sábado, 13 de junho de 2015

XI DOMINGO DO TEMPO COMUM

(Ano B- 14 de junho de 2015)
Por André Fernandes Oliveira

I Leitura: Ez 17, 22-24
Salmo Responsorial: Salmo 91(92),2-3.13-14.15-16 (R/. cf. 2a)
II Leitura: 2Cor 5, 6-10
Evangelho: Mc 4, 26-34



         Caríssimos irmãos,

            Neste Domingo, a Liturgia nos interpela a uma profunda meditação sobre a Palavra de Deus. Amiúde ao nos referirmos a esta expressão soa a Bíblia, as Escrituras Sagradas, que a Pessoa do Espírito Santo inspirou a homens que, segundo o próprio Deus, deveriam verbalizar ao povo da aliança primitiva.
             Dado este fato, nasce à história de Israel – em meio às alianças – o profetismo que nos recônditos é, outrossim, na plenitude dos tempos o termo, o desfecho do que a teologia chama o “evento da nossa salvação”, com a soleníssima declaração joanina: “Et Verbum caro facto est” (cf. Jo 1, 14). Este dogma da encarnação acontecido às entranhas de Maria Virgem e, de maneira peculiar, recordado no Tempo Litúrgico do Natal, é-nos, todas às vezes que a Eucaristia é celebrada, vislumbrada no dorso do Mistério Pascal: No Altar, o que nos foi anunciado pela boca do Ministro Ordenado como ‘Verbum Domini’ é, muito além do significado ordinário, e, algumas vezes, abstrato  como elemento entre  emissor e receptor porque a Palavra é  o ‘fiat’ sempiterno.
             De São Paulo, haurimos: “A Palavra de Deus é uma espada afiada, de dois gumes. Penetra medula e articulações” (Hb 4,12). E o Bispo Eusébio de Cesareia, no arcano século IV, comenta: ‘’(...) a voz ordena que se prepare um caminho para a Palavra de Deus e se aplainem os terrenos escarpados e ásperos, a fim de que o nosso Deus possa entrar quando vier. É esta a pregação evangélica que traz um novo consolo e deseja ardentemente que o anúncio da salvação de Deus chegue a todos os homens” (cf. Dos Comentários sobre o Profeta Isaías, de Eusébio de Cesareia, bispo).
Ora, tomados por salutares ensinamentos que a Palavra de Deus não é passada de forma passiva pelos nossos dias, todavia ela deve nos atingir, de maneira tal a sermos transfigurados, porque à teofania do Tabor o Pai declara: “Este é o meu Filho, ouvi-O!” E que na potência do Espírito Santo glorificar-nos-á.  Desta maneira, se verifica o ensinamento de São Jerônimo: “Na Escritura, Deus fala conosco, à oração falamos com Deus”. Nossa oração é sólida quando somos atingidos pela sapientíssima Palavra!
A partir daí somos inseridos ao que o lecionário dominical proclamado à Igreja. À Primeira Leitura do Profeta Ezequiel, o contexto é o da crudelíssima deportação, em 597 a. C. para Babilônia. O exílio que pode ser indagado, como o salmista, quando diz: “Onde está o teu Deus?” No início do capítulo dezessete, o profeta descreve a situação de Israel com uma parábola. Israel é marcado por um processo de ‘domínio’ de um estrangeiro, um tirano, como Nabucodonosor, cuja vontade se encontra distante dos preceitos de Adonai e a Vinha, isto é, o Povo que Deus formou a partir de Abraão, também compactue.
A alegoria é instrutiva para compreendermos qual o ímpeto da Palavra em contrapartida aos descasos do homem. Sendo assim, podemos nos questionar: O quê a Palavra- como a presença de Deus, do Reino dos Céus, é capaz de nos deixar inquietos? A Palavra de Deus, ‘semente lançada à terra’, é, por nós, recebida como as turbas que desejam ouvir aos ensinamentos do Filho Deus?  E, na comunhão com o Verbo encarnado: O que se pereniza? A arrogância do homem caído ou afeito por tal Palavra ordenadora? Destarte, quando somos lançados por essas interrogações, teremos um conhecimento individual e cônscios de quê todas as iniciativas partem de Deus e, jamais, da autossuficiência e do poderio rebelde que é a concupiscência, equiparado com as palavras da história, nos versículos precedentes aos proclamados hoje.
Diz o profeta: ‘’Diz-lhe que assim fala o Senhor Deus: Acaso vingará? Acaso a águia não arrancará suas raízes? Não estragará seus frutos, fazendo secar todos os seus brotos novos (...) Ei-la que está plantada; vingará?’’ (cf. Ez 17, 9-10).  Plasmar a nossa existência distante de Deus ou, então, usurpá-Lo é consequente a própria derrota porque pela boca de Nosso Senhor, podemos ouvir: “Sem mim nada podeis fazer” ( cf. Jo 15, 2), logo se coaduna a onipotência proferida: ‘’(...) saberão todas as árvores do campo que eu, o Senhor, é que baixo a árvore alta e exalto a árvore baixa, que seco a árvore verde e faço brotar a árvore seca. Sim, eu, o Senhor, o disse e faço.’’ (cf. Ez 17, 24)   A Igreja proclama no Salmo Responsorial  o que significa uma diuturna ‘escuta’ à Palavra: “(...) Mesmo no tempo da velhice darão frutos, cheio de seiva e de folhas verdejantes; e dirão: É justo mesmo o Senhor Deus: meu Rochedo, não existe nele o mal” (cf. Sl 91).
À leitura da epístola, São Paulo, desenvolve de maneira direta o tema da cidadania celeste. E isto se entende pelo que significa no tempo, agora, da peregrinação terrestre.‘’Em atenção a tua Palavra’’( Lc 5,5). A obediência a Deus, que é temor, nos leva a uma verdadeira alegria. Escreve o segundo corifeu dos apóstolos: ‘’(...) nos empenhemos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado essa morada.’’ ( cf. 2 Cor 5, 9) .  Ora, é a Palavra de Deus que nos direciona pelas sendas em aprazer-nos à retidão, e por esse discernir é que receberemos, ‘’a devida recompensa-prêmio ou castigo- do que tiver feito ao longo de sua vida corporal. ‘’ ( cf. 2 Cor 5, 10).
No Evangelho, Nosso Senhor conta para os seus seguidores o que São Mateus chama as ‘’Parábolas do Reino’’. São Marcos nos relata a pedagogia do Divino Mestre em ensinar através das parábolas para em meio a linguagem aí adotada que se refere aos costumes da cultura, para anunciar realidades transcendentes. O discurso de Jesus é condensado à máxima da sua pregação, no início do seu ministério messiânico: ‘’(...) veio Jesus para a Galileia proclamando o Evangelho de Deus: ‘Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho’” ( cf. Mc 1, 15).  É concomitante a mútua relação entre a Palavra e o Reino de Deus, que, após atenta leitura absorvemos na única realidade: Jesus de Nazaré.
Ele, a Palavra, é a síntese de que o Reino, primeiro, não se trata duma realidade cujo alcance seja impossível aos homens porque do contrário as variadas imagens dos terrenos não seriam comparadas. Em segundo plano também devemos entender qual o significado: ‘’a semente germina e cresce, sem que ele saiba como.’’ ( cf. Mc 4, 28)  Deus como o Princípio do tudo que  outrora era ‘’caos’’ é quem faz como que a semente às entranhas da terra ser bem desenvolvida. O Verbo encontrado no horizonte do Infinito, desceu à Terra, tornou-Se, para Nele nos tornamos, por isso a costumeira, mas certeira questão: Qual o tipo de terra, somos nós?  A unidade entre a Palavra e o Reino de Deus à vida cristã é a plena adesão duma conformidade à graça benevolente da nossa insuficiência para com a mercê do Todo Poderoso, logo nos encostamos em São Paulo quando diz: ‘’Paulo plantou, Apolo colheu, mas Deus é quem faz crescer!’’
Atentemo-nos: Os critérios naquilo que é referível ao Reino dos Céus não se adequa à sabatina dos, muitas vezes, parcos argumentos por parte do pensamento mundano. Deus, ao decurso da economia salvadora, pode nos surpreender. Eis a primeira leitura!  Neste sentido Nosso Senhor nos leva à parábola do grão de mostarda. ‘’Com que compararemos o Reino de Deus? (...) É como um grão de mostarda que, quando é semeado na terra- é a menor de todas as sementes da terra- mas, quando é semeado, cresce e torna-se maior que todas as hortaliças, e deita grandes ramos, a tal ponto que as aves do céu se abrigam à sua sombra.’’( cf. Mc 4, 30- 32).

Quando Jesus se utiliza mais uma vez da presença de uma semente quase imperceptível à palma da mão nos evidencia a certeza de que o Reino de Deus e o que simultaneamente a ele pertence, é fato sobrenatural. Porém, a sua grandeza é tão abrangente que aos olhos mesquinhos dos seus algozes ‘’parece’’ não acontecer. Que precisa tal Reino para que O seja?  Possam perguntar os iníquos. Jesus a responde pelos dias do seu apostolado e sobre a árvore da cruz que, não obstante sendo o execrável castigo, foi tornada causa de salvação e assim pudéssemos contemplar tanto o nosso caminho de ‘’retorno’’ a Deus quanto como deve ser executado, uma vez tido o nome de ‘’cristãos’’.  Amém!

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