(Ano B- 21 de
junho de 2015)
Por André Fernandes Oliveira
I Leitura: Jó 38, 1. 8-11
Salmo
Responsorial: Sl 106
II Leitura: 2
Cor 5, 14-17
Evangelho: Mc 4,
35-41
Irmãos,
A Igreja celebra o seu Décimo Segundo
Domingo Comum. A Liturgia da Palavra que
hoje nos é proposta imerge na mais sensível verdade da nossa caminhada humana e
cristã. Ei-la: A Fé! De antemão devemos
buscar o que significa esta que, das teologais virtudes, é a primeira. Logo,
nos encostamos ao enunciado do capítulo XI, 1 da Epístola aos Hebreus: “A fé é a garantia dos bens que se esperam,
a prova das realidades que não se veem.”
E no versículo posterior, afirma, o autor sagrado, o que resplandecera
aos nossos ancestrais da primitiva aliança: “Foi ela que valeu aos antigos seu belo testemunho.” Guarnecidos,
irmãos, pelas menções, podemos nos questionar as três lapidares indagações
filosóficas: Quem sou eu? De onde vir ?
Para onde vou?’’
As supracitadas perguntas voltadas
apenas pela certeza racional e empírica é sabida de muitas respostas. Para uns
o Homem é descendente de um hominídeo e,
na cadeia evolutiva, foi ascendendo até desenvolver-se como tal; vindo ‘’do
acaso’’ e que a morte como trágica consequência do mesmo será o seu fim, pondo
assim, o desfecho à história daquele. Numa esfera meramente ‘’existencialista’’
isto seria viver e, por isto, tudo seria uma
terribilíssima ilusão o quê, por conseguinte, tornaria a existência humana uma
‘’agonia’’. Ter-se-ia um prazo de validade e por isto, “Carpe Diem”, porque
somos tão somente imanentes! No horizonte cristão responder às questões da
existência humana são passadas pelo prisma da fé.
A partir desta visão é que iremos viver não
alienados e tampouco fora de nós mesmos, todavia, uma vez que o Filho de Deus
nos pode assumir: morrendo e ressuscitando, tornou-nos Nele, imortais. Enxergar
a nossa existência depois de Jesus Cristo, ainda que tenhamos os estigmas do
Pecado Original, somos cientes: Fomos criados para o Eterno, conforme nos
testemunha Santo Agostinho: “Senhor nos
fizestes para Vós e o nosso coração não descansará, enquanto em Vós não
repousar!’’
Meus irmãos, é, já, com as referidas
colocações que vamos, pois, comparando a nossa vida, o modo com a qual
enxergamos, como respondemos às mais variadas situações. Neste sentido, temos
por modelo a figura de Jó, proposta à primeira leitura. Este “justo”, pois,
pode percorrer os seus dias pelo que vai ser uma espécie de ‘’resposta’’ a quem
vive, consoante à vontade de um Outro. Jó é
provado em todos os sentidos da existência, chega, até pedir a Deus que
seus dias sejam abreviados, desespera-se! E, é aqui, quando pensarmos “estarmos
sozinhos”, procurando a palavra que possa
nos nortear, deve surgir o sobrenatural: “Que é viver de fé? Que é apostar-se,
como, num salto em que não há superfícies humanas? Será, quando somos comprovados por Deus, nossa adesão é
dada por uma profissão crédula ou quiçá agimos como quem barganha?
Atentemo-nos: Deus age para conosco
quando parece que o tino para a vida foi tornado “escuro”. E aqui pensamos na
grande esteira dos santos: Santa Tereza D’Ávila, São João da Cruz, Santa Tereza
Benedita da Cruz... A primeira atitude de um crente é que Deus não o abandona!
A fé, irmãos, não é um sentimento mágico, com o qual nossos problemas serão
resolvidos, mas, acima de quaisquer precisões, ela é como que uma bússola a nos
conduzir para o porto, onde é encontrado a âncora da nossa esperança! Responde Deus, a Jó: “Quem
fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto (...) quando eu lhe dava
nuvens por vestes e névoas espessas por faixas; quando marquei seus limites e
coloquei portas e trancas” ( cf. Jo 38, 8 sg.) .
Na verdade, um ato de fé, é um abandono cego,
como aquele do centurião que a Liturgia põe em nossos lábios: ”Senhor, eu não sou digno de que entreis em
minha casa, mas dizei uma palavra e serei salvo.’’ Sendo assim, é mister, compreendermos: A fé
não é um objeto para mercantilização, quando, hoje ela é oferecida às esquinas
neopentecostais. Admoesta-nos o então Cardeal Joseph Ratzinger: “A fé não pode reencontrar hoje o seu vigor
quando é reduzida a indeterminação, mas só quando é compreendida em toda a sua
grandeza. As reduções não salvam a fé, mas a barateiam. Ela só se torna
significativa quando conserva toda a sua força. Não somos nós que devemos
salvar a fé, mas é a fé que nos salva” ( cf. Ser Cristão na Era Neopagã, p.
53; conferência Os caminhos no atual momento de transformação; Maio de 1990).
São Paulo, à epístola, nos coloca na
consequência de quem professa a fé no Filho de Deus. O fato de que uma vez
redimidos por Cristo, caminhamos para o encontro feliz da nossa vocação. É isto
que nos levará o termo da nossa confiança em Deus: “Chegarmos à estatura do
homem perfeito.” Sim. Só a graça que vem
da fé, é unida à nossa livre consciência, de modo tal, a ser verificado à
palavra do apóstolo: “E se uma vez
conhecemos Cristo segundo a carne já não o conhecemos assim. Portanto, se
alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo
agora é novo.” (cf. 2 Cor 5, 16 sg.). Ora, o caminho percorrido pela fé não
nos torna incapazes de sofrimentos e vicissitudes. Ele vai nos moldando ao
desejo da nossa identificação com Cristo, realidade que a Igreja nos mereceu
através do Batismo, logo “está em Cristo” significa outrossim sedimentar o
nosso “eu” à condição da fé!
No Evangelho, encontramos, Aquele de
quem titula a Epístola aos Hebreus como Pontífice
da nossa fé. Sim! Jesus Cristo é o caminho que devemos, seguramente, percorrer
e, por sê-lo, é o acesso para as realidades finais nossas. É Nele
que passaremos à posse dos bens eternos que a fé, de antemão, já nos
granjeia! Mas, sabido que somos transeuntes, devemos percorrer as sendas da
vida, não atemorizados como os discípulos no primeiro momento da tempestade.
Nosso Senhor pode dizer: “Se tivésseis fé
como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Arranca-te daqui e planta-te
no mar” (cf. Lc 17, 6) Muitas vezes
podemos nos comportar e agir como aqueles: trancados pelo medo, são incapazes
de saber, que, como diz o salmista: “não
dorme e nem cochila o guarda de Israel.”
O sono de Cristo é um contraste em
relação à incredulidade dos que estavam à barca. Na verdade, quando falhamos em
não acreditarmos à presença de Deus em nossa vida, ainda que a barca fique
trêmula, que os ventos sejam contrários, somos nós que “dormimos” e ainda não
despertamos! Quantos vacilos: Tentarmos a Deus quando, sempre, Ele se faz
presente diuturnamente a cada fio da nossa história pessoal, logo nos
precipitamos: “Mestre, não te importa que
pereçamos?”. Esta é uma tentadora interrogativa a Jesus, irmãos! Porque em suas entrelinhas é
encontrada a proposta dos que aderem a um Messias que “se curve” aos seus
apetites! Que perecer? Nosso Senhor nos
arrancou das amarras do pecado. Não nos deixou sozinhos, sem rumo, mas pode abrir
pelo seu lado trespassado o lugar em quê, pela virtude da fé, não
naufragaremos.
Por fim, a tempestade acalmada, como um
portento é crucial para que Jesus mostre a sua onipotência: “Quem é este a quem até o vento e o mar obedecem?” E com uma pergunta,
Ele, responde-lhes: ”Ainda não tendes
fé?” Eis : As duas perguntas se conjugam. Encontramos, o objetivo da
virtude teologal que emoldura a Liturgia deste Domingo: Ciência de que Deus
fora desvelado em seu Cristo e que pela profissão de fé Nele, que até mesmo os
seres inanimados são-Lhe obedientes, procuremos nos plasmar como seguro rochedo
e não seremos tragados pelo deserto do mundo: a falta de fé, pois não O
encontraram. Santa Maria, a primeira dentre os crentes, nos ajude a percorrer
como ela a via da fé, até um dia, gozarmos das alegrias dos ‘’bem-aventurados
porque creram’’.
Nenhum comentário:
Postar um comentário