos sinais. É bem sublinhado por Lucas: “Crescia em mais multidão os que aderiam o Senhor pela fé, em número de homens e mulheres’’. O testemunho de Pedro e dos demais foi crucial para que a semente do Evangelho caísse no coração de muitos e, deste modo, adquirir o conhecimento paulatino da pessoa de Cristo que se dá na comunidade de fé, isto é, a Igreja.
No Evangelho, ouvimos o que se chama de ‘’Pentecostes joanino’’. Oito dias depois estavam os apóstolos reunidos no Cenáculo e as portas estavam fechadas por medo das autoridades. Eis aqui um ponto que devemos refletir. O medo, na verdade, é um espasmo pelo novo, por um acontecimento. Os discípulos estavam ainda boquiabertos com todos aqueles fatos. E a característica outra daquele temor é justamente pensar quem seriam por eles? O nosso Mestre, o Nazareno, foi crucificado e morto; mas tudo é mudado quando o Senhor saúda-lhes como o “Shalom”, a Paz: “A paz esteja convosco!”
Cautelemos-nos! A saudação do Ressuscitado não é utópica; abstrata! Quando o Senhor, já em estado glorioso, deseja-lhes a paz, quer falar de Si mesmo. Eu sou a vossa paz, não precisa haver temor! É como se Jesus dissesse que todos os acontecimentos recentes atingiram o máximo no dia terceiro, naquela manhã, quando a Paz, ou seja, a reconciliação de Deus para conosco voltara em seu Unigênito.
Dentre os onze, não estava Tomé, o Dídimo, e como nos diz a Escritura, que não crê no testemunho da comunidade. Por que será tal reação? Será Tomé, mesmo há muito, com Jesus, ter-se tornado um cético? É demasiada misteriosa e digna de ensinamentos  a ausência e a presença do apóstolo. Quando Tomé não está dentre os crentes que formara o Colégio dos apóstolos é um sinal de quem se distancia da fé arraigada em Nosso Senhor.
Longínquo do “nós cremos, ouvimos e por isso testemunhamos” certamente ruirá a experiência pessoal da fé no Ressuscitado: Nós cremos! Vejamos, meus irmãos,  experimentamos e conhecemos a Nosso Senhor por aquela fé primeira, herdada no Batismo e do testemunho, mas, deveras, para sustê-la por causa das vicissitudes e da efemeridade da nossa existência é mister permanecermos na comunhão e unidade, pois estas são atributos notabilíssimos do Corpo Místico de Cristo. Neste sentido podemos aferir: não há emancipação da fé! A fé é guardada e transmitida desde os nossos primeiros irmãos da pia batismal.
Tomé, à distância, é o exemplo de quem concebe que a sua religião é executada em casa quando ‘uma velinha é acesa para o meu santo de devoção’. Não! Fé é professada com uma multidão de irmãos numa adesão pessoal, porque, do contrário, “a lâmpada não será colocada na vasilha, mas, sim sob a cama e apagar-se-á”. Como nos admoesta os Padres apostólicos, “em Tomé, o Senhor veio ao encontro da nossa falta de fé”. Logo, diz: “Bem-Aventurados sois vós que crerdes sem terem visto”. Que a profissão de fé pronunciada por São Tomé seja, literalmente, um valioso testemunho quando pensarmos em não ser fieis a Cristo. Lembremo-nos que a fidelidade e a fé constituem-se em uma única realidade!
Há ainda, neste relato do Segundo Domingo da Páscoa, a grande dádiva que o Senhor deixou à sua Esposa Divinal: o Sacramento da Penitência! Jesus na força da sua ressurreição, impregnado do Espírito Santo, sopra, o ‘ruah’ de Deus. Na primeira criação Deus insufla nas narinas de Adão para torná-lo vivente, animado! Hoje, já, a segunda e perfeita recriação a partir de Cristo tal  sopro, mesmíssimo, é feito para os apóstolos, pois se tornando ministros da misericórdia, da ‘hesed’, do Senhor que recriará o homem, uma vez que este fora afeito no Batismo.  E aqui observamos a Tradição: desde aí os gestos penitenciais do Antigo Testamento, eram penumbras da realidade do Sacramento da Reconciliação.
Que o Tempo Pascal nos torne mais apóstolos do Senhor como Maria Madalena e tantos outros e tenhamos audácia para conclamarmos: ‘’Eu vi o Senhor!’’ A Ele, o Primogênito de entre os mortos a glória e a imortalidade pelos séculos dos séculos. Amém!



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