sábado, 25 de junho de 2011

XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM


I Leitura: 2Rs 4, 8-11.14-16 a
Salmo Responsorial: Sl 88 (89), 2-3.16-17.18-19 (R./ 2 a)
II Leitura:  Rm 6, 3-4.8-11
Evangelho: Mt 10, 37-42 (Quem é discípulo)


Queridos irmãos,


A Liturgia da Palavra de hoje, principalmente o Evangelho, tem como foco o discipulado e as condições que são exigidas por ele.
Estamos no capítulo décimo do Evangelho segundo São Mateus. Já no fim do capítulo nono, vemos Jesus no início de sua missão, percorrendo todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino, curando os doentes, afirmando para os que o seguiam a urgência da sua missão: “A colheita é grande, mas poucos os operários. Pedi, pois, ao senhor da colheita que envie trabalhadores para a sua colheita” (Mt 9, 37-38). E chama doze discípulos enviando-os com poder de expulsar os demônios e curar todo o tipo de enfermidade. Porém, antes do envio propriamente dito, ele traça a instruções da missão dos discípulos, inclusive, adverte-os sobre os perigos que provém do ato do anúncio, tais como incompreensões, perseguições; mas também as benesses de quem os acolhe por serem discípulos. E é justamente nesta página que nos deteremos para a reflexão deste Domingo.
Podemos, para facilitar a nossa compreensão da perícope dividir o texto em duas partes: do versículo 37-39; e a outra do versículo 40-42.
Na primeira parte, Jesus adverte os apóstolos acerca das necessárias atitudes ativas para a consecução do trabalho evangelizador. O primordial sentimento do coração do apóstolo deve ser o de desprendimento. A exigência de Jesus é eminentemente pedagógico: nem um sentimento forte pode impedir a ação de anunciar, por isso, Ele inicia falando da indignidade daquele ama seus genitores e sua prole mais do que a nobre causa do Evangelho. Antes, nos versículos 35 e 36, Ele já os havia avisado: “Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa”. Logo, a nossa exigente missão será incompreendida até mesmo pelos nossos familiares e, a partir deles, pelo mundo. Jesus assim alude para que os apóstolos sejam cônscios de que, mesmo sendo odiados pelos seus, o kerigma não deve parar. Por mais doloroso que pareça ser, mas o sucesso da proclamação da Palavra de Jesus deve transcender às reservas sentimentais do que possui o eminente encargo de anunciar. Neste sentido, também entra o “apofatismo”: “Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt 10, 38). Destarte, o Senhor não promete facilidades de vida para quem o segue; antes, “cruzes”. O que seria a cruz na vida do apóstolo senão todas as agruras que este possa enfrentar? A começar pela “auto-renúncia de si”. Por mais que este termo parece redundante, mas cotidianamente somos invitados à renúncia. Não somente das coisas que possuímos, mas, antes, de nós mesmos. Muitas vezes somos nós os grandes obstáculos do cumprimento do apostolado que recebemos pelo próprio Senhor da Messe no dia do nosso Batismo. Esta é a dimensão do “Quem procura conservar a sua vida vai perdê-la. E quem perde a sua vida, vai encontrá-la” (Mt 10, 39). Renunciar coisas e pessoas extrínsecas a nós, pode parecer dificultoso, mas é bem mais simples do que renunciar os nossos auto-confortos e pseudo-confianças, lançando-se na infinita providência de Deus. Aqui, recordo-me uma frase de São Josémaria Escrivá: “Paradoxo: para Viver é preciso morrer”. O apóstolo não é mais dono de si, mas propriedade de Deus, tal como nos alude a estrofe para o canto de Aclamação ao Evangelho trazida pelo Lecionário hoje (cf. 1 Pd 2, 9).
Quando Jesus promete a vida para os que a desprezam pelo crescimento do Reino, Ele não se refere a uma vida qualquer, tampouco a um aumento da quantidade de idade cronológica de nossa existência, nem a um sucesso material, mas a uma vida toda plena de Deus, a qual alcançaremos na glória do Céu. É lá que está o nosso cêntuplo (cf. Mt 19, 29).     
Na segunda parte do Evangelho (40-42), vemos Jesus que relaciona a atividade apostólica a algumas atitudes passivas do evangelizador. No versículo 40, Jesus traça uma tríade bastante interessante: apóstolo, Cristo, Pai. Assim, o apóstolo fala em nome de Cristo, que é o Verbo Eterno do Pai. Logo, quem presta um serviço de acolhimento a um evangelizador, o faz ao Cristo, e conseguintemente, o presta ao Pai. O contrário também é válido: quem não valoriza o apóstolo, despreza o Cristo, rejeita o Pai. Tal lógica nos faz rememorar a Oração Sacerdotal de Jesus que, dentre tantas palavras, recorremos a: “Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim” (Jo 17, 23).
A cultura da hospitalidade para com aquele que fala de Deus é um elemento marcante na Primeira Leitura. A atitude da mulher rica de Sunam que acolheu Eliseu é uma posição que faz frente às hostilidades preditas por Jesus, e que são tão comuns para o apostolado moderno. Porém, a retribuição para quem age com afabilidade com aquele que anuncia é algo certificado tanto pela Primeira leitura quanto pelo Evangelho. Claro que estas recompensas não se restringem a uma mera prosperidade material, mas é uma resposta de fé para aquele que crê em Deus. Os apóstolos devem ver a benevolência do Senhor nos pequenos gestos cativantes e gratificantes que os mais sensíveis proporcionam às suas vidas.
A Segunda Leitura trata sobre a nova realidade de vida daqueles que receberam o Batismo: viverem para Deus (cf. Rm 6, 10). Ora, depois de mortos para o pecado e ressuscitados, pelo lustro batismal, para Deus, não cabe senão para o cristão o sentimento da pertença a Cristo Senhor. Aqui, habita o porquê de o anunciarmos: queremos que outras pessoas também mergulhem nas águas mortais e vivificantes do Batismo e renasçam para uma vida em Deus, cuja plenitude será obtida quando nos unirmos integralmente a Ele, na morada eterna, onde consolidaremos o anseio da pertença à “raça escolhida” (1 Pd 2, 9), onde, plenamente, nos sentiremos “filhos da luz”, depois de cotidianamente havermos expulsado “as trevas do erro”, tal como imploramos na Coleta.
Que a Sagrada Liturgia deste Domingo nos dê a têmpera dos Santos Apóstolos, aquela que nos faz testemunhar o Senhor com ações e palavras até os confins do mundo.   

Um comentário:

  1. Parabéns pelo seu site, meu caro. Não sei se vc lembra de mim, Seminarista Henrique, amigo do Leandro, de Maceió. Continue e persevere, este trabalho faz muito bem para nós mesmos, nos dá grande satisfação pessoal. E mesmo que alcançe a poucas pessoas, vale a pena se alcançar e tocar o coração de um apenas! Portanto, perseverança! Grande abraço!

    ResponderExcluir