Pelo Seminarista David Ângelo Oliveira Rocha*
Refletir sobre música
cristã não é uma reflexão meramente abstrata, mas, concreta. Porque não é um
problema baseado tão somente na arte (música), mas é uma reflexão
antropológica. Se a música cristã anda mal é sinal que o homem, este ser
pós-moderno está perdido em si mesmo, com o mundo e com Deus.
No decorrer da caminhada
histórica da música cristã é possível perceber que há algum tempo (e mais
agora) a música cristã está cada vez mais caindo em pé de igualdade à música
profana. Um relativismo musical está cada vez mais forte na cabeça dos cristãos
a tal ponto de introduzir músicas internacionais, MPB como fundo musical para
matrimônios ou como músicas de entrada ou pós-comunhão.
Santo Agostinho já dizia
que “a música, isto é, a doutrina e arte
de bem modular, como anúncio de grandes coisas foi concedida pela divina
liberalidade aos mortais dotados de alma racional” (Apud Papa Pio XII, Sacrae Disciplina). Aqui temos algo bastante
interessante em relação aos termos utilizados pelo Santo Agostinho: doutrina e arte de bem modular. É assim
que ele chama a música cristã, mas infelizmente é possível perceber na nossa
pós-modernidade o esquecimento da própria doutrina católica dando lugar a letras
puramente sentimentais feitas em primeira pessoa do singular: “Eu”. Uma música
cristã sem doutrina cristã é uma música falseada, mascarada, ilusória. Sem doutrina
nas letras, sem citar passagens bíblicas, mas ao contrário, narrando problemas
pessoais o compositor cria suas obras buscando abranger a todos e ao mesmo
tempo a ninguém.
Mas o que esperar de
compositores que estão aderindo a cultura relativista e egoísta? Tanto faz
utilizar o ritmo de forró em música endereçada ao momento de comunhão como
criar músicas para adoração, mas, feitas com a intenção de narrar suas
angústias ao invés de ser na primeira pessoa do plural ( Nós). Está cada vez
mais urgente uma renovação na mentalidade dos músicos e dos ouvintes católicos,
“o problema da renovação da música
religiosa não é somente um problema artístico: implica o da renovação do homem,
que é quem há de cantar” (BASURKO, 2005, p.17). Mas, como a música não
surgiu primeiro e depois o homem, mas ao contrário, primeiro surgiu o homem e
depois veio a música, é necessário uma renovação no homem (antropós), já que, a música é o exterior do que habita no interior
do homem, é a manifestação daquilo que mexia com sua mente e coração. “O que sai do homem é o que contamina o
homem” (Mc 7, 20), ou seja, o que sai do mais profundo do ser humano é o
que destrói, atrapalha a si mesmo.
O motivo de estar
utilizando aqui Música Cristã Contemporânea é proposital. Por conta dessa
mistura (ou fusão) entre música sacra e música religiosa, seja ela música
religiosa protestante ou não, com uma cadência melódica tendenciosa ao
sentimentalismo, “sem querer”, acabamos colocando músicas dentro das nossas
Igrejas Católicas mais direcionadas ao nosso eu (o eu do músico principal) do
que ao tu (povo, assembleia) e o Tu (Deus). Logo, o egoísmo é externado pela
música. É possível saber quando um músico é tocado pelo Evangelho ou é um
profissional, porque este deve lembrar que a música é ali na Liturgia um meio
que expressa e toca na mente e no coração do homem a nível totalitário e não
apenas pessoal.
Sendo assim, percebemos
aqui que a função da música cristã é tocar na consciência, no ser total do
homem pós-moderno e fazer com que ele coloque a sua frente, sem máscaras, quem ele está sendo realmente. Como estou levando a minha
vida? O que sou? Quem eu sou? É esta a vida que quero continuar até o meu
último suspiro? Será que as nossas músicas católicas estão levando as pessoas à
colocarem suas vidas em suas mãos e analisa-las a partir do Evangelho? Será que
está tocando na consciência ao começar pelo próprio músico que executa? Ter a
consciência do que está cantando, por que e para Quem está cantando? Se a
música não levar a pessoa a refletir sobre sua vida, se não mexer na mente e no
coração não acontecerá o mesmo que aconteceu com Santo Agostinho, foi a partir
da música que o levou a chorar na entrada da Igreja e perceber que Deus existe.
Só quando o homem for tocado pela música cristã madura ele sempre entoará “salmos, hinos e cantos inspirados, cantando
e tocando de coração em honra do Senhor” (Efésios 5, 19). Deus manifesta-se
também pelos acordes e pelas mãos dos homens: pelo simples músico.
* Seminarista da Arquidiocese de Aracaju. Aluno do IV Ano de Teologia do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição.
REFERÊNCIAS
SCHOKEL, Luís Alonso. Bíblia do
Peregrino. 2ª edição. São Paulo: Paulus, 2006.
BASURKO, Xabier. O canto cristão na tradição primitiva. São Paulo: Paulus, 2005.
PIO XII, Papa. Carta Encíclica Musicae Sacrae Displina- Sobre a música sacra. 1955.
Acessar: Vaticano – Santa Sé Page: http://www.vatican.va
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