sábado, 20 de junho de 2015

DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM

(Ano B- 21 de junho de 2015)

Por André Fernandes Oliveira

I Leitura:  Jó 38, 1. 8-11
Salmo Responsorial: Sl 106
II Leitura: 2 Cor 5, 14-17
Evangelho: Mc 4, 35-41



Irmãos,

A Igreja celebra o seu Décimo Segundo Domingo Comum.  A Liturgia da Palavra que hoje nos é proposta imerge na mais sensível verdade da nossa caminhada humana e cristã. Ei-la: A Fé!  De antemão devemos buscar o que significa esta que, das teologais virtudes, é a primeira. Logo, nos encostamos ao enunciado do capítulo XI, 1 da Epístola aos Hebreus: “A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem.”  E no versículo posterior, afirma, o autor sagrado, o que resplandecera aos nossos ancestrais da primitiva aliança: “Foi ela que valeu aos antigos seu belo testemunho.” Guarnecidos, irmãos, pelas menções, podemos nos questionar as três lapidares indagações filosóficas: Quem sou eu? De onde vir ? Para onde vou?’’
As supracitadas perguntas voltadas apenas pela certeza racional e empírica é sabida de muitas respostas. Para uns o Homem é  descendente de um hominídeo e, na cadeia evolutiva, foi ascendendo até desenvolver-se como tal; vindo ‘’do acaso’’ e que a morte como trágica consequência do mesmo será o seu fim, pondo assim, o desfecho à história daquele. Numa esfera meramente ‘’existencialista’’ isto seria   viver e, por isto, tudo seria uma terribilíssima ilusão o quê, por conseguinte, tornaria a existência humana uma ‘’agonia’’. Ter-se-ia um prazo de validade e por isto, “Carpe Diem”, porque somos tão somente imanentes! No horizonte cristão responder às questões da existência humana são passadas pelo prisma da fé.
A partir desta visão é que iremos viver não alienados e tampouco fora de nós mesmos, todavia, uma vez que o Filho de Deus nos pode assumir: morrendo e ressuscitando, tornou-nos Nele, imortais. Enxergar a nossa existência depois de Jesus Cristo, ainda que tenhamos os estigmas do Pecado Original, somos cientes: Fomos criados para o Eterno, conforme nos testemunha Santo Agostinho: “Senhor nos fizestes para Vós e o nosso coração não descansará, enquanto em Vós não repousar!’’ 
Meus irmãos, é, já, com as referidas colocações que vamos, pois, comparando a nossa vida, o modo com a qual enxergamos, como respondemos às mais variadas situações. Neste sentido, temos por modelo a figura de Jó, proposta à primeira leitura. Este “justo”, pois, pode percorrer os seus dias pelo que vai ser uma espécie de ‘’resposta’’ a quem vive, consoante à vontade de um Outro. Jó é  provado em todos os sentidos da existência, chega, até pedir a Deus que seus dias sejam abreviados, desespera-se! E, é aqui, quando pensarmos “estarmos sozinhos”, procurando  a palavra que possa nos nortear, deve surgir o sobrenatural: “Que é viver de fé? Que é apostar-se, como, num salto em que não há superfícies humanas? Será, quando somos comprovados por Deus, nossa adesão é dada por uma profissão crédula ou quiçá agimos como quem barganha?
Atentemo-nos: Deus age para conosco quando parece que o tino para a vida foi tornado “escuro”. E aqui pensamos na grande esteira dos santos: Santa Tereza D’Ávila, São João da Cruz, Santa Tereza Benedita da Cruz... A primeira atitude de um crente é que Deus não o abandona! A fé, irmãos, não é um sentimento mágico, com o qual nossos problemas serão resolvidos, mas, acima de quaisquer precisões, ela é como que uma bússola a nos conduzir para o porto, onde é encontrado a âncora da nossa esperança!  Responde Deus,  a Jó: “Quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto (...) quando eu lhe dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas; quando marquei seus limites e coloquei portas e trancas” ( cf. Jo 38, 8 sg.) .
 Na verdade, um ato de fé, é um abandono cego, como aquele do centurião que a Liturgia põe em nossos lábios: ”Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma palavra e serei salvo.’’  Sendo assim, é mister, compreendermos: A fé não é um objeto para mercantilização, quando, hoje ela é oferecida às esquinas neopentecostais. Admoesta-nos o então Cardeal Joseph Ratzinger: “A fé não pode reencontrar hoje o seu vigor quando é reduzida a indeterminação, mas só quando é compreendida em toda a sua grandeza. As reduções não salvam a fé, mas a barateiam. Ela só se torna significativa quando conserva toda a sua força. Não somos nós que devemos salvar a fé, mas é a fé que nos salva” ( cf. Ser Cristão na Era Neopagã, p. 53; conferência Os caminhos no atual momento de transformação; Maio de 1990).  
São Paulo, à epístola, nos coloca na consequência de quem professa a fé no Filho de Deus. O fato de que uma vez redimidos por Cristo, caminhamos para o encontro feliz da nossa vocação. É isto que nos levará o termo da nossa confiança em Deus: “Chegarmos à estatura do homem perfeito.”  Sim. Só a graça que vem da fé, é unida à nossa livre consciência, de modo tal, a ser verificado à palavra do apóstolo: “E se uma vez conhecemos Cristo segundo a carne já não o conhecemos assim. Portanto, se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo.” (cf. 2 Cor 5, 16 sg.). Ora, o caminho percorrido pela fé não nos torna incapazes de sofrimentos e vicissitudes. Ele vai nos moldando ao desejo da nossa identificação com Cristo, realidade que a Igreja nos mereceu através do Batismo, logo “está em Cristo” significa outrossim sedimentar o nosso “eu” à condição da fé!
No Evangelho, encontramos, Aquele de quem titula a Epístola aos Hebreus como Pontífice da nossa fé. Sim! Jesus Cristo é o caminho que devemos, seguramente, percorrer e, por sê-lo, é o   acesso para as realidades finais nossas. É Nele que passaremos à posse dos bens eternos que a fé, de antemão,   já nos granjeia! Mas, sabido que somos transeuntes, devemos percorrer as sendas da vida, não atemorizados como os discípulos no primeiro momento da tempestade. Nosso Senhor pode dizer: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Arranca-te daqui e planta-te no mar”  (cf. Lc 17, 6) Muitas vezes podemos nos comportar e agir como aqueles: trancados pelo medo, são incapazes de saber, que, como diz o salmista: “não dorme e nem cochila o guarda de Israel.”
O sono de Cristo é um contraste em relação à incredulidade dos que estavam à barca. Na verdade, quando falhamos em não acreditarmos à presença de Deus em nossa vida, ainda que a barca fique trêmula, que os ventos sejam contrários, somos nós que “dormimos” e ainda não despertamos! Quantos vacilos: Tentarmos a Deus quando, sempre, Ele se faz presente diuturnamente a cada fio da nossa história pessoal, logo nos precipitamos: “Mestre, não te importa que pereçamos?”. Esta é uma tentadora interrogativa  a Jesus, irmãos! Porque em suas entrelinhas é encontrada a proposta dos que aderem a um Messias que “se curve” aos seus apetites!  Que perecer? Nosso Senhor nos arrancou das amarras do pecado. Não nos deixou sozinhos, sem rumo, mas pode abrir pelo seu lado trespassado o lugar em quê, pela virtude da fé, não naufragaremos.

Por fim, a tempestade acalmada, como um portento é crucial para que Jesus mostre a sua onipotência: “Quem é este a quem até o vento e o mar obedecem?” E com uma pergunta, Ele, responde-lhes: ”Ainda não tendes fé?” Eis : As duas perguntas se conjugam. Encontramos, o objetivo da virtude teologal que emoldura a Liturgia deste Domingo: Ciência de que Deus fora desvelado em seu Cristo e que pela profissão de fé Nele, que até mesmo os seres inanimados são-Lhe obedientes, procuremos nos plasmar como seguro rochedo e não seremos tragados pelo deserto do mundo: a falta de fé, pois não O encontraram. Santa Maria, a primeira dentre os crentes, nos ajude a percorrer como ela a via da fé, até um dia, gozarmos das alegrias dos ‘’bem-aventurados porque creram’’.

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